E lá vamos nós em mais um post sem natação do não-economista epichuriano.O acaso é um fator bastante importante na vida de todos nós. No mundo da política não é diferente. O sucesso na política está inextricavelmente ligado ao desempenho econômico. E quando os rumos da economia se alteram, isso se dá por uma combinação de fatores internos e externos. Podemos ainda subdividir os fatores internos em duas categorias, aqueles que foram criados ou alterados pelo governo do momento, e aquelas que nada têm a ver com o mesmo. É muito difícil para o eleitorado distinguir com precisão quais elementos compõem o resultado que se observa.
Nos últimos anos a economia brasileira passou por grandes transformações, e a percepção foi no geral, de grande sucesso. Sem ter como avaliar de maneira mais científica, o eleitor médio atribuiu as mudanças à perícia (ou imperícia) dos governantes, particularmente no nível federal. Escutam-se muito afirmações como “o presidente criou milhões de empregos” ou “gerou crescimento”, etc. Na verdade grande parte – possivelmente até mais que a totalidade – da melhora se deveu a fatores que nada têm a ver com quem ocupou o Palácio do Planalto nos últimos anos.
Vamos ver, em particular, um deles – longe de ser o único, mas um dos mais importantes. Tratam-se dos chamados “termos de troca” (ou “terms of trade” no inglês).
De maneira simplista, a expressão “termos de troca” é a relação entre os preços daquilo que um pais exporta e o que importa. Quando os termos de troca sobem, os produtos exportados estão se valorizando em relação aos produtos importados. Como exemplo, novamente extremamente simplificado, imaginemos um mundo hipotético, em que só existam dois países imaginários. Chamaremos um deles de Banânia. Esse pais produz e exporta minério de ferro e soja. O outro chamaremos de Cochinchina, o qual imaginaremos que produz e exporta carros e telefones. A relação comercial entre esses dois países é, portanto, uma em que Banânia exporta ferro e soja para a Cochinchina, e usa os recursos assim adquiridos para importar carros e telefones.
Vamos assumir que Banânia exporta 50 toneladas de ferro a $1/ton e 50 toneladas de soja também a este preço. A receita total da exportação será, portanto, de $100.
A Cochinchina exporta 50 carros por $1 cada, e 50 telefones por $1 cada. Exporta portanto $100 também. A balança comercial de ambos, no momento inicial, não apresenta nem déficit nem superávit.
Agora imaginem que a Cochinchina embarque num enorme programa de investimentos, visando expandir sua capacidade produtiva de carros e telefones. Para isso aumenta violentamente as importações de ferro e, ao assistir sua renda subir em função da maior produção de carros, importa também mais e mais soja. Em função da maior demanda, o preço do ferro e da soja sobem, digamos, 10%. Como a Cochinchina agora investiu muito, produz mais, o que acaba derrubando o preço dos carros e telefones. Vamos assumir que em 10% também.
Nesse exemplo, no momento inicial, a relação dos termos de troca para Banania seriam 1 ($100 / $100).
No segundo momento, sobe para 1.22 ($110 / $90).
Uma das consequências é que Banânia pode agora consumir 22% mais carros e telefones, simplesmente porque os preços relativos mudaram. Ou seja, o país pode consumir mais produtos importados sem ter feito nenhum esforço, nenhum sacrifício, nenhum investimento.
Não é preciso esticar muito a imaginação para concluir que o presidente de Banânia neste período seria uma pessoa muito popular. Praticamente ninguém do eleitorado percebe esse choque externo positivo como sendo um fator exógeno, independente das decisões tomadas pela equipe econômica.
Não serão os políticos no poder que haverão de lembrar os eleitores de que tudo não passa de sorte (embora em países sérios tal reconhecimento, de fato, às vezes ocorre). As pessoas apenas sentem que estão conseguindo consumir mais, ficam felizes, e assumem que “alguma coisa certa o governo deve ter feito”.
Obviamente, o caso oposto seria também de se esperar: caso o choque fosse negativo, as pessoas sentiriam um aperto, e concluiriam que a culpa deve ser, só pode ser, do infeliz sentado na cadeira presidencial.
Pedindo desculpas pelo exemplo um tanto enfadonho, vamos olhar o gráfico abaixo.
