EPICHURUS

Natação e cia.

UM ANO EM UM DIA: É (SOU) CAMPEÃO!

MAIS HISTÓRIAS E OS GRANDES RESULTADOS DO JULIO DE LAMARE DE 86

Porto Alegre assistiu a uma competição bastante forte, com vários destaques:

  • Miriam Arthur do Clube do Golfinho ganhando dos 200m aos 800m livre no Juvenil A;
  • Claudia Sprengel quebrando dois recordes nos 200m e 400m medley;
  • Rogério Romero em seu primeiro brasileiro pelo Clube do Golfinho venceu os 100m e os 200m costas;
  • Ricardo Benasayag vencendo os 100m e 200m peito Juvenil A;
  • Marcelo Grangeiro vencendo os 400m e os 1500m livres, em seu primeiro ano de categoria no Juvenil B;
  • Joyce Wabeski conquistando o bi-campeonato nos 200m peito Juvenil A;
  • Edu de Poli mantendo a hegemonia nas provas de borboleta Juvenil B entre vários outros.

No Curitibano, a Isabele ficou com a prata nos 100m livre, mas venceu os 50m com recorde do campeonato. Carlos Becker Neto conquistou a prata nos 400m e 1500m livre. Christiane Thá foi a final em todas as suas provas.

Mas os dois grandes nomes da competição foram:

O FENÔMENO LAVAGNINO

Em sua primeira participação em Julio de Lamare, ou seja, no ano em que completou 14 anos, Daniela quebrou dois recordes sulamericanos absolutos nos 100m e 200m borboleta. A menina da Gama Filho assombrou ao marcar 1m03s61 e 2m17s89. Marcas que duraram um bom tempo como recordes absolutos e mais de 20 anos como recordes brasileiros de categoria.

CASTOR, UM MONSTRO QUANDO MOLHADO

Cristiano Michelena ganhou todas as suas provas destruindo os recordes de campeonato. Acompanhe o quadro abaixo:

Prova Recordista Anterior Tempo Novo recorde de Castor Diferença em segundos Diferença em metros *
100m livre Gilberto Silva 54s86 53s70 1s16 2,2m
200m livre Emanuel Nascimento 1m59s39 1m55s41 3s98 6,9m
400m livre Marcelo Grangeiro 4m10s00 4m04s45 5s55 8,9m
1500m livre Marcelo Grangeiro 16m28s30 16m04s12 24s18 37,6m
100m borboleta Cristiano Michelena 59s39 57s95 1s44 2,5m

* Considerando a velocidade média desenvolvida por Michelena

DE VOLTA A MINHA PARTICIPAÇÃO

200m livre

Segundo dia de competições, estava relaxado, ainda recebendo muitos parabéns e antes de ir para a eliminatória, o Léo me chamou e sintonizou: “o 100m livre já passou, agora sem vacilo, vai lá, ganha tua série que a tarde podemos fazer outra grande prova!”. Fui, nadei firme, ganhei a série com 1m58s5, apenas dois décimos acima da minha melhor marca e classifiquei novamente com o terceiro melhor tempo.

A competição em Porto Alegre era bastante longa, havia muitas séries por prova. O Léo deu um voto de confiança para toda a equipe aproveitando que havia ônibus fazendo constantemente o trajeto entre o clube e os hotéis. “Podem ir para o hotel descansar depois das suas provas, venham para o clube na melhor hora para vocês, o mais importante é que vocês estejam nas melhores condições para fazer o melhor resultado”.

No descanso da tarde, dormi e perdi o horário. Acordei no susto e saímos correndo, sem comer a tradicional mistura de müsli com farinha láctea que gostava de degustar no lanche da tarde. Esperando o elevador ainda disse pro Christian: “vou tentar fazer 1m57s baixo para tentar mais uma medalhinha”, mas seguia com medo de não chegar a tempo para a prova.

Saímos correndo pela porta do hotel e o dirigente do Golfinho, Ernesto Pedroso estava entrando num táxi, viu meus olhos estalados e disse para as companhias: “deixem eles irem antes” – agradeci e pedi para o taxista disparar em direção a Rua Quintino Bocaiúva.

Entrei no GNU e ouvi no alto falante o pedido de piscina livre para o início da competição. Fui direto para a piscina coberta de 25m, soltei 600m, fiz dois tiros de 25m para ritmo de prova, soltei 50m e subi.

