Experiências vividas em 1982, ano em que o Paolo Rossi eliminou o Brasil da Copa da Espanha
Eu tinha 12 anos e competia meu segundo e último ano na categoria Infantil B. O ano começou com a travessia de Guaratuba relatada no post “Entrei com a cara e com a coragem”. Na piscina, o Curitibano seguia firme na tradição de incrementar o calendário com competições amistosas, o que era ótimo, já que as viagens eram sempre divertidas e tínhamos a oportunidade de conhecer gente e lugares novos, além de ganhar experiência competitiva.
Esperia
Voltamos a São Paulo, mas dessa vez para nadar num grande clube às margens do Rio Tietê. Fiquei hospedado na casa da família Pardelli. O patriarca era divertidíssimo e não sei o porquê, me apelidou de “Ceará” – imagino que tivesse dificuldade em guardar nomes e todos com quem convivesse por pouco tempo acabavam virando “Ceará”. Estranho é que naquele contexto, eu gostei.
Da competição, lembro-me da piscina curta, ao ar livre com um poço de saltos no meio dela. Tenho uma medalha no meu quadro, deve ser de revezamento.
Maior lembrança da viagem foi a visita ao Simba Safari. Chegamos de Monza Hatch com teto solar e esse acessório não era permitido dentro do parque. Fizemos o passeio num Jipe da administração que deu ainda mais cores ao clima da aventura. Um lembrança marcante que fiz questão de repetir com minhas filhas quase 30 anos depois.
Centenário do Clube Curitibano
O ano em que o CC completou 100 anos contou com várias festividades, entre elas uma corrida rústica que percorria um trajeto de 12 km entre o prédio onde o Clube foi fundado e a Sede da Avenida Getúlio Vargas. A prova foi num domingo de manhã e como meus pais haviam acompanhado minha irmã até alta madrugada em seu baile de debutantes, meu irmão eu levantamos cedo, pegamos o ônibus até a Praça Santos Andrade, entre o histórico prédio da Universidade Federal e o Teatro Guaíra e caminhamos pelo famoso calçadão da Rua XV até o local da largada.
Primeira prova de corrida, errei o ritmo e saí muito forte. Pelo quilômetro 4 precisei caminhar um pouco até passar a dor no baço, a partir daí dosei bem e finalizei a prova.
Havia categorias abertas e categorias para associados. Nesta, meu irmão venceu com 53m15s e eu cheguei em segundo com 55m38s.
Notem a presença de outros nadadores na prova, entre eles: Kike Borell, Beto Lopes, Roberta Ramalho e Isabele Vieira, além do dirigente Joel Ramalho Júnior e Daniel, o pai da Isabele.
Estadual em Londrina
Depois de dois anos estávamos de volta ao alojamento do Ginásio do Moringão e a Piscina de 50m da UEL. Na primeira prova do programa, Dado Borell e eu travamos um grande duelo e nadamos muito abaixo do recorde estadual da prova dos 400m livre: 4m47s00 contra 4m47s20. Vitória dele. Aliás, naquele ano perdi todas e lembro-me de protestar para meu técnico, Jaime Pacheco, conversando sentado num dos beliches do alojamento do Moringão: “Calma” – disse ele – “nós ainda nem começamos a fazer treinos duplos. Vamos esperar a hora certa para aumentar sua carga de treinamento. Você está indo muito bem”. Ansioso e imediatista, discordei em pensamento, mas não contestei e continuei a seguir suas orientações.
Nas provas seguintes – 100m costas, 100m borboleta e 100m livre – 3 ouros, sequência que eu ainda não havia experimentado nem em Torneios Regionais e em nenhum dos 3 campeonatos estaduais que nadara em anos anteriores.
Raia 3 – Carlos Eduardo Garcia, 5 – Fernando Magalhães, 6 – Rogério Romero. Aguardando para nadar na raia 4 – Claudia Sprengel.
O resultado trouxe uma injeção de motivação e entusiasmo para o campeonato brasileiro. Não tinha a mesma perspectiva vitória e recorde de dois anos antes, mas as chances de nadar as finais eram grandes e o sonho de chegar ao pódio tornou-se real.
Dos medalhistas do estadual de 82: três foram para as Olimpíadas, cinco a mundiais, cinco foram recordistas brasileiros absolutos, seis a Copas Latinas, nove a sulamericanos e 14 subiram ao pódio em campeonatos brasileiros. Foi ou não foi uma excelente geração da natação paranaense?
No caminho, uma surpresa: meu técnico Jaime Pacheco, que me orientara durante 4 anos, pediu desligamento da equipe do Curitibano e foi empreender um negócio próprio – a Escola de natação Popeye.
