Meus caros amigos bons nadadores me perdoem, mas esse post é exclusivo para os PEBAs. Sim, você que é ex-olímpico pode passar batido e reler os posts anteriores porque esse não vai fazer sentido pra você.
Semana passada a mídia esportiva estava toda focada na polêmica Diego Costa. Pra quem não segue o noticiário, explico: Diego Costa é brasileiro e jogador de futebol, mas joga na Europa desde os 18 anos (hoje tem 25), mais precisamente na Espanha, no Atlético de Madrid. Nunca ninguém ouviu falar do sergipano, mas de repente ele virou artilheiro do campeonato espanhol e chamou a atenção da comissão técnica da CBF. Só que sondado, o jogador, que é naturalizado espanhol, deixou claro que não pretende jogar pelo Brasil e sim pela Espanha na Copa do Mundo de 2014. “Repensei e o correto seria jogar na Espanha porque aqui é onde eu consegui tudo. Tudo o que tenho na minha vida eu consegui neste país [Espanha], onde tenho carinho muito especial. Aqui me sinto valorizado por todos e sinto o carinho das pessoas”, disse o jogador.
Isso indignou nossos cartolas, a comissão técnica e parte do povo brasileiro, que o taxaram de mercenário, de não ter patriotismo e tudo mais. Não quero entrar muito no mérito de quem tá certo, embora tenho certeza que não seja o Felipão, que criticou o rapaz se esquecendo de que quando foi técnico de Portugal deu cambalhota e vibrou como um louco quando ganhou do Brasil. A minha opinião é muito simples. Se quer jogar pela Espanha, deixa jogar pela Espanha, sem ressentimentos.
Meu ponto no entanto é o seguinte. Grande parte dos nossos leitores aqui foram nadadores e nunca foram para as Olimpíadas. Esse que vos escreve inclusive.
O que vocês fariam se o Peru, por exemplo, no auge de suas carreiras de nadadores, lhes convidasse para nadar um Olimpíada pelo país, e ainda facilitasse o processo de naturalização? Valeria a pena deixar a pátria de lado pra dizer que foi olímpico?
Onde está o prestígio? Está simplesmente em ser olímpico? Está em ser olímpico representando o seu país? Só vale se for finalista? Só vale se for medalhista?
Pro leigo brasileiro, ser olímpico dá status. Invariavelmente quando alguém descobre que fui nadador, me perguntam se fui para as Olimpíadas. É batata! Quando respondo que não, dá aquela vontade de se explicar, como se você tivesse feito algo errado. É um divisor de águas. Se foi para as Olimpíadas = bom! Se não foi = PEBA! Na verdade, na pratica é quase isso mesmo, pelo menos no Brasil dos últimos 30 anos, embora tem sim SEMI-PEBA Olímpico nesse período, como também tem gente de muito talento que não teve o privilégio de ir aos jogos.
Mas e se o Peru fizesse o convite?
No meu caso posso dizer com 100% de certeza que não aceitaria. O meu sonho, o grande objetivo, bem megalomaníaco inclusive, era ser campeão olímpico. Quando vi que não tinha talento pra isso, o sonho não foi substituído (ou rebaixado) para simplesmente ser olímpico (coadjuvante). Não que eu não tivesse tentado, ou que não teria ficado felicíssimo e orgulhoso se tivesse conseguido, mas não foi um objetivo que persegui cegamente. Então pra mim não faria sentido ir se não fosse representando o Brasil! Mas também não sou contra quem aceitasse. Nadei com gente que foi criada nos Estados Unidos e foram para as Olimpíadas por Porto Rico e o cara era PEBA (muito PEBA por sinal), pelo Equador (PEBA também), e pelo México (PEBA também). Mas são todos olímpicos e eu não!
E vocês, aceitariam o convite do Peru?
Boa Lelo.
Em primeiro lugar acho que o Felipão pisou na bola, afinal, Diego Costa é maior e vacinado e a vida é dele.
Já quanto a mim, apesar da piada com a minha pessoa, eu digo que certamente não aceitaria até 1992. Depois de 1992 acho que não aceitaria mas não garanto. Embora taí uma coisa que nunca vamos saber…
Esse divisor de águas de 1992 é bem verdadeiro pra mim também. Até 1992 seria de fato impossível! Em 1996 eu já levava a natação “nas coxas”, embora tenha nadado (sozinho) os 200m peito nas eliminatórias para Atlanta. Mesmo assim, se tivesse rolado o convite peruano ou de qualquer outro país, teria declinado!
Muito boa Lelo!
