EPICHURUS

Natação e cia.

Pode o esporte melhorar as pessoas?

Sempre com a ajuda de longas discussões entre amigos, continuamos a elaborar sobre a percepção pessoal do impacto do esporte na vida das pessoas.  Ou se preferirem: “Será que seríamos pessoas piores se não tivéssemos feito natação?”

Equipe PEBA 2012

Parte da Equipe PEBA no Pinguim – Ribeirão 2012

Num modelo que considere somente a influência genética, a sua sorte (ou azar) na loteria genealógica, tudo aquilo que você virá a ser já está estabelecido. Ou seja, você só poderá ser aquilo que os genes herdados dos seus pais deixarem. Sempre, é claro, em combinação com a evolução obtida por nossos antepassados em centenas de milhares de anos de vida nas savanas africanas.  Num modelo oposto, os estímulos do ambiente e a sua criação determinariam totalmente seu futuro comportamento e a realização do seu potencial, ignorando qualquer influência evolucionária ou genética.

Pessoalmente, apesar de acreditar na força da genética e no poder de milhões de anos de evolução, acho que não é tão simples assim. Paralelamente, também não consigo acreditar que o ambiente é o único determinante de seu sucesso, visto que sei de tantos casos de superação humana… Além do mais, contra certas correntes científicas mais recentes, ainda acredito no livre arbítrio do ser humano, ou seja, que podemos tomar decisões conscientes que impactam a qualidade de nossa sobrevivência.

Em minha opinião, me parece que o modelo puramente “genético” impõe a noção de que o indivíduo se torna uma “vítima” da herança genética que recebe ao nascer, enquanto o modelo comportamental desconsidera demais a força dos nossos instintos primitivos, os quais me parecem explicar muita coisa… Ler o livro “Why Beautiful People Have More Daughters” me fez pensar bastante no assunto e aprender alguma coisa sobre evolução e comportamento (apesar de não conseguir acreditar em tudo que o livro propõe). No fim, acho que sou a favor de um modelo conciliador, que leve em conta que a genética determina boa parte do comportamento humano, mas sem deixar de considerar a exposição ao ambiente como uma influência na vida dos homens. E é aí que entra a natação para mim…

Eu simplesmente acho que a prática do esporte me permitiu ver que as pessoas podem melhorar no “todo” e levar aprendizado para toda a vida através de dedicação e foco em uma atividade. Não quero diminuir o papel que meus pais e educadores tiveram na minha formação ou na vida de qualquer um. Meus pais deram a base ética e educacional que me fez o que sou e a escola direcionou um pouco (algumas vezes melhor que outras) a minha cabeça. Contudo, foi na natação que aprendi a importância dos amigos, do esforço dedicado, da importância da forma (o “how”), da liderança e resiliência em situações desafiadoras. Também na natação conheci o sabor de uma vitória “suada”, enquanto aprendia com desapontamentos, inevitáveis na vida adulta. Tudo isso foi e continua sendo muito útil no dia a dia e acho que faz muita diferença.

No mínimo, creio que o esporte pode ajudar a provar que não precisamos nos contentar com o que temos e que podemos sair em busca de mais… Aliás, acho que com a prática de qualquer coisa – em especial o esporte competitivo, uma pessoa aprende que pode conseguir coisas melhores, através de esforço, dedicação, trabalho em equipe, etc.

Algumas pessoas podem achar um exagero atribuir tanta importância a natação ou a qualquer esporte. Para estas pessoas, acho possível que o esporte tenha deixado alguma decepção ou simplesmente foi eclipsado por outras vivências pessoais mais fortes. Creio que não tem certo nem errado aqui. Cada um tem a “sua verdade” e é ela que dita a importância do esporte praticado na vida versus outros fatores. Nada tira o mérito das conquistas pessoais, da influência familiar das vitórias desportivas ou profissionais de cada um. Acho que o esporte ajuda a treinar o corpo e a mente para situações que podem te ajudar na vida. E qualquer treino ajuda…Isso é baseado na minha opinião pessoal e percepção. Não tenho como provar que a natação (ou qualquer outro esporte) me ajudou mais ou menos que outros fatores e que pode “produzir” melhores indivíduos adultos, apesar de achar que me fez bem…  De qualquer forma, a discussão tem sido boa, apesar de grandes divergências no grupo.

Finalmente, vou ter que sair em defesa daqueles “coroas CDF” do Master (um ente “genérico”, do qual estou cada vez mais próximo) que passou quase que uma vida sendo sedentário e tardiamente descobre no esporte algo para se dedicar intensamente. Acho que ele apenas descobriu a importância do esporte um pouco mais tarde que os “PEBAS” da turma… E mesmo entre nós, tem gente redescobrindo o esporte, depois de muito tempo parado. Que mal tem nisso? Nunca é tarde para ter mais saúde, mais qualidade de vida ou mais dedicação aquilo de que se gosta.

nadador anonimo com bermuda Arena

Nadador anônimo com bermuda Arena muy cara, pero pequena…

Podemos chamar esses caras de “chabasssss” quando vemos certos exageros (como a compra de uma sunga de R$1000, por exemplo), mas acho que esses “malucos” reforçam o ponto que a prática do esporte é um negócio legal e atraente em diferentes estágios da vida.

