Após a maratona de seletivas e a não classificação para os Jogos de Seoul, era hora de levantar a cabeça, descansar um pouco e iniciar um novo ciclo virtuoso mirando o Troféu Brasil de fevereiro de 1989.
JUB’S em JOÃO PESSOA
Esse foi um descanso da mente já que a natação não ficava de lado nem nessa hora. Ingressei com muitos amigos no comboio dos desportistas paranaenses e cruzamos as estradas do Brasil, do sul ao nordeste, rumo à diversão e competição.
A Seleção Olímpica também se reuniu em João Pessoa. Passei perto de estar naquele grupo, e confesso que em várias daquelas mais de 60 horas de viagem e durante a hospedagem numa das salas de aula da UFPB, curti uma dor de cotovelo por não ter podido ir de avião e ter ficado na pousada a beira mar próximo ao hotel Tambaú.
Há muitas boas histórias desse JUB’s. Vou deixá-las para o prometido post que o LAM – Luiz Alfredo Mäder, escreverá em breve.
Ressalto apenas, que foi muito legal acompanhar alguns treinos antológicos dos amigos da seleção no Esporte Clube Cabo Branco e que, com o reforço deles, a competição foi a mais forte da história dos jogos universitários.
DE VOLTA AOS TREINOS
Diferente do primeiro semestre, nesse havia somente uma competição principal. Oportunidade do nosso técnico, Léo, planejar um macrociclo longo mirando uma grande melhora no Troféu Brasil.
A equipe do Curitibano estava com uma qualidade incrível. Havia nomes já consolidados e talentos em evolução constante. Treinávamos em quase 30 pessoas, desde o Juvenil A até os Seniors. Uma atmosfera fantástica de dedicação, foco, ambição e conquista.
Tite Clausi, o Queridaço!
Uma das maiores alegrias do período foi o retorno de Roberto Clausi Júnior a nossa equipe. Formado como engenheiro agrônomo no início da segunda metade dos anos 80 – a década perdida – período crítico da economia brasileira, em que as turmas se formavam e cerca de 10% a 20% dos graduados conseguia colocação em sua área, Tite foi um dos que não encontrou oportunidade. Encontrou trabalhos alternativos, como vendedor de consórcios, por exemplo, e viu-se num momento emocional muito delicado.
Escolheu fortalecer sua mente próximo aos amigos, fazendo algo que amava e fazia muito bem. Nós o acolhemos de braços abertos. Ele tinha 24 anos, idade em que na época era raríssimo alguém dedicar-se com afinco a natação competitiva.
Devido aos compromissos profissionais, chegava ao Curitibano quando já estávamos no terço final dos treinos. Parecia que eu tinha mais de dois olhos… mal a imagem desse amigo querido aparecia no último degrau da escada de acesso a área da piscina, onde eu estivesse – batendo perna, hiperventilando no intervalo de uma série de VO2 ou nadando uma série longa, eu o via, e dava um grito de boas vindas, que tinha certeza que o fortalecia para encarar aqueles desafiadores treinos sozinho: “JÚUUUUUUUUUUUUUNIOR!!!!” – alusão (bem mais longa, aguda e potente) à forma como D.Evely, sua mãe, o chama.
No primeiro regional no clube do Golfinho, sem tempo de inscrição, Tite nadou os 100m borboleta na primeira série, raia 7. Abriu uma longa vantagem dos oponentes que estavam ali pelo histórico de desempenhos. Marcou 58s28 na curta, fez o índice para o Troféu Brasil e levou os amigos à loucura! Volta em grande estilo! Final do primeiro capítulo de um retorno que durou anos e anos, e que terá váaaaarias histórias registradas por aqui.
MAIS INVESTIMENTO DO CLUBE CURITIBANO
Mais alguns meses e começou a sair do papel um projeto que nosso principal dirigente, Arquiteto Joel Ramalho Junior – ora presidente da FDAP, sonhou junto conosco e batalhou para que virasse realidade. A cobertura da piscina olímpica do Clube.
Projeto arrojado com colunas de concreto, estrutura metálica em duas águas e cobertura em lona retrátil, para que não perdêssemos o contato com o sol e estivéssemos protegidos nos dias do rigoroso inverno curitibano.
A inauguração foi só em 1989, com prova exibição de 100m medley na piscina longa, disputada entre Ramalho e Michelena, e meu discurso em nome dos atletas.
Durante parte do período das obras, treinamos nas 6 raias de 25m da piscina social do clube. Média de 6 atletas por raia. Longe da situação ideal de treinos, poucos atletas reclamavam. Cheios de vontade e prestigiados pela obra que seguia ao lado, fazíamos o que precisava ser feito.
Foi um período de muitas críticas dos associados à nossa equipe devido ao longo tempo em que ocupávamos todas as raias e a presença de sócios-atletas. O ápice foi um manifesto escrito pelo advogado, triatleta e amigo Luiz Roberto Abreu, com termos difíceis para nós, que foi divulgado em diversos murais do clube e classificou uma determinada situação (não lembro qual), como “picuinha casuística” – expressão incorporada ao linguajar dos momentos de sarcasmo da equipe.
Fato é que era um momento com muita restrição de espaço, o clube privilegiou mesmo a equipe e os associados tinham razão em reclamar os seus interesses.
ANO SEM TROFÉU JULIO DE LAMARE
Como já contei anteriormente, meu último campeonato brasileiro juvenil foi em dezembro de 1987. A edição seguinte, seria seletiva para o Campeonato Sulamericano, a ser disputado em março de 1988 em Rosário, na Argentina.
