Pelo 3º ano consecutivo, o brasileiro absoluto de inverno foi disputado na piscina do Esporte Clube Pinheiros em São Paulo
E mais uma vez, a equipe do Clube Curitibano aproveitava toda a facilidade do alojamento no clube, almoço e jantar no Shopping Iguatemi. Apenas três semanas haviam se passado do retorno da Florida, em que participei do Sundown Swim to Seoul e da semana de treinamentos com Mark Schubert. Novo polimento, nova raspagem e nova esperança – a luta pela vaga olímpica no 4x200m livre.
UNN EM AÇÃO
Antes de falar sobre as provas, preciso relatar uma passagem muito bacana da nossa geração. O Cicero Torteli era o presidente da UNN – União Nacional dos Nadadores – e vinha falando desde a viagem aos EUA da negociação com a CBDA para que o Troféu José Finkel passasse a ser disputado em piscina curta, diminuindo de quatro para três dias o programa e dando uma enxugada na quantidade das provas. Falava com entusiasmo do paralelo que as disputas em jardas causavam em termos de calor da torcida e performances nas competições universitárias norte-americanas. Chegou ao Finkel com o aval do presidente da CBDA – Coaracy Nunes, data fechada para disputada no Clube Internacional de Regatas no ano seguinte em Santos e ao final das eliminatórias do segundo dia de competição, os atletas se reuniram na arquibancada, Cicero puxou o quadro branco em que o Alberto Klar escrevia os treinos da equipe do Pinheiros, e ali, sem nenhum técnico ou dirigente junto, montamos os programa de provas do Finkel do ano seguinte. Foi muito legal.
MALBURGUINHO PRATEADO
Na equipe do Curitibano tivemos um presente dos Deuses da natação que não soubemos interpretar na época. Explico: no último ano da faculdade de administração, Felipe Malburg não conseguia mais estar na piscina no mesmo horário em que a equipe treinava, chegava quando já estávamos terminando o segundo treino do dia – aquecimento rápido, série de barras, flexões e piscina – no máximo 4 km – com adaptações que ele, o mais crítico dentre o grupo de amigos, fazia por conta própria diante do quadro-negro, sem técnico na borda, mas com uma imensa vontade de acertar e aproveitar aquele tempo da melhor maneira possível.
Nem ele acreditava o efeito que o semestre naquele ritmo, com treino de potência e sem overtrainning, depois de tantos anos de base poderia ocasionar, tanto que, recusou a inscrição nos 200m peito e medley. Agora, nos 100m peito, amigos, ele passou controlado e bem atrás, com 32s0, voltou crescendo até o final, ultrapassando um por um, quase chegando no Cicero – volta 34s80. O tempo 1m06s80 – recorde paranaense e medalha de prata.
Bateu no Felipe um arrependimento de não estar inscrito nas outras provas, mas não tinha mais o que fazer. E nem eu, velocista puro, nem o Léo, nosso técnico, entendemos a mensagem: segui treinando com a turma de fundo.
RAMALHO DOURADO E RECORDISTA
Com índice e convocação garantida para a Olimpíada, Renato Ramalho venceu tranquilamente as provas de medley e quebrou o recorde da competição nos 400m com 4m33s30.
100m LIVRE
Lembro que cheguei ao Finkel bem mais confiante do que nas competições anteriores. Para os 100m livre, já no primeiro dia, estava certo que quebraria a barreira dos 53s e queria vencer a prova. Classifiquei em terceiro. Na final, passei junto com o Manu, e mais uma vez, senti no final. Luis Osório e Souza JR cresceram e cheguei em 4º.
53s06 foi minha melhor marca pessoal, superando em 1 centésimo o tempo da abertura do revezamento no Julio de Lamare do ano anterior. JR marcou 53s02 – pela 3ª vez consecutiva perdi dele por poucos centésimos. Fiquei muito frustrado.
Notem que seleção do 5o ao 8o – Marcus Mattioli, Cristiano Michelena, Marcelo Grangeiro e Jorge Fernandes.
200m LIVRE
Segundo dia, mente recuperada. Vinha crescendo nas últimas participações nesta prova, precisava baixar em 1,6s o 1m55s78 que fiz nos EUA e chegar a frente dos adversários para conquistar a vaga para o revezamento olímpico. Eliminatória tranquila, 4º tempo na manhã. À tarde fui muito macho, Castor à esquerda, nadei junto os primeiros 100m, atacamos a prova até os 150m e viramos bem à frente dos adversários, ele manteve o ritmo e eu sofri um colapso fisiológico, o ácido lático tomou conta do meu corpo, a dor aumentava a cada instante, os braços esticaram, as braçadas encurtaram, perdi eficiência de nado, seguia na força e na raça, mas aquela borda não chegava nunca. A turma veio se aproximando e não deu para segurar o Grangeiro e Luis Osório, fiquei em 4º de novo – 1m56s04.
