EPICHURUS

Natação e cia.

Aos jovens atletas a caminho dos EUA – Um video, 11 dicas aleatórias e mais alguma coisa

Uma velha amiga do Missouri, hoje residente na Alemanha – me pediu ajuda para a filha de uma amiga, que mora no Egito, que está pensando em cursar uma universidade norte americana. Tá aí um lado bacana da globalização… De qualquer maneira, a moça está prestes a terminar o equivalente ao ensino médio no Cairo e queria entender como era a experiência, da perspectiva de um estrangeiro que tivesse morado e estudado nos Estados Unidos. Espero que eu tenha dado boas dicas…

Mas o ponto é que esse exercício me levou de volta aos meus 18 anos, e aos momentos prestes a tomar a decisão que me levou a morar fora para estudar e nadar. Não necessariamente nessa ordem.  Naquela época eu provavelmente não conseguria dar dicas muito boas. Na verdade, o melhor que eu poderia oferecer talvez fosse uma receita de pizza vegetariana – a qual pelo menos me parecia melhor que a idéia de milk shake ou vitamina do Lelo na mesma época. Hoje vendo o o vídeo da entrevista com a excelente Eleonora Paschoal,  já nem estou tão certo disso… Vocês podem opinar, assistindo o clip abaixo…

O que segue agora talvez não seja ideal para a audiência do Epichurus – com boa parcela de ex-nadadores que já passaram há décadas por esta “fase” de auto-expatriação esportiva… De qualquer forma, talvez uma dica ou outra ajude algum colega mais jovem, ou ao menos possa gerar uma troca de idéias e quem sabe alguma polêmica.

Vamos lá…

1) É ótimo ser um atleta ao chegar nos EUA. O time ajuda na adaptação, a não se sentir tão sozinho nas poucas (mas cruéis) horas vagas  e o técnico pode ser um mentor para a vida nova.

Comemorando a final da Copa de 94 no Missouri com Cesão e Clarinha

Comemorando a final da Copa de 94 no Missouri com Cesão e Clarinha

2) Mas assim como o time é bom, o risco de bitolar é grande, então é bom ter um hobby alternativo também para acelerar o “fit in” process. Cultura, artes, jogos, escaladas, frisbee… o que seja. O país é enorme e oferece muitas alternativas. Não aproveitá-las seria também um desperdício.

3) Tente evitar contato excessivo com os conterrâneos e patrícios. Não será fácil. Pelo menos, não foi pra mim, que tinha bons amigos (ainda tenho) na cidade. Mas não faça deste círculo o centro de sua vida social, pois isso pode causar danos no inglês e o impedirá de ter uma imersão adequada na nova parada.

4) Faça perguntas. Não tenha medo de parecer estranho ou diferente. Você já é diferente e os locais vão rir um pouco, mas vão te admirar também, pois apesar de errar inicialmente,  você vai acertar progressivamente mais e mais.

Nossa turma de salva vidas na antiga piscina da Universidade do Missouri em Columbia

Nossa turma de salva vidas na antiga piscina da Universidade do Missouri em Columbia

5) Se for possível arrume um trabalhinho. Part time. Um pouco mais de grana e independência com muito mais esperiências e amigos. Só não se torne muito materialista e saia comprando tudo que ver na frente. Eu era salva-vidas por algumas horas por semana na piscina. Aprendi coisas ótimas que ainda são úteis.

6) Vai parecer maternal, mas tente comer bem. É totalmente possível comer bem nos EUA. Só não é óbvio, especialmente se você não estiver na California. Não siga os “gringos” aqui… a maioria come demais.

7) Aproveite a vida “outdoors”. Os parques nacionais são uma instituição norte americana e merecem ser conhecidos. Praticamente toda cidade tem seu “nature preserve” também, que pode ser usado por boa parte do ano em geral. Faça turismo local – ou “go take a hike”.

8) Quem já esteve lá, sabe: vai haver festas. Aproveite. Use com moderação, ou não, mas seja responsável pelos seus atos. Drogas e alcool fazem parte da vida universitária em qualquer lugar, mas lembre-se que atletas viram manchete mais fácilmente, pro bem e pro mal. Ok, tô virando minha mãe.

9) Aprecie as diferenças culturais. Aprenda.  Toda cultura tem coisas boas e más. Critique, mas ouça as críticas.  Lembre-se que nem tudo é sobre você. Na verdade, quase nada é e a vida em outro país pode dar bons exemplos disso.

10) Em contraste com o o aprendizado, tente não abandonar sua identidade pessoal. Tente escrever um diário, ainda que falho.  Queria ter feito isso para olhar e mostrar pros meus filhos, hoje em dia ou daqui uns anos. Faça planos de longo prazo que possam ser consultados, e finalmente guarde cartas… ops, quero dizer mensagens importantes da época.

11) Entre em matérias difíceis assim que se sentir seguro – essas, em geral são as melhores. Entre em matérias fáceis e que nada tem a ver com seu major – essas em geral são as mais divertidas. Use os serviços que a escola oferece: Rec Center, Medical facilities, Counseling, ESL support, Open Classes, são coisas que devem fazer parte do seu vocabulário.

Uma última coisa – que não é tanto uma dica, mas sim um pequeno conselho, baseado em experiência própria e na de outros amigos.  Não deixe de aproveitar a oportunidade de morar fora do país por causa de um namoro. A razão é simples:  Isso não é justo com a outra pessoa, pois segurar alguém aqui ou em qualquer lugar contra a vontade é responsabilidade demais (além de potencialmente ilegal). Aprendi isso com minha namorada da época, que me liberou para ir morar no Missouri quando, graças a ajuda de meu amigo Cesar Mello, consegui uma bolsa para nadar. Anos mais tarde casei com ela e tivemos três filhos, mas isso é outra história.

