Paul Eugene Barry Augustus nasceu em 1º de Abril de 2000, na pequena cidade de Beaver Lick em Kentucky, EUA. A mãe, metida a socialite, não teve uma gravidez muito tranquila, paranóica que ficou com o bug do milênio e o possível fim do mundo. Já o pai, um dos pecuaristas mais ricos dos Estados Unidos, nunca foi muito ligado em superstições e curtiu como pode a chegada do seu primogênito.
A infância de Paul foi típica da alta sociedade americana, cursou escolas particulares, fez cursos de etiqueta e jogou golfe e pólo (não o aquático, obviamente). Com 7 anos chegou a ser matéria da Golf Digest, uma conceituada revista esportiva, que o chamou de “Next Tiger Woods”. Seu magnata pai não podia estar mais orgulhoso.
Só que o destino tem seus caprichos e em 2008 um tal de Michael Phelps ganhou 8 medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim. Paul Eugene assistiu todas as provas grudado na TV e com apenas 8 anos de idade tomou uma decisão que mudaria sua vida. “Que golfe que nada, eu quero mesmo é ser nadador!”
Seu pai tentou de tudo para dissuadi-lo. Contratou Tiger Woods para aulas particulares. Não deu em nada. Comprou o Baloubet du Rouet pra ver se o menino se ligava em hipismo. Nada! Chegou a mandar o pobre Paul para a Argentina para que aprendesse pólo com os melhores do mundo. Voltou meio prepotente, com algumas caixas de alfajores na mala e uma camisa autografada do Messi, mas sua paixão pela natação não diminuiu uma vírgula sequer.
O pai que sempre foi muito ligado em esportes se deu por vencido e pela primeira vez na vida se interessou por natação. Botou o filho pra treinar na principal equipe do meio oeste americano, que passou por uma belíssima reforma e ganhou os equipamentos mais modernos do mundo, tudo presente dele! “Não será por falta de estrutura que meu filho não será campeão olímpico”, pensou.
Em poucos anos pai e filho eram completos aficionados pelo esporte. Paul, agora recém adolescente, era uma promessa na prova de 200m Livre. O pai passou a acompanhar de perto todas as competições importantes e se tornou o maior patrocinador da USA Swimming.
Acontece que além de caprichoso, o destino também é irônico. Com 18 anos, através da influência do pai, Paul Eugene foi aceito em Stanford, um dos mais conceituados programas universitários americanos. Entretanto, aquela promessa nos 200m Livre morreu na adolescência e mesmo nadando numa das melhores equipes do mundo, Paul Eugene era PEBA! Seu melhor tempo nos 200m Livre em piscina longa era 1’52.
Só que Paul era igual a eu e a você. Ele também sonhou em ser campeão olímpico, em ouvir o hino americano no degrau mais alto do pódio. E assim como eu e você, a ficha dele caiu quando ainda calouro na faculdade. Na sua primeira competição oficial, Paul ficou em ultimo na sua melhor prova e chegou mais de 15 metros atrás do campeão. Chateado com a súbita consciência de ser PEBA, o garoto ligou pro pai e com a voz embargada disse “Pai, eu devia ter te ouvido. Nunca serei campeão olímpico de natação. Eu devia ter ficado no golfe.”
A confissão de Paul Eugene cortou o coração do pai. “Isso não vai ficar assim”, pensou o magnata. Ao se aproximarem as eliminatórias das olimpíadas de 2020 (competição que Paul não nadaria por não chegar nem perto do índice), o velho Sr. Augustus foi visitar o presidente da USA Swimming e pra ele fez uma proposta irrecusável! “Vou doar 200 milhões de dólares para a USA Swimming! Em troca, só peço que meu filho PEBA nade o revezamento 4x200m Livre americano pela manhã nas Olimpíadas de Madrid.”
A proposta pegou o presidente de surpresa, mas como recusar 200 milhões de dólares? Desde a crise do subprime em 2007, a natação americana não vivia um bom momento financeiro e mesmo a contra-gosto acabou por aceitar a doação!