Quando caminhava ao lado da piscina fui vendo o Castor fechando os 200m livre quase 10m a frente do 2º colocado e fiquei chocado com aquele 1m55s41. Falei rapidamente com o Léo que já estava tenso e enquanto as meninas do juvenil B nadavam sua prova, desci para o banco de controle.

Optei e passar firme os primeiros 50m, pouco atrás do Edson Silva, novamente classificado em primeiro, passei com 27s6. Naquela competição usei uma ondulação após a virada, novidade que o Léo havia sugerido há pouco tempo. Tomei um susto ao respirar olhando para a raia 2, pois estava mais de uma braçada a frente do Edu, fato que não acontecia há 3 anos em um brasileiro de categoria, e continuava abrindo. A sensação foi como se eu não estivesse autorizado a estar ali. Se estava, estava passando muito forte e iria travar, afinal, aquela prova era dele, sempre era… controlei um pouco o ritmo. Após a virada dos 100m, estava mais de um corpo a frente do Edson, na raia 5, o Manu vinha em segundo, meio corpo atrás… VOU GANHAR! Pensei enquanto seguia aplicando minha sequencia de braçadas vigorosas. Após a virada dos 150m, Edu e Grangeiro já estavam bem atrás, segui nadando forte, perdi eficiência de nado nos últimos metros e as pernas travaram, senti o Manu se aproximando mas não havia mais tempo para recuperação, bati na frente… 1m55s89, CAMPEÃO BRASILEIRO!!!!!!!!

Ergui os dois braços e os esticava com alta frequência, meus amigos quase caindo escorados no guarda corpo, ouvi chamados da arquibancada, virei, vi gente aplaudindo, muitos sorrisos e vários punhos cerrados apontando para mim. Que alegria, campeão, ouro… nem acreditava, aquilo estava projetado, era um sonho para ser alcançado dali um ano, mas se concretizou um dia depois da prata amada.

Lembrei que nem havia entregue a máquina para o Christian, mas ele registrou eu puxando a fila e no topo do pódio.

200m livre - resultado

Diploma 200m livre

Quando voltei para a minha galera, uma grande festa. Léo eufórico, o Renato também, todos. Depois de ver os parciais e contar alguns detalhes da prova, o Léo me interrompeu e ordenou: “Renato, agora vai lá e detona esse recorde do Prado!”

400m medley

O Renato já era bi-campeão sulamericano. Seu melhor resultado era 4m36s. O recorde do Prado era 4m34s. Ele caiu na água, abriu quase 9 segundos do segundo colocado e riscou o nome do Pradinho da lista de recordistas com 4m32s90. Tempo que lhe rendeu o melhor índice técnico de toda a competição.

No segundo dia havia somente duas provas individuais, ou seja, o Clube Curitibano monopolizou as medalhas de ouro da categoria Juvenil B masculino.

4x200m livre

No meio da celebração, um grande vacilo. Não descemos para soltar e perdemos um pouco o foco, mais ainda, erramos feio a ordem de escalação. Colocamos o Gustavão para abrir e o Christian em segundo. Quando cai, já estávamos longe das três primeiras equipes, recuperei um pouco de terreno e o Renato também, mas fizemos tempos piores do que poderíamos ter feito. 4º lugar com 8m01s.

Festa entre os garotos do Juvenil A – Cabrine, Jacaré, Penteadão e Beckerman faturaram um metal atrás da super equipe do ECP.

Fim da competição, fui até o orelhão e já senti um nó na garganta. O pai e a mãe não puderam ir a Porto Alegre, às vésperas do Natal era impossível deixar a nossa loja, a Toque de Classe. Liguei a cobrar, a mãe atendeu e eu ouvia a agitação ao fundo. A voz quase não saía: “mãe, eu ganhei!” – festa na família Magalhães.

No jantar, só havia espaço para celebração. Lá pelas tantas vejo o Renato com as mãos para baixo do nível da mesa, sacudindo algo e me olhando com cara de sério, demorei uma fração de segundo para levar um banho de água com gás do jato que saía da garrafa. Comemoração no melhor estilo da Fórmula 1.

