O sonho de treinar nos Estados Unidos veio cedo, culpa da revista Swimming World, que meu pai assinava desde que eu era menino. Eu era absolutamente viciado na Swimming World e ficava horas no quarto com um pequeno dicionário inglês – português, traduzindo seus artigos e sonhando em algum dia nadar em equipes como Mission Viejo ou Curl-Burke. Cresci lendo artigos sobre o Steve Lundquist e John Moffet e vira e mexe ficava feliz quando faziam alguma reportagem com o Ricardo Prado. Alias foi após a prata dele em Los Angeles que eu coloquei na cabeça de uma vez por todas que um dia eu nadaria na terra do Tio Sam.
Fast Forward seis anos, e eu chegava sozinho ao aeroporto de Los Angeles, rumo à pequena cidade de Bakersfield para treinar com o renomado Dr. Ernest Maglischo. Eu não o conhecia, a não ser por carta. Cheguei a falar com ele brevemente por telefone, com meu inglês macarrônico, mas todo tramite burocrático da minha mudança de país foi feito através de conversas telefônicas entre ele e meu pai. De volta ao aeroporto, ao sair da imigração e entrar no salão de desembarque, procurei com os olhos algum carinha com jeito de nadador. É que o Jim Glin, capitão da equipe, tinha ficado de me buscar em LAX. Não vi ninguém que se encaixava na descrição, muito menos uma placa com meu nome. Resolvi ligar de um orelhão, afinal tudo que eu tinha era um pedaço de papel com o telefone do sujeito. Liguei umas 10 vezes até entender que do outro lado da linha quem respondia era uma secretária eletrônica. Só entendi a palavra “brazilian”. Bom, deduzi que o Jim me deixou alguma instrução e como não entendi, resolvi usar a lógica e comprar uma passagem de ônibus até Bakersfield. Ao chegar tentei ligar de novo e dessa vez ele atendeu, pediu desculpas por não estar no aeroporto e foi me buscar na rodoviária. No caminho da casa onde eu ficaria ainda passou numa loja de CDs e comprou um do Dramarama, me contou um pouco sobre a cidade, me largou na casa e prometeu voltar no dia seguinte pra me levar pra todo canto. Só o vi novamente um mês depois, no primeiro dia de treinos.
Eu tinha decidido chegar um tempo antes do inicio oficial da temporada para aprender o máximo possível de inglês e mesmo sem o Jim, consegui dar uma melhorada graças ao “The Jeffersons” que passava toda noite na TV. Como eu estava sozinho assistia horas do “The Jeffersons” toda noite e no final de um mês eu já entendia pelo menos o sentido das frases. Nos primeiros dias o mal humorado George Jefferson podia falar grego que pra mim dava na mesma!
Nesse período eu fiz pouca coisa além de ir todo dia a um restaurante fastfood diferente e jogar fliperama toda noite no arcade local. Lógico que não esqueci a natação! Toda tarde eu passava na piscina e nadava uns dois mil metros. Nesse um mês fui conhecendo alguns companheiros de equipe, como o Morgan Bailey, que futuramente seria Head Coach de Bakersfield. Só que eu queria mesmo era conhecer o Maglischo que estava em algum canto dos Estados Unidos ministrando um daqueles swimming camps. Quando finalmente o encontrei pela primeira vez, coisa de uma semana antes do início oficial da temporada, me apertou a mão e sorrindo disse “Ufa, achei que você seria baixinho como o Rod (Rodrigo Messias)!” Esse era o Maglischo.
Durante esse tempo lá, eu fui criando expectativas sobre a rotina de treinos nos Estados Unidos, mas o começo da temporada foi bem diferente daquela dos meus sonhos. Tínhamos recreação todo santo dia. Por um lado eu achava sensacional, quem não gosta de recreação, mas por outro comecei a ficar preocupado que aquilo não era treinamento digno para um nadador que queria uma medalha olímpica – “Duvido que o Ricardo Prado faça recreação todo dia!” De qualquer forma, por cerca de uma hora antes do treino na água, jogávamos futebol americano com frisbee. O Maglischo não acreditava em corrida e a substituía por essas atividades mais divertidas. O resultado devia ser o mesmo porque eu corria pra burro e chegava na piscina suando. Dentro d’água o treino era muito parecido com o brasileiro, muito foco no aeróbico. Diferenças mesmo notei poucas. Uma delas foi a obrigatoriedade de tomar Gatorade durante os treinos. O Maglischo nos obrigava a encher a garrafinha e beber no mínimo duas delas (tinha um cooler gigante de Gatorade ao lado da piscina). Eu estranhei no inicio, mas depois me acostumei e passei a gostar de fazê-lo. Uma outra diferença sempre me incomodou! O Maglischo tinha muitas regras. Se chegasse atrasado mais de 15 minutos levava falta, se faltasse a mais de um treino por semana ficava de fora da próxima competição, se voltasse das férias com atraso ficava de fora da próxima competição, se fosse pego bebendo num fim de semana que tinha competição ficava fora da próxima competição (e acreditem tinham os dedos-duros) e assim por diante. Eram muitas regras e em muitos momentos me sentia muito mais como funcionário do que como atleta. Lembro de pensar “Pô, to aqui porque eu quero, porque gosto de ser nadador. Não porque preciso disso! Se o William tivesse essa estrutura toda colocava meio mundo nas Olimpíadas e sem nenhuma dessas regras!”
