A CBDA teve uma receita de 37,6 milhões em 2014, dividida da seguinte forma:
O que fica claro é que quase toda a receita da CBDA veio de verba pública, ou seja, eu e vocês sustentamos a CBDA.
A CBDA, assim como o governo petista, não gasta bem e torrou mais do que ganhou em 2014. Ela gastou 39,6 milhões e, portanto, fechou o ano com um déficit de 2 milhões (R$2.045.941,00 para ser preciso). Esses gastos foram distribuídos da seguinte forma:
Me chama a atenção que o maior custo da CBDA foi com despesas administrativas. Esse custo também não é detalhado, mas assumo que o grande ofensor aqui deva ser a folha de pagamento da instituição, ou seja, nossos cartolas custam mais do que qualquer um dos esportes que eles gerenciam.
Quase 12 milhões, ou seja, praticamente 30% das despesas, são gastos com esportes que o Brasil não tem nenhuma, absolutamente nenhuma, tradição internacional (nado, polo e saltos). Esse dinheiro deveria ser empregado no desenvolvimento das categorias de base, mas duvido que seja o caso.
A CBDA também não detalha como foram gastos os quase 15,5 milhões na natação e maratona aquática, mas assim como nos demais esportes, tenho a forte impressão que quase tudo é gasto com a elite do esporte em viagens, ajudas de custo, etc.
De qualquer forma, embora o ano de 2014 tenha dado prejuízo, a CBDA fechou o ano com 6,6 milhões em caixa, resultado de superávits de anos anteriores quando a receita era maior. Em 2013, por exemplo, a CBDA gastou 36 milhões, mas teve receita de 40 milhões. O “culpado” pela diminuição de receita foram os patrocinadores, que pagaram 3 milhões a menos em 2014.
Todos os valores acima estão divulgados no site da CBDA e foram auditados pela RSM ACAL Auditores Independentes SS.
A CBDA não divulgou uma projeção do balanço de 2015, mas na atual situação que o PT deixou o Brasil, acho que o mais provável seja outro ano deficitário. 2016 promete ser ainda pior. Com um PIB de -4% e o governo precisando urgentemente de dinheiro, essas receitas estatais assistencialistas ao esporte olímpico devem cair vertiginosamente, principalmente depois das Olimpíadas.
Por isso me chama a atenção a matéria que saiu na Folha de São Paulo e que o Coach publicou no seu blog aqui dizendo que a preparação da seleção brasileira para os jogos olímpicos de 2016 será nos Estados Unidos. Isso mesmo! A Olimpíada será no Rio de Janeiro e a ideia da CBDA é preparar a equipe em outro continente. Sou só eu que acha isso estranho? A justificativa que a piscina dos jogos não estará pronta não me convence. A galera não pode treinar no Júlio Delamare, no Flamengo, no Fluminense, no Tijuca, no Botafogo, no Maria Lenk? Não pode treinar em São Paulo, BH, Curitiba? Tem que ir todo mundo pro outro hemisfério onde o dólar custa R$ 4,00? Existe alguma justificativa técnica pra levar a equipe inteira, mais comissão técnica e obviamente alguns cartolas pros Estados Unidos?
Embora não seja nada surreal sairmos das próximas olimpíadas sem medalhas nos esportes aquáticos, a minha previsão é que sairemos com 3 (Fratus, Thiago e Ana Marcela). Lógico que a torcida é por mais (Cielo, 4x100m Livre ou alguma grande zebra), mas essa é apenas uma visão de torcedor. Na visão administrador, essas medalhas estão saindo os olhos da cara!
Treinamento não quer dizer piscina somente: a infra-estrutura e a comodidade que terão deve estar incluso no cálculo e decisão de treinar nos EUA. Quanto ao custo da medalha, vamos perguntar de outra forma: se houver medalha – porque qualquer previsão não tem garantia – quem sairá ganhando financeiramente com isso? Naturalmente o atleta. Depois quem? O técnico, claro, co-responsável. Hoje está mais com cara de “comissão técnica interdisciplinar”. Depois quem? Historicamente, a capitalização da medalha que a CBDA faz é um relatório que justifica a grana que recebeu, atrelando esta justificativa com um pedido de novo investimento. E, curiosamente, a justificativa é sempre para o mesmo investidor: Correios.
Vemos, então, uma coisa profissional sendo aplicada – treinamento no exterior – e uma coisa amadora sendo feita quando esta última deveria ser a mais profissional possível para justamente capitalizar os resultados e justifcar os investimentos feitos antes e depois de cada evento.
Bons pontos Julian! Treinamento não quer dizer só piscina, mas convenhamos que hoje em dia temos clubes no Brasil com uma infra-estrutura de primeiro mundo. O ECP entre eles. Continuo sem enxergar uma justificativa técnica para a ida aos EUA.
abs
Interessante que em geral a preparação é feita para se adaptar ao clima, às condições do país, e principalmente ao fuso horário. E agora que pela PRIMEIRA VEZ a olimpíada é aqui o pessoal vai treinar fora? Difícil de entender.
