Minhas crianças foram hoje cedo para a escola carregando vários presentinhos para os professores. Estavam todos felizes, o que me fez crer que estão fazendo um bom trabalho lá no “Ursinho Branco”. Enquanto seguia de volta para casa, ouvindo a rádio CBN, vários comentaristas estavam falando os nomes dos professores que os influenciaram para toda a vida. Fiquei particularmente tocado pela história da Miriam Leitão, cuja primeira professora – Dna Naná (Edna Matos, de Caratinga) conseguiu fazê-la superar uma forte timidez infantil, além de alfabetizá-la… Muito bacana isso, considerando que a Miriam Leitão foi parar na TV!
Coaches Reinaldo, Sidão, Tião, Sergio, com a turma do Dr Mazza em Rosário – Argentina. Alexandre Hermeto e Marcelo Grangeiro a frente. Notem o plano de treinos para Seul 88
Pensando na minha própria experiência de vida, lembrei de várias professoras e professores que tive, desde o Bosque Encantado, passando pelo EEPG Prof Silvério São João, Colégio Objetivo de Bauru, até a FEA-USP e Universidade do Missouri … No fim, cheguei a conclusão que, apesar da grande importância que vários professores escolares tiveram, foi fora da sala de aula que tive os mestres que mais me influenciaram na vida.
Meus treinadores e técnicos de natação foram muito importantes talvez por me ensinarem coisas que em geral não se aprendem na escola, mas que são essenciais para o esporte: Foi nas piscinas, sob a tutela de caras como o Tião, Jader, Sidão, o William e o Brian que aprendi mais sobre liderança, humildade, disciplina e muito sobre a importância da amizade e trabalho em equipe, mesmo quando suas tarefas parecem individuais.
E o mais legal é que deixamos de ser atletas desses caras, para nos tornarmos amigos a cada reencontro. As conversas hoje são de gente que superou desafios juntos, muito além da relação de mentor e aprendiz que um dia existiu.
Fora a influência dos meus pais – meus primeiros professores da vida – foram esses profissionais das piscinas, de personalidade forte, grande sensibilidade e foco em resultado, que me mostraram também que apesar de trabalho árduo não ser garantia de resultados positivos, fugir do trabalho certamente era garantia de fracasso. Isso sem nunca falarem nada do gênero. Nada melhor que exemplos reais para ensinar lições que nunca serão esquecidas… E um esporte como natação, que não depende de opiniões, mas apenas de um relógio para diferenciar o sucesso do fracasso sempre deixa isso muito claro. As vezes fica tudo tão claro,que parece masoquismo e nessas horas é bom ter um técnico também para colocar as coisas em perspectiva.
A vida vai continuar, depois dos fracassos, assim como dos sucessos. Se você tiver sorte e uma boa orientação, você pode aprender com ambas situações.
Espero que os técnicos e professores de natação de hoje tenham plena noção que estão ajudando a formar a mente e o caráter (assim como o físico) dos jovens atletas dessa nova geração. Um abração a todos meus amigos das beiras de piscinas de hoje e de sempre.
Boa Munhoz! Acho que a natação foi tão importante na nossa vida desde cedo, que a influencia dos nossos técnicos nos parece maior que a dos professores da escola. Não sei se é fato. Talvez não seja mas pra mim a percepção é essa!
É o que eu sinto também, Lelo. Espero que a molecada nova esteja aproveitando isso também, até porque eles começam mais cedo e nadam por mais tempo. Abraços!
Sinto a mesma coisa que você, Munhoz. O Pancho sempre foi muito mais importante para mim do que qualquer professor. E olha que eu queria ser professora! Mas acabei indo fazer Educação Física, para trabalhar com natação, e acho que grande parte dessa decisão foi baseada na figura profissional do Pancho. Eu fui técnica de natação durante 8 anos, mas acabei mudando de profissão (principalmente para poder ter finais de semana e feriados livres para curtir filhos!) e agora sou professora de inglês para Ensino Médio. Eu senti isso na pele! A minha relação com meus atletas, principalmente da Hebraica e do Corinthians, era muito intensa! Nos encontrávamos todos os dias por mais de 3 horas e estávamos juntos nos momentos mais importantes da vida dos atletas na época: vitórias, superações, derrotas, fracassos, recreações, treino duro, treino “mole”, festinhas, namoros. Acho que eu tinha mais contato com eles do que os próprios pais. We were close!
Hoje em dia, gosto muito de dar aulas, gosto dos meus alunos e acho que eles também gostam de mim. Mas nem de longe posso comparar com o carinho que tive dos atletas… Agora sou uma professora que os vê duas vezes por semana durante 50 minutos. E não participo de nada realmente bacana da vida deles. Gosto de pensar que contribuo de algum jeito para a vida deles de uma maneira geral, mas não dá para concorrer com minha contribuição de técnica!! Enfim, esse contato com jovens, de um jeito ou de outro, é sempre bom! Gosto da minha profissão!
oi Marina! Como sempre, muito legal e “real” o seu comentario. Acho que voce tem o conhecimento e experiência para fazer a diferença na vida dos seus alunos, seja na sala de aula ou nas piscinas, pois a mistura de atleta, treinadora, professora, mãe e pensadora é algo muito poderoso. Use sem moderação!
beijo, Munhoz
Use sem moderação no Brasil. A US Swimming acabou de divulgar novas regras de conduta do relacionamento Tecnico-Atleta. Os técnicos não podem mais ligar para seus atletas a não ser durante um período estipulado do dia, não podem mais enviar e-mail aos atletas a não ser com outro tecnico ou pai do atleta em copia e a grande pérola – não podem mais ter seus atletas como amigos no Facebook. Quando pensamos que só o Brasil as vezes caminha na contra-mão do mundo, vem a US Swimming e prova que muitas vezes a idiotice é um mal global!
