EPICHURUS

Natação e cia.

O lendário bronze olímpico de Moscow

Foi uma das medalhas mais surpreendentes da história da natação, aquele bronze do 4×200 conquistado em Moscow – 1980.

Por ocasião das homenagens no Hall da Fama da Natação Brasileira do Djan Madruga e do Jorge Fernandes, nós procuramos (em vão) com muito afinco o vídeo da prova. Tem um russo, um tal de @ZitrAmon que postou com ótima definição vários vídeos da natação de Moscow, lá tem inclusive os 400m Livre e os 400m Medley do Djan, até chegamos a pedir para ele o vídeo do 4×200, mas infelizmente ele nunca nos respondeu.

Um dia soubemos que o irmão do Jorge teria um VHS com a reportagem e filmagem da Globo, cheguei a falar com o Jorge sobre isso e ele ficou de ver. E deve ter mesmo visto, pois o Djan aproveitou o aniversário de 36 anos da prova (23/07/2016) e acaba de publicá-lo no youtube e finalmente realizamos o sonho de vê-la.

Assista abaixo o espetacular vídeo da prova postado pelo Djan.

 

Eu já escrevi sobre essa prova justamente no post do Jorge do HFNB, copio e colo abaixo o que escrevi na ocasião (para ver as fotos, refira-se ao post).

A vitória sobre o Canadá no Pan de 1979 e o bom tempo obtido deu confiança à equipe do 4×200 e plantou a semente do bronze olímpico que viria no ano seguinte. Em virtude do ineditismo, muita gente pensa que esse bronze teria caído do céu por uma espécie de sorte, tendo sido apenas uma grata surpresa, mas na verdade o que ocorreu foi precisamente o contrário, essa medalha foi meticulosamente planejada desde a prata do Pan. De olho no metal e liderados pelo já membro do HFNB, Djan Garrido Madruga, o quarteto fez treinamento intenso e específico para essa prova, incluindo uma temporada de quatro meses de treinamentos nos Estados Unidos (Mattioli em Indiana e os outros três em Mission Viejo). O cardápio de treinamentos incluía, além de treinos muito mais extenuantes do que os realizados no Brasil na época, exercícios físicos e psicológicos de mentalização, na qual os nadadores do revezamento exercitavam a visualização do dia da prova. Curiosidade: em Mission Viejo, ao contrário de Cyro, que treinou com os velocistas, Jorge optou por treinar entre os fundistas, para “ganhar mais base”.

Nos Jogos Olímpicos de Moscou (1980) o revezamento 4×200 Livre foi no quarto dia, e o pessoal não tinha conseguido bons resultados até então. No primeiro dia, Rômulo Arantes Jr bobeou na semifinal dos 100m Costas e foi eliminado, e no dia seguinte foi a vez de Djan ter problemas nos 1500m Livre, sendo também eliminado. Eram as duas maiores esperanças do Brasil, e viraram pó em apenas dois dias. O clima na seleção brasileira não era dos melhores. Os tempos da prova de 200m Livre do segundo dia (21/07) tinham sido razoáveis, mas Jorge (1:54.32), Marcus (1:54.39) e Cyro (1:54.59) tinham que melhorar muito e contar com a recuperação de Djan para continuar sonhando com a medalha.

Moscou, 23 de julho de 1980. Mesmo hoje tantos anos depois é difícil imaginar como foi possível tanta melhora entre o dia 21 e o dia 23. Fato é que a mentalização continuou sendo efetuada no quarto do Djan, de forma que os nadadores entraram totalmente focados na piscina do Olympiysky Sports Complex em Moscou para a apresentação da final dos 4×200. Nas palavras de Jorge Fernandes: “o Djan tinha feito a gente mentalizar tanto aquele momento que até parecia um déjà vu. Foi como uma mágica, e tudo ocorreu exatamente como a gente havia planejado, desde a largada até a medalha no final. Até o pódium a gente tinha mentalizado!”.

De fato, a final foi um momento especial onde os quatro nadadores do revezamento conseguiram extrair até a última gota, realizando brilhantemente tudo aquilo que haviam mentalizado. Jorge abriu com 1:52.61 (1.69s melhor do que seu próprio tempo de dois dias antes), Mattioli tirou 1.45s do tempo da prova e fez 1:52.94, Cyro melhorou 2.24s e obteve 1:52.35, e Djan fez a prova da sua vida, fechando o revezamento com 1:51.40.

