O húngaro Frigyes Karinthy que me desculpe, mas seus tais seis graus de separação não existem na beira da piscina. Devem ser no máximo três graus e olhe lá. O comportamento gregário dos nadadores, que devem se unir para sobreviver, tal qual as sardinhas – deve ajudar nisso. Esse gregarismo aliás, jamais deixará que a natação se torne um esporte solitário. Os melhores momentos da natação são sempre compartilhados intensamente, na minha opinião. Raramente um nadador se encontra realmente sozinho no dia-a-dia. Quase sempre tem alguém, no mínimo enchendo o saco. Seja nos treinos, em viagens, nas competições, nos revezamentos, e ocasionalmente, nos pódios – que eram em geral momentos de enorme alívio e alegria para mim.
Assim, socialmente, ganhar medalhas se torna o momento melhor documentados da vida do nadador. De pais orgulhosos a imprensa – todos gostam de tirar uma foto daquilo que resume bem o que foi uma prova. Para alguém de fora, aquela foto pode até representar uma competição inteira, por mais errôneo que isso seja. Contudo, por trás daquela formação piramidal – metáfora do vitorioso no “cume” – tem sempre muita história: de rivalidades encardidas até amizades que duram toda uma vida. Me considero sortudo que ainda estou próximo de vários Pebas com os quais dividi pódios por aí. Alguns estão bem próximos, aqui mesmo no Epichurus – os peitistas Renato Cordani, Lelo Menezes e Luiz Alfredo Mader, por exemplo – outros nem tanto, mas felizmente e-mails e as redes sociais de hoje facilitaram muito a manutenção disso.
Ainda assim, chuto que nunca mais conversei com 99% das pessoas que estiveram comigo em cerimônias de premiação, infelizmente. E, como já é sabido pelos nossos leitores, minha memória não ajuda muito nessa busca. Mesmo dos momentos mais importantes como nadador, as vezes tenho dificuldade de me lembrar de um tempo, data ou nome em uma foto e a possibilidade de partilhar aquele momento com mais alguém fica ainda mais complicada depois de quase 30 anos.
Mas aí entra o acaso, e vemos que o mundo em que vivemos está pequeno realmente.
Um pouco antes das Olimpíadas estávamos na Ilha Bela (litoral Norte de SP), com várias outras famílias, para o aniversário de um dos coleguinhas de escola dos meninos quando decidimos pegar uma escuna para um passeio. Demos sorte com o tempo, que passou de um friozinho nublado para um belo dia de sol assim que chegamos na linda Praia da Fome. Obviamente, assim que o barco parou, pulei na água e saí nadando por ali. Depois de um tempo, já na praia, um cara de sotaque espanhol, que estava tirando fotos na escuna veio falar comigo e com a minha esposa. Primeiro me disse que eu nadava bem e me perguntou se eu havia feito natação. Disse que sim. Depois me perguntou se eu havia competido. Sim novamente. Daí me perguntou se eu havia nadado competições internacionais. Confirmei meus dois Sul-americanos como juvenil. Nessa hora deu para ver que o cara se animou. “Que ano? ” Citei 87 e 89, curioso para saber onde aquilo iria dar. Ele feliz: “Eu sou argentino e também nadei em 89 em Rosário! ”. E aí vem a pergunta básica de qualquer nadador para outro: “Que provas? ” – Principalmente os 100 Peito… E aí vem a maior surpresa: Veio uma exclamação do tipo “No lo puedo creer! Yo tambien!”. Eu ganhei aquela prova e ali naquela praia improvável estava Paulo Stefani, argentino de Quilmes, o cara que pegou 2º lugar naquele dia, com o Carlos Araujo – Cacá em 3º . Passaram vinte e sete anos, mas eu voltara a encontrar um daqueles que compartilharam comigo um dos melhores instantâneos da minha carreira aquática.
Foi um momento muito legal e insólito. Batemos um bom papo e trocamos e-mails naquele dia. Agora acompanho e fico com inveja das lindas fotos, paisagens e da vida sensacional que ele leva na Ilha. Prometi que lhe mandaria a foto do pódio dos 100 peito de Rosário, pois aparentemente sua cópia sumiu em alguma mudança. A tarefa não foi simples, mas nesta semana passada finalmente achei a bendita no meio de um álbum do Universidade do Missouri. Fico contente de finalmente cumprir a promessa e poder agora voltar a Ilha Bela sem medo de tomar bronca do hermano…
Junto com essa foto, achei outras fotos que não via há décadas. Competições e premiações, com amigos que desencontrei, que me deram saudades e que me fizeram escrever este post.
Apesar da teoria dos graus de separação ser meio polemica e ter sido desacreditada em pelo menos duas ocasiões pela academia, uma coisa me parece certa: Nós nadadores temos em comum muito mais que o substancia mais abundante na superfície do planeta e há muitas praias bacanas no Brasil e mundo afora para dar umas braçadas, pegar um jacaré ou tomar uma cerveja com aqueles sumidos das antigas que ainda não reencontramos. Dediquemo-nos a isso! Vou continuar tentando, agora mais atento aos estilos de ex-nadadores dos anos 80-90. Acho que Epicuro aprovaria e pode até dar uma ajuda.
boa Munhoz…
não era nadador, mas um conhecido que havia trabalhado comigo uns dez anos antes, que encontramos numa de nossas idas até as ilhas do Sahy, conta?
LAM, como o seu caso ajuda a provar que o mundo é pequeno, acho que conta! Ótimas nadadas aquelas, por sinal. E a Fuga das Ilhas vem aí.. Boa sorte e Abraços!
Espetáculo Munhoz. Realmente os nadadores parecem sardinhas.
Ótimas fotos, ótimas competições, e o sr precisou de um argumento argentino para postar aqui depois de mais de quatro anos deste blog…
Fato novo, causo novo e fotos não tão novas, mas há muito perdidas… e antes tarde que jamás!
Quatro anos disso aqui? Vixe…
Abratz
Espetacular o reencontro Munhoz! Principalmente porque aquele Rosário 89 foi uma das competições mais sensacionais que participamos. Que saudade daquela época!
Rosário foi tóis! Saudades mesmo… Com exceção do vôo no sucatão (707 da FAB) foi a competição perfeita pra mim: Poucas provas, fui relativamente bem e foi divertido. Ah, e ainda voltei pra Bauru bem na fita. Bonus.
Abraço!