Fosse eu o diretor faria a preparação em São Paulo (Ibirapuera ou Centro Olímpico), com visitas periódicas à Myrtha do Pinheiros e ao Rio de Janeiro.
Outra: treinos ao meio dia e meia noite, conforme o calendário olímpico. Pensando bem, para treinos à meia noite creio que o associado do Pinheiros não se incomodaria, os treinos desse horário poderiam ser todos lá, não?
Exato! treinos nos horários das eliminatórias e finais são essenciais e os horários minimizam a reclamação do sócio, embora o ECP particularmente (eu sou sócio) já tem um “understanding” do sócio com o atleta porque são muitos os nadadores por lá. Nada que não seja facilmente negociado com o clube. A pergunta que fica é “E os outros países?” Vão treinar onde? Imagino que cada um já tenha feito suas escolhas e negociado as condições. Ouvi dizer de alguns que vão treinar no Botafogo. Por Brasil é tão difícil assim fazer o mesmo?
Muito esquisito mesmo esse negócio de se preparar fora. Mas, suponhamos que fosse realmente melhor, por causa da infra, como disse o Julian. Será que valia a pena? Eu acho que não. Nosso país não está podendo, tem que avaliar o custo-benefício. Não é por que teríamos uma suposta pequena vantagem em um treino nos EUA, que devemos gastar mais do que o dobro dos gastos. Tem que ser proporcional! Totalmente viagem essa viagem!
Marina, há 20 anos atrás quando eu treinava nos EUA, a infra de lá já não era tão melhor que a daqui. Hoje em dia tenho certeza que os principais clubes brasileiro tem infra semelhante com os do primeiro mundo. A necessidade de ir pra fora não é a infra. Talvez o pensamento seja o psicológico. Vão se isolar num lugar sem assédio, sem família, pra ficarem 100% focados no treinamento. Mais ou menos como fazem os jogadores de futebol antes de uma grande partida, mas no meu ponto de vista é um argumento fraco para o custo da empreitada.
Detalhe que os Correios em 2014 tiveram um DÉFICIT operacional de R$900mi e só publicou um lucro de R$10i porque reverteu uma provisão para perdas no Postalis de R$1.086mi.
Este ano o prejuizo provavelmente vai ser de impressionantes R$900mi, ou seja, bem provável que este patrocínio acabe após as Olimpiadas.
Será que a CBDA esta se preparando para esta possibilidade? Minha impressão é que o Rei Coaracy vai se aposentar nas Olimpiadas e deixar esta bomba para o seu sucessor, veremos…
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,correios-estao-na-uti-e-terao-prejuizo-de-r-900-milhoes–diz-novo-presidente,10000001990
Muito bem colocado… A situação dos Correios é particularmente ruim, mas, eu diria que qualquer patrocínio de empresa estatal será muitíssimo improvável após as Olimpíadas.
Será necessário um trabalho de busca de patrocinadores privados, os quais, nessa era “pós-FIFA”, muito possivelmente, serão mais seletivos e exigentes em termos de transparência, e qualidade de gestão.
30,6% de “overhead” é muito, mas muito ruim, como indicador de eficiência de gestão. Não deveria passar de 15%. Número geralmente considerado como teto, por especialistas em gestão de entidades sem fins lucrativos, para que a situação seja considerada realmente boa.
Boa Hoffmanm. Eu queria incluir esse número do overhead no texto, mas não achei nenhuma fonte confiável. Me chama a atenção também os 10% gastos com maratonas aquáticas. Um esporte onde basicamente não tem infraestrutura (mar e lagoas não precisam de manutenção). São poucos os atletas que praticam esse esporte. Enfim, vamos ver como fica a CBDA na era pós-correios, mas já tenho pena do próximo presidente. A mamata vai acabar…
abs
Lelo,
Veja abaixo os números da USA Swimming Foundation (mantenedora da USA Swimming) para 2013 (não achei para 2014):
REVENUE
Individual Donations $873,955
Corporate and Foundation Grants $360,000
USA Swimming Fundraising Support(1) $884,820
Special Events $252,152
Swim-A-Thon™ $328,187
Investment Return $1,006,429
Other Income $37,400
Total Support and Revenue $3,742,943
EXPENSES
Program Services $1,586,141
Fundraising $574,804
Management and General $279,132
Total Expenses $2,440,077
Observações:
(1) A USA Swimming Foundation tem que “brigar” muito mais em termos de “fundraising”, que é mais pulverizado, indo além de “corporate sponsors”, para incluir também “individual donors”, “fundraising events”, etc… que demandam custos mais altos que reuniões nos Correios, e em Brasília…
(2) Mesmo sendo (1) um custo maior para eles, a soma de “expenses” de “fundraising” com “management and general”, que seria o “overhead”, daria 22,81% dos “revenues”.
