Madrugada de domingo, dia 24 de janeiro 1982. O despertador tocou e após um rápido desjejum embarcamos apressados no Opala branco, placa AK 1444. O destino era o litoral paranaense, e mais especificamente, meu pai nos guiava em direção ao Morro do Cristo na praia de Guaratuba. Aos 12 anos de idade participei junto com meu irmão, da minha primeira prova de travessia.
14 – Fernando Magalhães, 18 – Gerson Sunyé, 5 – José Gustavo Parreira. De frente – Gilberto Lopes e Daniel Alegretti. Ao fundo de maiô preto, Regina Ramalho.
O percurso era em “L”, contornando algumas boias pelo lado direito e estimado em 1500 metros até a Praia de Caieiras. Competíamos com toucas de pano verdes, numeradas, fornecidas pela organização que eram devolvidas ao final da prova. O laço amarrado sob o queixo não poupava ninguém das assaduras. Era a distância mais longa que eu já havia competido.
Primeiro largaram os meninos infantis e todas as categorias do feminino. E depois as categorias masculinas a partir do infanto-juvenil masculino. Apreensivo, tropecei e caí logo após a largada, ainda na areia.
Aquele caído à esquerda sou eu! A minha frente, Dado Borell, à esquerda dele, Silmara Montes. Outra moça à esquerda dela é Gisele Gradowski. Agora percebam e reflitam comigo: o que faz aquele maluco saindo para travessia de camiseta de manga curta?!?!
Passei bem pela arrebentação e saí nadando muito forte. Liderei por um bom tempo a minha categoria, mas não resisti à investida de José Gustavo Parreira, atleta do Golfinho, que me ultrapassou sem tomar conhecimento e venceu com um minuto de vantagem.
Exausto perto do fim da prova, fui alcançado por Fábio Storelli. Chegamos juntos à praia, mas onda estava mais forte do meu lado, levantei um pouco antes e na corrida garanti o 2º lugar com apenas um segundo de vantagem.
Foi uma bela estreia, que traz ótimas lembranças, mas a melhor, disparada, vem agora: naquela época não era comum que pessoas além dos 20 – 25 anos participassem de competições, mas minha mãe, que não treinava natação e tinha 40 anos de idade chegou à praia disposta a encarar o desafio.
A convicção dela era tão grande que eu não achei arriscado e achava graça dos pais dos amigos que diziam que ela estava ficando louca e que meu pai ficaria viúvo. A última categoria no feminino era a aspirante, para atletas com mais de 18 anos e contava com duas atletas inscritas. Foi nessa que a D. Ivani entrou, com mais de 20 anos além da segunda mais experiente da prova.
Essa é a mesma foto que aquela publicada ali em cima, mas agora nosso foco está naquela senhora correndo ao fundo.
Eu já havia chegado a bastante tempo, olhava para o mar e comecei a ficar preocupado. Após recusar algumas ofertas de resgate dos salva-vidas que de lancha cuidavam dos atletas, mamãe concluiu a travessia. Sua chegada foi celebrada entusiasticamente pelo locutor da prova e arrancou longos aplausos do público que se aglomerava na areia. Fiquei emocionado desde que a avistei aproximando-se da praia. A Rádio Capital, sintonia de AM, cobria o evento e entrevistou-a logo após a linha de chegada. Ainda exausta, ela declarou: “Estou esgotada… eu adoro o mar, viu. Entrei com a cara e a coragem, eu acho que até hoje não tinha nadado nem 500 metros seguidos… estou felicíssima!” – iniciou esbaforida e orgulhosa.
A sequência das declarações de Maninha Magalhães vocês conferem clicando na seta abaixo, o arquivo contém o áudio integral da entrevista:
Diante da disputa desigual com as adversárias, jovens atletas, ela protestou junto à organização sobre a divisão das categorias e foi atendida. Acabou subindo ao pódio para receber uma premiação especial e um troféu de Honra ao Mérito.
Esse post é uma homenagem a grande coragem desta mulher. Uma guerreira que sempre lutou e fez tudo pela sua família, e a quem eu dedico o meu amor e a minha admiração.
Um forte abraço a todos,
Fernando Magalhães
Sensacional! Gostei muito da historia. Um abraco,
Valeu Veirano,
engraçado que as primeiras lembranças são dos pontos principais e a medida que mexo nas fotos, leio os recortes, outros detalhes vão aflorando e quando vejo, estou emocionado digitando.
Obrigado pela leitura e comentário.
Abraços.
Smaga,
Sua mãe pelo menos pediu desculpa para você por ter te derrubado na largada?
Fiz essa prova de Guaratuba uma vez e era uma travessia bem rápida. Fiz no mesmo final de semana do Triathlon de Caiobá e acabei como você, em 2o. lugar. A prova existe até hoje?
