EPICHURUS

Natação e cia.

Porque Dilma já perdeu esta eleição

dilma

Em 13 de Março eu escrevi o texto “Porque Dilma não vai ganhar esta eleição” onde elenquei os motivos que tornavam a candidatura de Dilma mais frágil do que as pesquisas mostravam naquele momento.

Passados cinco meses acho oportuno avaliar os erros e acertos do artigo para continuar no desenvolvimento do meu cenário eleitoral. Minha expectativa é conseguir cravar o nome do novo presidente(a) do Brasil até meados de Setembro.

Primeiro vamos falar sobre meu erro, ou seja, porque Lula não saiu candidato.

No final de Abril a campanha do Volta Lula estava fortíssima mas foi abafada no início de Maio após o anuncio oficial da candidatura Dilma. Minha impressão é que ele preferiu deixar Dilma correndo atrás dos votos para assumir um papel de destaque no governo em caso de reeleição.

Vejamos o que Lula, com sua habitual verborragia, disse a este respeito no final de Junho, “É perfeitamente possível criador e criatura viverem juntos”. Duas semanas atrás Rui Falcão voltou ao tema e explicou com todas as letras o atual plano de voo. “Precisamos eleger Dilma, para o Lula voltar em 2018.” e confirmou que num segundo mandato Lula estaria mais próximo a sua criatura. É interessante pensar o que Dilma, a criatura, está achando da possibilidade de ter em seu segundo mandato um sócio sem cargo público nem votos. Seria ele um conselheiro presidencial full time?

lula

Queria deixar apenas um adendo, o Volta Lula já está novamente nas ruas e não acho impossível que o PT num ato de total desespero coloque o Messi em campo se as pesquisas confirmarem os meus prognósticos.

Obviamente acho que acertei mais do que errei senão não estaria escrevendo este texto, mas ao invés de ir item a item, gostaria de focar a discussão no ponto nevrálgico da minha análise, que é a insatisfação da população com a forma atual da política e o eixo mudança.

Aqui um aviso, se você é um dos muitos brasileiros que não acreditam em pesquisas de opinião ou se é um dos 25% que não acreditam que o homem pisou na lua, por favor não perca seu tempo e pare já de ler este texto.

Nas últimas semanas eu vinha analisando os números das pesquisas com interesse especial na taxa de aprovação do governo Dilma, na sua taxa de rejeição e nos números de brancos/nulos/indecisos. A grosso modo eu queria entender o comportamento do voto marginal e calculei que na margem os candidatos de oposição tinham uma taxa de conversão 3 vezes maior do que Dilma, o que quer dizer que de cada quatro votos que saiam da linha brancos/nulos/indecisos três iam para candidatos da oposição e um ia para a situação.

O problema que encontrei é que é razoavelmente fácil calcular a taxa de conversão mas é muito difícil projetar a quantidade de brancos/nulos/indecisos. Historicamente este número no segundo turno é de 5% mas nas atuais pesquisas ele se encontrava muito acima das médias históricas para este momento de campanha.

Este número é fundamental para o resultado desta eleição pois ele conversa diretamente com a rejeição de Dilma. Olhem que dado interessante, 40% dos brancos/nulos não votariam em Dilma de jeito nenhum.

Bom a conclusão que cheguei naquele momento é que se a taxa de branco/nulos convergisse para a média histórica de 5% Dilma não seria reeleita, mas se ficasse acima dos 9% Dilma seria reeleita.

Justamente por isso que os bons analistas calculavam a chance da reeleição dentro do intervalo de 40% a 60% dependendo um pouco da taxa de conversão mas muito da taxa de participação.

Ok, mas o que mudou deste cenário? Por que o título deste post?

Na segunda-feira desta semana mudou simplesmente tudo.

Nesta segunda o Datafolha divulgou uma pesquisa incluindo Marina Silva no leque de candidatos. Para esta análise nem é relevante se ela é ou não uma boa candidata, o que é importante é a leitura do resultado da pesquisa, vamos a ele.

– Dilma saiu de 36% para 36% variação 0%
– Aécio saiu de 20% para 20% variação 0%.
– O PSB saiu de 8% para 21% variação +13%.
– Brancos/nulos/indecisos saiu de 27% para 17% variação -10%.

