EPICHURUS

Natação e cia.

O acidente de Lais dos Santos Souza foi uma fatalidade ?

Ao ver os jornais na semana passada fiquei bastante entristecido ao ler sobre o acidente da nossa Lais dos Santos. A tristeza foi seguida por curiosidade, no mínimo me pareceu diferente uma brasileira competindo nos esportes de inverno principalmente na modalidade escolhida, esqui de estilo livre. Para aqueles que não conhecem o esqui de estilo livre é aquela modalidade onde o atleta desce uma curta ladeira na montanha e se projetam no ar através de uma rampa. O objetivo é fazer o maior e mais complexo número de piruetas aterrissando com perfeição. Como sou daquele tipo muito curioso e detalhista resolvi pesquisar esta história melhor para entender como e porque Lais agora está em hospital em Utah lutando por sua vida.

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A primeira informação que li foi que o acidente ocorreu após os treinos e que Lais praticamente não sabe esquiar, definitivamente esta história ficou mais complicada. Após algumas horas na internet e lendo fontes oficiais e outras nem tanto acho que consegui desvendar um pouco esta história.

Na verdade o acidente se deu quanso Lais, Joselane e seu técnico resolveram descer pela primeira vez uma pista preta chamada Double Jack. Uma pista preta é uma pista com forte inclinação, não é lugar para novatos. Fica difícil sustentar que ela não estava treinando, podemos dizer que ela não treinava esqui de estilo livre, mas quando alguém desce pela primeira vez uma pista perigosa com seu técnico e sua companheira de treinos acho que fica difícil dizer que ela estava lá a passeio. Não conheço atletas de alto rendimento que após treinos pré olímpicos saem por aí fazendo outros esportes radicais só para relaxar.  Mas vamos voltar um pouco no tempo para entender a história desde o começo.

Bom, tudo começou em Maio de 2013 quando Ryan Snow, um ex técnico da equipe americana de esqui, casado com uma brasileira, convenceu Pedro Cavazzoni diretor técnico da Confederação Brasileira de Desportos na Neve a formar uma equipe de esqui de estilo livre. Nesta modalidade os desafios são muito similares ao salto sobre a mesa, modalidade esta que Lais era uma das melhores do mundo.

Em Maio de 2013 a CBDN realizou um teste para encontrar atletas para seu experimento, a ideia inicial era preparar uma equipe para a Olimpíada de Inverno de 2018. Foi nesta seleção que despontaram Lais de Sousa e Joselane Santos outra ex ginasta. Pode parecer estranho mas é muito comum atletas de alto rendimento se darem bem em mais de uma modalidade e com Lais, que tinha uma noção espacial espetacular, não foi diferente.

A partir daí é que a história começa e se complicar, com uma verba de USD 120 mil, a equipe começa a treinar em uma ladeira do esqui parque de São Carlos onde elas desciam uma pista artificial parecida com um tobogã saltavam uma rampa e aterrissavam num colchão de ar de USD 20 mil comprado especialmente para ela e Joselane. Lembrando que Lais tinha visto neve uma vez na vida durante uma de suas muitas viagens com a equipe de ginastica artística. Seu primeiro treino na neve foi no Canada em Julho, lembrando que Julho é verão no Canada então a quantidade de neve não deve ter sido enorme.

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Para participar de uma Olimpíada o esquiador tem que ter participado de etapas do circuito mundial então ela e Josi foram competir no início de Dezembro na Finlândia onde ficaram com a penúltima e anti penúltima colocação se classificando para competir numa etapa do circuito mundial. Após participar de três etapas do circuito mundial a “sorte” resolveu sorrir para Lais. O Brasil era o quarto reserva, mas os três primeiro já tinham conseguido suas vagas. Então com a desistência de uma atleta de Belaurus a vaga agora era do Brasil e Lais iria para sua primeira Olimpíada de inverno após oito meses de treinamento e apenas dois meses de competição.