A linha é um índice de termos de troca do Brasil. É um índice simplificado e não totalmente abrangente. Ele é produzido por um banco internacional e reflete principalmente commodities e não toda a pauta de exportações e importações, mas ilustra bem a ideia central aqui.
O impressionante é a quase inacreditável coincidência entre a tendência de piora, depois de melhora, e recentemente de piora de novo, com o ciclo político brasileiro.
As setas representam o fim do governo FHC, o período Lula, e mais recentemente, o período Dilma. Aqui não é possível imaginar que decisões tomadas em Brasília tenham influenciado esse índice – especialmente na direção em que ele se moveu. Notem ainda, no final do governo Lula, como o índice caiu e logo subiu de novo. A queda se deu em 2008 quando houve a eclosão da grande crise mundial, que resultou numa rápida e violenta queda dos preços das commodities, e o rebote seguiu-se ao maior pacote de estímulos da história, realizado pela China, como reação à crise. Por “coincidência” a economia brasileira também derrapou em 2008 e viu forte recuperação em 2010. O mérito, de acordo com a equipe econômica, está inteiramente na grande capacidade dos técnicos nacionais – nenhum agradecimento ao pacote chinês. É bem verdade que o Brasil lançou também sua versão nacional de pacotes de estímulo, mas um pacote doméstico não teria como alterar os preços internacionais das commodities. O que aconteceu foi que o pacote brasileiro se sobrepôs ao pacote Chinês – esse sendo colossal – e outros pacotes de estímulos simultaneamente lançados em vários outros países. A versão que foi vendida para o público brasileiro foi, porém, a de que o país teria evitado a crise graças à monumental astúcia do presidente Lula e seus indubitavelmente capazes auxiliares.
Não consegui obter um histórico mais longo para o gráfico acima. Para pôr em perspectiva melhor, entretanto, que tal este gráfico a seguir que é apenas do preço do minério de ferro?
Aqui vemos uma história bem longa – mais de um século – e vemos uma tendência de preços que na hipótese mais otimista pode ser descrita como estagnação, senão declinante. Vemos também que essa longa tendência parou e virou de maneira violenta para cima exatamente em que período? De 2002 a 2010.
Incrível.
Esse gráfico foi produzido pelo fundo de investimentos americano GMO (Carta trimestral, abril de 2011, intitulada “Time to wake up: Days of abundant resources and falling prices are over forever”). O autor calculou que se assumirmos que a tendência dos últimos 100 anos segue uma distribuição normal, um desvio da magnitude do que ocorreu na década passada deveria ocorrer uma vez a cada 2,2 milhões de anos! O desvio ocorrido no preço do ferro é nada mais que o maior desvio de todas as commodities de uma lista das 36 principais – justamente a que o Brasil produz em fartíssima quantidade foi a que ganhou na loteria. Fazendo o mesmo cálculo com a soja, o outro produto dominado pelo Brasil, o desvio seria compatível com algo que deveria ocorrer uma vez a cada mil anos, o que a coloca em 11º lugar no estudo – nada mau também.
Resumindo: durante o mandato do ex-presidente Lula o Brasil teve sorte, e não foi pouca. Seu antecessor não teve, nem sua sucessora está tendo, o mesmo pé-quente.
Acreditem, o impacto da imensa – e como vimos, raríssima nessa magnitude – mudança de patamar das commodities que o Brasil exporta é também enorme.
Estudos acadêmicos mostram, porem, alguns pontos sobre choques positivos nos termos de troca:
Vejamos o próximo gráfico, a taxa de poupança bruta como porcentagem do PIB do país. Notem como houve uma alta no início da década passada e, a partir da metade da mesma, comecou a sensação de jogo ganho, com o declínio ocorrendo mesmo com os termos de troca subindo. O ultimo ponto da série encontra-se alarmantemente baixo, ao redor de 15% – para lá de insuficiente para o pais um dia atingir as taxas de crescimento que o ministro Mantega vivia prometendo. Essa taxa é tão baixa que a conta corrente do país vem se deteriorando rapidamente, mesmo na ausência de um boom de investimentos! Diante da sorte, o governo embuiu-se de orgulho, concluiu que governar é facil, e saiu gastando. Hoje estão desconcertados, sem entender como a mágica acabou.