No hotel, foi difícil desligar. Contava e recontava detalhes. Quando resolvemos apagar a luz, pouco adiantou, tentávamos dar espaço ao silêncio, mas de 5 em 5 minutos o Christian acendia o abajur, olhava para a minha cara rindo e disparava: “não acredito que o cara ganhou os 200m livre!”.

Gazeta 200m livre

TERCEIRO DIA

De tanto sofrer e pouco render nos 400m livre, havia decidido junto com o Léo, deixar de lado essa prova. Escolhi os 200m medley e cedi a pressão dele, pela escalação nos 50m livre. A prova entraria no calendário olímpico na próxima edição dos Jogos e o LAM e eu a chamávamos de sub-prova.

Fiz um tempaço no 200m medley, 2m15s58, que era excelente para mim, mas fiquei em 10º, na reserva junto com Cristiano Azevedo. Nos 50m livre, 24s90 e a classificação em 5º lugar para a final.

Na tarde da final, chuva direto, o que dificultou bastante a competição com pouca área coberta. O Renato venceu os 200m medley, com os pinheirenses Polaco e Banana em 2º e 3º.

Nos 50m livre, fui bem aquecido, rasguei a piscina em meio ao temporal e marquei um surpreendente 24s56 – mais uma prata, em nova vitória do Edson Silva.

Para fechar o dia, 4x100m livre. Dessa vez, o Léo não nos deu brecha para opinarmos e escalou o Renato para abrir e eu para fechar. Caí em 5º, ultrapassei um e vim pegando o Eduardo Marocco do GNU até o final. Fechei com 53s0, fizemos 3m39s80 – novo recorde paranaense – a turma comemorou, mas o placar revelou que faltaram 4 centésimos para o bronze. Novo 4º lugar.

ÚLTIMO DIA

O Renato entrou no nosso quarto antes da última etapa e depois de nadar 2 vezes 200m costas, 2 vezes 200m peito, 2 vezes 400m medley, 2 vezes 200m livre nos 4x200m, 2 vezes 200m medley, 2 vezes 100m livre nos 4x100m livre e uma vez 100m costas na eliminatória 4x100m medley. Só faltava os 1500m livre (em que ficou com o bronze) e mais um 100m costas abrindo o revezamento. Exausto, caiu de bruços na primeira cama que viu pela frente e suplicou: “só não abusem de mim!”. Total de 4.300m de competição em 4 dias.

100m peito

Finalmente chegou o dia do LAM nadar sua segunda prova. Na eliminatória, bem posicionado na água dominou sua série, marcou 1m08s90 e classificou na raia 4 para a final. Fiquei com a sensação que ele também adiantaria um ano e tornou-se meu favorito para a final.

À tarde, abaixou com todos ao comando de “às suas marcas” – mas não reagiu ao sinal de partida. Grudou no bloco e só partiu décimos de segundo depois. Desestabilizado, tentou tirar a diferença rapidamente e passou em primeiro, mas comprometendo sua fisiologia e a volta da prova, foi ultrapassado pelo Vicente e Hermeto, e na batida de mão, perdeu o bronze por 3 centésimos para o Alexandre Silva, do Minas Tênis Clube. 1m09s16 e o quarto lugar.

100m borboleta

Totalmente no lucro, cheguei ao último dia com o objetivo de quebrar a barreira de 1 minuto e entrar na final da prova. Alcancei os dois. Roberto Fiuza Neto do Flamengo, que disputaria a prova com Edu de Poli, não nadou a eliminatória devido a um desconforto digestivo que lhe roubou o sossego durante a noite. Nadei a final na raia 1, passei forte e travei no final. Edu ganhou com folga, com Luiz Felipe Carchedi em segundo. Cheguei junto com vários atletas na sequência. Subi conversei e quando desci, fui acompanhando a menina que organizava a fila dos atletas para o pódio. Descobri que havia ganhado de 4 centésimos do 5º e 2 centésimos do 4º colocado. E lá fui eu para receber meu quarto metal.

4x100m medley

Renato, LAM, eu e Gustavão, mais um quarto lugar. Foram 3 quartos nos 3 revezamentos.