A leitura destes números mostra claramente que a entrada de Marina no páreo trouxe para o jogo este eleitor que até então não se via representado pelos candidatos de oposição. Não acho difícil entender que Aécio Neves e Eduardo Campos, não eram percebidos pela população como uma mudança já que vêm de dois tradicionais clãs políticos.

Na minha opinião estes números corroboram meu argumento principal do texto de Março,
“Tudo isto aponta para a mesma direção, a população quer mudanças e não acredita que estas virão do atual sistema político então aquele que conseguir se projetar neste espaço será um ótimo candidato.”

Minha impressão é que uma vez mobilizado este estoque de eleitores insatisfeitos é muito difícil fechar esta caixinha pois uma vez rompida a resistência ao voto é mais fácil mudar de candidato do que voltar ao estado inicial de não votar.

Minha aposta é que em breve vamos começar a receber aqueles e-mails com lendas urbanas dizendo que se 51% da população não votar será anulada a eleição, ou sua variante, onde não votar é uma expressão de indignação com a atual classe política.

Na verdade estes e-mails provavelmente estarão saindo dos servidores do planalto ou dos ministérios públicos pois assim como eu, o atual governo já percebeu que se as pessoas forem as urnas vai faltar voto para a presidente.

Termino este texto com o mesmo velho ditado do anterior, “na política não existe vácuo” se Marina não conseguir ocupar este espaço certamente outro candidato de oposição o fará.

12 comentários em “Porque Dilma já perdeu esta eleição

  1. rcordani
    21 de agosto de 2014

    Prezado Laurival, o desejo de mudança é tão forte que até o João Santana (marketeiro da Dilma) escolheu o slogan “muda mais”.

    Mas na hora do voto, o cidadão vai ter que escolher essa mudança canalizada para uma outra pessoa, e se ele não estiver confiante nessa outra pessoa, fica sem mudar mesmo. De forma que mesmo com esse desejo de mudança a Dilma pode até ganhar, e por isso discordo um pouco do seu texto.

    Em 1998 a população queria mudanças, mas não gostou das alternativas apresentadas e acabou ficando sem mudar mesmo.

    Mas para o bem do nosso país espero que você esteja certo.

    • laurivalshita
      21 de agosto de 2014

      Caro Cordani,

      A última eleição cujo eixo foi mudança aconteceu em 2002, deu no que deu.
      João Santana é o cara que vai ter que vender Dilma como mudança, good luck for him he will need it.
      Quando o desejo de mudança é forte a dinâmica da eleição é diferente pois a maioria prefere testar alguma coisa nova mesmo que não seja o candidato ideal.
      Nesta eleição acho que muita gente vai mudar de candidato no segundo turno…

      abs,

  2. Rodrigo M. Munhoz
    21 de agosto de 2014

    Caro Laurivas, acho que talvez haja um pouco de otimismo nas suas palavras e na crença que o governo não possa pegar mais % de votos nós próximos meses (especialmente com tanta TV e tantas bondades a oferecer)… ainda assim estou de olho nos emails de lendas urbanas e em eventuais sinais de desespero do PT que confirmariam sua tese. Também temo o retorno do “criador” na ultima hora, como já falei aqui. Vai ser interessante no mínimo….só espero que você continue acertando nas previsões dos títulos de seus posts.

    • laurivalshita
      21 de agosto de 2014

      Caro Munhoz,

      Uma análise otimista não é uma análise é sim uma torcida. Não me vejo como um torcedor.

      att,

  3. Ricardo Firpo
    21 de agosto de 2014

    Lá no primeiro post, eu tinha achado a análise extremamente sensata!!! E muito bem escrita, por sinal… Não era simples gritaria. Meus parabéns!
    Mas, quando leio tua análise e vejo o caminho do PT para ganhar a eleição, eu me lembro duma frase (acho que do Eisenhower ou um general dele e que foi adaptada pelo Tyson): “Antes do combate começar, todo mundo tem um plano. Quando os tiros começam, muitas vezes ele é inútil….”
    Concordei contigo lá atrás, e continuo contigo. Mas que a notícia da semana passada deve ter dado um engasgo no pessoal, deve….