O governo literalmente adotou a postura de gastar tudo e rápido. Claro, tome propaganda, o governo quis parecer frugal e responsável, alardeando o superávit primário pelos primeiros anos (e tem tido que sustentá-lo com mentiras em anos mais recentes). Mas vejamos o gráfico seguinte, das receitas do governo federal:
Fica óbvio que o governo só pareceu “frugal e responsável” porque uma avalanche de dinheiro entrou nos cofres públicos. Seria de se esperar um superávit fiscal crescente, ou alternativamente um colossal aumento dos investimentos públicos. O que, obviamente, não aconteceu. E isso me leva ao ultimo ponto. Vai aqui, inteiramente grátis, minha análise sobre as demonstrações de insatisfação popular ora em curso no pais. Em sua raiz está uma latente frustação com a absurda situação da infraestrutura do pais. O nível do investimento público, sendo tão baixo, não suporta crescimento, sendo compatível apenas com estagnação. Por isso a melhora do nível de renda da população, gerado por fatores essencialmente exógenos como o discutido acima (houve vários outros), expôs o desastre. Noutras palavras, estamos sentindo na pele o velhíssimo postulado das ciências econômicas, que sem investimento não pode haver crescimento sustentável.
Em 1776 o economista escocês Adam Smith já havia comentado os três possíveis estados de uma economia: prosperando, estagnada ou encolhendo. No primeiro caso todos estão satisfeitos, e mesmo um aumento da desigualdade não incomoda muito. Nos outros dois, como a renda total não aumenta, fica claro que se uma pessoa progride, outra tem que regredir. É aí que a insatisfação dispara e arevolta aflora. O crescimento medíocre do país há mais de dois anos foi o fermento que faltava para a eclosão dos protestos, e a opinião manifestada pelo ex-presidente, e endossada pela atual, de que os mesmos seriam produto de um “excesso de sucesso” é risível.
Se os salários sobem mas a produtividade não vai junto teremos que depender do endividamento para manter o consumo. Consumindo mais sem produzir mais, teremos que depender das importações para suprir a diferença. Observem o gráfico que compara os salários da indústria em azul, com a produção industrial em verde (média movel de 12 meses para suavizar o ruído).
Como vamos tampar essa diferença? Com sorte ou competência?
Eta assunto besta…e ainda copia e cola do wikipedia…afff
Martaxa Trevas, você é bem INGUINORANTXE hein…
Vc mora em Banânia? ou na Conchinchina?
Chato mesmo. Imagino que você tenha escrito vários artigos mais interessantes?
Que tal colocar eles no blog?
Normalmente, quando eu leio alguma coisa chata, paro de ler no primeiro parágrafo e vou fazer outra coisa.
Me surpreende que a companheira tenha lido o texto até o fim e procurado plágio na wikipedia (que aliás, é de domínio público, então, mão seria plágio).
Pessoalmente, embora tenha achado o texto chato, gostaria de me informar mais sobre o assunto. A companheira poderia me passar o link das referências na wikipedia?
E como é sexta feira e eu quero me divertir, também apreciaria os links das suas colaborações ao blog.
obrigado
Boa Pacheco, muito bom artigo. Achei uma explicação bem clara e simples da realidade brasileira nos ultimos anos. Como voce disse , é realmente dificil para a maioria da população entender sobre este assunto, achando o mesmo “chato”. Espero que possa contribuir mais com o blog.
Verdade, mas eu entendi e mesmo assim achei chato pra car…o blog não é de esporte ??? O que o c. tem a ver com as calças? S´é legal para a tchurma do blog, mas para quem lê e quer saber de notícias esportivas é um pé.
Martaxa Trevas, MUDA DE BLOG!! Você não é obrigada a ler nada… só em Cuba eles são obrigados a ler aquele papel higiênico chamado Gramna..
Marta, tadinha. Se tivesse entendido não falava que foi copiado do wikipedia… Muda o canal, vc pode ler o que quiser, não é obrigado (ops, obrigada) a ler o que não quer… Agora, pensa um pouco (se vc conseguir); se o próprio nome do blog é de um filósofo, este não é exclusivo de natação. Deu pra entender, ou quer que desenhe?
Pois para mim, leiga em economia (para não dizer totalmente ignorante!), foi bem explicativo! Gostei dos exemplos simples que ajudam a entender melhor os conceitos. Thanks!