Troféu Maurício Bekenn
O Curitibano contratou Leonardo Del Vescovo, que deixara o Clube do Golfinho após a chegada de Reinaldo Souza Dias. Sua primeira competição conosco foi o campeonato brasileiro onde ele comandou a delegação em que novamente eu era o único menino e ainda contava com Ana Cristina Moraes, Claudia Caldeira, Christiane Thá e Desiree Meister.
Foto tirada no último dia. Todos prontos para a viagem de volta. Chris, Claudia, Léo, Ana e Desiree.
Minha mãe, D. Ivani era a chefe da delegação. Passamos três dias dentro do Complexo Esportivo do Ibirapuera, alojados no Ginásio em quartos coletivos, divididos entre alas masculina e feminina, que ficavam sob as arquibancadas e competindo no Parque Aquático Constâncio Vaz Guimarães.
Choveu muito e fez bastante frio (inesperado para dezembro). Na maioria das etapas foi difícil encontrar arquibanca seca, mesmo na parte coberta, para deixar as bolsas e acomodar o público e os atletas.
A piscina estava fria e os aquecimentos não cumpriam seu papel. O resultado foi que ao contrário das edições de Curitiba, Porto Alegre e Recife, nenhum recorde foi batido em toda a competição.
No primeiro dia nadei 400m livre e 100m costas:
Como o leitor atento percebeu, não peguei final em nenhuma. Piorei 8 segundos nos 400m livre e vejam que se tivesse repetido os 4.47 do estadual, teria ficado em 5º. Nos 100m costas, era o recordista paranaense Infantil A e campeão paranaense Infantil B. Naquele dia, porém, não consegui nem repetir o tempo que fiz como Infantil A e novamente passei muito longe da final. E vejam onde foi parar Daniel Sperb, que dois anos antes me deixara fora do pódio por apenas 4 centésimos.
No segundo dia, 100m borboleta, a mesma história.
No último dia, meu novo técnico decidiu inovar: “Hoje não vamos aquecer na piscina”, aquilo soou estranho e inusitado, tinha 4 anos de natação e nunca havia caído pra competir sem ter aquecido na piscina. “Você fez um ótimo estadual, estava treinando super bem e está sentindo demais o frio. Vamos mudar isso”. Confiei. Nosso uniforme de lã combinou bem com a situação. Léo comandou corrida, polichinelos, algumas flexões de braço entre muitos outros exercícios e a maior série de alongamento que já tinha feito.
Cheguei para nadar o 100 livre me sentindo muito bem, suando e concentrado. Quando caí na água meu corpo parecia blindado contra o frio. Nadei uma grande prova, fiz 1.03.20, apenas 13 centésimos acima da minha melhor marca e classifiquei em 7º. Fiquei muito contente. Um desempenho completamente diferente dos dias anteriores. Um grande impacto na minha autoestima, graças a uma postura de questionar procedimentos, estratégias e se permitir arriscar proposta pelo Léo e aceita por mim. Não que aos 13 anos eu fosse capaz de verbalizar isso dessa forma, mas houve o entendimento e a compreensão.
À tarde o clima estava mais ameno. No caminho do banco de controle para a cabeceira da piscina ouvi um “Vai Ceará!” da arquibancada. Sorri ao ver que meu anfitrião havia vindo torcer para mim. Nadei em 1.03.71 – a 1ª das quatro vezes em toda a minha carreira em que não melhorei o tempo da eliminatória na final – e repeti a colocação.
Marquei os únicos 2 pontos do clube na competição. Ficamos em 36º. Mas isso não foi o mais importante. Saí de São Paulo sem medalha, mas entusiasmado com o grande aprendizado daquela manhã de domingo.
Descontração na última etapa. De costas: Rogério Yoshimoto e Alexandre Francisco. De frente: Dado Borell, Fernando Magalhães, Ivan Ziolkowski e Mário Pardelli Jr
Um forte abraço a todos os leitores,
Fernando Magalhães
Muito bom Esmaga. Esse brasileiro foi o último antes de mudar a regra da idade, até esse brasileiro o cara mudava de categoria quando fazia aniversário, a partir de 1983 o cara ia até o final do ano na categoria em que iniciou o ano.
Sobre essa competição eu me lembro do frio imenso, e me lembro de como os cariocas sofreram com o frio. Só não sabia que os paranaenses também sofreram :-)!
Eu era deveras peba e não tinha índice, mas integrei o 4x100L que ficou em sexto, e meti 1:06.9, que foi considerado “bom” na ocasião.
Abaixo a foto da equipe do CPM para essa competição, notem os transeuntes de japonas de frio, nada condizente com dezembro!
De fato, sofri um bocado com o frio.
Muito boa a foto da equipe do Pancho, gosto quando a equipe toda se reúne uniformizada e tira uma foto caprichada.
E que legal que aparece o clima horroroso que fazia no dia e tudo molhado… enriqueceu a ilustração do post.