Gostei muito da história também!
Boa Charles… não precisava das desculpas. Foi estratégia lícita de quem entrou com tudo pra competir… hehe. Brincadeiras a parte, existe travessia de Guaratuba até hoje. Outros organizadores e não tenho certeza se no mesmo formato que a que participamos. Em 87 fui campeão geral por lá e participei mais algumas vezes.
Alem de nadar tinha que chegar com a ¨touca¨… não sei o que era mais dificil…
Pois é Glauco, na primeira vez não tive dificuldades para cumprir esse desafio. Em anos seguintes soube que depois de entrar no mar alguns tiravam a touca, colocavam na sunga e perto do fim da prova, recolocavam a touca.
Não demorou muito até ser abolida.
Cada dia que passa Maga, tudo isso fica muito especial. Te aguardo pro treino, traz a Maninha. Abcs,
Alô Gurgel,
1o comentário seu por aqui… muito bem vindo!
OK, vamos treinar.
Abraços
Muito bom Esmaga. Encontrei ali nos resultados ainda o Gracyk, o Wolokita, Hilton Zatoni, Regina Ramalho e além do Fabio um Storelli adulto, seria o pai do Fabio / Roberta?
Eu fico imaginando a gravação da fita Scotch, vocês deviam saber mais ou menos o horário em que ia ao ar, deixaram tudo preparadinho no rádio-gravador para apertar o play + record na hora, correto?
É Cordani, uma turma muito boa nessa prova aí.
Gilberto Storelli é o pai do Fábio e da Roberta, sim.
Na época, além do troféu de campeão da categoria, entregaram um certo “Troféu pinguço”, esculpido em papelão… lembro do astral dos amigos e de uma farra danada que fizeram para brincar com ele.
Infelizmente faleceu precocemente em um acidente de carro, vários anos atrás. Era um cara super astral.
Sobre a gravação da Scotch, usei essa técnica muitas e muitas vezes. Mas dessa vez foi diferente. A reportagem foi ao ar na tarde de domingo. Estávamos aproveitando o dia na praia e nessa hora já estávamos em Caiobá, a beira-mar. Ficamos com o rádio ligado e ouvimos no som do Opala. Chegando em Curitiba, a mãe descobriu o telefone da rádio, ligou, combinou e foi lá para pegar a gravação direto da fonte.
P.Q.P Maga…
Que coisa massa…
Sensacional…
Já escrevi outro dia aqui dizendo que os relatos estão me fazendo muito bem. Acho que foi num post do Lelo (excelente também)… Mas, essa história (com áudio) está demais.
Parabéns meu velho.
Além disso, ao ver o resultado (no jornal) não consegui me conter. Morri de rir com a categoria “Aspirante Masculino” com Daniel Wolokita (dispensa apresentações); Paulinho Schiochet (que nadou comigo muitos anos no Amaral – acho que deve estar nadando lá até hoje); e Luis Henrique Telles (Gariba – Meu treinador em Curitiba)
Muito bom…
Animal Cordani…
Guilherme Belini
Grande Belini,
essa do áudio ficou demais mesmo, estou super orgulhoso desse post e na expectativa, já que minha mãe ainda não viu.
Gariba esse, que sendo só emoção, jogou-se na piscina após vc detonar 1.05. (se não me engano 77) nos 100 peito ganhar o brasileiro e detonar o recorde paranaense absoluto. Muito legal!
O tempo foi exatamente este…
Foi em 1993 (quase vinte anos atrás)
Engraçado que muita gente lembra desta prova e do pulo do Gariba…
Sempre respondo que a minha visão do fato (Gariba pulando na piscina de aquecimento), de dentro d’água, foi certamente a melhor…
Obrigado por me fazer lembrar…
Abraço!
Tenho certeza q não há dúvidas quanto ao ano de 82. Mas eu achava q minha primeira travessia havia sido em Jan/83, Maninha nadou novamente no ano seguinte?
Não LAM, essa foi a única participação da Maninha em travessias.
Vc foi nessa?
Tem aquele recorte de jornal em que aparecia sua foto saindo da água e a gente só se conhecia de vista?
recorte de jornal eu preciso procurar…
me lembro de ter ido aa mesma travessia q a Maninha nadou, mas tbém me lembro de ter voltado a nadar somente no segundo semestre de 82.
Sensacional a história, momentos como esses ficam guardados eternamente. Também tenho a felicidade de lembrar da minha primeira travessia, onde 5 minutos da largada eu perdi o oculos e já me dava por insatisfeito.
200 metros depois achei um oculos na areia da praia e fui para a água… Dentre algumas ondas lembro me passando por colegas e ainda gritando no meio do mar dando apoio para os demais. No final da prova que era revezamento conseguimos ainda consagrar o primeiro lugar.