Os Peruanos (povo pelo qual tenho admiração histórica e culinária) que me perdoem, mas eu não acho que aceitaria. Tenho, contudo, um boné de guerrilheiro com uma bandeirinha do Peru que a patroa trouxe de lá e até estava usando-o neste fds passado. Pode ser visto nesta foto: https://epichurus.com/2013/11/02/imagens-de-um-reencontro-de-volta-a-copa-vermelhinha/#jp-carousel-5316
Modena, você tem sangue espanhol! E se o convite fosse da Espanha, país que tem até uma certa tradição na natação?
Ay caracoles… yo creo que no… pero no lo sé… 🙂 Teria que mudar meu nome para Muñoz… não dá!
Oi Munhoz!
A situação que você descreve no texto, algo como acordar um dia e receber uma carta do Comitê Olímpico Peruano, DO NADA, convidando-o para nadar as Olimpíadas pelo Peru é muito estranha, kafkiana!!
Por outro lado, se eu tivesse laços fortes com o Peru como avós peruanos ou ter vivido e treinado por 7 anos em Lima (algo como o Diego Costa), por que não?! Iria sim! Não iria deixar de ser brasileiro…
Sobre esse assunto, um comentário adicional:
Nas Olimpíadas de 2000, o Eric Musanbani nadou os 100 livre para 1’52 pela Guiné Equatorial (assistam em http://www.youtube.com/watch?v=j6uxbe-qkTE) e ele disse que no país só havia uma piscina de 20 metros.
Pois pouco antes disso eu MORAVA na Guiné Equatorial, na capital Malabo, e nadava naquela piscina (ficava no Hotel Ureka e não tinha nem 20 metros, como ele falou). Se o Comité Olímpico de lá tivesse me convidado para nadar os 100 livre em Sydney, eu não iria aceitar. Se, entretanto, aceitasse, não daria nem para chegar perto do Hogenband mas teria ido beeeeeeeem mais rápido que o Musambani!!!
Oi Samuel! O texto é meu e não do Munhoz! Eu não entrei no detalhe do convite peruano (bem surreal sem dúvida) porque o ponto não é o convite em si, mas o seguinte: Faltou “competência” pra pegar a seleção brasileira para os jogos olímpicos. E aï? Vale nadar por outro país pra passar por essa raríssima experiência de ser olímpico? Independente se for pelo Peru, Equador, Guiné Equatorial ou Portugal.
Na natação brasileira vivemos isso a pouco tempo. Gabriele Rose, americana de mãe brasileira, se naturalizou brasileira pra competir pelos jogos olímpicos de 1996 (pelo Brasil). Antes disso, em 1995, nadou o Mundial de Copacabana, quando tive a oportunidade de conviver com ela. Basicamente não falava uma palavra de português, e embora respeitada pela equipe, sempre me pareceu um peixinho fora d’água na seleção brasileira. O caso dela é interessante porque tendo alcançado o sonho de participar dos jogos olímpicos, “virou casaca” novamente e conseguiu nadar os jogos olímpicos de 2000 pela própria pátria, os Estados Unidos. Acredito que nunca mais voltou ao Brasil.
Na minha humilde opinião essa coisa da naturalização ficou meio banalizada. No futebol, por exemplo, até por dinheiro, se vê jogadores se “naturalizando” pra poder jogar uma Copa do Mundo. Tem certas seleções que estão cheias de naturalizados. Alias, tá cheio de brasileiro em várias seleções por aí fora, incluindo Japão, México e Portugal.
Eu acredito que o atleta tem que competir pela sua pátria. É o meu lado patriota falando sem dúvida, mas acredito no conceito. Se o cara se sente espanhol, independente de onde nasceu, que compita pela Espanha. No hard feelings!
O que não pode ser feito é escolher outra nação simplesmente pela experiência de competir nos jogos, mas de novo, essa é só minha opinião. O assunto dá muito pano pra manga!
abs
Oi Lelo! Desculpe minha falta de atenção…
Expandindo meu argumento, uma pessoa pode sentir amor por dois países, eu acho. Pode ser duplamente patriota se houver um laço forte, familiar, com o outro país.
Concordo com você que a naturalização com efeitos de competição apenas, ficou banalizada.
Lelo e Samuel, dava pra ficar discutindo isso por horas num bar…eu tenho certa resistência a frases que contenham ao mesmo tempo o verbo “ter” e “pátria” muito próximos… ainda que ame meu país, sou descendente de famílias que adotaram o Brasil como lar num passado recente. Meus tataravôs e bisavôs vieram de outras partes em momentos de grandes dificuldades em suas “pátrias mães”. Alguns chegaram depois de passar fome até. Foram relativamente bem recebidos por aqui e puderam criar suas famílias, montando novos elos com o local que escolheram arbitrariamente. Isso me faz pensar que assim como não poderia jamais condenar a decisão do nonno Carlo de pegar o navio parao Brasil, não poderia recriminar uma decisão de alguém que buscasse oportunidades esportivas em outro país, e que culminasse eventualmente na adoção de uma nova nacionalidade.