Todos nos emocionamos com o filme sobre a equipe Jamaicana de trenó que competiu na Olimpiada de inverno de 1988. Quem não gosta de torcer para alguém com pouquíssimas chances, quem não gosta de uma história de superação. Mas o filme também mostra outro lado do esporte, o risco de se competir em altíssimo nível sem a vivência necessária para se dominar as diversas situações inerentes a estes tipos de modalidade.

Muitos podem argumentar que Lais não se acidentou praticando esqui de estilo livre mas nada muda o fato que com apenas 8 meses de treinamento colocaram esta menina para competir numa Olimpíada de Inverno. Ela poderia dizer não, claro que poderia, mas qual atleta de alto rendimento diria não para uma Olímpiada ? Será que ela não se sentia mal por não saber esquiar tão bem e cair na frente dos melhores do mundo ?

Outra dúvida que acho pertinente, ainda mais nos dias atuais, será que precisamos usar dinheiro público para financiar um esporte que provavelmente não vai gerar muitos retornos para o país? A quem interessa colocar uma atleta a mais na Olimpíada de Inverno, ao técnico americano com certeza já que este provavelmente não trabalhou de graça, a CBDN com certeza já que com mais atletas mais dinheiro, mas para o país tenho sérias dúvidas.

Lais não era uma desconhecida que tentava a sorte num tudo ou nada, Lais era uma fantástica atleta com duas Olimpíadas e cinco medalhas de Panamericano no seu curriculum, Lais agora está lutando por sua vida e provavelmente vai passar por uma longa e dolorosa recuperação.

Por tudo que li não enquadro este acidente como uma fatalidade, acho que cada um é maduro o suficiente para tirar suas conclusões mas infelizmente, por enquanto, é apenas Lais quem vai sofrer as consequências, é uma pena.

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20 comentários em “O acidente de Lais dos Santos Souza foi uma fatalidade ?

  1. Marcos
    5 de fevereiro de 2014

    Mudaram o tema do blog que é NATAÇÃO ou é falta de assunto ???

    • rcordani
      5 de fevereiro de 2014

      Querido Marcos, é falta de assunto mesmo! Foi mal!

  2. Marcos
    5 de fevereiro de 2014

    Eu até entendo o caso dessa esquiadora,muito triste, mas a natação é tão rica em história e os que aqui publicam vivem dizendo que tem muitas coisas interessantes a contar, pelo jeito não tem não rss sugestão,entrem em contato com a FAP,gente lá tem acervo histórico e pessoas que podem contar histórias incríveis da natação paulista, assim voces não se limitam a somente histórias de nadadores nem tão famosos assim, de outros estados que não interessa muito quem mora aqui em SP, que não interessa tanto ao nosso conhecimento, relatos pessoais eu juro, passo reto e nem leio, gosto muito desse blog, mas voces podem melhorar e muito as publicações, deixando de lado relatos pessoais de nadadores que quase ninguém conhece com histórias da natação paulista que estão esquecidas do público aquático de nosso estado, espero poder ter contribuido com essa dica e espero que me entendam e não me levem a mal,mas acredito que muitos devam pensar igual a mim !

    • laurivalshita
      5 de fevereiro de 2014

      Que pena que você não gostou, sua opinião é muito importante… not !!!

      • rbonotti
        6 de fevereiro de 2014

        O texto está muito bom, não se preocupe com o “Marcos”…

  3. Aécio
    5 de fevereiro de 2014

    Finalmente alguém esclareceu essa aventura! Mas que coisa de amador, hein? Nas reportagens das TVs parece que elas sabem tudo de esqui….. Fico aqui desejando que a Lais se recupere bem.