Forte abraços Maga parabéns pelo post.
Legal Marcelo, obrigado.
Essa sua primeira experiência foi épica.
Certamente o stress da perda dos óculos ajudou a elevar a adrenalina e melhorar sua performance.
Agora melhorou meu entendimento, pq te admiro MAga. Excelente história! Parabéns Dna. Ivani, pelo filho q criou e pelo grande feito,
Oooopa… valeu Cleyton!
Espero que a D. Ivani chegue até aqui… certamente ficará orgulhosíssima (se não chegar depois eu mostro pra ela).
Magalhães sensacional a história, as fotos , a foto da fita cassete scotch( ah! meu RIO DE JANEIRO) mas o destaque mesmo não foi você nem mesmo a sensacional D.Ivani e sim a celebridade que estava com vocês na foto! O inconfundível Inspetor Clouseau, vulgo Francis Magalhães, que à época devia estar passeando em nosso litoral Paranaense. ABÇ, Lion.
Paulo Roberto,
não acredito que você tinha um Rio de Janeiro… o top entre os tops toca-fitas de carro. Esse marcou época!
Obrigado pelos comentários… repercutiremos mais no ágape do Marcelete.
Abraços.
Fer, ficou espetacular o teu relato. Emocionante e merecida homenagem a nossa mãe, guerreira destemida que sempre nos deu esse exemplo de empenho e determinação.
Saí na segunda largada, que demorou um tempão para acontecer. Você lembra se esperaram a mãe chegar para nos liberarem?
Um beijo,
Rico
Então Rico, não tenho certeza mas acho que sim.
A mesma lancha que fez a segurança da primeira bateria faria a segurança da segunda. E lembro da mãe comentando que os bombeiros foram um pouco insistentes para que ela subisse na lancha. Acredito que era para ganhar tempo e soltar logo sua bateria.
Se vc não tem lembrança de ver a chegada dela, então será certeza que aguardaram porque a cena foi inesquecível.
Beijo,
Fer
Que história bonita Esmaga! O Audio ta sensacional!
Obrigado Lelo.
Domingo à noite passamos um bom tempo procurando a fita cassete na casa dos meus pais… valeu a pena! O áudio deu um toque especial ao post.
Linda homenagem à sua mãe, Smaga! E essa montagem do áudio, clicando na fita e vendo as imagens, maravilhoso! O locutor com seus “éééé, aaaaa”, muito legal! Parabéns!
Oi Anna Paula,
aproveito seu comentário para agradecer ao Charlão que fez o upload do áudio e a montagem das fotos que eu também gostei muito. Ainda não domino essas técnicas de edição e graças a ele temos esse “toque especial” no post.
E obrigado pelos parabéns… é um post muito especial para mim.
Emocionante é a palavra que me vem a mente, caro Esmaga! Gostei demais do texto e da gravação! Pude ouvir na voz da sua mãe uma emoção dupla… por ter completado a prova e por ver o filho vitorioso ali do lado dela… Sensacional. Esse post é um belo presente adiantado pro dia das mães, hein?!
Obs: Eu teria ficado tenso pra c… esperando minha mãe chegar de uma travessia dessas. 🙂
Abraços!
Pensei nisso,, Munhoz.
Quando compartilhei no Facebook pensei em colocar: “A duas semanas do Dia das Mães, um presente antecipado para D. Ivani”, mas como o texto deixa para revelar a melhor lembrança daquele dia na 2a metade, achei que iria estragar a surpresa.
Também sinto a emoção da voz dela da forma que você interpretou. Fiquei emocionado no dia. E a emoção voltou forte enquanto eu digitava.
Há pouco falei com o Rico no telefone e estamos enebriados com o resultado desse trabalho. É um dia bem especial para nós.
Forte abraço.
A-D-O-R-E-I !!! Parabéns Smaga, estou super orgulhosa da sua mãe. Espero que eu seja como ela na vida de meus filhos. Bjs!
Ludmilinha,
normalmente que está atento a essas percepções, já faz essa diferença, mesmo acreditando que sempre há mais a fazer.
Beijos
Impressionante como essas lembranças são especiais e como nossos pais são figuras importantes nas nossas vidas.Minha mãe tb já se aventurou no master .uma vez nadamos juntas 100m costas e ela rindo conta que quando ela estava passando pelos 25m ,me viu retornando e ai parou para ver se eu ja estava voltando mesmo,mas completou direitinho.Ela dizia que sempre era aplaudida quando chegava,dai nunca desistir.
Bjs e parabens para D.Ivani.
Super legal essa experiência: um 100m costas junto com a mãe. Aqui no Paraná, por anos tivemos o revezamento família numa competição do calendário master, onde também vivemos momentos bem legais.