Talvez a pátria seja algo bem pouco palpável para nos apegarmos.em demasia. O país em que nascemos vai com a gente na medida que queremos tê-lo perto – e se a opção for por defender outra nação num evento esportivo, acho que a história por trás dessa decisão é algo sempre pessoal e mais importante que a decisão em si. Por que não pode escolher X vs Y ? Quem sou eu pra saber se não faz sentido… mas entendo que seja polêmico… Precisamos marcar um HH e discutir isso melhor 🙂
Abraços!
Concordo com o Samuel, acho que depende do vínculo com o país que estaria representando. Afinal, quem não daria razão ao Meligeni, no caso do tênis?
Deixando um parecer sobre o Diego Costa, ele havia aceitado participar da seleção espanhola BEM ANTES do Felipão o chamar, já havia conversado com dirigentes espanhóis e por honrar a palavra aceitou a seleção da Espanha,o que acho certo, é um profissional… e além disso se fosse na seleção brasileira seria mais um reserva e na Espanha certamente será titular,faria exatamente igual mesmo que fosse nadar pelo Nepal ! Se tivesse chance em ir por um país pequeno iria com certeza, e ah…sou brasileiro sim e amo meu país, mas amigos amigos, negócios á parte.
Rodolfo
Eu acho que o ponto aqui, como disse o Samuel, é que o Diego Costa tem história na Espanha. Não foi do nada. E não faltou competência, ele escolheu a Espanha. Sabe-se lá o que aconteceu aqui no Brasil, a história de vida desse cara no futebol e fora dele. Se eu tivesse há 7 anos em um país que sempre me valorizou, treinado com eles, em um esporte coletivo, porque não? Esporte individual é meio que só você, mas coletivo é o grupo. A Gabriele Rose não falava português, mas ele deve falar espanhol!
Lelo,
Eu acredito que o Felipão não pensa assim e essa postura faz parte da estratégia do jogo.
Imaginem uma partida de mata-mata com a Espanha… o ódio que ele pretende provocar na torcida pode provocar um comportamento hostil contra o Diego e comprometer o desempenho do rapaz e favorecendo o Brasil na peleja.
Como não é contra a regra do jogo, ele usa.
Se der certo, ótimo.
Se não der certo, fica para ele a sensação de não ter pecado por omissão.
Sobre o outro ponto, vou na linha do comentário do Rodolfo. Sou de Curitiba e nadei Jogos Abertos por Ponta Grossa, Foz do Iguaçu e Araraquara. Após anos de dedicação por amor ao esporte desenvolvi algumas competências que foram valorizadas por essas cidades e que me renderam um retorno financeiro. Não vejo pecado nenhum. Fui, cumpri meu papel, fui valorizado, reconhecido, fiz algo que gostava, sem fazer mal a ninguém, as pessoas que me contrataram ficaram satisfeitas, enfim, relação de ganha, ganha total.
Em tempo: em 88 fiquei a 29 centésimos do índice olímpico. Queria ir para Barcelona e ir para ganhar medalha. Diferente do Lelo, vendo os tempos de pódios individuais, achava que seria muito difícil. Concomitantemente, minha família mexia com a papelada para cidadania italiana e vi o revezamento de Lamberti, Gleria, Batistelli e um 4o que não me lembro chegar bem próximo ao pódio no 4×200 de Seoul.
Naquele momento eu pensei em nadar pela Itália em 92, substituir um deles e chegar ao metal olímpico.
Ou seja, eu iria.
No final das contas:
– nunca fiz um tempo que me daria aquela vaga;
– a Itália (se não me engano) nunca fez um pódio olímpico em revezamento, já o Brasil, além do de 80,
chegou em 2000;
– não conseguimos a cidadania italiana;
– não fui a Olimpíada e sinto-me da mesma forma que você quando me perguntam se fui.
Na linha do post, interessante ver a estratégia do polo aquático ao nacionalizar atletas de ponta brasileiros com dupla cidadania e importar outros de fora sem vínculo anterior como o país, incluindo o técnico.
Aproveitando para colocar lenha na fogueira, se nossos revezamentos pudessem trazer gente de fora para ter chance de medalha, o que acham de seguir a estratégia dos nossos colegas?
Wow! That’s a really neat answer!