EPICHURUS

Natação e cia.

Patricia Angélica e os bastidores de uma voluntária olímpica.

(Post escrito por Patricia Angélica, voluntária nesses jogos olímpicos)

Muita gente pergunta “por que ser voluntária?”. “Por que trabalhar pra um evento tão rico sem ganhar nada?” E minha resposta é sempre: eu já assisti MUITO pela TV, eu já assisti MUITO da arquibancada, eu já assisti muito da zona mista, fazendo reportagens, posts pro meu blog e até um TCC cheio de entrevistas exclusivas. Eu queria estar em outro lado da coisa. Um lado que poucas pessoas (devida a proporção da população e de pessoas envolvidas no evento em geral) terão acesso, principalmente no que diz respeito ao Brasil.

Então, eu costumo devolver a pergunta: POR QUE NÃO? Por que não participar de algo único no nosso país? Por que não servir ao meu esporte favorito? Por que não participar mais ativamente de um movimento que respeito e admiro tanto, o Movimento Olímpico?
Para a maioria das pessoas, os Jogos Olímpicos começaram no dia 5 de agosto. Pois para mim, que fui voluntária dentro do Estádio Aquático Olímpico, os Jogos começaram dia 24 de julho. O dia em que a Vila e todas as instalações olímpicas abriram oficialmente para as delegações.

O primeiro dia foi bem morno, continuamos apenas o reconhecimento do local e das tarefas a serem executadas e conhecemos uns aos outros, voluntários e membros do Comitê Organizador. A melhor parte de passear pelo Parque Olímpico “sem vida” é poder tirar fotos exclusivas, sem encarar filas ou photobombs totalmente involuntários de pessoas desconhecidas. Não foram poucas as que tirei. =D

A primeira semana foi calma, poucas grandes equipes presentes nas piscinas. A coisa esquentou a partir do dia 1º de agosto, quando as equipes dos EUA, Brasil, Grã-Bretanha, França e outras começaram a chegar. A recomendação de não tirar fotos dos/com os atletas, infelizmente não foi seguida por muitos voluntários (eu fui trouxa e não tirei foto com ninguém). Em compensação as memórias que terei destas três semanas serão inigualáveis – e nenhuma delas pela tela de um celular, todas pelos meus olhos.
Não foi uma nem duas vezes que eu tive que disfarçar o histerismo que passava por dentro para ser uma simples voluntária. Como a primeira vez em que, fazendo controle de acesso (checar credenciais e os acessos permitidos por elas), vi quase que de uma vez só Katie Ledecky, Ryan Lochte, Michael Phelps, Katinka Hosszú, Laszlo Cseh, Chad Le Clos, Cameron Van Der Burgh. Foi difícil dizer apenas “Hello, can I see your accreditation?” e não “OMG!!! I AM A HUGE FAN OF YOURS!!! I LOVE YOU SOOOOOOO MUCH!!!” – incluindo choro, pulos, gritaria, loucura e correria. HAHA! Sim, ridículo. Mas é muito louco estar perto desses caras que são tão extraordinariamente excepcionais e, ao mesmo tempo, tão humanos quanto nós. É especial. É único.
As competições terminavam por volta da meia-noite, mas eu e André Schultz, o famoso Cão, praqueles que acompanharam a natação mais recente, só saímos de lá depois das 2h da madruga. E coisas que só eu e ele vimos e vivemos. Dentre as coisas que eu vou poder contar pros bisnetos: no primeiro dia de finais, apareci na TV, entregando toalhas pros nadadores. E numa dessas, eu entreguei uma na mão da campeã olímpica e recordista mundial dos 400 medley, Katinka Hosszú. Ela passou direto por mim, mas Ricardo Prado – gerente dos esportes aquáticos no Rio 2016 – falou: “ah, você não pode dar uma pra ela?” (que estava logo ao nosso lado dando entrevista pra Globo). Ué, o chefe mandou, a gente faz. Me agachei e dei a toalha na mão dela. =D
Foram muitos os momentos de ver a Ledecky FOCADÍSSIMA indo e voltando da piscina conversando com o treinador-inventor sem nem olhar pra minha cara e eu morrendo de vontade de chamá-lo só pra dizer que toda vez que o meu treino é “nadar 1500 no menor tempo possível”, eu penso nela. E como penso. Só isso. Afinal, ela deve ouvir MUITO por aí o quanto todos se inspiram nela e querem ser como ela um dia (pra mim vai ser meio difícil, afinal, tenho quase uma década a mais que ela) etc. e tal.
Teve o dia em que eu fui “segurança” do Phelps. Impedindo a galera de tirar fotos dele. E foi nesse dia que eu conheci o pessoal que estava encarregado d segurança dele: agentes do Serviço Secreto, Exército Americano e FBI à serviço do Consulado. OU SEJA: eu praticamente vivi um Criminal Minds de proteção ao maior atleta olímpico da Era Moderna E da Era Antiga. E no final do dia, ele ainda se despediu com um “see ya”. Coisas que só o super Corujão da Natação te proporcionam.
Virei BFF do Cornel Marculescu, diretor-executivo da FINA, quando ele veio me perguntar sobre o gerente da competição e eu perguntei se ele queria falar com o Eduardo Gayotto e ele me respondeu: “não sei o nome, só sei que ele é careca”. E eu confirmei que era o cara de quem falei. Ele saiu lembrando o nome dele e daquele momento em diante era: “mi amor” pra lá, “mi carinho” pra cá, abraços e sorrisos SEMPRE que passava por mim. #siachei

 

 

Ah, e teve também o momento pro qual me preparei o resto da vida e de nada adiantou: falar com Ryan Lochte. O bonitão saindo do antidoping lá pelas 2h da manhã depois do revezamento 4×200. Eu cruzei com ele e soltei um “Hey Ryan”. Ele respondeu com um “Hi! How are you?” e eu fiquei tão embasbacada que demorei cinco segundos pra responder: “Fine”. E ele deve estar pensando até hoje o quanto aquela ruivinha (a única do OAS) é burra… #shameonme
Teve dia de ficar na porta da call room e ver os atletas entrando hiper concentrados naquela sala da morte. Uma noite inteira em pé que valeu à pena quando a líder da equipe da Austrália, faltando uma disputa de semifinais para terminar o dia de competições, me convidou a me sentar com ela e as demais líderes para assistir essas provas. Australiana querida que no penúltimo dia de provas me deu um pin do Australian Dolphins Swim Team e eu tive que dizer que sigo em todas as redes sociais e sou muito fã. E deixei-a feliz! \o/
Rolou decepção ao ouvir de outros voluntários com a mesma honra que eu (de acessar o ‘field of play’, a.k.a piscina): “não conheço nenhum nadador, só o Phelps”. TÁ SERTO. Aí temos Aaron Peirsol zanzando pela piscina e NINGUÉM fazia ideia de quem ele é… e, fora os próprios nadadores, eu devo ter sido a única a pedir foto com ele. “Aaron, can we take a picture? Please, hold the phone, my arms are not long enough”. A MELHOR FOTO DA MINHA VIDA!
Não teve medalhas dos atletas da casa, teve Bruno Fratus, João Luiz Jr., Marcelo Chierighini e Henrique Martins com abraços deliciosos e dizendo: “muito bom te ver aqui, Paty”. E teve umas parciais boas em revezamentos. Assisti a última prova do HOMEM, do MITO, do DEUS Phelps da arquibancada, com a devida autorização dos coordenadores pelos serviços bem prestados ao longo da competição.
Teve problemas? É claro que teve. Eles minimizaram a lindeza da competição? Não. O pessoal saiu maravilhado com a piscina e com a atmosfera criada pelo “caldeirão aquático”. Desnecessário falar da beleza da piscina e da estrutura externa do OAS. Isso vocês estão cansados de ver, tanto pessoalmente (para os que tiveram a honra de estar lá) quanto pela TV. Mas acredito que ninguém aqui discorde quando digo que aquela imensa caixa azul aquática é a coisa mais linda do Parque Olímpico da Barra. À noite, todo iluminado de led azul, era de babar… OAS, é uma pena que vão te desmontar depois dos Jogos Paralímpicos. Foi uma honra te ter como minha casa por tanto tempo!
Apesar de tudo e por tudo o que aconteceu, vai ser difícil uma outra semana na minha vida superar essa que terminou dia 13 de agosto de 2016.

Patricia Angélica

Sobre rcordani

Palmeirense, geofísico, ex diretor da CBDA e nadador peba.

17 comentários em “Patricia Angélica e os bastidores de uma voluntária olímpica.

  1. rcordani
    16 de agosto de 2016

    Obrigado Patricia, os Jogos estão muito bem organizados graças às pessoas que como você doaram seu tempo e energia para nós. Ontem eu estava saindo do metrô 1:30 (depois do ouro da vara) e uma funcionária estava super sorridente, eu disse “nossa, sorrindo até essa hora? Parabéns”, e ela “Sim, a gente tem que manter a simpatia”. De fato, o voluntariado está dando um show!

    • Patricia Angelica
      16 de agosto de 2016

      Eu é que agradeço o espaço, Renato! Um prazer contar um pouquinho sobre os dias incríveis que vivi ali!

      Que venham os Jogos Paralímpicos! \o/

  2. Luiz Carvalho
    16 de agosto de 2016

    Super bacana o relato, parabens!!

    • Patricia Angelica
      16 de agosto de 2016

      Super obrigada! 🙂

  3. Cristiano Michelena
    16 de agosto de 2016

    Genial!

  4. Rodrigo M. Munhoz
    16 de agosto de 2016

    Conversei com muitos voluntários na semana que passamos no Rio, mas nenhum relato se comparou a este! Muito legal, valeu Patricia!

    • Patricia Angelica
      16 de agosto de 2016

      Bondade sua… obrigada! 🙂

  5. Lelo Menezes
    16 de agosto de 2016

    “Mas é muito louco estar perto desses caras que são tão extraordinariamente excepcionais e, ao mesmo tempo, tão humanos quanto nós. É especial. É único.”

    Essa frase pra mim resume tudo! Tive a mesma sensação uma vez lá atrás na vida e mudou o meu ver do esporte… inclusive acho que me ajudou bastante na carreira de nadador! Ótimo texto

    • Patricia Angelica
      16 de agosto de 2016

      Só quem já teve a chance de cruzar com alguém como Phelps, Ledecky ou Katinka num corredor ou porta, super concentrado e focados faz ideia do quanto é sensacional.

      A gente consegue entender porque eles estão no nível que estão… é apaixonante. Quero de novo! =D

  6. Coach Alex Pussieldi
    16 de agosto de 2016

    Nota 10 Paty.

    • Patricia Angelica
      16 de agosto de 2016

      Obrigada, Coach! 🙂

  7. Julio Rebollal
    19 de agosto de 2016

    O Nuzman acertou quando, antecipadamente, agradeceu aos voluntários no discurso de abertura dos Jogos.

    Parabéns Patrícia! Essa é uma experiência de vida única!

    Minha mãe também é voluntária. 84 anos. E nem brasileira é…

    • Patricia Angelica
      19 de agosto de 2016

      Que sensacional! É tudo muito sensacional! Até o que dá errado acaba sendo incrível! Experiência inigualável!

  8. Pingback: O que estou lendo - Value for Life

  9. Sérgio Rossa
    23 de agosto de 2016

    Sensacional!! Tanto o seu relato, quanto a experiência de ser voluntário (também tive este prazer). Medalha de ouro!

  10. Pingback: O que estou lendo | Inva Capital Wealth Management

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Publicado às 16 de agosto de 2016 por em Natação, Olimpíadas, Rio 2016 e marcado .
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