E minha primeira temporada continuou dessa forma. Ao longo do tempo fui notando outras novidades como os exames periódicos de ácido lático, no Brasil exclusivos para a galera do programa Kibon. Tive muita dificuldade com uma das consequências desses exames. A cada sessão de “tortura” onde ficava com a orelha roxa de tanto tirar sangue, o resultado saia com a faixa de esforço que eu deveria seguir nos treinamentos, até pelo menos o próximo exame, cerca de um mês depois. Basicamente o resultado ditava o ritmo das minhas séries aeróbicas de peito. Só que eu estava acostumado a treinar dando 110% de mim o tempo todo e conseguia fazer séries num ritmo mais forte daquele que o resultado do exame propunha. O exame me mandava manter 1’18 a cada 100m nas series de peito e eu treinava pra 1’15. O Maglischo brigava. Na minha cabeça, treinar mais “fraco” era sinônimo de nadar mal no fim da temporada. Demorei quase dois anos pra entender que treinar de maneira inteligente dava resultado muito melhor do que treinar na “porrada” todo dia.
Outra novidade, essa um pouco mais sutil, era um foco maior no programa de musculação. Passado o mês inicial as recreações cessaram por completo e foram substituídas pelas sessões de musculação. Levantávamos peso três vezes por semana e um auxiliar técnico nos acompanhava e nos cobrava empenho. Infelizmente não só cobrava, mas nos dedurava também. A pior bronca que eu tomei do Maglischo foi porque o infeliz contou pra ele que eu tinha matado uma série de perna na musculação.
Uma última novidade percebida foi que durante os treinos mais específicos onde o Maglischo dividia a equipe em seis grupos (borboleta, costas, peito, medley, velocistas e fundistas), eu praticamente só nadava peito. Num treino de 8.000m, eu diria que 70% era só peito. Livre somente no aquecimento e na soltura após a série. No Brasil eu estava acostumado a nadar peito somente em séries curtas. Séries longas sempre fiz de crawl. Aliás, a pior série da minha vida nos Estados Unidos foi 15×300 peito, na piscina de jardas, com intervalo curto. Nunca senti tanta dor numa única série.
Olhando hoje pro passado, vejo que as mudanças foram muitas e olha que não estou nem entrando no mérito de competições com arquibancada sempre lotadas, reconhecimento na comunidade, assunto constante na mídia e adversários de altíssimo nível. Mas na minha cabeça, um moleque de 19 anos, o polimento para o NCAA se aproximava e eu não tinha visto tanta diferença assim entre o meu treinamento no Brasil e a minha primeira temporada nos Estados Unidos.
Mas aí veio o polimento…
Eu cresci com o conceito que o polimento era algo quase místico. Era naquelas poucas semanas que os técnicos de ponta se diferenciavam dos técnicos fracos e medianos. Criar treinamentos fortes durante a temporada qualquer um faz, mas desenvolver um polimento de sucesso era para poucos.
Faltavam seis semanas para o NCAA e o Maglischo suspendeu por completo a musculação que já estava num programa mais light onde fazíamos repetições com menos peso, mas com mais velocidade. Os treinos na água começaram a ter menos metragem e sessões de vídeo e conversas motivacionais passaram a acontecer quase que diariamente. Ahhh, finalmente chegou o polimento! Agora sim eu vou descobrir porque a natação americana é disparada a melhor do mundo.
Assim como no Brasil, a metragem foi caindo gradativamente. O treinamento continuava em dois períodos, pois o Maglischo acreditava que se na competição nadaríamos duas vezes por dia (eliminatórias de manhã e finais à tarde), o treino deveria refletir essa situação. De manhã o treino já não passava de 2.000m e o a tarde não ia além dos 3.000m.
