Nada mais ridículo do que o exercício do “se”! Ficar ponderando o que seria de nossas vidas se isso ou aquilo acontecesse de forma diferente é tão fútil como contra producente. Mas então porque fazemos isso quase diariamente? Difícil imaginar um dia no qual não exercitamos, muitas vezes inconscientemente, essa “futilidade”. Quem sabe não cabe aqui o famoso jargão “só Freud explica”. De qualquer forma, humano que sou, me pego exercitando esse loucura do “se” com certa frequência.
Na semana passada, eu, como milhares de brasileiros, me surpreendi com a performance da nossa seleção no Mundial de Doha. Foi algo realmente histórico! O Brasil terminando em 1º lugar no quadro geral de medalhas parecia impossível até para os mais otimistas, e uma mulher campeã mundial então nem o Polvo Paul poderia prever. Acho justo afirmar que foi o feito em equipe mais significativo da história da natação brasileira, mesmo sabendo que Mundial de Curta não tem o mesmo prestigio que os Jogos Olímpicos ou Mundial de Longa.
O engraçado é que essa atuação memorável da nossa seleção acabou me trazendo um sentimento inesperado de orgulho por ter nadado a 1ª e 2ª edição do Campeonato Mundial de Natação em Piscina Curta. Foi como se tivéssemos aberto o caminho, duas décadas atras, para o sucesso dessa garotada de hoje. Afinal, aqueles 11 nadadores que representaram o Brasil em 1993, guardadas as proporções, também fizeram história, com a inédita dobradinha no 100m Livre e o WR do 4x100m, além obviamente de outras medalhas e inúmeras Finais.
Eu não ganhei medalha, mas fui finalista do 4x100m Medley. Justamente a prova mais nobre da natação (tirando os 200m Peito) e que o Brasil, de forma inédita, trouxe o inesperado ouro agora de Doha. Lá em Mallorca ficamos em 5º, “perdendo” o bronze por pouco mais de um segundo. Nadei as eliminatórias com minha estratégia preferida: Passar fortíssimo e torcer pra não morrer na volta. Deu certo! Fiz 1’02’2 no parcial de peito (meu melhor tempo da vida) embora eu tenha sofrido um pouco nos últimos 15 metros. Vencemos a série superando o Canadá nos últimos metros.
Revezamento 5º no Mundial de 1993. Parece a equipe da Etiopia perto dos caras de hoje em dia aí embaixo…
Na final decidi fazer diferente. Resolvi passar um pouco mais fraco e voltar com força total. Eu queria de qualquer maneira quebrar a barreira do 1’02 e estava confiante que dava. Não deu! Passei meio segundo mais fraco na primeira metade da prova e fechei com 1’02’4 piorando dois décimos o meu tempo das eliminatórias.
O ser humano é bem ridículo as vezes. A gente recebe uma mão e vai logo querendo um braço. Eu deveria ter ficado felicíssimo com a 5ª colocação no Mundial. Quem diria eu, um exímio PEBA, finalista de um Mundial de Natação. Só que essa felicidade toda que de fato eu sentia não me impediu de passar a noite tentando entender se dava pra ter buscado aquele um segundo pelo bronze. Eu piorei dois décimos da eliminatória, o (José Carlos Souza) Junior que nadou borboleta fez o mesmo tempo da prova na saída livre: 54’3. Se eu tivesse melhorado 2 décimos ao invés de piorado e o Junior nadado meio segundo mais rápido já colocaria o Gustavo (Borges) na disputa pelo bronze e ele que sempre fechava como um monstro com certeza melhoraria um pouco seu parcial e o bronze seria nosso. Detalhe: O Gustavo fechou pra 47’6 (o melhor tempo entre todas as seleções daquela final). Quando dois dias depois ele fechou o 4x100m Livre para ouro e WR com o impensável parcial de 46’6 eu tive certeza que se a gente tivesse entregado pra ele meio corpo mais perto dos Ingleses (bronze), a medalha seria nossa. Uma curiosidade é que os ingleses nadaram na nossa série nas eliminatórias e ficaram em 4º atrás da gente, do Canadá e da Nova Zelândia e quase ficaram de fora da final.