EFABULATIVO

Junto com a delegação do Esperia veio uma senhora entusiasmadíssima. A cada queda na água de alguém da equipe, ela começava: “já… já… já, já,já!!!” – e seguia durante a prova toda. Alguns entendiam “tchá…tchá…tchá, tchá, tchá!!!”. Mesmo a equipe não sendo muito numerosa, a situação passou de engraçada para irritante já no primeiro dia de competição.

Christian, sempre bem humorado, em certa hora nos chamou e disparou: “toddy…toddy…toddy, toddy, toddy!!! Café…café…café,café,café!!!” e os amigos juntos -“chá…chá…chá,chá,chá!!!”.

Outro, menos paciente, lá pelo terceiro dia, assim que ele começou mais ladainha disparou: “CALA A BOCA, PORRA!!!” – a prova seguiu mas instalou-se um silêncio constrangedor em todo o Parque Aquático e ela passou a ser mais comedida em sua torcida.

Bem amigos, foi grande prazer dividir essas valiosas memórias com vocês.

Espero que tenham gostado e conto com seus comentários.

Forte abraço,

Fernando Magalhães

Sobre Fernando Cunha Magalhães

Foi bi-campeão dos 50m livre no Troféu Brasil (87 e 89). Recordista brasileiro absoluto dos 100m livre e recordista sulamericano absoluto dos 4x100m livre. Competiu pelo Clube Curitibano (78 a 90) e pelo Pinheiros/SP (91 a 95). Defendeu o Brasil em duas Copas Latinas. Foi recordista sulamericano master. É conselheiro do Clube Curitibano.

31 comentários em “UM ANO EM UM DIA: É (SOU) CAMPEÃO!

  1. rcordani
    25 de junho de 2015

    Muito bom Esmaga, sensacional esses 200L, se não me engano você fez parciais quase idênticos, não foi? Pena essa do Faísca…

    Com relação à história que prometi, aí vai:

    “Eu só havia conseguido o índice de 200P (primeiro dia) e 400M (segundo dia), mas estava nadando bem o borbola, e deixei escapar para o Pancho no jantar do primeiro dia “que pena que não nadei os 200B”, no que o Pancho disse “podemos nadar isso aí no aquecimento do terceiro dia, já que você já terá encerrado a competição”. Na hora eu fechei, mas depois me arrependi.

    No terceiro dia meu plano era ficar quieto e não trazer mais o assunto à tona, mas o cidadão portenho lembrou muito bem da promessa e no aquecimento para as finais da terceira etapa me chamou e disse “bamos lá Renato, bamos que aquele tiro de 200B é agora, Êh?”. Eu não tive remédio e caí na água para aquecer para o tiro, que ia ser feito no finalzinho do aquecimento, na hora em que a piscina já ia esvaziando.

    Nadei na raia 8, o Pancho deu a saída e eu comecei o tiro de 200 borbola.

    Aí (depois ele me contou) o Pancho sentou na arquibancada e anunciou meio em voz alta (para os técnicos e atletas que estavam por ali) que ele tinha inventado um aquecimento novo, que agora os atletas dele aqueciam 200 borbola 100% antes de nadar a final. Os técnicos falaram “ah, conta outra, Pancho”, e o Pancho falou “olha ali, na raia 8, o meu atleta Renato Cordani está fazendo isso aí”, eu estava para virar os 50m. Os técnicos começaram a olhar, eu virei, depois chegou nos 100 virei de novo e continuei, o pessoal começou a achar que era verdade. Quando eu virei os 150m e continuei de borbola já tinha a maior galera de olho na minha raia, torcendo para mim e tals, eu completei o tiro, mas aí o Pancho explicou que era apenas um peba sem índice fazendo um tiro para encerrar a temporada.

    Eu fui bem, fiz 2:16, melhorei o meu tempo (que era 2:18 do ano anterior – veja aqui) e precisamente esse tiro fez com que eu começasse a temporada de 1987 da forma que começou, com os 200 borbola em foco, o início da saga dos 200 peito.”

    Bela sequência de posts, e com relação à sua carreira, sei que esse é apenas o início!

    • Fernando Cunha Magalhães
      25 de junho de 2015

      Cordani, meu caro.
      Pancho tinha uns insights bem fora da casinha que proporcionavam ótimas experiências.
      Vejo que apesar de ter “batido o arrependimento” o peso da palavra dita fez a diferença e você não arregou. O sentimento de realização foi bacana e o que você realizou abriu novas perspectivas.
      Sensacional essa!