    Quanto a reclamação do amigo aí de cima, lá no cabeçalho do Epichurus tem um link “Aos seus lugares”, onde fica claro quais são os temas do blog. Lá está escrito assim: Olá. Somos um grupo de amigos ex-nadadores na faixa dos 40. Esse blog pretende tratar dos seguintes assuntos, em ordem decrescente: NATAÇÃO, FUTEBOL, ECONOMIA, MÚSICA, OUTROS.

    Então este post cabe muito bem no tema OUTROS….. e eu curti!

    • laurivalshita
      5 de fevereiro de 2014

      Caro futuro presidente, data venia.
      O técnico contratado era de primeira linha, as viagens para competir foram de primeira linha e a estação de esqui para treinamento específico também era de primeira linha. Não rolou nada de amador neste negócio, foi tudo padrão FIFA, tudo financiado com o seu, o meu, o nosso imposto.

      • Aécio
        6 de fevereiro de 2014

        Bom, se eu entendi direito, um esquema de custo profissional, com o meu, o seu e o nosso imposto, bancando atletas amadores. Parece que seriam as Eriks Mussambanis dos esquis.
        Fazendo um paralelo, um Técnico de primeira linha não coloca um nadador de oito meses de treino, que nunca viu o mar, para atravessar o Canal da Mancha. Parece amador também. E sem juízo!

        No mais, não entendi onde entra o “futuro presidente”….

  4. rcordani
    5 de fevereiro de 2014

    Caro Laurival, boa estreia, obrigado pelo post.

    Eu concordo contigo que não tem sentido gastar verba olímpica com esse tipo de esporte que não temos tradição. Esse dinheiro seria muito mais bem empregado na base e em esportes que temos tradição, como basquete, handebol, voley, atletismo, natação e judô. Essa mentalidade Mutley (medalha medalha medalha) não é uma boa política de Estado. Esportes de Inverno então já é demais!

  5. pacheco
    6 de fevereiro de 2014

    Muito bom post. Ignore o tal “Marcos”, e’ um velho troll que fica assombrando por aqui.
    Eu particularmente acho enterrar dinheiro publico nisso mais um dos milhoes de absurdos que vemos todos os dias no Brasil.
    O acidente foi uma fatalidade, e espero que Lais saia dessa da melhor maneira possivel.

  6. Rodrigo M. Munhoz
    6 de fevereiro de 2014

    Fiquei mais triste ainda com o assunto vendo as fotos sorridentes da Laís antes do acidente. Estava viajando e não tinha lido muito sobre o assunto até agora. Coincidentemente li uma frase sobre esquiadores numa publicação americana (Outside Mag) que me veio logo a cabeça: Algo como – o esquiador tem que ser “the right amount of crazy” (louco na medida certa). Esqui é um esporte divertido, pelo pouco que vivenciei dele, mas inegavelmente é perigoso e fatalidades acontecem. Duas recentes quedas de ídolos do esporte – Schumacker e Laís nos lembram disso. O meu problema principal é que, este esporte, depende de algo que não temos no Brasil: Neve. Então tenho dúvidas – assim como o autor do artigo sobre se deveríamos investir em um esporte que não renderia facilmente frutos locais para jovens praticantes. E mais: Imagino que pelo menos boa parte dos atuais praticantes brasileiros de esqui precisem bem menos de ajuda financeira que a grande maioria dos nossos jovens praticantes de outros esporte em camadas de base. Não que não mereça ajuda, mas estatísticamente falando, se você já teve algum contato com esqui, provavelmente você não faz parte da camada menos privilegiada.
    Não culpo a Laís por tentar um novo e fantástico desafio, nem o técnico pela fatalidade. Não tenho problemas de termos representantes em esporte sem tradição brazuca, mas espero que as prioridades de investimento sejam sempre melhor pensadas no futuro.
    Por fim, torço pela Laís e espero que ela possa sorrir novamente em breve.
    Abraços e obrigado pelo post!

  7. Lelo Menezes
    6 de fevereiro de 2014

    Muito bom o texto caro Laurival. Concordo com cada palavra. Acho um absurdo investir dinheiro público em esportes de inverno. O Brasil não tem, nem nunca terá tradição nesses esportes. Alias, eu acho absurdo investir dinheiro publico em qualquer esporte no nível olímpico. Esse investimento tem que vir do capital privado. O governo tem que investir em esportes de base, com cunho social e inclusivo.

    Quanto ao acidente da Lais, acho que foi irresponsabilidade do seu técnico e dela própria talvez. Descer pistas pretas é muito difícil e requer anos de treinamento. Ela devia saber disso e seu técnico com certeza devia saber disso. Uma pena a situação. Muito triste mesmo! Torço muito para que sua recuperação seja a melhor possível.

  8. Lelo Menezes
    6 de fevereiro de 2014

    Acabou de sair na Folha

    “O trenó que a equipe de brasileiros do bobsled adquiriu para participar dos Jogos Olímpicos de Inverno foi tema de um bate-boca com Eric Maleson, ex-presidente da CBDG (Confederação Brasileira de Desportos no Gelo), e dois atletas do time que disputará em Sochi.

    Comprado da equipe de Mônaco, o trenó brasileiro ainda não foi pintado com as cores do país e apresenta um aspecto “sucata”, com a frente e a lateral descascada. “Não deu tempo de pintar, foi tudo muito corrido. A gente chegou há dois dias”, disse Odirlei Pessoni, na quarta-feira, ao Sportv. A equipe afirmou que iria começar a decorar o trenó nesta quinta-feira.”

  9. Sidney N
    7 de fevereiro de 2014

    Muito bom Laurival, o texto esclareceu várias dúvidas que tinha sobre a preparação da atleta. Vamos torcer pela pronta recuperação da atleta.

    Fatalidade à parte, concordo que existem melhores maneiras de se alocar os recursos públicos. Afinal, é difícil justificar o investimento com base no argumento de que o objetivo seria a massificação da modalidade, a não ser que alguma anomalia climática crie as condições para sua prática no país.

    Abraços

  10. Fernando Cunha Magalhães
    10 de fevereiro de 2014

    Não tenho nada a acrescentar ao texto nem aos comentários: pensamentos convergentes diante de uma história de sonho, desafio e inúmeros equívocos com final trágico.
    Minha homenagem e torcida a essa grande atleta!

  11. DJAN MADRUGA
    13 de março de 2014

    queria dar um testemunho positivo da importância desse texto que apesar de não ser de natação serve como reflexão para atletas da natação que queiram passar para outras modalidades, cito o exemplo da maratona aquática e o triathlon que implicam em muitos riscos que quem pratica natação em piscina nem sonha. Posso citar minha experiência própria pois nadei a Olimpíada de 1984 e meses depois fiz o ironman do Havai, prova que completei a duras penas sendo inclusive atendido pela equipe médica durante o percurso da maratona após ter liderado a natação com recorde, e no fim da minha carreira de triathleta depois de varias vitórias como profissional terminei atropelado por um taxi numa competição que liderava no RJ, dei sorte de só ter quebrado uma clavícula, mas sai vivo. Vale a pena avaliar bem os riscos dos esportes radicais antes de ir fundo neles, abs epichurus

    • rcordani
      15 de março de 2014

      Valeu Djan, grande abraço. Um dia você precisa escrever a história desse Ironman direitinho e postar aqui, hein?

    • laurivalshita
      19 de março de 2014

      Caro Djan,
      Obrigado pela sua mensagem, só queria dizer que você foi um dos meus ídolos da juventude e me sinto honrado pelo seu post.
      Comecei a fazer triathlon após ver um video de você liderando uma prova do circuito americano, Acho que era uma etapa em Hilton Head !!!

  12. Pingback: Eu não quero o dinheiro da viúva!!! | Epichurus

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Publicado às 5 de fevereiro de 2014 por em Natação e marcado , .
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