Passados mais de 20 anos, me peguei filosofando sobre bobagem parecida. O Brasil foi ouro no 4x50m Medley. Sensacional! Essa prova não existia na minha época. Mas e se existisse?
O Rogério “Piu” Romero foi o melhor nadador de 200m Costas da história do Brasil e mandava muito bem no 100m também, tanto que fez bonito no 4x100m Medley em Mallorca, me entregando na 3ª posição, mas velocidade pura não era bem sua especialidade. Nos 50m Costas provavelmente não seria páreo para os principais adversários ali, mas pera só um minuto, naquela seleção brasileira tínhamos o Edilson Silva, que simplesmente voava em provas curtas. Ouso dizer que se existisse a prova de 50m Costas ele seria no mínimo finalista.
De peito só tinha eu mesmo… fazer o que! Mas eu já havia mudado o foco de 200m para 100m desde 1992 e estava bem veloz naquela época tanto que 4 meses depois daquele Mundial fui Campeão Sulamericano na prova de 50m Peito.
De borboleta tínhamos três grandes nadadores, o Junior, o Maurício Cunha e o André Teixeira e qualquer um deles faria bonito, mas eu iria mesmo com o Xuxa, que nadava bem borboleta e já era um dos principais velocistas do mundo.
E fecharíamos obviamente com o Gustavo!
Caramba, esse reveza aí seria o bicho hein e acho que teria mais chance de medalha que o 4x100m Medley que foi 5º!
Ahh se tivesse o 4x50m Medley naquela época! Quem sabe eu não teria uma medalha de Campeonato Mundial pendurada do lado daquela do Chico Piscina que já tá descascando?!
Só que parei agora pra pensar melhor. Se eu tivesse mesmo uma medalha de Mundial, ninguém poderia me chamar de PEBA e eu perderia o meu emprego no Epichurus, onde só PEBAs são aceitos!
Sei lá, acho melhor parar com essas hipóteses idiotas e voltar a trabalhar… Se bem que joguei na Megasena acumulada ontem! Vou te falar um negócio “Se eu ganhar essa grana toda… ahhh meu Deus, e se eu ganhar essa bolada?”
de todas as conjecturas acima, a mais verdadeira é que o time Piu, você, Souza Cruz e Pirula era bem desnutrido pros padrões atuais 😉
Sim, e a sorte é que na foto estamos de uniforme. Se fosse de sunga capaz de assustar os leitores do blog!
Um texto muito legal….. como já disse, já me peguei, diversas vezes, fazendo as mesma perguntas. E se….
E se….
Mas como digo, sábio era o jogador de futebol Viola: “Se meu pai tivesse peitos, eu teria duas mães…”
Valeu Ricardo!
Boa Lelo
Já pratiquei muito o exercício do “se”, mas evito fazê-lo hoje em dia.
Mas te garanto que se o sr treinar para o nosso desafio dos 50P em Ribeirão, o sr terá mais chance de ganhar!
Esse desafio aí tá no papo, com ou sem treino. Basta acreditar!
Bem divertido, Lelo!
Pelo que entendi o 4x100m medley de vocês poderia ter nadado uns 2s mais rápido.
Serviria “só” para o bronze?
Com 2s a menos lutaríamos pela prata que ficou com a Espanha de Sergio Lopez. Nós perdemos o 4o lugar por batida de mão da Rússia. Eles nadaram muito próximos da gente o tempo todo e achei que o Gustavo buscaria a 4a posição, mas o russo que fechou era forte (finalista do 100m Livre) e acabamos perdendo por muito pouco. O ouro obviamente foi para os Estados Unidos, que venceram com facilidade . O que desequilibrou a favor da Inglaterra (bronze) foi o peito, com Nick Gillingham, prata olímpico, nadando pra 59´9 (só ele e Erik Wunderlich dos EUA nadaram abaixo de 1’00). Se eu tivesse nadado pra 1’01 quem sabe daria metal!