  2. Carlos Eduardo Seda
    25 de junho de 2015

    Continua me impressionando com a riqueza de detalhes e precisão das suas palavras grande amigo!! Nesse campeonato, por conta de uma séria crise na Gama Filho (que levou um time reduzido de monstros como Dani Lavaligno. Marcio Santos, Marcelo Galvão…), não estive presente! Mas tantas memórias, tantas façanhas, tantos sonhos do caminho são certamente compartilhados todos os nadadores da nossa época até hoje no master!! Parabéns pela memória e pelo texto! Em outubro terei o prazer de lhe dar outro abraço!!!
    Você teria alguma lembrança, do Brasileiro de Inverno de 1984 no Clube Bandeirantes no Rio? Se for escrever sobre esse torneio, gostaria de lhe fornecer uma história dramático/hilaria sobre a final dos 100m peito!!!!!
    Grande abraço!!!!

    • Fernando Cunha Magalhães
      25 de junho de 2015

      Alô Seda,
      Será, mais uma vez, um grande prazer recebê-los em outubro.
      Obrigado pelos parabéns.
      Quanto aos Brasileiro de categoria de inverno, o Curitibano não costumava participar até 1986.
      O primeiro que fomos foi no Botafogo em julho 1987.
      Conta aí o que rolou do Clube Bandeirantes em 1984.
      Abraços.

      • Carlos Eduardo Seda
        25 de junho de 2015

        Amigão.. vou tentar ser o mais detalhista possível usando minha parca memória!! Depois se quiser publicar, fique a vontade pra usar sua licença poética!! Afinal o amago do “causo” dura pouco mais de 1min e 13seg!!!
        Primeiramente, gostaria de me corrigir!! Foi na verdade em 1983!! O Brasileiro de 1984 foi em Juiz de Fora na piscina do Sport Club Juiz de Fora! Então vejamos….
        Era um dia frio do inverno de 1983. Temperatura em torno de 21o C! Polar para padrões cariocas e a piscina do já extinto Clube Bandeirantes em Jacarepaguá não tinha aquecimento!
        Eu só tinha experiência de um torneio nacional em São Paulo (Ibirapuera) 1982 onde fui vice campeão infantil 100 peito! Porém, vinha eu de um início promissor para a temporada com um recentemente estabelecido recorde estadual dos 200m peito (2’42″90), o que me deixava, apesar das condições climáticas adversas, empolgado e animado para o desafio de nadar meu segundo evento nacional! Dessa vez no 100m peito!! Estava balizado na raia 4 da antepenúltima série das eliminatórias daquela manhã pois, tinha Roberto Veirano e Paulo Costa (ambos nadadores do Flamengo) com tempos mais baixos na temporada! Meu técnico na época, Ruy “Fela da Pata” Essucy, insistiu que eu tinha condições (e não aceitaria nada diferente) de nadar 110% de manhã e 150% a noite!!! Coisas do velho mestre!! Fui pra cima e fechei as eliminatórias com o melhor tempo quase 01 segundo a frente do Paulinho!! Descanso, alimentação, até a famosa sunga de papel da Ranc… Tudo em seu lugar!! Nada podia dar errado!!
        Era chegada a hora!!! Tinha ao lado direito Paulo Costa e do esquerdo Roberto Veirano!! Óculos, touca, raspado pela primeira vez…. Pronto!! E claro, a famosa sunga de papel da Ranc!! Na preleção, o velho Ruy me disse que se caprichasse mais nas filipinas na saída e na virada poderia ganhar quase 01 segundo e terminou a preleção com o carinho de sempre “Fela da Pata”!! Fui para o banco de controle focado… “filipina, saída e virada”!! Alinhamos nos blocos! “Sr. árbitro geral, prova em suas mãos!!” Ao tiro de largada, tudo perfeito, nada podia dar errado!!! Partimos pra vitória… eu e minha sunga de papel da Ranc!!! Ah!!! A sunga de papel!!! Funcionava que era uma maravilha…. Quando amarrada!!! Pois é…. havia esquecido de amarrar a sunga!!!! No primeiro mergulho ela desceu ao meio da coxa!! Bateu o desespero!! E agora??? Vinha na minha cabeça a voz do velho coach: “Quero 150% e melhore as filipinas!!” Habilmente após a filipina, puxei (óbvio que parcialmente) pra cima!! A sunga de papel havia se tornado um mini para-quedas!! Mas ainda assim, enquanto nadava abrindo as pernas pra pernada de peito, ela não ia abaixo do início da coxa!! Na virada (não ria! é verdade!!) após a filipina adivinhe…. saiu até o meio da coxa e novamente numa manobra ágil, puxei-a pra cima após a filipina!! Nisso, Paulinho vinha babando e eu comecei a ver seus ombros (péssimo sinal pra nadador de peito!)!! O mini para-quedas me incomodava e eu tinha vontade de parar pra amarrar! Forcei tudo o que podia…. mas no final não deu!! Paulo Costa sagrou-se campeão, eu vice!! Mas o pior foi ouvir o velho mestre peguntar….. “Fela da Pata!!!! Que porra de filipina foi aquela????”

        Taí meu amigo, minha pequena contribuição!!!

        Grande abraço.

      • Fernando Cunha Magalhães
        25 de junho de 2015

        Seda,
        prata tendo que puxar a sunga e de pára-quedas foi sensacional!
        Eu também tive uma experiência dessas num 50m livre, mas era mirim.
        A sunga vermelha que usei em Porto Alegre também era de papel da Ranc – está ali no meu armário, dentre as poucas coisas que guardei da época.
        Gostei do “Fela da pata” – rsrs – nunca tinha ouvido mas deu para entender de cara.
        Abraços doutor!

    • Cristiano Michelena
      25 de junho de 2015

      Brasileiro de Inverno 1984. Estava La.

      • Carlos Eduardo Seda
        25 de junho de 2015

        Grande Michelena!!! Você lembra se seu irmão estava nessa final dos 100 peito?

      • Cristiano Michelena
        26 de junho de 2015

        Lembro sim. Foi uma viagem muito bacana. Ficamos hospedados no meu tio. O time era apenas 4. Dado Borell, Ze Parreira, Felipe e Eu.

  3. Flávio Mildemberg
    25 de junho de 2015

    Recordar é viver, belas histórias…parabéns pelos “metais”!!

    Christian sempre soltando seus comentários espetaculares no momento exato! rss

    • Fernando Cunha Magalhães
      25 de junho de 2015

      Valeu Flávio!
      Foi muito legal ir no domingo até a casa dos meus pais, encontrar o antigo quadro de medalhas, retirar os alfinetes enferrujados, polir os metais, levar para casa e contar com a ajuda da minha filha na iluminação para fazer o registro da foto.
      Nessa semana estão expostas com muito carinho.
      Grande significado naqueles metais.
      E quanto ao Christian, você falou e disse.
      Abraço.

  4. Celeste Moro
    25 de junho de 2015

    Maga! É impressionante como você se lembra de todos os detalhes! Mas devo confessar que da senhora do “chá, chá, chá….. ” sempre me lembro quando vou ao GNU ver as minhas meninas nadarem!

    Ótimas lembranças e muita saudades… Obrigado!

    • Fernando Cunha Magalhães
      25 de junho de 2015

      Celeste, querida!
      Muito legal ler seu comentário.
      Interessante que quase que o texto vai ao ar sem a velhinha.
      Mandei no domingo uma mensagem para o Renato para tirar uma dúvida sobre os 1500m que ele nadou e ao responder ele lembrou dessa figuraça que marcou aquela competição.
      Um beijo.

  5. Luiz Carlos Pessoa Nery
    25 de junho de 2015

    Parabéns Maga, emocionante relembrar esta competição

    Abs

    • Fernando Cunha Magalhães
      25 de junho de 2015

      Valeu Luiz Carlos!
      Você tem contato com o “FILHO”?
      Se sim, diz para ele passar por aqui e deixar uma mensagem.
      Abraço.

  6. Cristiano Michelena
    25 de junho de 2015

    Grande Maga. Sensacional. Literalmente revivendo o momento ao ler tudo isso.