Miguel Cagnoni me entrega o diploma de 4o lugar e encobre o 7o colocado que não lembro quem era. Em 8o, Paulo Fernando Almeida.
50m LIVRE
No mesmo dia dos 200m livre, ainda tinha os 50m livre e os 4x200m. Aqui um esclarecimento: eu não lembro nada dos revezamentos dessa competição. Não anotei os resultados no Diário do Nadador, não tenho os resultados em nenhuma publicação, não tenho medalha, ou seja, não poderei contar sobre eles.
Voltando aos 50m livre: uma novidade, nadei muito bem a eliminatória, marquei 24s05 e classifiquei na raia 4. Era raríssimo eu nadar próximo a minha melhor performance pela manhã.
À tarde, venci com minha melhor marca pessoal – 23s86 – quebrei o recorde paranaense absoluto, fiquei a 3 centésimos do recorde de campeonato de Marcos Goldenstein, seguido de Souza JR – 24s12 – e Vladimir Ribeiro – 24s15.
Ouro para o Curitibano! De 4o a 8o – José Geraldo Moreira, Paulo Jinkings, Jeferson Mascarenhas, Emanuel Nascimento e Laercio Silva.
Aos 18 anos, eu completava a TRÍPLICE COROA com medalhas de ouro em provas individuais nas três competições mais importantes do calendário aquático nacional: TROFÉU BRASIL, TROFÉU JOSÉ FINKEL e TROFÉU JULIO DE LAMARE.
A alegria, entretanto, não era total. Esvaia-se ali, a penúltima chance de conquistar uma vaga na seleção olímpica. A última chance começava em 4 dias, em Salvador na Bahia. Na 5ª feira eu conto para vocês como foi.
Forte abraço,
Fernando Magalhães
Boa Esmaga. Não nadei esse Finkel, estava contundido.
Parabéns pela tríplice coroa!
O que me chamou a atenção foi a parada das anotações que você fazia com zelo até a competição anterior. Isso me lembrou que nos treinos da Tragédia do Ibirapuera eu anotei todos os treinos minuciosamente até uns 20 dias da competição, daí parei e não retomei nunca mais. Seria o estresse acumulado se manifestando?
Obrigado amigo!
Talvez a constatação de que para se repensar tudo o que foi feito, projetar ajustes e o que vinha pela frente não era necessário investir tanto em anotações tão criteriosas. Penso que seja isso.
Já que segui acumulando coisas que pudessem me lembrar das experiências vividas posteriormente.
Boa Esmaga, a Tríplice Coroa é para pouquíssimos. Parabéns!
Quanto ao post, só acho que não era o Grangeiro ali na prova de 100 Livre. Ele sempre ia ao pódio com o uniforme da Kibon e não nadava 100 geralmente, só dos 200 pra cima. Não tenho certeza no entanto.
Eu nadei esse Finkel onde, se não me falha a memória, consegui final nos 200m Peito. Não lembro que lugar cheguei, mas acho que foi esse que o Cicero deu uma “bronca” por eu ter nadado abaixo de 2’33 pela manhã… kkkkk
Eu ainda era muito novo pra sonhar com a vaga olímpica, mas nessa época eu tinha 100% de convicção que em 1992 eu estaria lá, não apenas com a vaga que na época eu julgava algo banal, mas sim lutando por medalhas. Santa inocência!
Podicrê, nessa época a minha convicção de ir para Barcelona também era altíssima!
Como eu já tinha dado uma boa “estacionada” e amargado 1,5 anos com uma imensa dificuldade de repetir meu tempo de 200m livre, entendia que era possível, mas não tinha tal convicção.
Lelo,
dei um zoom aqui na foto que está em minha máquina e posso assegurar que é o Granja. Como não tinha medalha na jogada, acredito que colocou a pólo do Paulistano. Mesma calça e tênis Nike do pódio do 200m.
Eu já tinha nadado a final dos 100m livre com ele no JD anterior.
Lembro que a máfia do peito tinha essa mania de inferir no ritmo do outro na eliminatória. Coisa da mente de peitistas, rsrsrs.
Baita fé no taco sua percepção em relação a Barcelona… santa inocência!
Como passei o ano de 1988 inteiro contundido e só pude treinar direito em 1989, só percebi a minha estagnação em 31/01/1990. De uma vez!
Com atraso: Boa Esmaga! Pela primeira vez vejo que tem uma parte da competição (revezas) que você não lembra. Você é humano 🙂
Veja do meu ângulo: eu não lembro de nada desta! Será que fui?
Parabéns pela triplice coroa – eu fiquei nas pratas! Abraços!
Legal Munhoz!
Houve um post em que contei histórias do JD83 que chamei de “Atento, Curioso e Fascinado” – a medida que os anos foram passando, a intensidade dos sentidos ficou menos aguçada, acredito que doravante os nível de detalhes será menos rico em minhas histórias.
Não sei se você foi.
Obrigado pelo parabéns, abraço!
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