HISTÓRIAS DE UMA COMPETIÇÃO PRA LÁ DE ESPECIAL, MAS POR ENQUANTO, SÓ DO PRIMEIRO DIA
Os leitores que vem acompanhando minhas memórias já leram sobre o pacto que meu amigo Luiz Alfredo Mäder e eu fizemos em dezembro de 1984 em Juiz de Fora, às vésperas de ingressarmos na categoria Juvenil B: chegarmos a final em 85, ao pódio em 86 e ao ouro em 1987.
Cumpri meu objetivo em 85. LAM nadou mal e não foi às finais, mas um mês depois deu um salto incrível de performance no Troféu Brasil e já figurava entre os melhores do ranking da categoria.
No ano pré-vestibular, em que a agenda era cuidadosamente organizada dia a dia, os focos estavam bem definidos. Não perdemos nenhum treino durante o ano. LAM se deu ao luxo de entrar em férias escolares em meados de novembro, após concluir o 2º grau, no colégio Medianeira e ficar em férias escolares até o vestibular da UFPR, quase dois meses depois. Eu levava paralelamente o super-intensivo do colégio Dom Bosco.
DE VOLTA A PORTO ALEGRE
A equipe do Curitibano chegou de ônibus leito na véspera da competição. Renato Ramalho e Isabele Vieira favoritos em suas principais provas. Muitas perspectivas de finais e esperança de medalha também nos revezamentos.
Luiz Guernieri, Fernando Magalhães, Christiane Thá, Renato Ramalho, Christian Carvalho, Isabele Vieira e o técnico Leonardo Del Vescovo.
Ficamos hospedados no Hotel Ritter. Dividi o quarto com Christian Carvalho e o LAM. Antes de irmos ao Grêmio Náutico União fazer o reconhecimento da piscina, quis adiantar a raspagem, mas deixei as canelas e os braços para a noite. Só queria me sentir totalmente pronto no dia da competição.
A sensação foi muito boa. Pernas soltas, corpo em cima da água e nem sentia necessidade de me testar. Sabia que o polimento tinha dado certo. Só queria que a hora chegasse logo.
18 DE DEZEMBRO DE 1986
Saltei da cama cantarolando a versão da hora para a primeira frase de Sunday, bloody sunday – do U2: “I can´t believe it´s today…” – sentia que o dia havia chegado, e o Christian constatou na hora: “Magalhães acordou com a macaca!”
Nas eliminatórias, um baque em nossa equipe: Cezar Antunes, um dos favoritos para os 200m borboleta, juvenil A, foi desclassificado por toque alternado na virada dos 150m. Nosso diretor – Joel Ramalho Júnior – recorreu, insistiu, pediu que o juiz de virada mostrasse o que tinha visto, e ele mostrou um movimento em que a ponta dos dedos de uma das mãos chegava a borda 1 cm depois do outro, mas não teve jeito. No mais, tudo como planejado, todos classificados para as finais.
200m peito
LAM e Ramalho entre os finalistas. Antes da competição o favoritismo era de Fabiano Costa e Felipe Michelena do Clube do Golfinho. Fafá, bronze no Troféu Brasil anterior, tinha o tempo quase 2 segundos melhor que o segundo rankeado. E o Felipe, vinha de dois anos de uma evolução fantástica, mas para surpresa de todos, não passou pela eliminatória.
A prova foi muito equilibrada. Na altura dos 180m, cinco atletas estavam emparelhados, Alexandre Hermeto do Flamengo arrancou para a vitória, Vicente Melo do Pinheiros ficou com a prata e o LAM bateu em 3º – 2m29s13 – melhor marca pessoal e o bronze no campeonato brasileiro. Objetivo alcançado já na primeira prova.
100m livre
Depois de vibrar com o LAM, estava focado em fazer a minha parte. Diferente de competições anteriores, não fiquei analisando o balizamento, pensando nos adversários. Sabia que o Edson Silva do GNU havia feito o melhor tempo e que eu estava na raia 3 e só.
Quando chamaram para o balizamento, ouvi a torcida do Curitibano e do Pinheiros, na parte alta atrás da cabeceira da piscina gritando “Vai Maga!” – achei estranho mas pensei: “legal! A galera do Pinheiros está comigo!” – só depois, ao ler ao resultado, que soube que estava na prova o Hélio Magalhães, que conheci naquela competição e passamos a nos tratar por “primo”. Achei graça.
Laércio Silva do Clube do Remo na raia 2, eu na 3 com a turma do Pinheiros ali em cima, Edson Silva do GNU na 4 e Emanuel Nascimento na 5.
Voltando a prova, dei a Canon automática emprestada da minha irmã na mão do Christian e pedi: “registra tudo que é hoje!”.
E não deu outra: 53s73 – melhor marca pessoal e medalha de prata.
Christian ainda entrou na área da piscina para pegar o melhor ângulo da minha saída da água. Ao fundo, Berek Kriger, o árbitro geral.
Euforia e alívio! Depois de 8 anos de dedicação ao esporte por que me apaixonei, conquistei o objetivo de ganhar uma medalha no campeonato brasileiro. Os 14 centésimos que me separaram do ouro não chegaram a incomodar. Logo no primeiro dia de competição cheguei lá e tinha motivos de sobra para comemorar.
Na próxima 5ª feira, mais um post sobre minhas outras provas, e grandes performances que marcaram esse campeonato brasileiro. Até lá!
Forte abraço,
Fernando Magalhães
Obrigado MAga, bom jeito de iniciar a segunda feira… boa semana à todos!!!
Valeu LAM,
hoje a noite lerei para as meninas.
E que bom que está registrado para nossas próximas gerações.
Forte abraço.
Esse JD foi memorável, o Paineiras tinha uma equipe feminina grande + eu e o Rodigest. Foi nessa que algum técnico perguntou ao Pancho por que ele tinha tantas nadadoras boas e os homens eram tão pebas? O Pancho disse que não sabia, e direcionou a pergunta para nós (com sotaque argentino) “Eh, Renato e Rodrigo, por que vocês são tão pebas?”. Talvez aí tenha caído a minha ficha de que “não era impossível crescer”, sendo esse meu último brasileiro sem nenhum protagonismo.
Nadei essa prova do LAM (200 peito) e fiquei em 13, fiz um tempo razoável 2:35.68 mas não obtive a almejada final. Nos 400 meldey fiquei em último com 4:59 (mas ao menos fiquei contente de nadar abaixo dos 5:00 pela primeira vez em longa).
Tenho uma outra história bacana dessa competição, mas contarei na quinta feira.
Mais uma bela estratégia do Pancho, ao invés de ficar se justificando, direcionar a perguntar e atribuir responsabilidade ao PEBAS. Ótimo exemplo de liderança eficaz!
E cada um na sua… a quebra da barreira de 5:00 é um objetivo peba, mas um degrau importante na evolução individual de cada um.
Estou curioso para a história de 5a.
Boa Esmaga! Finalmente no pódium e finalmente falando de uma competição na qual eu estava. E que competição! Lembro das torcidas do Paraná, de SP e do Rio fazendo muita bagunça nas arquibancadas apertadas, dos dias longos para chegar na hora da final, dos banheiros com privadas sem porta do GNU (?!) e lembro de pegar uma medalhinha (ou foram umas?) inclusive… Vou procurar fotos … Grande abraço!
Sobre as torcidas, os melhores momentos eram da torcida do Golfinho, efusiva no gestual, mas absolutamente silenciosa para o mudinho e gente finíssima, Alessandro Grade.
Espero que ache as fotos e que poste por aqui. Abraços.
Boa Esmaga! Infelizmente dessa competição só tenho más recordações, inclusive já relatadas aqui. Legal ver a visão do Juvenil B. Essa era minha última chance de conseguir algo no Juvenil A e falhei miseravelmente. Bom saber pelo menos que pra você e LAM as coisas deram certo. Vamos ver o que rolou na quinta. Quanto as desclassificações pelo visto estavam rolando soltas. Eu fui desclassificado nos 400IM (primeira e única desclassificação na vida).
Lelo,
eu também só tive uma desclassificação na vida e quando eu contar por aqui, verás o quanto foi dolorosa. Lembro bem dos detalhes do seu relato do “desastre de Porto Alegre” – várias nuances numa mesma competição.
grande guri!!! sempre um banho de vida nos seus textos, como diz meu filho mais novo: “muito maneiro”!