Discutimos muito este tema, com tantas concordâncias como discordâncias. Acho que a única unanimidade é em relação as amizades que ficaram para o longo prazo. Alguns absolutamente não aceitam que a natação tenha tido qualquer papel importante na sua formação profissional e acham que a sorte ou fatores genéticos ou de formação familiar tiveram um papel muito mais importante. Outros são absolutamente certos que sem a natação não teriam alcançado objetivos importantes como adultos… Enfim, para entender melhor do que estávamos falando, acabei rodando um questionário na turma. Com os resultados parciais abaixo, vocês poderão conhecer um pouco mais dos PEBAs “hardcore”:

1) Composto 100% por (ex-)nadadores, é lógico… alguns outros esportes mencionados.   2) Apenas 20% tiveram bolsa colegial…  3) …enquanto 80% obtiveram alguma ajuda financeira e…   4) …70% tiveram bolsa na faculdade.   5) Um “assustador” (ou sarcástico) 30% guarda traumas do esporte…   6) …mas apenas 10% não guarda boas lembranças da natação…   7) 90% acham que o esporte ajudou na vida pessoal…   8) … enquanto só 60% acha que ajudou na vida profissional.   9) 80% teve acesso a viagens internacionais pelo esporte…   10) 81% é a média de amigos atuais originários na natação.   11)  Os respondentes indicaram que praticaram esporte por pelo menos 15 anos na média.   12) As conquistas pessoais no esporte são variadas, de campeão regional a colocações em Mundial e Recordes Continentais.   13) Em termos de educação, 100% tem superior completo e 40% tem pós graduação (MBA incluído). Temos também um Doutor.   14) 70% ainda pratica esporte com frequência atualmente.   15) Apenas 10% faliram, mas um adicional de 20% parecem meio preocupados…   16) 2o% declinou resposta ou não se acha totalmente confortável materialmente, indicando algum receio sobre o próprio futuro financeiro.

Nenhuma conclusão final, mas interessantes resultados até agora…

Para quem quiser nos ajudar a conhecer melhor os leitores de Epichurus, seguem links para uma pesquisa rápida, em duas partes:

Parte 1:

Participe: Responda a Pesquisa Epichurus Parte 1!

Parte 2:

Participe: Responda a Pesquisa Epichurus Parte 2 !

 

Obviamente a identificação é opcional e preservaremos a privacidade dos respondentes. Nos comprometemos a divulgar resultados aqui, assim que tivermos numa amostra razoável entre as centenas de leitores que temos.

Abraços!

Sobre Rodrigo M. Munhoz

Abrace o Caos... http://abraceocaosdesp.wordpress.com

7 comentários em “Pode o esporte melhorar as pessoas?

  1. Ruy
    10 de julho de 2012

    Excelente texto com bons argumentos de ambos os lados. Acho que aumentando mais a amostra podemos ter algum resultado mais consistente em relação a influencia da natação (levada a sério) na vida das pessoas.

  2. Ruy
    10 de julho de 2012

    Esqueci de comentar. Essa foto de nadador”anônimo” nao é tão “anônimo” assim, nao é?

  3. rmmunhoz
    10 de julho de 2012

    Obrigado, Rrruy. Não adianta jogar verde. Só revelaremos a identidade do nadador anônimo da foto no próximo HH no Ó… 🙂

  4. rcordani
    10 de julho de 2012

    Legal a pesquisa, não sabia da existência dessa ferramenta.

    Eu creio que a prática da natação competitiva tenha me ajudado de duas formas na minha profissão: (1) treinamento de gerenciamento de pressão e (2) aprender a perder.

  5. rmmunhoz
    10 de julho de 2012

    É isso aí, Renato: Duas coisas importantes para qualquer carreira, imho…
    E espero que mais leitores vejam e completem a pesquisa.

  6. Lelo Menezes
    13 de julho de 2012

    Interessante o assunto e difícil de dar uma resposta com convicção! No meu caso, parecido com o do Renato acredito que a natação ajudou a gerenciar as pressões do mundo corporativo. Aprender a perder também! Por outro lado entrei no mercado de trabalho tarde por causa dela e poderia e deveria ter levado mais a serio os estudos. Meu foco por muitos anos foi única e exclusivamente voltado pra natação. O resto ficou em segundo plano.
    Profissionalmente hoje eu poderia estar mais “alto” no mundo corporativo se tivesse levado a natação menos a serio e tivesse trocado meu foco das piscinas pra carreira mais cedo? Muito provavelmente sim! Mas no fundo não importa porque não trocaria o que a natação me trouxe de positivo como os amigos, os títulos, as historias, as viagens, o orgulho de ter vestido a camisa da seleção brasileira e ter ouvido nosso hino nacional no lugar mais alto do pódio por absolutamente nada! No fundo tenho saudades da simplicidade da vida de atleta. De viver com poucos mas claros objetivos. Pra mim a natação é quase como filhos. As vezes você até pensa como seria a vida se nunca tivesse sido pai. Com certeza teria mais tempo, mais dinheiro e mais liberdade mas no fundo sabe que não da pra imaginar a a sua vida sem eles, com a convicção que mesmo sem tempo, dinheiro e liberdade, a sua vida é muito mais feliz por eles fazerem parte dela!

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Publicado em 10 de julho de 2012 por em Epicuro, Natação.
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