A noticia caiu como uma bomba no meio aquático. Atletas de ponta ameaçaram boicotar os jogos. Clubes entraram com um protesto formal e ate o NCAA publicou uma nota de repudio a atitude da USA Swimming. O próprio Paul não pulou de alegria. Ficou com medo de represálias, de perder os amigos, mas no final o sonho de ser campeão olímpico falou mais alto e Paul Eugene acabou aceitando a idéia do pai. Aos poucos os cartolas foram convencendo clubes, pais e nadadores que a doação traria anos de prosperidade para a natação americana, ameaçadíssima de perder a hegemonia mundial para os japoneses. No final diminuíram para 7 as vagas de 200m Livre e as eliminatórias correram dentro do esperado.
Nas Olimpíadas, Paul nadou a terceira perna do revezamento pela manhã e ainda melhorou seu tempo. Fez 1’51 com saída livre. Graças aos 3 outros nadadores, o revezamento americano se classificou em sétimo para as finais.
Paul Eugene assistiu as finais da arquibancada, ao lado dos pais. Preferiu ficar por ali já que sentia uma certa hostilidade vindo dos colegas nadadores. Vibrou quando os EUA bateram na frente, com direito a WR.
Em Julho de 2020, Paul Eugene Barry Augustus se tornou oficialmente o primeiro nadador PEBA a se consagrar campeão olímpico. Sua medalha de ouro jaz emoldurada na sala da mansão em Beaver Lick, e o pai faz questão de mostrar orgulhoso para todos que ali visitam.
Certa vez o bilionário ancião foi questionado sobre como surgiu a ideia de pagar a USA Swimming pela vaga do filho. “Foi deveras fácil!”, disse Augustus, “No mundo tudo tem preço e nos Estados Unidos mais ainda. Em 2001 um colega meu, Dennis Tito, pagou 20 milhões de dólares pra NASA para ir ao espaço. Eu só tive que fazer uma proposta mais tentadora. Se ir ao espaço custou 20, claramente uma medalha de ouro olímpica não custaria mais que 200!”, respondeu o magnata convicto de que acertou na compra!
Lelo, acho que os Jogos foram sediados pela primeira vez em solo africano, mais precisamente na Suazilândia, que anos antes anunciou a descoberta da maior mina de ouro do mundo.
Não sei se isso teve a ver com a mudança da Espanha, cuja Rainha Argentina saiu em defesa do pequeno país.
Boa Piu! Vi que você não esqueceu das gêmeas PEBAs da Suazilândia que viraram motivo de chacota no Mundial de Palma de Majorca. Alias, não apenas PEBAs, mas desprovidas do dom da beleza! Rsrsrsrs! Já Brigitte Becue merece um post só dela!
True… true. Abraço.
Genial! Que maravilhosa veia dramaturgica, Lelo! HAHAHAHA!
Mas a minha parte favorita foi a montagem da capa da revista lá em cima, com foto do Justin Timberlake. KKK!
Valeu Patrícia! Esse Golf Digest tem umas capas inusitadas!
Haha. Boa Lelo.
Mas estou rindo do que? Isso é sério, do jeito que as coisas vão, comprar ouro olímpico será corriqueiro no futuro…
Essa regra de a medalha ir para quem compôs o reveza de manhã é muito ruim.
Mas veja, é uma equipe… Os jogadores reservas do time de basquete ganham medalha, né? Mesmo se não entrar na quadra uma só vez. Porém, natação já distribui tanta medalha, que poderia “ler” essa história de equipe de forma diferente. Aliás, eu concordo com alguém que disse no facebook que a equipe de revezamento poderia ter uma substituição, um reserva. Daí, esse reserva, tendo nadado ou não eliminatória ou final, ganharia medalha também.
Bom, eu acho que existe uma grande diferença entre esporte individual e coletivo. No coletivo o time joga “n” vezes e geralmente por horas a fio durante as Olimpíadas, portanto os reservas são fundamentais não apenas para repor jogadores cansados ou contundidos, mas também por terem características diferentes do titular, são utilizados para alterar esquemas táticos que muitas vezes definem jogos.
Convenhamos que na natação, onde o revezamento mais longo demora menos de 8 minutos e cada nadador nada no máximo 2, a presença da equipe “B” que nada só pela manhã é pouco mais do que um descanso de luxo da equipe “A”
Imagina se a moda pega e o Phelps levasse o 3º americano pra nadar por ele as eliminatórias dos 400m Medley? Esse cara merece ouro também?
Exato! Me surpreende que até hoje nenhum gringo milionário teve essa idéia! Essa regra é horrorosa!