    • laurivalshita
      21 de agosto de 2014

      Caro Ricardo,

      Um campo de batalha é um cenário bastante mais caótico do que uma eleição.
      Pessoalmente acho que uma campanha política é bem menos importante do que a maioria. Minha opinião é que o sentimento da população é que define o perfil do vencedor e um bom marqueteiro pode ajudar mas nunca definir o resultado de uma eleição.
      A notícia da semana passada foi importante pois Marina mostrou capacidade de acessar o enorme estoque de votos brancos/nulos/indecisos mas não acho que foi o fato que definiu esta eleição.

      abs,

  4. Fernando Cunha Magalhães
    21 de agosto de 2014

    Sr. Shita,
    Na 2a feira, chegava ao trabalho e o fiel colega de trabalho que cuida do estacionamento da academia, quis conversar sobre os candidatos em que ele já votou.
    Disse-me orgulhoso que em 4 eleições perdeu apenas um voto.
    Fiquei intrigado: “Como assim perdeu um voto?”.
    E ele: “Somente uma vez a pessoa em que eu votei não foi eleita”.
    Não consegui concluir se é coincidência ou se ele consulta a pesquisa para decidir em quem vai votar.
    De qualquer forma, fico aliviado ao saber que pelo andar da carroagem, ele pode cogitar não votar em nossa presidenta.

    • laurivalshita
      21 de agosto de 2014

      Caro Fernando,

      Existe sim uma gama de pessoas que gosta de votar no vencedor, mas não acho que isto seja determinante no resultado.
      Um outro efeito que acho ainda mais interessante é o seguinte, existe um grupo de pessoas que muda o voto na hora que está na frente da urna. A explicação para isto é que muitas vezes a pessoa acha que vai votar em X mas na frente da urna não tem coragem e acaba votando numa opção mais conservadora.
      Gosto deste exemplo pois mostra que nem nas pesquisas boca de urna é possível cravar o resultado de uma eleição.
      Humano, demasiado humano.

      abs,

      p.s. Para o seu colega de trabalho manda a famosa, vencer é votar no melhor candidato.

  5. Rodrigo G
    21 de agosto de 2014

    O desejo de mudança não parece atingir o governo do estado, já que tudo caminha para mais 4 anos de PSDB em SP. A somar com os 20 passados.

    • laurivalshita
      22 de agosto de 2014

      Caro Rodrigo,

      Você tocou num ponto interessante, a “blindagem” do governo de São Paulo ao sentimento de mudanças.
      Minha impressão é que o governo estadual é considerado menos responsável pelo andamento do pais do que o federal. Particularmente em São Paulo o PT está vivendo a soma de todos os medos, seu prefeito com altissimas taxas de rejeição e seu candidato a governador enroscado em maracutaias.
      Sou favorável a alternância no poder, isto na minha opinião vale para o PT ou PSDB então não acho bom um partido ser reeleito pela quinta vez.

      abs,

      • Rodrigo G
        24 de agosto de 2014

        Pois é, Laurival! Também acho isso curioso. A impressão que fica é realmente esta. Que a população “põe na conta” do Governo Federal todas suas mazelas e não sabe diferenciar as responsabilidades de cada esfera.

  6. laurivalshita
    22 de agosto de 2014

    Do blog do Kennedy hoje !!!

    “Pesquisas internas dos dois partidos mostram que Marina conseguiu ocupar um segundo lugar isolado, fora da margem de erro. Dilma Rousseff (PT) segue na liderança. Aécio Neves (PSDB) cai para o terceiro lugar. A pesquisa Ibope que será divulgada na próxima terça-feira deve trazer números mais favoráveis à Marina Silva (PSB) nas simulações de primeiro e de segundo turno. O ex-presidente Lula disse, em reunião com a presidente Dilma, que Marina é “muito pior” de ser enfrentada numa segunda etapa do que Aécio.

    A avaliação de que o bom desempenho de Marina Silva nas pesquisas se deve à comoção pela morte trágica de Eduardo Campos não é correta. Ela já aparecia no patamar de 20% de intenção de voto em pesquisas anteriores ao acidente. Marina já havia recebido 20 milhões de votos em 2010. Sempre foi uma candidata mais competitiva do que Campos. Aceitou a posição de vice no PSB apenas por não ter conseguido criar seu partido político. Como candidata, ela representa uma opção mais clara para cerca de 70% dos eleitores que manifestam desejo de mudança.”

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Informação

Publicado em 20 de agosto de 2014 por em Epicuro.
Follow EPICHURUS on WordPress.com
agosto 2014
S T Q Q S S D
 123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031
%d blogueiros gostam disto: