Por Sidney Nakao Nakahodo
Pergunta: o que há em comum entre Matt Biondi, Anthony Ervin, Janet Evans, Rowdy Gaines, Misty Hyman, Cullen Jones, Jason Lezak, Ed Moses e Dara Torres?
a) Participaram de reality show
b) Foram campeões olímpicos de nado sincronizado
c) São pebas
d) Nadaram competições master recentemente
Mesmo que não soubesse a resposta de imediato, o atento leitor do Epichurus não teria dificuldade para identificar a alternativa correta. Anthony Ervin, assim como Dara Torres antes de Beijing, utilizou as competições masters como primeiro passo para retornar às Olimpíadas. Janet Evans e Ed Moses adotaram a mesma estratégia na tentativa de ir a Londres. A campeã dos 200m borboleta em Sydney Misty Hyman nadou sua primeira competição em 2012, assim como Matt Biondi, que quebrou o recorde mundial dos 50m livre da categoria 45+ fazendo 23.65s em piscina curta. Rowdy Gaines está sempre presente em competições e clínicas, sendo um dos principais embaixadores do esporte. E ainda existe o fenômeno Cullen Jones, que iniciou sua carreira master ainda profissionalmente na ativa.
A natação master começou oficialmente no dia 2 de maio de 1970, com a realização do primeiro campeonato nacional nos EUA. Desde então o movimento tomou força rapidamente, chegando à marca de 60.000 participantes ativos em 2013. Um quarto dos membros compete regularmente ao longo da temporada, que é dividida entre primavera (jardas), verão (50m) e outono (25m). As provas de águas abertas vêm ganhando espaço graças à popularização do triatlo.
Foto da piscina onde foi realizado o Campeonato Nacional de Natação Master dos EUA em 2012, uma semana após a seletiva olímpica norte-americana (crédito: USMS)
Na linha da autoajuda citada pelo Cordani, a natação master é uma daquelas atividades que permite ao esporte passar de atividade de lazer a estilo de vida. Nesse processo, a existência de uma sólida estrutura institucional faz toda a diferença. No caso da natação master norte-americana, essa estrutura está baseada em três pilares: organização, voluntariado e competição.
O órgão responsável pela natação master é a US Masters Swimming, gerido por um corpo dirigente profissional. Vale ressaltar que a USMS funciona independentemente da USA Swimming; ainda assim as duas entidades trabalham em estreita colaboração em questões de estratégia, administração e logística. Exemplo disso foi a realização do campeonato nacional de masters de verão do ano passado, que ocorreu na espetacular piscina montada em Omaha, uma semana após a seletiva olímpica. A FINA considerou a experiência tão bem sucedida que replicará o modelo no mundial de Kazan em 2015.
A mobilização da comunidade aquática ocorre por meio de ações voluntárias em todos os níveis, tanto na organização das atividades da USMS quanto trabalho de base com a formação de equipes. Por exemplo, é comum pequenos grupos organizarem-se por conta própria para treinar em piscinas públicas ou semi-públicas (como o YMCA), independentemente de haver ou não uma estrutura formal de apoio.
Desde o início as competições estiveram no centro das prioridades da USMS. Sem deixar o aspecto inclusivo de lado, o lado competitivo é bastante valorizado por estimular os atletas a continuarem ativos e, ao mesmo tempo, mantendo-os envolvidos com a comunidade aquática. O clima nos principais eventos é de grande confraternização e o tamanho da empolgação só encontra paralelo na disputa pelas medalhas. Felizmente essas são distribuídas até o décimo lugar, para alegria de pebas de todas as idades. Outro fator importante é a existência de um ranking nacional atualizado em tempo real ou logo após cada competição. Uma das principais consequências do ranking é o incentivo para que os nadadores possam competir “virtualmente” com atletas da sua faixa etária ao longo do ano. A ideia funciona muito bem devido à eficiência com que o sistema é operado.
Apesar de contar com tantos mitos olímpicos (a lista completa pode ser vista aqui) muitos dos principais nomes da natação master norte-americana foram relativamente pebas em vidas aquáticas passadas. Um exemplo é o caso de Steve West, mais velho nadador a participar de uma seletiva olímpica, conforme relatado recentemente no Epichurus. Há ainda o caso de Laura Val, que aos 50 anos nadava os 100m livre três segundos abaixo do tempo que fez quando participou de seletivas olímpicas na juventude. Em 2011 ela realizou o improvável feito de quebrar seis recordes mundiais de nado livre da sua faixa etária (60+) nas passagens de uma prova de 1500m.
Outra curiosidade é que os dois únicos representantes brasileiros do Hall da Fama da Natação Master Internacional, Maria Lenk e Aldo da Rosa, participaram ativamente de competições organizadas pela USMS. A primeira dispensa apresentações, mas e o segundo? A relação de seus feitos dentro e fora das piscinas é tão extensa que a sua história merece um capítulo à parte.
Oi Sidney! Gostei muito do seu artigo e dos links a que remete… Coisas que me chamaram a atenção: O número enorme de olímpicos nadando USMS (até a Amanda Beard e o Oussama Mellouli!). Uau. Bem diferente do Brasil, pelo menos por enquanto. Apesar de não ser um grande competidor, também achei interessante a sinergia entre as grandes competições da USS e da USMS. Simplesmente faz sentido. Por último achei ANIMAL o ranking de resultados online. E fiquei feliz em ver que estaria entre os Top 20 de 50 e 100 Peito (muuuito distante dos 3 primeiros, é verdade) da temporada de 2012 e 2013.
Coisas possíveis de reproduzir localmente e que deixariam nosso esporte mais divertido.
Estou curioso para ver sua próxima história sobre o Professor Aldo…
Abraços!
A ferramenta de busca deles é muito legal.
A propósito, acredito que o nível técnico das provas em 25m deve ser mais baixo que os demais.
Só peguei os 50 livre de amostra e treinando uma vez por semana estaria em 1o lugar.
Em geral o foco da maioria dos nadadores masters acaba sendo as competições em jardas, seguindo a tradição universitária. Mas os tempos dos primeiros colocados nas piscinas de 25m e 50m sempre são significativos. Parabéns pelo feito!
Obrigado Munhoz! Fico muito contente com a oportunidade de colaborar com o Epichurus.
Acredito que o ranking funcione como estímulo pela facilidade de acesso, clareza e transparência das informações. O cuidado com que é atualizado confere credibilidade à base de dados.
Sobre o grande Aldo da Rosa, sem dúvida sua história de vida merece ser conhecida, tanto dentro quanto fora da comunidade aquátca.
Abraços
Alguns dos nossos melhores nadadores federados já participaram de competições da ABMN. Rogério Romero em 2001, ainda em atividade, marcou 2’02″75 nos 200 costas, que até hoje é recorde mundial da categoria. Diogo Yabe foi recordista mundial da 35+ nos 400 medley até o ano passado. Me lembro do Xuxa nadando um Campeonato Paulista aqui em Campinas ainda em plena forma.
Porém, Gustavo Borges nunca nadou competição Master e me disse certa vez, que nunca nadará… O tempo vai nos responder.
Quanto ao ranking online, a ABMN caminha para para isso, e penso que não vai demorar tanto. Em 2010 contratamos o Julian Romero para construir um sistema completo para a natação master do Brasil na internet, e nossa ambição era (e ainda é) grande. Desde então a cada temporada um novo módulo do sistema entra em operação, e hoje as Associações Regionais já podem utilizar esse produto para realizar as suas competições. Como a disseminação desse módulo de competições pelo Brasil deveremos criar um ranking permanente, on line e totalmente automatizado. Naturalmente que o sucesso desse ranking depende da adesão das Associações. Aguardem!
Só para constar, a Consanat deverá utilizar nosso sistema de competições para o Camp. Sul Americano master deste ano, e os americanos utilizaram parte do nosso sistema para o Pan Americano Master de Sarasota.
Abraços!
Ótimas novidades, hein, Aécio!
Aécio, fico feliz em saber que as coisas estão bem encaminhadas. Também espero que uma vez implantando o sistema continue sendo utilizado de forma consistente por todos. Parabéns aos responsáveis
pela idealização e implementação da ideia!
E, o bom da natação máster é que nós, pebas, temos a oportunidade de confraternizar, admirar, competir contra, e, raras vezes (já aconteceu comigo, felizmente) ganhar de um medalhista olímpico de antanho. Nem é bom, é ótimo!!
