EPICHURUS

Natação e cia.

O Projeto da Páscoa

rolimã
substantivo masculino
1. B mecanismo em que esferas de aço são introduzidas entre as superfícies de atrito, a fim de permitir contato rolante em vez de atrito direto; rolamento.
2. p.ext. carrinho de madeira que se compõe de uma tábua montada sobre esse mecanismo.

Espero que todos tenham tido um ótimo feriado de Páscoa! Posso dizer que saio deste feriado bem feliz, com uma mistura de nostalgia e orgulho de ter realizado um pequeno projeto manual que vai gerar boas lembranças em toda minha família. Não, não fiz ovos de chocolate, mas não acho que seria exagero dizer que boa parte desta felicidade foi obtida graças a pequenas e antiquadas peças automotivas recicladas…

Um aparte: Aos que se habituaram a esperar pelas segundas feiras para ver neste blog um novo texto sobre natação, sinto muito em decepcioná-los, mas dessa vez trocarei a água pelo asfalto das ruas de Atibaia. Não que não tenha nadado no feriado: Continuo firme no plano de alisar a água até um novo patamar Peba neste ano de 2015. Mas é que neste feriado me conectei com algo que me é ainda mais caro que a natação: Minhas crianças.

E aqui é importante esclarecer que não estou falando apenas dos meus filhos, mas também da minha criança interior.

Há tempos que eu queria resgatar algo que me trazia ótimas lembranças de infância: Os carrinhos de rolimã que fazíamos com meu Tio Tô para descer a rampa de entrada da “Chácara do Gordo”. Rolamentos de transmissão, que meu tio arrumava, junto com tábuas, restos de madeira, pregos e parafusos que recolhíamos na chácara eram os componentes com que construíamos nossos foguetes. Eu e meu irmão ajudávamos um pouco…  Serra, furadeira e serrote eram proibidos, mas o martelo, a chave de fenda e a tinta + pincel nos davam a sensação que estávamos construindo algo nosso.

Lembro de pintar uma caveira branca num carrinho cinza (ou verde?) que se tornou meu favorito. Metíamos pregos tortos nas pontas dos eixos para segurar as rodas, que mesmo assim teimavam em saltar longe nos “cavalos de pau” ao fim da ladeira.  Os carrinhos meio tortos, talvez fossem indicadores precoces que nem eu nem meu irmão tentaríamos o caminho da engenharia ou indústria automobilística… Mas que orgulhosos ficávamos daquela produção artesanal quando descíamos a ladeira pela primeira vez! Sempre com medo de alguma falha catastrófica, mas exultantes, sob o olhar dos adultos.

Agora, mais de trinta anos depois, o adulto olhando as marcas no asfalto deixadas pelo aço dos rolimãs finalmente sou eu.

Depois de caçar os anacrônicos rolimãs pela cidade (fomos em mais de dez oficinas e só achamos bons rolamentos usados em duas), conseguimos uns seis ou sete dos bons. Compramos o resto dos materiais numa madeireira e fizemos juntos dois carrinhos, que ganharam os nomes de “Mun Lobster” e o “Raio Verde”. Os moleques pintaram seus bólidos com guache, lixaram, deram umas marteladas nos eixos e aparafusaram as “direções”. Fiquei contente de ver que eles mostraram tanto orgulho daqueles carrinhos com nomes originais, quanto eu tinha do meu carrinho “caveira” dos anos 80. Só não sei quem estava mais tenso na primeira ladeira… eu ou eles… Mas excetuando umas trombadas e rodas errantes, nos divertimos muitíssimo com o resultado do nosso projeto. Assim como o barulho do atrito das rodinhas no asfalto e os joelhos ralados, algumas coisas não mudaram e nem devem mudar.

Depois de tanto chocolate e emoções de Páscoa com a família, é impossível saber se as cicatrizes no joelho das crianças hoje, trarão boas recordações como as que tenho. Contudo, acho justo que tenham uma chance de tentar algo fora dos condomínios e dos clubes da cidade grande.

Estranhamente, meus pais disseram não se lembrar desses carrinhos de rolimã do nosso passado… Devia ser meio estressante pra eles ver seus dois moleques rolando ladeira abaixo em tábuas com rodinhas o dia todo, enquanto tentavam aproveitar as férias. Nessas horas eles deviam ficar contentes que, quando de volta a Bauru, nos dedicávamos tanto a natação e não a esportes radicais de nenhum tipo. De qualquer maneira, começo a achar que a genética pode explicar um pouco da minha memória seletiva…

Sobre Rodrigo M. Munhoz

Abrace o Caos... http://abraceocaosdesp.wordpress.com

8 comentários em “O Projeto da Páscoa

  1. rcordani
    6 de abril de 2015

    Boa Munhaz.

    Eu nunca tive essa experiência, talvez fosse mais comum no interior do que na capital.

    Dúvidas:

    1- M. não se animou, é “coisa de menino”?

    2- Você obrigou o pobre do A. vestir a camisa do São Paulo? coitado!

    3- Houve real esfolamento de joelhos?

    Abratz

    • Rodrigo M. Munhoz
      6 de abril de 2015

      Certamente rolimã é coisa de lugares com ladeiras e sem muito transito. Tem muitos em São Paulo ainda, mas na periferia, pelo que vejo no YouTube e Google… E na minha família é bem coisa de menino, acho… A M. não se animou nem na construção, nem nas corridas.
      Sobre o A. e o São Paulo, o cara é muito fanático, mas está ciente da má fase que passamos. Ele se conforma lembrando que o Palmeiras estava assim por anos e hoje em dia anda até ganhando umas e outras. Assim como ele, espero que a crise seja superada em breve.
      Ferimentos leves ocorreram mesmo, mas ninguém chorou – o que considerei um ótimo sinal. Tivemos uns Joelhos, mãos e cotovelos ralados. Mesmo assim, devo adicionar capacetes e luvas na próxima ida a Atibaia, pois os caras estão pegando gosto pela velocidade…
      Abratz e boa semana!

  2. Luiz Alfredo Mäder
    6 de abril de 2015

    na época que o Jardim Schaffer não era mais que um loteamento fui algumas vezes assistir os mais velhos descerem as rampas de rolimã. Numa delas desci com a Ligia e tentei parar o carrinho com o dorso da mão. Esta experiência fez com que eu gostasse mais da minha bicicleta.

    • Rodrigo M. Munhoz
      6 de abril de 2015

      LAM, essa técnica de freagem é comum entre os curitibanos ou apenas os masoquistas? Espero que a Ligia tenha escapado ilesa … Informação importante sobre seus conterraneos: No PR há um GP Internacional de Carrinhos de Rolimã, todo ano, na cidade de Foz do Iguaçu. Apesar de alguns acidentes feios, não sei de ninguém que intencionalmente tentou frear com a mão, porém.

  3. Julio Rebollal
    6 de abril de 2015

    Cordani, carrinho de rolimã não é brinquedo só do interior.

    Na minha infância, no Rio, também construi pelo menos uns 03 carrinhos de rolimã. Pegávamos as madeiras no lixo e os parafusos e rolimãs nas oficinas da redondeza. Não dava para escolher os rolimãs, aceitávamos os disponíveis, inclusive com tamanhos diferentes. O freio tinha um pedaço de pneu preso na ponta. Assim que o carrinho ficava detonado, fazia outro, reaproveitando algumas partes, quando possível.

    Muito divertido e dolorido também!!

    Abs.

    • Rodrigo M. Munhoz
      6 de abril de 2015

      Boa Julio! Eu inclusive vi uns carrinhos expostos pra vender num barzinho em Santa Teresa, no Rio não faz nem um mes. Se bem que acho que não teria coragem de descer as ladeiras ali nos arredores … muito íngremes!
      Abraços!

      • Julio Rebollal
        6 de abril de 2015

        Ali em Santa Teresa é só para profissionais. As Paineiras também. O que não é o meu caso. Era Peba em rolimã!!

        Parabéns pela iniciativa com os garotos!

  4. Fernando Cunha Magalhães
    21 de abril de 2015

    Meu pai fez um carrinho “profissa” para os filhos quando éramos crianças. Não queria nos ver muito próximos do asfalto então fez rodas de madeiras com raio bem maior. Não pegava altas velocidades, mas garantiu bom divertimento.
    Aqui em Curitiba a descida mais famosa é a do parque São Lourenço.
    Até hoje a garotada desce por lá.

    Quando as meninas eram menores, convidei o vovô Francis a um novo projeto, que por conta do risco das mãos e joelhos, recusou prontamente.

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Publicado às 6 de abril de 2015 por em "Causos" fora d'agua, Epicuro e marcado , , .
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