A CBDA optou em realizar e edição de encerramento da temporada de 1988 no último final de semana de janeiro de 1989, no Rio de Janeiro. Assim, todos os atletas já estariam nas categorias em que se credenciavam a seleção que iria ao Sulamericano, e as disputas ocorreriam entre atletas nadando as mesmas provas.
Essa competição teve grande significado para muitos – o Epichurista Lelo Menezes, conquistou sua primeira vaga numa seleção e nos contou suas histórias nesse ótimo post.
Eu acompanhei a distância, tomando conhecimento dos resultados à noite, pelo telefone, com grande interesse devido a presença dos meus colegas de clube, análise do desempenho de adversários que enfrentaria na semana seguinte no Troféu Brasil e paixão pela natação de forma geral.
Para a natação paranaense foi excelente: o londrinense Luiz Carlos Miguita chegando ao pódio nas provas de peito, Ricardo Moita da Silva levou o Paraná a tornar-se o primeiro estado a ter dois nadadores nadando abaixo de 56s nos 100m borboleta, venceu o duelo com Eduardo Piccinini em 55s92. Moita ainda venceu os 50m livre e subiu ao pódio nos 200m borboleta.
Do Clube do Golfinho, as consagradas Cristiane Santos e Claudia Sprengel lideraram a ação de uma equipe bem menor que em edições anteriores mas que chegou ao pódio várias vezes.
E no Curitibano, ótimos resultados: Celeste Moro conquistou seu primeiro título nacional nos 100m costas, empatada com Cristiane Santos. Carlos Becker Neto garantiu pódio nos 400m livre. E Leonardo Gomes venceu 4 provas individuais, com dois recordes. Os três foram convocados para o sulamericano.
Guilherme Sabóia chegou ao pódio em provas individuais e vários revezamentos medalharam, inclusive conquistando ouro no juvenil A masculino, quando Sabóia e Cheiroso tiveram a ajuda de Dilermando Almeida Neto e Gilberto Lima.
O maior destaque foi Michelena, que quebrou o recorde que Jorge Fernandes havia estabelecido 9 anos antes nos 100m livre e que eu sonhara quebrar em 1987. O tempo 52s13. Em polimento, depois de um semestre sem lesões e com muita dedicação, eu me sentia em condições para embarcar para o Rio e enfrentá-lo de igual para igual no Troféu Brasil.
Acervo família Michelena
E como foi???
Vocês ficarão sabendo no meu próximo post, aqui no Epichurus.
Forte abraço,
Fernando Magalhães
Cheiroso repete Michelena em 86. O tempo do vencedor do Juvenil A, mais forte que o vencedor do Juvenil B, dessa vez, nos 100m costas (Gazeta do Povo, acervo da família Michelena)
Historias muito antigas hein? Tite cabeludo!
Sim, forte indicativo!
Estive nesse JUBs de João Pessoa, meu primeiro, e foi sensacional a presença dos olímpicos. Uma pena não ter JD, mas de qualquer forma o senhor não iria mesmo (os prejudicados foram os nascidos em 1970 como eu, não os de 1969).
Se não me engano o Becker ganhou de 200 a 1500, não?
Por fim, uma pena você não ter ido a Seul.
Sim, sim, eu não iria ao JD88.
Becker venceu dos 100 aos 1500 em dez87. Neste o Castor era ouro e Becker disputava prata com Fábio Costa e Co… Fez um excelente 4.06 nos 400m.
Gostei especialmente da parte epicurística do texto. Amigos na piscina são a coisa mais importante que existe para um nadador. Em especial para os PEBAs, como eu e tantos outros. Boa, Esmagalhães! Abraços!
É isso aí, Munhoz!
Adoro esses caras… Epicuro em alta!
Lembro desta época perfeitamente pois foi o ano que passei para o Juvenil vindo do recorde brasileiro no revezamento. Que honra dividir aquelas 6 raias da “piscina de baixo” em pleno verão, com tantos feras. A equipe estava mais unida do que nunca e cada vez que o Tite e o saudoso Carvalhão chegavam atrasados era uma festa, puxados pelo seu inconfundível grito! Além deste tinha a música de campanha do Ulisses Guimarães que virou o hino do Tite em cada vitória sua: “bote fé no velhinho ele sabe o que faz…”
Grande abraço!
Boa Sabará!
Foi também nessa época que o Tite começou a contabilizar solemios.
E num fim de treino que o Tico-Mico salvou a vida daquele mergulhador que apagou treinando apineia no poço de saltos.
Abraços!
Tico Mico, Cheiroso e Carvalhão. Eu mesmo não vi, treinava de manhã em 88
Carvalhão estava no vestiário. Corri para chamá-lo depois que já tínhamos tirado o irmão da Gina de dentro da piscina e ele já tinha posto aquele monte de água pra fora.
Lembro do momento em que o Tico-Mico emergiu com o cara e a cabeça tombou pro lado desacordada, o Léo exclamou: “tá morto, o FDP!” – graças a Deus, ainda não estava!
Muito bom o texto! Esse Julio Delamare de 1988 é talvez a competição mais memorável da minha carreira de nadador. Em nenhuma outra competição passei por tantas emoções (ups and downs) em tão curto tempo! Saudades daquela época!
Sim, sim, Lelo… seu post sobre essa competição passa toda essa emoção!