    No seu ultimo post comentei que esta teria sido talvez a minha melhor competição da vida. Adorei a tabelinha por falar nisso! Ela resume de uma forma meu ponto. Surgi como bom nadador alguns anos antes, em 1984 quando ganhei todas as provas infantil B em Vitória-ES. Mas os tempos que fiz nesta competição com 15 anos me colocavam entre os melhores do mundo na época. Sem contar que estava alinhado com os vencedores do Juvenil B. Isso foi bastante surreal.
    Agora, o principal motivo foi realmente o resultado dos 200 livre. Infelizmente não tenho como dar tanta riqueza de detalhes como meu amigo Smaga, mas alguns detalhes são claros como água toda vez que relembro esta prova. Na verdade, ainda hoje, agora mesmo pra ser sincero, meu corpo arrepia involuntariamente a cada vez que este filme se passa na minha cabeça.
    Lembro que estava me sentindo muito bem – obviamente – mas não tinha certeza do que poderia fazer. Sabia que tinha que focar na minha prova e mandar ver. Lembro de passar relativamente relaxado e estar lembrando de manter a posição até os 150m. Após a virada, lancei os 6 tempos. A cada respirada escutava o ruído da torcida mais alto. Este “roar” se intercalava com o som único da cabeça mergulhando, e então imersa na água. Chegando os últimos 25 metros eu estava aguardando um peso maior nos braços… nada. Me senti melhor e intensifiquei a posição e mantendo a pernada e o tal “roar” da respirada crescia de forma peculiar e revigorante.
    Bati na borda e fiquei em pé na rasa piscina do GNU. Após mais um longo “roar”, um breve silêncio e começaram os aplausos. Os aplausos se intensificaram com um ruído peculiar das pessoas se levantando nas arquibancadas. Não sei quanto tempo duraram os aplausos, mas pareceram extremamente longos. Um misto de satisfação, felicidade de ter ido além do esperado. Interessante quando algo vai além do normal e tange o impressionante. Fiquei timidamente agradecendo esta longa salva de palmas completamente arrepiado por saber que aquilo havia sido grandioso. Pra falar a verdade, ainda escuto os aplausos!

    By the way… Eu lembro do já já. Já….!!!

    Grande Abraco, Sensacional os detalhes….
    Castor

    • Fernando Cunha Magalhães
      25 de junho de 2015

      Castorzinho,
      “…ainda escuto os aplausos!” foi incrível e transmite intensamente o significado do que aconteceu.
      Eu me arrepiei ao ler seu comentário e agradeço demais por você deixar fluir tanta emoção em suas letras.
      Sabia que você iria gostar da tabelinha. Ela traz números impressionantes na distância que você abriria dos recordistas, ninguém na história chegaria a menos de 2m atrás de você. E isso que 2 anos antes os recordes eram 55s85, 1m59s65, 4m12s54 e 59s56. E três anos antes 55s85, 1m59s65, 4m15s e 1m00s13. Não é a toa que você estava entre os melhores do mundo. Impressionante! Impressionante! Impressionante!
      Agora vamos a 1987!
      Abraços

  7. Lelo Menezes
    25 de junho de 2015

    Sensacional esse post. Conseguiu ser melhor que o de segunda. Sacada animal a tabela das provas do Castor. Como essa competição pra mim foi terrível, eu nunca parei pra lembrar da performance de quem foi bem. No entanto me lembro muito do Benasayag e do Castor. Eu queria muito a prata dos 1500m. Sonhei muito com ela e o fato da virose ter me impedido de nadar o último dia (pelo visto atacou o Fiuza também) matou o sonho ali, mas pra mim (a coisa mais óbvia do mundo) o ouro era impossível pois já era do Castor. A prata era quase, mas dava pra sonhar.

    Legal ver a Celeste comentando aqui. No meu 1o sulamericano Juvenil em 1989, tenho uma foto com toda a equipe e no último dia pedimos a assinatura de todos os nadadores no verso da foto. Depois que voltei ao Brasil percebi que a Celeste foi a única que não assinou. Nas próximas competições eu sempre esquecia de levar a foto e pedir pra ela assinar, até que ela parou. Acho que parou cedo e a foto ficou sem a assinatura dela. kkkkk

    Quanto ao Faísca, uma pena! Até hoje ele se atrasa pra tudo, só não lembrava que atrasava na saída da prova também. Sabe dizer se ele tivesse repetido o tempo das eliminatórias ele teria pego medalha? Podemos considerar o LAM um ULTRA PEBA por nunca ter tido ouro individual em JD, JF e TB???

    abs

    • Fernando Cunha Magalhães
      25 de junho de 2015

      Celeste é uma figuraça. As filhas estudam na mesma escola da minha pequena. De vez em quando encontro na padaria.
      Ela foi até 1990. Depois do 4x100m medley no Finkel do Santos em que a comunidade aquática vinha de uma forte percepção de favorecimento do Flamengo nos grandes torneios, ela foi junto com a Pati Koglin meter a boca no Ruben Márcio – o árbitro geral – foram suspensas e pararam por ali.