Interessante info da USS, Lelo… Infelizmente o histórico dessas “regras de conduta” geralmente está ligado com algum causo “esquisito” que aconteceu por lá… ainda assim, somos da época anterior ao e-mail, rede social e sabemos que grande parte do impacto do técnico se faz na beira das piscinas e nas competições. Espero que continue assim. Abrtz.
Boa Munhoz. Aproveito para parabenizar e agradecer meus quatro técnicos pela data de ontem: Pancho, Nenê, Willian e Alberto.
Ah, gostei muito do trecho “me mostraram também que apesar de trabalho árduo não ser garantia de resultados positivos, fugir do trabalho certamente era garantia de fracasso”.
Valeu, Renato! Conheci bem todos os seus técnicos – tudo gente boa. Aproveito para dizer que gostei de um ponto que você mesmo trouxe durante a saga dos 200 peito, relacionado ao fato de que certos “fracassos dolorosos” na época da natação até que ficam bem positivos quando vistos de uma perspectiva mais distante… Abraços!
Bonita reverencia aos tecnicos Munhoz. Entre os varios tecnicos q tive, o Alberto (Klar) foi o verdadeiro professor p mim. Independente da parte tecnica, me ensinou a acreditar de verdade em mim. Levo alguns ensinamentos dele comigo ateh hj. Tive oportunidade de falar isso p ele ha pouco tempo atras gracas ao Facebook.
Um pouco antes de completar 14 anos desmotivado e prestes a parar de nadar o Eleandro meu tecnico entao teve cancer e ficou varios meses de licenca. O Alberto assumiu a equipe juv A (era tecnico do juv B e auxiliar do adulto) e levou 60 atletas soh dessa categoria ao JD de Curitiba. Tivemos q fazer ateh bingo no Fla p levar todo mundo (merece um post especial este periodo). Eu tava treinando pouco (e mal) e fazendo 1″02 nos 100L e 2″17 nos 200L. O Alberto veio conversar comigo e me perguntou se eu queria continuar assim. Disse q nao mas nao sabia como mudar a situacao. Conversou mais comigo e depois c minha mae p convence-la a me levar ao treino da madruga. A partir dai as coisas foram mudando p mim. Ele conversava comigo quase todo dia e 3 meses depois fiz 59″ e 2″07. No ano seguinte treinava c ele de madrugada e c o Eleandro a tarde. No final do ano ganhei 5 ouros e 1 prata no carioca Juv A, baixando p 55″ nos 100 e 2″01 nos 200 (gracas ao Alberto baixei 7s nos 100 e 16s nos 200 em 1 ano e 3 meses !!!).
Independente dos tempos, as licoes de vida dessa epoca foram e sao importantes ateh hj.
abcao
Valeu, Alvaro! Queremos ouvir mais histórias como essa por aqui… O lance de Bingo no Fla, me lembrou das Rifas de Televisão, assim como a venda de adesivos do Alf – o Eteimoso – que foram táticas similares usadas em Bauru, para arrecadar fundos nos anos 80… Épico!
Conheci bem o Alberto das viagens com a Seleção Juvenil e com a Kibon, assim como o Eleandro – grandes técnicos ! Aliás, nesses relatos vemos como a natação era (talvez ainda seja) uma “comunidade” bastante unida. Abraços!
Feliz dia do educador,educação é, pois, o ato de acolher e iniciar os jovens no mundo, tornando-os aptos a dominar, apreciar e transformar.Suas memória fazem com que o mundo esportivo só sobreviverá se as novas gerações lhe trouxerem suas novas experiências.(sem o capitalismo do mercado competitivo) Porque a crise na educação tornou-se um problema político de primeira grandeza.A educação num mundo à deriva. Se o mundo público não existe mais, talvez a política deva ser reiventada e comunidades escolares poderão ser o novo local dessa reivenção.
O amor ao mundo, exige que os indivíduos se arrisquem a se pôr em desacordo, ensinar e lutar pelo outro virou sinônimo de virtude?
Valeu, Rosely! Acho que educação deveria ser prioridade em qualquer programa de governo, mas nem isso seria garantia de que os jovens irão apreciar o mundo adequadamente. A responsabilidade individual de todos nós como “educadores”, portanto, é mais importante que nunca. Abraços!
Munhoz, boa referência aos mestres das piscinas. Treinei com voce em Bauru com o Sidão, não sei se lembra! Palavras e um dia por ano é pouco para agradecer todos esses profissionais que souberam nos passar valores que carregaremos pelo resto de nossas vidas. Um parabéns atrasado a todos aqueles profissionais da beira da piscina que debaixo, de sol e chuva, raios e tempestades, estavam ali do nosso lado apoiando e nos ensinando. Gostaria de ter a maturidade suficiente para entender(naquela época) o quão importante seriam aqueles momentos para a minha vida. Abraços a todos e parabéns pela qualidade dos posts e comentários
Paulo, você é parente do multi milionário Marcelo Abdo?
Grande Pop! Claro que lembro! Seu saudoso pai inclusive foi nosso médico (meu e do meu irmão) em Bauru. Obrigado pelo comentário e volte sempre! Abração!