Beijos
Parabéns para a D. Ivani pela superação e você (Fernando) pela dedicação e “memória de elefante”. Por falar em memória de elefante, tem uma reportagem interessante em http://ciencia.hsw.uol.com.br/memoria-de-elefante1.htm
Legal Leandro, obrigado pelos parabéns e pela reportagem. Vários aspectos curiosos e até surpreendentes sobre esses animais. Só não sei se meus abacates andam muito grandes ou as maçãs muito pequenas.
Abraços.
Querido Fernando, fiquei emocionada ao ler o post. Em primeiro lugar porque tenho pânico de colocar a cabeça embaixo da água (exceto no chuveiro) e sem sombra de dúvidas sua mãe foi muito corajosa. Parabéns você escreve muito bem. Ainda quero ler os outros post com tempo porque eles merecem. Abraços, VCM
Obrigado Viviana, por esse comentário e pela forma como você recomendou o post no Facebook. Será um prazer ouvir seu comentário dos outros posts. Abraços.
Maga,
realmente impressionante a performance e coragem da Dona Ivani, fiz questão de mostrar o post para minha esposa, a qual tem se empenhado em nadar para acompanhar nossos filhos. Presenciando hoje a primeira competição do filho mais velho ( 7 anos) e percebendo as lágrimas dos meus pais participando novamente de um evento de natação, tive certeza que a dedicação e o exemplo familiar, foi o que sempre impulsionou este esporte.
Samuca,
parabéns pela estreia do filhão! Muito legal reunir a família para celebrar esse momento e que bom que a história do post serviu de exemplo para o momento da família. Forte abraço.
Fernando,meu filho,cada vez mais eu me emociono com o que voce escreve e com a tua memória privilegiada, mas este relato da travessia e com o audio da minha entrevista de 31 anos atrás,está demais. O Post então com o Francis, Eu o Rico e voce, mostra que nossa familia sempre esteve junta, apoiando os feitos dos filhos. Obrigada, pela homenagem dedicando o teu Amor e a tua Admiração pela tua Mãe e mais adiante o Rico tambem a externou, mas na realidade se eu não poupei sacrificios para fazer tudo por voces,”até uma travessia de 1500 metros”, hoje eu me sinto recompensada e orgulhosa, pelos meus filhos, que no decorrer destes anos me retribuiram em dobro, sendo bons filhos, amorosos, honestos, respeitados pais de familia, enfim realizados e com esta gama tão grande de amigos, que principalmente a Natação proporcionou. Obrigada a todos voces. O que mais quer uma Mãe? Este é o meu maior presente para o Dia das Mães que se aproxima. Beijos “Maninha” Ivani Cunha Magalhães.
Mãe, seu comentário veio para coroar a experiência de idealizar, escrever, editar, publicar e interagir com os comentários desse post. Foi marcante! Muito especial mesmo. É uma ótima história e está aí na internet, para a qualquer momento quem quiser ler. Beijos, Fer
Fernando, querido sobrinho. A cada escrito ficamos mais orgulhosos de você! Que maravilha! Este, recordando feito de sua mãe….não tem preço!!!! Ela merece! Continue firme nos escritos. Vovô TINE deve estar orgulhoso de você!!!
Oi Tia,
muito obrigado pelo carinho das suas palavras.
Um beijo,
Fer
Esta é a MINHA irmã MANINHA!!!!! Batalhadora, Guerreira, Mãezona!!!! Viu recompensados todos os seus sacrifícios: acordar ao som do despertador e levantar para levar seus filhos, e pegar pelo caminho alguns de seus amigos, para irem ao Curitibano nadar! Anos após anos!! Preparar as “comidas” que eles gostavam e que precisavam ingerir para aguentarem o desgaste físico que a natação trazia. Quanta dedicação!! Mas viu-se recompensada MUITAS vezes com as subidas de seus filhos ao Podium! Enfim, parabéns querida, para ti e para teus filhos, sobrinhos queridos que amamos muito! Beijo grande, LÉO. (Leonice Cunha Martinesco).
uma palavra somente: SENSACIONAL!!!!
lembro de algumas coisas, principalmente que eu me assustava com o nó da toca, achava que era um peixe, não gostava de óculos, na verdade nunca gostei.
posso estar errado, mas cheguei em quarto.
o tio Storelli nadou esta travessia!
acabou a prova e o “ugooooo” apareceu feito um monstro!!!
viva a vida meu amigo!!!
bj
Dado
Viva Dadão, VIVA!!!
E corretíssimo, também foi a travessia marcada pela presença do tio Storelli. Registrado nos resultados do jornal e nos comentários de Renato Cordani.
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