Munhoz e Dani + Famílias

Munhoz e Dani + Famílias

Um bom feriado de 15 de Novembro para todos!

Sobre Rodrigo M. Munhoz

Abrace o Caos... http://abraceocaosdesp.wordpress.com

13 comentários em “Aos jovens atletas a caminho dos EUA – Um video, 11 dicas aleatórias e mais alguma coisa

  1. rcordani
    14 de novembro de 2013

    Boa Munhoz, quer dizer, menos o vídeo, que deu vergonha alheia. Acho que a Eleonora não guarda esse como um de seus melhores momentos…

    • Rodrigo M. Munhoz
      14 de novembro de 2013

      Caro R,
      A reportagem também me causa uma certa vergonha, admito. Por outro lado, tenho boas lembranças daquela manhã na cozinha experimental do Extra. A Eleonora foi simpática, mas ficava cutucando a gente atrás da bancada, para que falássemos mais rápido. E o lance foi ao vivo no Jornal da hora do almoço (SP TV acredito). Mais tarde, tive que ir resolver uns negócios na Av Paulista e fui com a mesma jaqueta que estava usando na TV. Acabei sendo reconhecido por várias pessoas, o que me deixou contente, porém mais envergonhado. ~
      Uma coisa é certa, porém: Os meus parentes todos dizem ter gostado muito!
      Abraços!

      • Fernando Cunha Magalhães
        15 de novembro de 2013

        Ranzinzisse do Cordani… bem legal esse video aí!

  2. charlaodudo
    14 de novembro de 2013

    Agora entendi porque o peito do Brasil era tão PEBA naquela época. Um absurdo os caras não terem noção dos efeitos benéficos da batata para aprimorar o potencial energético do nado de peito! Taí a Ruta que não me deixa mentir. Se na pizza fosse adicionado um pouco de batata cozida e fartas porções de batata palha, teríamos um alimento de muito mais potencial calórico e se no milk shake colocassemos um punhado de batata cozida e porque não, batata palha também, teríamos uma bebida que seria o combustível para uma sequência de treinos de sucesso.

    • Rodrigo M. Munhoz
      17 de novembro de 2013

      Charles, eu sempre me pergunto disso… Se você não tivesse sido tão mesquinho guardando os segredos da batata lituana por tantos anos, eu talvez tivesse sido menos Peba!

  3. Sidney N
    14 de novembro de 2013

    Excelentes dicas Munhoz. Se na época tivesse mais acesso a informações como essas, teria considerado a possibilidade de fazer faculdade no exterior, principalmente se houvesse alguma bolsa-PEBA disponível.

    Infelizmente não posso contribuir muito com a questão gastrônomica, mas pensando nas dicas para quem vai para fora, só recomendaria o seguinte: evite iniciar um relacionamento nos primeiros meses. Esse é o período mais propício para fazer amizades e aproveitar as novas experiências.

    Abraços!

    • Rodrigo M. Munhoz
      17 de novembro de 2013

      Sidney, Bolsas Peba ainda existem, mas “tem que acreditar” e procurar com muito afinco!

  4. Fernando Cunha Magalhães
    15 de novembro de 2013

    Sensacional Munhoz.
    Tenho grandes arrependimentos na vida e provavelmente, não ter ido treinar e estudar nos EUA é o maior deles.
    Sinto-me como no De volta para o futuro pensando em quantas experiências a mais eu teria, em performance atlética, em diversão, em cultura, em trajetória profissional se tivesse seguido esse caminho lá atrás.
    Um enorme vacilo!

    • Fernando Cunha Magalhães
      15 de novembro de 2013

      E que bela visão da jovem Dani, ela está de parabéns e teve seu merecido prêmio!

      • Rodrigo M. Munhoz
        17 de novembro de 2013

        Agradecimentos duplos, Esmaga! Mas discordo que seriam mais experiências ou que seriam melhores ou maiores… Não necessariamente : seriam apenas diferentes. “The road not taken…” E isso é tema de um futuro post…
        Abraços!

    • rcordani
      17 de novembro de 2013

      Gostaria de maiores detalhes sobre esse arrependimento (que eu desconhecia) mas imagino que os mesmos virão mais cedo ou mais tarde, correto?

      • Fernando Cunha Magalhães
        17 de novembro de 2013

        Correto.
        Não sei se é cedo ou tarde, mas disso aí, já veio há muito tempo e é basicamente relacionado a essas coisas que já escrevi.
        Errar faz parte do processo de quem tentou por isso, só devemos nos arrepender daquilo que não fizemos, e isso aí, eu não fiz.

  5. Lelo Menezes
    18 de novembro de 2013

    Boa Modena! Excelente as dicas! O vídeo é impagável. Me lembro muito bem daquele dia e dos beliscos da Eleonora. Também lembro da nutricionista, chamada porque eu não sabia fazer nada. Foi ela quem inventou o milk-shake energético numa prova claríssima de que não dá pra acreditar em quase nada na TV, inclusive o que é ao vivo.

    A minha experiência de quase 12 anos morando fora do Brasil foi riquíssima. Não consigo imaginar minha vida sem ela. Por isso concordo com o Esmaga – nada pior do que o arrependimento de não ter feito alguma coisa.

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Publicado às 14 de novembro de 2013 por em "Causos" fora d'agua, Epicuro, Natação e marcado , , , , , .
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