(3) A fundação é superavitária (veja que os “total expenses” somam somente 65,19% da receita total). Isso leva à formação gradual de um “endowment”, para garantir as operações, mesmo durante períodos de “fundraising” mais fraco… Ver abaixo o balanço da fundação…
ASSETS
Cash $1,666,367
Endowment Investments $9,946,781
Pledges (net) $5,606,089
Receivables $73,242
Prepaid Expenses $6,294
Property and Equipment (net) $2,228
Other assets $120,000
Total Assets $17,421,001
LIABILITIES AND NET ASSETS
Accounts Payable $80,897
Accrued Expenses $26,370
Deferred Revenue $1,000
Net Assets $17,312,734
Total Liabilities and Net Assets $17,421,001
Algumas conclusões:
(1) Se o custo de “fundraising” deles é maior, por ser mais trabalhoso, caso fossemos ajustar para uma realidade Brasileira, de “fundraising” concentrado, o “overhead” total deveria cair. Certamente para menos de 20%, quiçá (gosto de usar o termo…rs…) chegando mais perto dos 15% que são considerados o “gold standard” para esse indicador. Aliás, para fins de simulação, com 50% de redução de “fundraising costs” (como se fosse para uma atividade mais concentrada), o “overhead” iria para exatos 15,14%.
(2) Uma olhada no tamanho do “budget”, comparando com a entidade equivalente aqui no Brasil, a saúde financeira do balanço, etc… suscitam mais um monte de questões… para um bom observador…
PS: Podem haver diferenças de missão e objetivos, que resultem em explicações para parte dessas grandes diferenças com o Brasil? Podem, mas, a grosso modo, não teriam materialidade o suficiente para justificar o que se vê nos números. Lá há mais eficiência. E melhores resultados.
Completando os dados sobre a USA Swimming:
Aqui vai o “breakdown” do item “USA Swimming Fundraising Support(1)” dos demonstrativos anteriormente publicados:
(1) USA Swimming Support:
Fundraising $500,000
Make-A-Splash $124,615
National Team Competition Endowment $260,205
Total $884,820
Bom ponto Laurival! É certeza que o Coaracy abandona o barco depois das Olimpíadas. Aí o Titanic já vai estar 80% debaixo dágua. É certeza também que o Correios deve diminuir, senão zerar, o apoio a CBDA em breve.
Sensacional Hoffmann! Claríssima a diferença de gestão tupiniquim vs tio Sam!
Não existe explicação plausível para tamanha estupidez ! Duvido que exista alguma justifica fisiológica ou psicológica tendo em vista que os jogos serão no Brasil !! Já não superfaturaram o suficiente ? Precisa de mais ??
Alguém da comissão técnica podia passar aqui e explicar a escolha. Eu ainda acho que tem mais a ver com o psicológico do que com o fisiológico, mas é chute meu.
Me interesso pelo assunto. Vou pesquisar mais, mas à primeira impressão ainda falta transparência, melhor gestão e estratégia.
Quanto à preparação nos EUA, a única justificativa em que posso pensar é altitude. Alguém sabe se é o caso?
Essa questão da altitude é interessante Lemmons e pode ser um dos motivos, embora não vi, publicamente, ninguém oficializar a razão da preparação nos Estados Unidos. A impressão que fica é que vão ficar por lá até bem perto dos jogos, o que descarta a altitude como única razão para ir a outro continente treinar…
abs
Do ponto de vista técnico, já ouvi vários nadadores falarem que as competições no Brasil não atendem suas necessidades, não são fortes, não têm oponentes importantes e deixam a desejar. Será que não seria o caso de incentivar esse intercâmbio, trazendo os grandes nadadores para competições aqui no Brasil? Acredito que todo atleta do mundo quer competir no Brasil esse ano (pelo menos até agosto).
É realmente absurdo, amador (e preguiçoso) contar com os Correios para financiar mais de 80% do faturamento de uma organização. NINGUÉM NO MERCADO FAZ ISSO. Qualquer empresa sabe que se esse cliente vai embora, passa por dificuldades ou uma crise (parece o caso) o financiado está perdido. Foram anos desse regime amador (como disse o Julian) sem se buscar a variação de investimentos e recursos. Agora, as projeções são péssimas.
Sobre as contas, concordo com o Lemon. Não estão claras. Se as despesas da CBDA for com construção e manutenção de piscinas e não folha salarial, seria ótimo. Mesmo isso parecendo ser um sonho meu, é preciso mais informação para não sermos injustos.
Ótimo post.
Valeu Raul! As contas não são detalhadas. Pelo menos os detalhes não são publicados no site. A dependência da CBDA do governo (Correios + Lei Piva) é praticamente total!
abs