Valeu Dadão!
Que bom que vc continua assíduo nas leituras.
Manda um beijo pro Juquinha.
Fala Maga, tudo bem?
Minha primeira competição importante como treinador. Levei o Marcelo Barbosa de Castro Zenkner, um atleta muito dedicado que havia sido campeão e recordista mineiro nas provas de 100m, 200m, 400m, 1500m nado livre e 400m Medley. Nos 200m Medley havia ficado em segundo lugar e, por ironia, foi a única prova que pegou final nesta competição.
Acabo de saber que ele não foi o único a ser desclassificado nos 400m Medley, fez companhia ao Lelo Menezes, rs (errou a virada do peito, batendo com uma das mãos apenas na borda. Não fosse isso ele pegaria final).
No 100m nado livre uma emoção especial pra ele: nadou a mesma série ao lado do Castor, seu ídolo na época
Na competição ficamos juntos da equipe do Curitibano e vc carinhosamente o apelidou de “Filho”. Nesta competição ele bateu o recorde mineiro novamente nas provas.
Não poderia ser diferente, a primeira competição a gente nunca esquece né, =)
Tudo voltando na cabeça graças a sua impressionante memória. Obrigado !!!!
Lembrei do “FILHO” – inclusive da entonação que eu usava para chamá-lo, pena que o wordpress ainda não disponibiliza a opção de eu gravar o áudio. Um toque daqui, outro de lá e vamos juntando as peças. Na 5a feira tem mais.
Veja vc, ele nunca se esqueceu disto. Vc virou uma referência aquática pra ele
Talvez a melhor competição da minha carreira.
Não dá pra concordar, mas que foi IMPRESSIONANTE, isso foi!
5a falaremos mais sobre isso.
Entao explico meus motivos na 5a. 🙂
Combinado, amigão!
Fernando Magalhães, muito legal esta lembrança que fizestes, recordando este Campeonato Brasileiro e com foto e tudo.
Bons momentos da natação que vivemos juntos.
Grande abraço e um prazer imenso em ler e ter participado.
OLHA O CAMPEÃO AÍ, GENTE!!!
Edson, que satisfação contar com sua leitura e seu comentário.
Você é um craque daqueles misteriosos que optam em deixar tudo para trás no auge.
Fiquei contente em saber que vc está de volta ao master.
Forte abraço e volte na 5a – vem mais foto por aí.
Bacana. Esta competição eu lembro bem. Ganhei a primeira medalha em brasileiros em provas individuais. E fui o primeiro dos pebas jah q perdi soh do Castor e do Jr. Tb tinha prometido p mim mesmo no início do ano q iria pro podio, o q quase n aconteceu jah q eu cheguei as 23 hs do dia anterior e me classifiquem em sexto. Como disse o LAM trouxe boas recordações no início da semana. Abs
55s26?
Faltou meu comentário sobre a sua participação. Simplesmente espetacular, coroando um trabalho de muitos anos de dedicação, demorou a sair e saiu, creio que dessa forma fica mais gostoso! Não éramos amigos na época, portanto ainda não dei os seus merecidos PARABÉNS!
Muito obrigado!
Trabalho duro e persistente, com grande significado.
Sem dúvida, uma conquista muito especial que guardo com orgulho e carinho.
Meu filho Fernando Cunha Magalhães… eu como mãe me senti orgulhosa ao ler as tuas memórias no Epichuros em relação ao Campeonato Brasileiro em 1986….ainda mais quando vi aquela foto de você “Lindão”saindo da piscina…já com físico de nadador e a Perfórmace de um atleta que estava conseguindo o seu primeiro pódio em um Capeonato Brasileiro.
Parabéns meu filho sempre te apoiamos e vibramos com as tuas conquistas…bjs. Ivani Cunha Magalhães
Obrigado mãe!
Já tinha os meus 1,85m e pesava 69kg. Vinte a menos que hoje.rsrs
O apoio de vocês é de toda a vida e no post de amanhã será mais uma vez reconhecido.
Muito obrigado por tudo.