Além de tudo o que você disse, o arrebentamento extra do cofre para a eleição de 2010 pesou bastante, né? Tá difícil de reverter a curva fiscal, ainda mais que aparentemente o governo ainda não leu o seu texto…
Otima didatica do texto e confesso que fiquei com certo receio de me entupir de acoes da Vale.
Verdade, mas eu entendi e mesmo assim achei chato pra car…o blog não é de esporte ??? O que o c. tem a ver com as calças? S´é legal para a tchurma do blog, mas para quem lê e quer saber de notícias esportivas é um pé.
Achei muito interessante o texto. É algo que todos deveriam saber.
Obrigado pelas informações, Pacheco.
Excelente o texto. A minha única ressalva é que muitas medidas econômicas benéficas no médio e longo prazo são muitas vezes pouco populares num primeiro momento, o que dificulta sua implantação, já que medidas não populares não reelegem ninguém. Se tivéssemos no Lula uma figura responsável, na bonanza internacional e com popularidade quase de santo teríamos o momento perfeito para implantar tais medidas, sem abalar demais sua imagem de Padre Cícero! Infelizmente nosso ex-presidente molusco preferiu governar perpetuando sua imagem de salvador dos pobres com a ajuda das bolsas famílias da vida. A bomba só estourou na atual presidente, que aparenta até ser muito melhor intencionada do que o mentor, mas que não tem a mesma perspicácia do cara, e talvez até por sugestão dele, se cercou de completos imbecis e incompetentes. Resultado? A ex-guerrilheira está indo de vento e popa pro fundo do buraco. Basta esperar se o molusco continua na pegada de tentar ajudar levemente a moçoila ou se em 2016 bota ela pra escanteio e puxa a rédea pra si. Time will tell!
ah… quantas “coincidências” hein?! Ficou um bom texto, Pacheco, especialmente porque está bem claro. Infelizmente, não ajuda o meu pessimismo moderado para o curto/médio prazo. Mas valeu ainda assim!
Meus parabens, fez um excelente resumo didatico do que aconteceu Marcio!
Agora incrivel como ate aqui num blog desse ha miltantes petistas…..
pois é João – estas pragas pagas com o NOSSO dinheiro… porque estes trastes não se mudam para Cuba ou Venezuela, aqueles 2 paraísos?
Boa Pacheco! Tá clarito e fácil de ler! Parabéns!!! Pros ‘ cúmpañerus’ se não for grana-ilegal, cachaça ou desenho legendado é um tédio. Fuck’m all!! Um dia Banânia sairá da idade média – esperamos que seja para um renascimento e nâo para algum período anterior, mas sei que seria por puro acaso e não resultado de trabalho, planejamento. Abraços.
Pacheco, texto ficou realmente excelente.Parabéns pela analise, e pela forma da escrita.
Marta….que pena que sinto de você. E de todos os outros que, assim como você, preferem se afundar na ignorância perpétua e achar que palavrões e novos assuntos irão suavizar a causa dos seus problemas…
Pra quem gostou do texto do Pacheco… segue um outro que saiu hoje no Valor Economico pag A 10 “Opinião”… Aviso! Se vc for mais um aposentado pode ser que o material não agrade…
Fralda
O bônus demográfico.
O século XX passará para a história pelas profundas transformações que marcaram a evolução da humanidade. Sobre o tema, “Era dos Extremos”, o denso livro do historiador Eric Hobsbawm, define o século XX como o “século breve e extremado”, tomando como ponto de partida o início da Primeira Guerra Mundial (1914), e 1991, ano em que, na visão do historiador, se consuma o fim do império soviético e a ordem mundial bipolar, daí emergindo o mal-estar das incertezas sobre a configuração de uma nova ordem mundial. Para Hobsbawm, a contagem dos tempos não obedeceu ao calendário gregoriano; fatos e eventos é que definiram os marcos da evolução histórica.
De fato, a abrangência e a complexidade das mudanças não permitem estabelecer hierarquia na importância dos seus impactos na vida das pessoas. No entanto, torna-se impossível não atribuir singular dimensão ao fenômeno demográfico.
Com efeito, o fenômeno demográfico do século XX é uma verdadeira revolução que afeta estruturalmente os rumos da sociedade contemporânea. Nesse sentido, duas realidades trazem enormes consequências e graves desafios: a explosão demográfica e o aumento da expectativa de vida ao nascer.