Bom, nessa área master gostaria também de comentar, apesar dos mestres como o Aécio e o campeão e atual recordista mundial Orselli, já terem versado sobre o tema. Os campeonatos brasileiros master são absolutamente bem organizados por entusiastas da natação, que além da competição em si, há também uma grande confraternização entre os “atletas”. Entre aspas por que seria impensável um atleta profissional participar de competições focando mais na cervejinha ao final dela…. Esse é o espírito master com mais diversão e menos pressão. Mas o que eu gostaria de falar mesmo não é do circuito nacional e sim sobre núcleos regionais de natação master espalhados pelo Brasil, em especial o circuito UNAMI no interior de SP. Esse circuito tem 10 etapas em piscinas de 25 metros de março a dezembro com ranking e premiação dos top 5 de cada categoria no início do ano seguinte em uma festa sempre em alto estilo. O circuito tem um caderno de encargos a ser cumprido pelas sedes organizadoras das etapas e existem mais piscinas querendo sediar do que as 10 possibilidades do calendário. Por isso, há disputa para que a sede organize a melhor competição, já que poderá perder o direito de sediar no ano seguinte, caso não se esmere. E quem ganha são os participantes que são surpreendidos a cada etapa com novidades. O circuito teve, esse ano de 2013, o recorde de 640 participantes numa etapa, com média de mais de 500 ao longo do ano. Isso é um circuito regional!!! É controlado por um site http://www.resultadoonline.com/master.asp que disponibiliza on line estatísticas, ranking, recordes e tudo mais que objetivam os atletas experientes, moderados e principiantes. A categoria Peba, no master, acredito que não exista, pois se lembram da cervejinha no final? . Ela é motivadora e democrática espalhando alegria e satisfação, seja lá qual tenha sido o seu resultado na competição.
Fica aí a dica aos ex nadadores e futuros nadadores masters! Abraço
Excelente notícia, Warley. Confesso que acompanho a natação master no Brasil à distância e não sabia da dimensão dos eventos organizados pela UNAMI, mesmo tendo crescido no interior de SP. Por outro lado, talvez o desafio seja integrar as diferentes iniciativas regionais dentro de uma estrutura federativa nacional. No caso do USMS, para que um tempo seja válido para o ranking, o nadador deve ter participado de uma competição sancionada pela organização. Essa centralização pode gerar um pouco mais de burocracia, mas garante que certos protocolos seja seguidos e que, no final, garantem a integridade da base de dados.
Sidney,
Os tempos e recordes que acontecem na UNAMI estão integrados com a ABMN, que por sua vez está com a CONSANAT, que por sua vez está com a FINA. Caso alguém bata algum recorde brasileiro, sul americano ou mundial, tem somente de ser sócio da ABMN e isso pode ser feito até a posteriori, pode homologar seu recorde. O próprio Orselli já bateu recordes de todo o que foi jeito nadando em competicoes da UNAMI. Esse circuito é muito legal e convido a todos a participar.
Próximos eventos
17.08 – Cia Athlética Campinas
28.09 – Gran São João Limeira
19.10 – A.A.Ferroviaria Botucatu
23.11 – C.Campo Piracicaba
07.12 – E.C. Barbarense
Já em relação a integração, muitos sempre nadam os brasileiros da ABMN, ora por seus próprios clubes, ora compondo uma equipe só como UNAMI mesmo.
O master, volto a dizer, é mais diversão que pressão e é show de bola, ops, de água!!!
Muito bom o artigo Sidney.
Ganhar de um medalhista olímpico no Brasil é fácil, basta ganhar do Matiolli! Opa, pensando bem, ninguém ganha do Matiolli….
Matiolli ganhou cinco ouros no Mundial Master esta semana… Vi no CL
Pois é Renato, os competidores da categoria do Matiolli devem sentir na pele o mesmo que os adversários do Phelps, com o agravante de que a agrura não tem data de vencimento!
Excelente o texto Sidney. Dá até mais vontade de voltar pro Masters. Eu já ganhei de medalhista olímpico enquanto na ativa (nos 200m peito do espanhol Sérgio Lopes). Já no Master eu torço pra não perder dos tiozinhos do 80+. Ta feia a coisa!
Lelo, tai um grande feito para se orgulhar. A única coisa que ganhei de medalhista olímpico foi autógrafo.
Ultimamente minha motivação tem sido uma saudável rivalidade com uma nadadora dos 50+. Como as séries são mistas em muitas competições, acabamos nadando lado-a-lado. Menos mal que ela é recordista mundial de sua categoria.
Grande Sidao. Surpresa achar seu post aqui. Eu ainda não retomei as competições, mais alguns meses de treino quem sabe não me animo. Grande abraço.
LO
Grande LO! Para ganhar motivação não existe nada melhor do que se inscrever em alguma competição. O resto acontece por instinto. Abraços