Eu já escrevi críticas ao jornalismo praticado pela “grande mídia” pelo menos duas vezes, uma quando reclamei do bordão “esse bronze vale ouro” (aqui), e outra quando reparei que hoje em dia “choro” é notícia (aqui).
Desta feita faço uma crítica ao “brasilianismo” das notícias.
Vejam essa notícia de hoje no UOL. Trata-se da campanha de Érika Miranda no Mundial de judô, que a levou ao bronze. Como eu havia assistido essa mesma prova há dois anos no Maracanazinho (aqui), fiquei curioso para ver o desempenho da então campeã, a Majlinda. Qual não foi minha surpresa ao notar que a reportagem não informa a campeã da prova: as únicas estrangeiras mencionadas são as que lutaram com a Érika!
Será que só os brasileiros interessam aos brasileiros?
(Minto: o Usain Bolt também parece interessar, mesmo que sejam eliminatórias (aqui). Ou então qualquer bizarrice, como o caso desse polonês bêbado que pagou o taxi com a medalha (aqui). Cobertura completa do mundial de atletismo, resultados, análises? Nem pensar!)
Daí o pessoal passa a acompanhar os esportes pelos Blogs e todo mundo se surpreende que o jornalismo tal qual conhecemos está morrendo!
PS: alguém me informa como foi a Majlinda, por favor?
Acho que tem profissionais de boa e má qualidade em qualquer campo de atuação do mercado e jornalismo não é diferente. O futebol pelo menos eu acho que melhorou. Até pouco tempo atrás o jornalismo futebolista era feito pelos Kfouris, Flavio Prados, Chico Langs, Milton Neves da vida que analisavam o futebol não muito diferente do que nós fazíamos em uma mesa de bar. Aí apareceu uma nova geração, liderada pelo PVC, mas com o Calçade, Bertozzi, Gustavo Hofman, Celso Unzelte, entre outros que passaram a fazer um jornalismo mais sério, com análises mais profundas e pouca parcialidade. Os dinossauros foram perdendo espaço.
Nos demais esportes e nisso incluo a natação, existe pouco jornalista especializado. Geralmente pegam algum cara ligado ao futebol que faz a narração (quase sempre péssima) ajudado por algum “expert” que faz os comentários, um ex-técnico ou ex-atleta, que raramente são jornalistas. Acho que para texto não é diferente. Alguém manda um jornalista sem conhecimento do esporte para cobrir alguma competição e o cara se apega ao brasileiro competindo, sem ter conhecimento básico para cobrir também as estrelas do evento. O Bolt é exceção porque é celebridade, que jornalista adora cobrir.
Acho que as coisas tendem a melhorar, como no futebol, mas será um processo lento. Creio que nossos filhos lerão matérias de gente mais preparada. Nós continuaremos a sofrer por um bom tempo no entanto com os leigos se fingindo de experts. Pro povão passa, pra quem conhece não!
Os blogs são legais, inclusive esse aqui..kkk, mas muitas vezes não temos a isenção necessária que um sério jornalista tem que ter. Raro ver um blog 100% isento…inclusive o nosso…
Pode assinar embaixo, Lelo? =D
Não vejo esse movimento de “melhora” da informação, Lelo, ao contrário, vejo que os grandes portais e jornais e TVs precisam de cliques, assinantes e telespectadores, portanto darão a informação que dará mais público, ficando a informação real segmentada em pequenos nichos, como os Blogs e sites oficiais.
Claro que eu posso acompanhar o mundial de judô pelo… site do mundial de judô, o que falta é análise e comentário técnico especializado. Se o grande portal, jornal ou TV não der, esse esporte nunca vai ser compreendido e massificado.
Quanto aos blogs serem totalmente isentos… realmente não dá! (ao menos no phutada a gente é isento – hehe).
Eu acredito no potencial dos profissionais, tem MUITA gente boa por aí… o problema é que não há tempo, na roda viva do mercado de trabalho, pro cara realmente se especializar ou analisar as coisas com o tempo necessário.
Não me esqueço de quando eu estagiava no L! e tava cobrindo o Mundial de Piscina Curta em 2010 e tipo, me falaram assim: “você tem que publicar UMA MATÉRIA a cada brasileiro que cair na água”. O que importa pra eles é QUANTIDADE de informação (“tem que ter coisa nova o tempo todo, se não parece que o site é desatualizado”) não a QUALIDADE. Por mim, eu teria assistido a competição com calma e, ao final da etapa, publicaria uma matéria grande com os resultados gerais dos brasileiros e dos grandes atletas internacionais… mas não podia ser assim… e se a prova acabasse e em um minutos não tivesse a matéria no ar, alguém já me gritava. HAHAHAHAHAHA…
Pensa da seguinte forma. Na nossa época a única publicação de respeito era a gringa Swimming World. Hoje pelo menos já temos algumas revistas especialistas e de boa qualidade no Brasil, como a Swim Channel por exemplo.
Bom ponto Lelo, a Swim Channel é tóis.
Porém lembre-se que no início dos anos 80 já tínhamos a Aquatica!
Infelizmente, Renato… como dizem alguns professores da faculdade onde me formei e alguns (ex-)colegas de profissão (agora eu ‘estou’ English teacher), o jornalismo respira por aparelhos… e não duvido em breve aparecer o médico e diagnosticar a morte cerebral… como dizia Nelson Rodrigues: “seria cômico, se não fosse trágico”.
Essa questão de “só interessarem os brasileiros” é bem interessante mesmo, mas estive detectando que quase todo país é assim… com a diferença que muito deles, apesar de tudo, ainda fazem uma cobertura mais completa, apesar de manchetar os conterrâneos.
O que eu acho tão ruim (quase pior) é ver matérias que sempre colocam a perspectiva da cobertura em cima de um atleta específico, mesmo que ele não esteja presente… como aconteceu no Finkel mesmo semana passada, quando perguntaram ao Bruno, depois do 4×50 livre, sobre a ausência do Cesão. Tudo só pra tentar fazer polêmica (o que não é nada difícil dado que o Bruno é ULTRA sincerão). GENTE??? Jura que precisa?
Esse tipo de matéria, seja polêmica, seja falando de brasileiro (principalmente de for ‘decepção’) é o famosos “caça-clique” o cara vai clicar só pra depois sair vomitando ódio nas redes sociais: “porque brasileiro é amarelão, bla bla bla”. Porque quem realmente acompanha as modalidades sabe colocar em perspectiva as coisas e sabe quando uma manchete é feita só pra chamar atenção…
Na mosca Patrícial, é um grande “caça-clique” dos infernos!
O que me surpreende cada vez mais é como a moçada clica no “polonês bêbado pagou o taxi com a medalha” e não clicaria em um “análise técnica especializada do primeiro dia de judo, com bronze de Érika e ouro de fulana de tal”.
Círculo vicioso: informação ruim –> leitor ruim –> informação ruim –> leitor ruim –> informação ruim –> leitor ruim…
Eu acho que o jornalismo de hoje está muito ligado ao que vende. E como temos um povinho muito ignorante e centrado no próprio umbigo, as coberturas são para eles. Os noticiários também. E os jornais, a veja, etc. Não acho que os jornalistas sejam tão ruins. Se notícia vendesse, eles iriam buscá -las. Mas o que vende são resultados brasileiros de preferência ruins. Ou histórias bizarras.
Em geral sim, concordo com tudo. (Mas o jornalista que escreveu a notícia da Érika, custava colocar um tiquinho a mais de informação relevante, tipo quem foi campeã mundial?)
Em tempo: a Majlinda está contundida e não foi…