A cultura previdenciária vai além da cultura financeira. Passa pela proteção pessoal e das famílias
No primeiro caso, qualquer exercício estatístico demonstra o tamanho do problema: de 1960 à 2011, a população mundial passou de três para sete bilhões de pessoas, com uma perspectiva de estabilização em dez bilhões de habitantes até 2020; no segundo caso, embora distribuída desigualmente, a expectativa de vida média no mundo cresceu 20 anos (1950/2010), atingindo 67 anos (65 para homens e 69,5 para mulheres), com tendência crescente.
James Lovelock, autor da “Hipótese Gaia”, identifica na explosão demográfica uma moléstia planetária que chama de “praga de gente”. No Brasil, a expectativa de vida evoluiu, no período de 1960/2011, de 62 para 74 anos e 29 dias (70,6 anos para os homens e 77,7 anos para as mulheres, segundo dados do IBGE).
Por sua vez, a composição etária da nossa população revela que, em dez anos (2001/2011) houve uma redução do número de jovens de 45,8% para 36%, e um crescimento de idosos de 14,5% para 18%, o que significa um crescimento proporcional de pessoas na faixa produtiva (15 aos 59 anos), que resultam na diminuição da chamada “taxa de dependência”. Essa redução (divisão do total de menores de 15 anos e maiores de 60 anos pela quantidade de pessoas entre 15 e 59 anos) representa, na linguagem dos especialistas, o “bônus demográfico”, momento singular que passam as nações e propício para aprofundar reformas, redirecionar políticas públicas e, em particular, uma oportunidade passageira (duas a três décadas) para enfrentar o grave desequilíbrio estrutural provocado pelas contas da Previdência.
A propósito, o Brasil vive esse momento. Uma espécie de agora ou nunca. Está no meio do caminho de uma obra inacabada chamada de reforma de Previdência, mas conta, além do bônus previdenciário, com fatores favoráveis ao aprofundamento da referida reforma, tais como: estabilidade política, institucional, bem como a inclusão social de milhões de brasileiros; aumento significativo da presença da mulher no mercado de trabalho; sinais positivos de uma cultura previdenciária das novas gerações; amplo mercado dos setores de vida e previdência a ser conquistado; a existência de marco regulatório e institucional capaz de garantir segurança ao setor; as possibilidades de incorporação à previdência complementar dos trabalhadores do setor público.
Olhar para frente significa não esquecer o passivo gerado pela falência do sistema previdenciário brasileiro: para a maioria, aposentadorias humilhantes e para a minoria aposentadorias privilegiadas; olhar para frente significa não esquecer que em 1940 existiam 31 contribuintes para 1 beneficiário, e que em 2010 a relação é de 1,7 contribuinte para 1 beneficiário. Insustentável.
A cultura previdenciária vai além da cultura financeira. Passa pela proteção pessoal e das famílias. É um movimento cultural que leva décadas, e que deveria começar ainda na escola. Na Europa, por exemplo, a previdência é compulsória. Ainda bem que, apesar de o brasileiro não ter o hábito de poupar – especialmente quando se trata de reservar para o longo prazo -, ganhamos gerações mais cientes das suas responsabilidades em relação ao próprio futuro e à aposentadoria. O perfil do idoso também vem mudando significativamente, com homens e mulheres que, ao pararem de produzir, aposentando-se de vez, acabam se deparando com a realidade de que, para manter seu padrão de vida, os recursos das aposentadorias social e privada nos moldes atuais talvez não sejam suficientes. São ‘novos velhos’, que terão condições de viver mais tempo e com mais qualidade de vida.
O mercado segurador, por sua vez, está atento a esses novos perfis. Mas é preciso fazer mais barulho, aproveitar este momento do bônus demográfico, e criar um “bônus previdenciário”, olhando para os gargalos de produtos e segmentos ainda não atendidos, como o desafio do financiamento da renda vitalícia no cenário de juros baixos e aumento da longevidade. Apesar de ainda não haver uma saída clara para esta questão, uma das alternativas em estudo é a transferência do risco para investidores, bancos ou empresas interessadas em um retorno sobre essas operações. Com efeito, as pessoas não ficarão sem recursos após se aposentarem e o Brasil não vai gastar tanto com pagamento de benefícios a aposentados como é feito atualmente. É preciso olhar o futuro e construir o amanhã.
Finalmente, olhar em direção ao futuro significa compreender que as nações progridem porque trabalham muito, estudam muito, poupam e investem muito; significa reconhecer, na expressão de Eduardo Giannetti, o valor do amanhã que é superar o dilema de “por mais vida nos nossos anos ou mais anos nas nossas vidas”.
por Gustavo Krause
Boa, Fralda. Esse e’ o OUTRO fortissimo elemento da sorte. E ha mais outros.
Como disse o autor, a mudanca do perfil demografico – fator domestico porem totalmente independente das decisoes recentes tomadas em Brasilia – DEVERIA ter aumentando o nivel da poupanca domestica, mas isso nao ocorreu.
Na verdade a demografia aumentou sim a poupanca, mas esse aumento foi mais do que compensado por politicas explicitamente focadas na obtencao do resultado oposto.
Noutras palavras, o Lulismo conseguiu ANULAR completamente o chamado “Bonus Demografico”. Foi inteiramente desperdicado, e esse tipo de coisa so ocorre uma vez – outra barbada dessas nao vai haver!
Pacheco,
qual foi o produto que causou a doença na Holanda?
Embora muito bem explicado é notável a complexidade do assunto e não parece tarefa fácil colocar a economia de uma país no rumo certo, duro que diante de tantos desafios ainda comprometa-se o futuro da nação com medidas populistas inconsequentes.
Boa pergunta. Eu mesmo nao sabia!
Mas fui olhar: o termo foi criado para descrever o que ocorreu na Holanda apos a descoberta de grandes reservas de gas natural nos anos 50.
Boa Pacheco. Abraços.
Maneira facil de pessoas nao ligada a economia mundial entender o pq do crescimento do Brasil.
Pingback: Até 2014. « Epichurus
Ótimo texto, pena a desonestidade intelectual e parcialidade. Por que o gráfico dos termos de troca só mostra na queda do governo FHC?
Olha que interessante o gráfico completo de termos de troca: https://fernandonogueiracosta.files.wordpress.com/2013/11/termos-de-troca-do-brasil-1900-2011.png?w=869
Partindo da sua premissa, FHC foi muito beneficiado pelos termos de troca, mais do que o Lula (a maior melhora foi de 2010 em diante). Infelizmente sua tese caiu amigo e sua preferência revelada
Prezado Truber,
Obrigado por desenterrar este post de 2 anos atras. Na epoca poucos petistas tinham visto e seu comentario me deu a oportunidade de rever o texto. Apesar de nao fazer previsoes explicitamente, pode-se dizer que o texto acertou na mosca, o preco das commodities. notadamente o ferro, despencou no mercado internacional, e junto foi-se a reputacao dos economistas petistas. O pais esta afundado na lama e vemos que alem dos fatores citados no texto, tinhamos tambem uma senhora inflacao de “investimentos” superfaturados, notadamente na Petrobras. Se os investimentos/PIB ja eram pessimos agora foram expostos como ainda mais ridiculos.
Quanto ao seu grafico, boa tentativa mas nao passa pela primeira analise. Neste site aqui http://www.tradingeconomics.com/brazil/terms-of-trade voce pode colocar as datas e refrescar a imagem, vai ver que se colocar o periodo FHC – 1995 a 2002 – rebaseando o inicio num indice igual a 100, vai ver que ate 97 houve uma alta ate mais ou menos 113 seguida de forte queda ate 90. Noutras palavras, o indice terminou o governo bem abaixo de onde comecou. Confirmando a tese do meu texto original, pode-se dizer que a alta inicial ajudou sim a reeleicao do presidente. Em comparacao, colocando no grafico o periodo Lula, o indice foi de mais ou menos 95 ae 130. Nao exatamente a mesma coisa correto?
Sua tentativa de ser malandro enganaria apenas otarios, os quais normalmente nao precisam de ajuda pra serem enganados. Toda vez que alguem puxa o nome ‘FHC’ pra dentro de qualquer discussao a fim de esconder o absoluto vexame do PT, certa ‘preferencia’ e tambem revelada.
Quanto a minha preferencia ela sempre foi obvia mesmo: prefiro ver ladroes incompetentes na cadeia, e nao no governo.