A uns 10 dias do NCAA, Maglischo nos reuniu na arquibancada e disse “Daqui pra frente o treinamento é com vocês. Eu vou ficar na borda da piscina pra fazer alguma tomada de tempo ou dar uma dica aqui ou ali”. Como assim?! Perguntei “Você não vai mais escrever o treino, é isso?” Ele respondeu que era isso mesmo e complementou dizendo “daqui pra frente, você deve fazer o seu aquecimento da competição. Aquilo que te deixa mais a vontade pra nadar sua prova. Se você faz um aquecimento de 1.000m, bate uma perna, faz um corretivo e depois dá um tiro de 50m peito pra ritmo, o seu treino até o NCAA tem que ser exatamente isso!”. Quase cai da arquibancada. E a mística do polimento? Eu não tenho capacidade pra decidir o que é o melhor aquecimento pra mim. E se até hoje o meu aquecimento foi equivocado?
Passado um dia eu não me contive e fui conversar com ele no particular. Contei meu desconforto e ele simplesmente disse “O segredo do treinamento não é o polimento. O segredo esta nas fases anteriores.” Pegou na gaveta o resultado dos meus exames de ácido lático e disse “Olha aqui. Você evoluiu em todo exame de acido lático esse ano. Você foi muito bem no CCAA (equivalente ao NCAA só que especifico da Califórnia, algo como nossos campeonatos estaduais). Em nenhum momento tivemos suspeita de overtraining (Maglischo morria de medo do tal overtraining que era culpado se o resultado do exame de acido lático piorava muito de uma sessão pra outra. Aí existia inclusive a desconfiança de queima de massa muscular com alta chance de comprometer o resultado do final da temporada). Então não há razão alguma para você não nadar bem o NCAA. O polimento serve para você descansar e chegar na competição com energia máxima. Só isso.” Mesmo assim pedi umas dicas do que deveria fazer de aquecimento, que basicamente era o que eu já fazia, e embora mais tranquilo, continuei desconfiado.
Acabei por nadar muito bem aquele NCAA de 1991 e dali pra frente a mística do polimento morreu pra mim. No ano seguinte tive a tal suspeita de overtraining, fiquei duas semanas em “banho maria” nadando pouco e solto pra me recuperar. Por sorte não comprometeu o resultado final. Nadei muito bem o NCAA de 1992 também, e cheguei muito confiante para nadar as eliminatórias das Olimpíadas de Barcelona.
Hoje percebo que a principal diferença do treinamento no Brasil para os Estados Unidos não estava nos treinos na piscina ou na musculação, mas sim em toda a estrutura que suportava o esporte com o suporte e reconhecimento da comunidade, uma agenda de competições fortes e com atletas de alto nível, mas basicamente empregando a tecnologia em busca de um melhor desempenho como filmagens e estudos da mecânica do nado para chegar a excelência no estilo, e principalmente o uso do exame de acido lático pra determinar o ritmo de treino, pois me ensinou a duras penas essa coisa de treinar com inteligência num ritmo determinado. Quando passei a levar a sério esse conceito tive um salto muito grande de qualidade, pena que aconteceu em 1993 e não em 1992, quando almejava Barcelona!
Muito legal o texto Lelo, bacana ouvir com detalhes essa experiência, realmente os caras sabem trabalhar um nadador! Como éramos adversários senti de perto sua evolução americana.
Sobre o “polimento” sim, era uma palavra quase mágica por aqui, mas hoje em dia até no Brasil todo mundo considera que polimento = descanso. O Pancho não era muito chegado nessa palavra, e nem no descanso em si (quando eu voltei a treinar com ele já adulto (1992) tive que convencê-lo a reduzir os treinos drasticamente perto dos campeonatos, ele estava mais acostumado com atletas mais novos que não precisam de tanto descanso).
Agora, quanta bobagem falou esse reporter de Bakersfield aí, hein? Disse que o Messias estava um pouco cabreiro com o Gustavo (o qual favorito para dois ouros) pois esse sucesso diminuiria as chances dele (Messias) de pegar a perna de crawl dos 400 individual medley (!!), isso se Messias não fosse nos 400 ou 1500L. E que o Lelo queria a perna de peito dos 400 individual medley! Pataquada forte! Mas foi interessante ver que muito próximo de Barcelona ainda não haviam descoberto a existência do Popov!
Mas o pior de tudo é o topete na foto do jornal! Lamentável!
Valeu R. Sabe que é difícil botar no “papel” a dimensão de ter ido morar nos EUA. Me lembro do dia que vi pela primeira vez a piscina em Bakersfield e vi um belo placar eletrônico digital e pensei “animal, os caras treinam com placar eletrônico”. Obvio que o placar era só utilizado nas competições, mas ali imaginei um treino acompanhando meus parciais no placar. O vestiário era o mais bonito que eu já tinha visto e os armários pareciam novos em folha. Ganhei sunga e um parka no 1º dia de treino. Fazíamos varias ações para ajudar a comunidade, como um revezamento de 24h onde as pessoas “apostavam” contra a gente e a renda era toda revertida para algum programa social. A integração com os estudos era absolutamente perfeita: aulas oferecidas em horários diversos e a opção de pegar menos aulas pra focar numa competição mais importante ajudava muito. Nunca peguei aula antes das 9h, assim o meu treino de “madrugada” começava as 06h. Só que tinha outro treino que começava as 05h pra quem gostasse de aulas mais cedo. Morávamos todos muito próximos e praticamente toda noite tinha alguma atividade na casa de algum nadador. Toda Terça-feira por exemplo tinha sessão do seriado Twin Peaks na casa do Mike Holland, hoje morando no Japão. Tomávamos café da manhã todo dia juntos na faculdade e isso unia muito o grupo. Tinha a amizade com o pessoal dos outros esportes e a interação, tanto social quanto de suporte durante as competições era intensa. Enfim, são tantas coisas que tornaram a experiência sensacional, inclusive uma que transcende o mundo “natação”.
Quanto a reportagem, foi de fato ridícula. Me lembro muito bem do dia! O repórter estudou um pouquinho, mas era totalmente leigo! O Messias falou que sua chance era nos 1500m. O cara, que devia ter lido sobre o Gustavo, perguntou se o Gustavo seria adversário e o Messias disse que não nessa prova, mas que nadavam juntos os 200m. O cara confundiu tudo. No meu caso eu disse que sempre preferi os 200m peito, mas minha única chance era o 4x100m Medley. Ele escreveu o que quis e ficou uma comedia mesmo!
Ahhh e quanto ao topete do Messias, você tem razão… Ta ridículo!
Que maravilha de texto. Muito bem escrito por sinal.
É impressionante os misticismos.
Lembro que depois de anos parado, voltei a nadar e fazer musculação nas academias “modernas” entre 2002 e 2005. Na época na Formula (atual Bodytech) e posteriormente na Compettion.
Pensei comigo: – se tivéssemos essa estrutura na nossa época, as coisas seriam muito diferentes.
Das pouquíssimas sessões de musculação que fiz quando nadador, eram em aparelhos com com corrente de bicicleta e com autos riscos de lesões. Hoje com chips e tudo mais que qualquer academia de ponta fornece.
Parabéns Lelo.
Me senti fazendo seus caminhos.
Valeu Amaral! Muito obrigado pelo elogio!
Esse negocio de musculação era mesmo muito amador na nossa época, como grande parte do nosso treinamento em geral, sem nutricionista, sem bio mecânico, sem suplementos e sem muito apoio!
Abraços
Boa Lelo!
Seu texto me fez lembrar dos meus dias iniciais em Columbia-MO… Acho que apesar do “abandono” do seu capitão nos primeiros dias, você se deu bem melhor com a escolha da Califórnia. :-).
Sobre o tema do post, eu mesmo não tenho certeza que parte do “segredo” de um bom resultado não estava no polimento… acho que isso deve depender do atleta. Eu, p.ex. acho que precisava polir e descansar bem para dar algum resultado minimamente aceitável. Eu parava toda a intensidade anaeróbica, aumentava foco em velocidade e zerava qquer trabalho de força umas 6 semanas antes da competição principal.
Adicionalmente, tinha o estilo do técnico, e, mesmo nos EUA vi que técnicos diferentes encaravam polimento de maneira diferente, sendo mais (Brian Hoffer) ou menos (JohnO) atentos a esta fase do treinamento.
Mas efetivamente mesmo, acho que não ser PEBA é o ideal para dar menos valor para a fase pré competição… Os extraordinários conseguem dar resultados bons frequentemente e repetidamente, ao que parece – coisa que nunca consegui fora dos dois ápices anuais da minha época de treino. O que se faz no “tapering” de atletas de ponta hoje em dia? Será que alguém sabe?
Abraços!
Valeu Munhoz! Com certeza a California é bem mais fácil de encarar do que o Missouri.
Eu não tenho idéia de como é o polimento hoje em dia, mas os ciclos com certeza são mais curtos porque eles tem muito mais competições importantes do que tínhamos na década de 90 e hoje as dezenas de suplementos diários acredito que ajudam bastante numa recuperação muito mais rápida, ou seja, o polimento deve ser bem curto!
Lelo o texto me fez refletir muitas coisas do esporte. Acho que o Maglischo está certo, ninguém melhor que o próprio nadador para saber o que é melhor para ele no polimento, o problema reside na falta de maturidade quando vc é jovem para realmente acreditar nisso, ainda mais em nossa cultura em que o papel do técnico é supervalorizado, sendo constantemente utilizado como justificativa para retirar a própria responsabilidade do atleta pelo fracasso.
O mais engraçado do período do polimento, eram (ou ainda são) aquelas dúvidas na cabeça de todos os nadadores: será que estou forçando demais? estou muito mal; estou me sentindo muito bem antes da competição; xxxxxiiiiiii passei do ponto; ensejando milhões de incertezas nos camaradas.
Na minha opinião a melhor lição dos USA para natação mundial, tendo relacionamento direto com o polimento, é que o nadador tem que dar o resultado em todo momento que é necessário , e não só quando ele está numa forma fenomenal, que normalmente acontece raramente durante a carreira (aquela competição que vc nada muito bem e parece que não cansa, é quase uma sensação de êxtase na água em razão da velocidade e leveza alcançada) sei que é meio difícil de entender, mas isso denota aquela velha máxima: ” é muito mais dífícil vencer uma olimpíada ou um mundial do que bater o recorde mundial em uma competição menor”, se rolar os dois, o cara é realmente foda. Daí tiramos a seletiva única para os melhores eventos, mas isso só é possivel nos USA porque constantemente o nadador esta sendo testado e solicitado a dar resultados em competições de nível durante a temporada inteira, então no momento da competição maior ele realmente acredita que irá nadar mais rápido independente de não estar se sentindo na melhor forma da vida. Parabéns pelo belo texto Lelo, e amplexos a todos os Ephicuristas.
Boa Rena, valeu!
Você tocou num ponto muito importante. O atleta tem que dar o seu melhor resultado quando interessa! Alias, essa é a marca registrada dos grandes nadadores, não só os americanos, mas todos grandes. Por isso defendo fervorosamente a seletiva única aqui também, embora entenda que o assunto é polemico e inclusive já tivemos boas discussões aqui mesmo no Epichurus sobre isso!
Abraços
Muito legal o texto Lelo, mas eu acho que você deve ter aprontado alguma para o capitão do time para ele ter abandonado você assi, Confessa aí!
Imagina Carlao! Fui muito simpático com ele e com a noiva!
Excelente leitura pela construção e riqueza de detalhes.
Acredito que pelos 14 ou 15 anos o Léo entendeu minha postura responsável e já me deixava à vontade para opinar e decidir como seriam os aquecimentos nas competições. Trocávamos ideias e ele acompanhava em tudo que eu precisasse.
Nos polimentos conversávamos bastante, mas nunca houve uma “certeza absoluta” de que fazíamos o que geraria o melhor resultado.
Foram poucas “competições mágicas” em que tudo deu certo.
Na seletiva para o mundial de 90 que eu estava super-treinado, pedi para diminuirmos mais – intensidade e metragens – que em experiências anteriores. Passamos do ponto, foi um erro meu. Acredito que perdi massa magra e cheguei menos forte do que estava anteriormente para competir. Me senti estranho na água e ainda assim melhorei meus tempos, mas não o suficiente.
Agora essa de ficar à vontade durante todo o polimento e trabalhando a estratégia de aquecimento, pra mim é novidade. Achei interessante.
Valeu Esmaga! Acho que esse negocio de contribuir com o técnico dando opinião era muito raro, mas deve ser muito positivo! Eu passei a fazer isso só no final da carreira, infelizmente!
Abraços
Valeu meu filho. Texto excelente e de fácil compreensão. Lembro de cada detalhe qu vc me contava. Pai
Valeu seu João Guilherme! Eram pouquíssimos os pais que acompanharam a carreira de atleta dos filhos tão de perto quanto vocês!
Boa Lelo, gostei bastante desse post!
Valeu Pacheco! Você talvez não teve a experiência de treinar fora do Brasil, mas experiência de vida morando nos EUA, na Inglaterra e em Hong Kong é para poucos!
excelente texto Lelo… e se na sua época musculação era “amadora”, imagine na minha época… kkk…mas isso é outro caso.
Valeu Jorge!
Abração!
Posso sugerir um post? Eu li vários dos seus textos (li vários de todo mundo), passando de leve no assunto parar de nadar. Particularmente no post em que você explica que é chamado para uma reunião com o técnico e ele lhe diz que você poderá ser nadador olímpico, mas não campeão olímpico, o texto me dá uma sensação de que você parou antes da hora. Agora, teve também esse final, “pena que aconteceu em 1993 e não em 1992, quando almejava Barcelona!”. Você não sonhou com Atlanta? Fiquei curioso sobre o porque de você parar de nadar. Qual o motivo pontual? Dor nos ombros, joelho, lesão, incompatibilidade de horários, ou cansaço mesmo (ou tudo junto)? Desculpe se você já falou disso por aqui, é que não consigo ler tudo. E, se sim, pode me indicar o post? Grande abraço, parabéns pelo trabalho.
Opa Raul, muito pertinente as suas perguntas. As respostas não são fáceis e talvez algumas delas merecessem seus próprios posts, mas tentarei responder de uma maneira resumida.
Primeiramente sim, eu sonhei com Atlanta, mas não consegui manter o foco, nem o treinamento até 1996. Após 1994 eu simplesmente não tinha mais motivação para treinar com afinco. Eu tinha 23 anos e a vida universitária americana bombava com festas quase que diárias e comecei a levar os treinos menos a sério e passei a aproveitar muito mais a vida social. A falta de treinos começaram a afetar meu desempenho. No sulamericano absoluto de 1994 eu ganhei os 50m peito, mas embora favorito nos 200m, morri de uma forma terrível e amarguei a 4ª posição. Em piscina curta eu ainda conseguia ir bem. No Finkel de 1995 eu bati o recorde brasileiro absoluto dos 200m peito, mas na piscina longa a coisa era diferente. Eu cheguei a nadar as eliminatórias das Olimpíadas de 1996, mas sem a mínima esperança. Nos 200m peito fui o único a “tentar” o impossível índice. Nadei sozinho mas a falta de foco era tanta que dois dias antes de nadar, sai escondido do Hotel para ir numa festa com amigos cariocas e voltei de madrugada.
A verdade é que o meu sonho mesmo (por mais prepotente ou ingênuo que possa parecer) era ser campeão olímpico. Quando a ficha caiu que eu não tinha talento pra isso, ir para as olimpíadas me parecia (até meio inconscientemente) como um prêmio de consolação. Lógico que eu queria ter ido, mas nunca persegui esse objetivo com extrema dedicação (mais sobre isso no meu próximo texto). Alia-se a isso os índices impossíveis no nado peito (a única esperança era sonhar que a CBDA levasse o 4x100m Medley o qual não aconteceu nem em 1992, nem em 1996), soma-se a minha pífia performance nas eliminatórias das Olimpíadas de 1992 onde eu tinha convicção que nadaria em torno de 1’04 nos 100m peito e acabei fazendo 1’06 e estão ai os ingredientes do fracasso em 1996.
Mas te digo uma coisa. Se eu pudesse voltar no tempo lá por 1990 com a mesma cabeça de hoje, eu teria abandonado todos os outros objetivos que tive pra focar somente nos 100m peito e tentar uma vaga no revezamento 4x100m Medley tanto em 92, quanto em 96. Infelizmente na época eu não tive esse foco!
Abracos
Opa, valeu pela sinceridade e pelas respostas. Posso entender o que aconteceu com você. Eu me lembro do dia que um amigo falou pra mim sobre ir pras Olimpíadas, ser campeão mundial, etc: “É, Raul, um dia a gente cai na real”. Eu não sei o que me doeu mais, se foi tomar consciência das minhas limitações, ou continuar nadando sem muita ilusão. Acho que o melhor seria realinhar o foco, atualizar os objetivos e ir á luta. Mas vai dizer isso pra um menino.
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MUITO LEGAL TUDO ISSO, tenho um filho que é nadador de costa, é o 4° no Rank Brasileiro, moramos no Pará, Norte do Brasil, as coisas por aqui são muito difíceis, poucas informações do que acontece em meios de atualização, sem apoio das entidades estaduais e privadas, enfim assim vamos levando, gostaria de receber os textos ou me indiquem onde devo encontra-los