Lelo,
genial sua forma irônica de criticar essa regra, que eu considero equivocada, dos atletas que nadam somente as eliminatórias têm direito a medalha nas Olimpíadas.
Uma fábula muito bem escrita.
Só faltou (mas nem precisava) a moral da história.
Valeu Esmaga! A moral da história é essa mesmo! Regra péssima essa! Convenhamos que o 8º melhor nadador americano de 200m Livre não deve ser muito PEBA, mas dai pra ouro olímpico é demais né! Infelizmente é isso que acontece hoje em dia!
Adorei o nome do cara…
LAM
Pô LAM, o nome do cara é bacana, mas achei que você curtiria mais a úmida cidade de Beaver Lick!
Sensacional, Lelo! Isso daria um belo filme… Comédia do absurdo, mas que infelizmente daria idéias malignas para os vizinhos de Beaver Lick… Mas a verdade é que mais que nunca “Money talks”…
Penso que esse caso olímpico nunca vai acontecer, mas essa estória me lembrou outro caso. Verídico, infelizmente…..
Quando um milionário que quer ser astronauta gasta 20 milhões do seu próprio dinheiro para realizar seu sonho, não temos nada com isso, afinal, a grana é dele mesmo.
Porém nós brasileiros pagamos por muitos anos para um tal de Coronel Marcos Pontes realizar o seu sonho de viajar pelo espaço. Pagamos em forma de salário e em forma de recursos transferidos para a NASA para que ele aprendesse a ser astronauta.
Lí em algum lugar que a experiência científica que ele conduziu lá em cima (ou em baixo, sei lá….) foi aquela que quase todos nós fizemos, do grão de feijão sobre algodão úmido. Ele teria que verificar se o feijão brota mesmo na ausência de gravidade.
Bom, bancamos o cara, que foi prá lá, realizou seu sonho e na hora que ia começar a devolver ao povo brasileiro um pouquinho do que foi investido, ele pede baixa e vai para a reserva.
Hoje vive ministrando palestras Brasil a fora, cobrando caro para falar sobre o tema que pagamos para ele aprender.
Prá mim ele tinha que ser preso!
Smaga assistiu uma destas palestras.
Podia nos brindar com comentários detalhados
Será que não vai acontecer esse caso olímpico, Aécio? Eu penso que se não mudar o regulamento pode acontecer, sim! Mas tomara que não.
Lelo,
Parabéns pela criatividade e pelo roteiro. Sabe que notei que tratava-se de ficção apenas quando você diz que o pai contratou o TW para dar aulas de golfe, o que é absolutamente impossivel por dinheiro algum. Hoje, como vivo no meio do golfe, tem uma história real do próprio TW que é um contraponto a sua ficção. No livro “Who wants to be yout caddie”, Scott Riley conta que um bilionário, cujo nome não foi revelado, ofereceu $20MM para substituir Steve Williams como o caddie do Tiger durante uma volta do Masters de 2000 (um dos quatro majors). Tiger, como sempre, de poucas palavras, disse não. O bilionário então, tentou novamente em um torneio regular do PGA Tour, pois certamente era menos importante para o TW. Novamente ouviu não. Implorou novamente, só que agora em uma volta de treino, antes de um dos torneios. Novamente ouviu não. Indignado, ele perguntou se ele estava desprezando dinheiro. Se ele não precisava, podia usar o dinheiro para caridade. Ao que Tiger simplesmente respondeu: Acho que o senhor não entendeu o básico, eu nunca sonhei em ser rico, em fazer caridade, eu só quero ser o melhor golfista de todos os tempos. Para isso, tenho que ter comigo o melhor caddie, o melhor técnico, o melhor preparador físico. E o seu dinheiro não me traz isso.
De resto, a sua história, apesar de ficcão, parece tão real! Infelizmente!
Boa Matuda, um dia você vai escrever um post para nós sobre as diferenças entre os 200 borbola e golfe, combinado?
Abraços
Cordani,
Será uma honra e um prazer enorme! A propósito, o Michael Phelps está contando isso ao vivo. Ele está participando de um reality show no Golf Channel com o ex-coach do Tiger, Hank Haney, tentando tornar-se profissional de golfe.
http://www.golfchannel.com/tv/the-haney-project/
Valeu Matuda! Essa história do TW é bem interessante e mostra como o cara tem cabeça de campeão
Abs
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