      Lembro bem do seu relato em “O desastre de Porto Alegre”, e é sim mesmo, caiu na mesma vala do Fiuza. Só que ele fez a tomada “extra” e confirmou a vaga para o sulamericano.

      Quanto ao Faísca, sim, o tempo da manhã daria o bronze.
      Agora, ULTRA PEBA pela falta de um ouro disputado como esses, acho que é muito pesado.

      Abraços

      • Luiz Alfredo Mäder
        26 de junho de 2015

        pela manhã fiz 1’08″90, à tarde Vicente e Hermeto fizeram 1’08″71 e 1’08″72… dava sim

  8. Christian Carvalho
    25 de junho de 2015

    Eu tive a sorte de partilhar estes momentos, foram sem dúvidas de quebra de paradigmas e a abertura do mundo cheio de oportunidades e realizações! É maravilhosa a narrativa cheia de detalhes! Parabéns Magalhães , você provou naquela época que tudo é possível , ou mais do que isso que os sonhos valem a pena serem buscados.

    • rcordani
      10 de julho de 2015

      Christian, seu comentário tinha parado no SPAM, acabo de resgatá-lo, bom te ver por aqui, desculpa o delay, abração.

    • Fernando Cunha Magalhães
      12 de julho de 2015

      Que bom que você gostou, Christian!
      As lembranças são escritas com muito carinho por tão ricas experiências vividas juntos.
      Forte abraço.

  9. Rodrigo M. Munhoz
    25 de junho de 2015

    O que mais dizer? Post sensacional, com emoção, conquista, surpresa, dor e até faísca.
    Parabéns Esmagalhães! Agora você chegou lá de verdade. Grande abraço!

    • Fernando Cunha Magalhães
      25 de junho de 2015

      Sem dúvida, Munhoz, um amplo apanhado de emoções.
      Essa do Faísca foi muito dura para os amigos. Imagine para ele.
      Obrigado por vir acompanhando minha história e pelos parabéns.
      E já que você estava lá, por que não nos conta um pouco sobre sua participação?

      • Luiz Alfredo Mäder
        26 de junho de 2015

        naquele mesmo dia fiz um parcial muito bom no 4×100 medley, que me guiou nos treinos dos anos seguintes, mas aquela saída pode ter custado mais que este título de ULTRA PEBA 😉

      • Fernando Cunha Magalhães
        26 de junho de 2015

        Um título, um sulamericano, um patrocínio… vontade de voltar lá e dar a chance de sair no tiro de partida.

  10. Celio Brandão Filho
    26 de junho de 2015

    Emocionante mesmo! E do jeito que conheço você e o Renato, não pude segurar as gargalhadas, imaginando as cenas, tanto do banho de água mineral (merecido) quanto do Renato desmontando na cama do hotel.
    Parabéns por mais este belo post.

    • Fernando Cunha Magalhães
      26 de junho de 2015

      Valeu Célio!
      Fico muito contente em saber.
      Obrigado pelos parabéns.
      Quando puder, venha nos fazer uma visita: estacionamento novo, raias novas e o mesmo clima que você sempre gostou.
      Abração.

  11. Cristiano Viotti Azevedo
    29 de junho de 2015

    Valeu, Smaga, não só de memória vive o homem. Seu humor refinado e cuidado com os bons e velhos amigos são muito valiosos também. Se fomos reservas juntos no 200MD confesso que não lembro, me desculpe, mas certamente valeu mais a companhia do que o resultado. Saudades do amigo.

    • Fernando Cunha Magalhães
      12 de julho de 2015

      Grande Cristiano!
      Belas palavras. A gente ainda vai se encontrar por aí!
      Forte abraço.

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