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Natação e cia.

Porque eu apoio a Copa

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Não me recordo se minha primeira reação ao anuncio da Copa foi de alegria ou tristeza. Isto nem importa muito pois durante esta caminhada oscilei entre estes dois polos uma boa quantidade de vezes. Felizmente chego a abertura da Copa com forte impressão que foi um acerto trazer este torneio para terras tupiniquins. Até aí nada de diferente, mas gostaria de dividir com vocês os motivos que me levaram a pensar desta forma, garanto que chego a este resultado através de um caminho um pouco diferente.

Uma das grandes vantagens da Copa é que ela traz ao país sede uma exposição de mídia praticamente incomparável. As estimativas é que teremos 3 bilhões de telespectadores e 500 mil visitantes, 10% do que recebemos anualmente sendo os americanos o maior grupo de visitantes com 100.000 torcedores.

Não é à toa que dizem que a Copa é uma vitrine para o mundo. Mas e o que o mundo vai ver?

Vai ver um país com pouca segurança, com deficiências importantes de mobilidade urbana, mas com um povo delicioso, muito afável e perdidamente apaixonado pelo futebol. Talvez seja isso que nos coloque na 43ª colocação no ranking de receptividade mundial.

Acho inclusive que a maioria dos turistas vai ter uma ótima experiência e sair bem impressionados com o país, não nos enganemos, o nosso país é simplesmente encantador temos um lugar mais bonito do que o outro e um povo sempre com um sorriso entre os dentes.

Mas acho que o olhar externo desta vez é o que menos importa, o importante mesmo foi que a Copa nos permitiu uma forma única de conhecer e entender o funcionamento do nosso país. Existe algo mais didático do que dormir ouvindo que a Copa seria totalmente financiada pela iniciativa privada com direito a trem bala de porta a porta para acordar com 12 estádios financiados quase que totalmente por dinheiro público, com o entorno inacabado, onde a sugestão do poder incumbente é ir de jegue?

Existe algo mais didático do que ver o presidente do país aproveitar uma briga de quermesse dentro da CBF para empurrar goela abaixo de seu amigo empreiteiro a construção de um estádio para o seu time do coração? Esta mágica toda financiada com dinheiro público deixando o risco do empreendimento no colo da Caixa Econômica Federal, ou seja, no colo da viúva.

Outra grande utilidade deste evento, foi relativizar o tamanho do estado em nossas vidas. Uma coisa é falar que a Usina de Belo Monte vai custar R$ 26 bilhões, outra coisa é falar que a Usina de Belo Monte SOZINHA vai custar TRÊS vezes mais do que todos os estádios da Copa JUNTOS.

Proponho, para as obras públicas, a adoção de uma nova unidade de medida o EPF, diminutivo para Estádio Padrão Fifa. O EPF após esta copa estará cotado a R$ 1 Bilhão, ou seja, ao invés de falar que a usina custou R$ 26 Bi de agora em diante falaremos que a usina custou 26 EPF. Que tal? Não fica mais fácil entender o poder dos empreiteiros no Brasil?

Tenho um amigo muito inteligente que afirmou que não haveria muito roubo nesta Copa. Ele sintetizou seu raciocínio numa ótima frase:

“Shiga, se o cara pode superfaturar numa usina no interior do Pará ou de Rondônia para que ele vai superfaturar num projeto sob os holofotes do mundo? ”

Eu diria algo um pouco diferente, se as obras da Copa por aqui são assim, imagina o que acontece lá no depois que Judas perdeu as botas. Doze estádios, oito mortes, isto em pleno século XXI. Será que isto é normal?

“Mas e o estouro dos orçamentos? E o custo absurdo de vários estádios? Vai me dizer que isto é comum? Que não teve roubalheira? ” – diria um leitor mais exaltado.

Infelizmente é exatamente isto que estou dizendo. O Brasil se tornou um país tão complexo e improdutivo que atrasos de obra e estouros de orçamento são a regra. A exceção é entregar a obra no tempo e custo combinados. Na Copa TODOS os estádios estouraram o orçamento sendo o Mané Garrincha o vencedor neste quesito com um estouro de R$ 910 mi ou 0,91 EPF. Isto segundo números de Agosto de 2013.

Estudei um pouco as formas de financiamento dos estádios e cada um teve uma engenharia financeira diferente. Acho muito importante separar o que foi incentivo fiscal, o que foi linha de crédito com taxa subsidiada e o que foi dinheiro público como participação acionária mesmo. Nisto cada um teve maior e menor participação do estado, sendo que os privados geralmente tiveram incentivos e financiamento mas não o estado como sócio direto.

De todos os casos que vi, o único que me deu real desgosto foi o tal do Mané Garrincha. A coisa me pareceu tão feia, mas tão feia que não tenho coragem de escrever sobre este tema aqui no blog, quem ficar curioso e tiver um estômago forte sugiro fazer uma boa pesquisa na rede.

Nada mais típico do momento atual que construir em Brasília o mais caro estádio da Copa. O fato de Brasília não sediar abertura/encerramento do torneio ou não ter time de futebol na primeira divisão não foi suficiente para inibir mais este desvario da elite política que habita este olimpo de poder. Uns pouco ungidos pelo voto popular que se viram no direito de incinerar dinheiro público no maior elefante branco da Copa.

Cresci ouvindo nas ruas que o Brasil era o país do futuro. Uma afirmação infantil que mostra a passividade da sociedade em relação aos seus objetivos. Se o Brasil é o país do futuro basta o tempo passar para este país acontecer.

Pois bem, o tempo passou e a realidade da Copa nos ensinou que chegamos mais ou menos ao nível de eficiência da África do Sul e estamos anos-luz de uma Alemanha. Mais triste ainda é constatar que nossos governantes não têm nem mais a expectativa de perseguir a qualidade de vida dos germânicos. O tal do vamos de jegue me deixa a nítida impressão que nossos governantes já jogaram a toalha no chão e que querem que nos contentemos com isto que esta por aí mesmo.

A Copa foi uma pós graduação de Brasil para os brasileiros. Com a Copa fomos obrigados a enterrar de vez os sonhos do trem bala e nos debruçar sobre a realidade que nem contratando as maiores empreiteiras do país conseguimos entregar as obras a tempo.

A Copa vai ser o bolo de aniversário da festa de formatura do Brasil, isto mesmo, me parece que finalmente este país está vencendo a adolescência e na minha opinião vai ser este impulso para a maioridade o grande legado da Copa.

Dizem que o primeiro passo para se tentar resolver uma situação é fazer um correto diagnóstico do problema. Se isto for realmente verdade, que venha a Alemanha !!!

Boa Copa a todos !!!

 

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Publicado em 12 de junho de 2014 por em Natação.
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