Maga, fantásticos relatos!!! Ms acredito que seu cabelo como está hoje , está ótimo e combina mais com você do que aquele capacetinho!!! rsssssss Parabéns pelas conquistas meu amigo e sei que elas continuam até hoje!!! Abração Fabiano
Oooopa, mais um comentário sobre cabelo – tá valendo.
Obrigado Fabiano pela leitura e pelos comentários.
Abração,
Maga
maga vc se supera a cada post. neste brasileiro eu nadei 3 finais e fiquei em quarto nas 3. levei uma mijada do reinaldo com o argumento que dava para colocar um pouco mais de gás no final.
nadamos a última prova, revezamento 4 estilos: eu, felipe, china e castor. despretensiosamente ficamos em terceiro.
ano seguinte, como mudou a regra, nadamos para vencer este revezamento. e ganhamos!!!
valeu cara, vc traz uma parte da minha vida que não estava firme na memória.
muito obrigado!
Dado
De nada, Dadão!
Eu lembrava bem desses 3/4.
Já tem aí os resultados dos 400m e dos 100m.
Estou com a Aquática na mão então passo os números daquilo que vc já registrou:
200m livre
1o Marcelo Gonzalez 2.11.30
2o Adherbal Oliveira 2.11.80
3o Iuri Fragoso Maia 2.14.46
4o Você 2.14.95
4x100m medley
1o Flamengo 4.49.43
2o GNU 4.55.40
3o Golfinho 4.55.93
4o Gama Filho4.57.88
Ou seja, levaram o bronze com grande propriedade!
E que distância tiraram em um ano para faturar o ouro em 83… Show de bola!
pqp como eu era cabeludo!!!
Era realmente, absolutamente, improvável imaginar que todos eles cairiam!
Este foi meu 1o Brasileiro… Eu vim de Bauru, com o Baixinho (técnico) e o Rogerio Furlan – como a totalidade da delegação da Luso. Eu lembro bem do frio desgraçado que passamos e de ficar num hotel pulgueiro (um dos piores que já fiquei): O famigerado Hotel Pamplona… low budget trash…
Nessa competição conheci (na verdade reencontrei, já que comecei a nadar na UGF) o fenômeno Marcio Santos nadando os 100 peito, que já se mostrava minha prova principal. Valeu por atiçar essas memórias, Esmaga! Dá pra ver quantos pontos a ALBB marcou nessa Aquatica? 🙂
Lógico Munhoz!
ALBB ficou em 24o com 7 pontos.
Veremos quem pontuou…
cara, vc fez todos os pontos da sua equipe com a prata nos 100m peito: SENSACIONAL!
1o Márcio Santos 1.24.07
2o Munhoz 1.28.07
3o Daniel Freire 1.30.24 (Clube do Remo)
maga, impressionante o detalhes dos dados que você traz!!! A memória viva de tempos tão distantes e tão intensos para todos nós!!
Valeu.
Abração em todos.
E como é gostoso relembrar… um beijão pra você!
Lembro bastante dessa piscina funda do Espéria. Eu sempre sentia que ia mais devagar quando eu nadava lá, apesar dos tempos serem os mesmos. O que mais marcou na piscina do Espéria para mim foram as estátuas de nadadores, um cartão postal para os nadadores paulistas.

As estátuas são realmente muito legais!
Fernando,
Realmente na piscina do Constâncio Vaz (DEFE do Ibirapuera) era difícil conseguir tempo… A piscina era uma “subida.” E o pior é que você virava e continuava “subindo”… 🙂
Este foi um dos dois Maurício Bekenn que eu perdi por mais ou menos uma semana, pois faço aniversário no fim de novembro. De qualquer forma, não sei se a regra “nova” (já não é tão nova assim…) de mudança de categoria na virada do ano ajudaria para Infantis A ou B, pois a diferença física de 10 ou 11 meses (entre quem nasceu em jan/fev para quem nasceu em nov/dez) prejudicaria bastante.
Parabéns por mais este relato!
Valeu Alê!
Nesse brasileiro que tive maiores dificuldades por ter sentido bastante o frio.
Em várias outras vezes nadei muito bem por lá. Inclusive, meu melhor tempo de 50m fiz naquela piscina, na “subida” da volta. 🙂
Abraços.
Muito bacana o texto Esmaga! O que me chamou mais atenção foram os finalistas dos 100m Costas! Vários amigos que não vejo a muito tempo: Daniel Sperb que foi meu companheiro de quarto no Sulamericano Absoluto de 1990, Dalton Uehara que nadou comigo durante anos no Paulistano, Iuri Maia, grande dançarino de danças gaúchas e Marcos Lazzarini, que me deu esperanças de um bom costista para o 4x100m IM do Paulistano e foi depois morar na Rússia! Eu não nadei esse MB. O meu 1º foi em 1983 se não me engano, em Vitoria!
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