Fizesse esse tempo na prova olímpica de 200 Livre apenas dois dias antes, e Jorge teria ficado em sexto lugar. É sintomático do nível atingido naquele dia o fato de que o tempo final do revezamento foi melhor do que quatro vezes o recorde sulamericano vigente de 200L do Djan (1:52.34), uma performance realmente extraordinária. O Brasil acabou em terceiro com 7:29.30, atrás da USSR (7:23.50) e da Alemanha Oriental (7:28.60).

Enfim, fiz esse post agora no Epichurus apenas para ajudar a eternizar a conquista e divulgar o vídeo do Djan. Enjoy!

Sobre rcordani

Palmeirense, geofísico, ex diretor da CBDA e nadador peba.

10 comentários em “O lendário bronze olímpico de Moscow

  1. Jorge Fernandes
    27 de julho de 2016

    RC… aproveitando a época do “vale tudo” amplamente cantado pelo eterno síndico Tim Maia, rever a prova foi como uma viagem no tempo e cada vez que vejo, sinto um orgulho imenso de ter tido a chance de participar e compartilhar toda a emoção com Marquinhos, Cyro e Djan…
    Diria até que o primeiro passo foi dado na Copa Latina em 79, realizada no RJ, se não me engano nadamos na raia 1 ou 2 (havia um rodízio na ocupação das raias) já com essa ordem, e surpreendentemente para os outros mas não para nós, ganhamos a prova…
    para o Brasil não era fácil juntar numa mesma geração, 4 atletas que nadassem a mesma prova, com resultados/tempos próximos, numa das provas mais difíceis da natação: os 200 metros (a modéstia não me permite exaltar o nado livre… kkkkk)… e isso sempre foi uma motivação a mais que nos compelia a treinar mais e mais, que com o passar do tempo o revezamento seria o mais beneficiado…
    quase uma benção de Deus !!! ou seria obra do acaso !!! sei lá…
    Só sei que agradeço a chance que surgiu, e que com o resultado tenhamos conseguido inspirar e motivar os mais jovens…
    E hoje graças à internet, e aos sites e blogs, e a eterna (pentelhice no bom sentido de não desistir, e correr atrás) dedicação do Djan, conseguimos resgatar esse momento quase histórico…
    Eu realmente tentei buscar na casa de minha mãe, fitas em Betamax que meu pai na época, supostamente teria conseguido junto à alguma emissora no Brasil, mas infelizmente a busca deu em nada…
    Particularmente eu mandei e-mail para o comite olímpico russo, mas claro que a resposta deles foi negativa…
    Enfim… hoje o vídeo está aí, resgatando um momento único na vida de 4 jovens.

    E obrigado uma vez mais ao Epichurus, e ao Pebista RC ter feito mais um artigo aproveitando o período “vale tudo”, e me deixar emocionado…

    Um big abraço.
    Jorge Fernandes.

    • rcordani
      29 de julho de 2016

      Boa Jorge! Mas essa do Betamax foi phooooda, indica a idade do cidadão.

  2. Cristiano Michelena
    27 de julho de 2016

    UAU.

    Esse resultado foi sempre minha inspiração!

    Obrigado aos 4..

    Doeterno admirador,
    Castor

    • rcordani
      29 de julho de 2016

      Boa Castor. Imagino que no 4×200 de barcelona, antes da final, vocês devem ter mencionado a conquista de 1980, ou não?

  3. Luiz Carvalho
    27 de julho de 2016

    Grande momento da natacao, sinto orgulho de ter como amigos e companheiros esses quatro grandes atletas. O bronze olimpico de Moscou ficou em otimas maos! Abraco a todos e parabens especial a Jorge, Mattioli, Cyro e Djan!

  4. Marina Cordani
    27 de julho de 2016

    Certeza que esse resultado inspirou as gerações futuras! Era uma época de vacas magras na natação brasileira, e essa medalha provou que era possível. Legal ver os caras hoje em dia, falando da prova. Recordar é viver! Parabéns!

    • rcordani
      29 de julho de 2016

      Se você tirar os fenômenos individuais, Prado, Gustavo, Cielo, Thiago, estamos SEMPRE em época de vacas magras, não?

  5. Pingback: Esse bronze vale ouro? | Epichurus

  6. Pingback: Previsões olímpicas! Ou: será que teremos um time? | Epichurus

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