Admito que as vezes tenho dificuldades em me lembrar que não sou mais criança e sim um cara de meia idade. Isso vale para meus amigos também. Apenas não havia notado o quanto isso havia se tornado perigoso até recentemente, quando descobri a razão pela qual, um grande amigo agora foge dos treinos comigo… Acontece que fiquei sabendo de seu susto com uma certa taquicardia logo após da última vez que nadamos. Foi um treino leve, de pouco mais de 1000m, mas ainda lembro de uns tirinhos de 50m no final, temperados por aquela competitividade varonil. Deveria ter raciocinado que o combo de meia idade, treinos bissextos e competitividade poderia significar uma receita para desastre. Quando soube do ocorrido (acho que meses e várias recusas de treino depois), fiquei meio passado, já que não queria causar problemas e honestamente, nem pensei que pudesse.
Esse mesmo amigo há muitos anos me presenteou com um desenho feito por ele há muitos anos, cheio de significados e do qual gosto muito. Na imagem, uma piscina do Ibirapuera, gigantesca e monstruosa, que se prepara para atacar o minúsculo nadador solitário na baliza 4. Uma mistura de concreto, água, raias e ladrilhos aterrorizando um atleta super preparado, diante de arquibancadas totalmente vazias. Nenhuma testemunha. Toda aquela dedicação aos treinos se transformasse em vitórias e resultados expressivos. Mais uma vez.
Esse desenho me faz lembrar de que quando crianças nossos temores eram outros e pareciam gigantes. Eu mesmo tinha medo de algumas piscinas, mas também de prova de matemática e das chamadas orais do Professor Gino Crës, medo de fígado acebolado no almoço e de sashimi na casa dos Kawagutti. Tinha até medo do polimento não dar certo e de nadar os 400 Medley, como já disse aqui… e esse último medo eu talvez ainda tenha. Enfim, como crianças e adolescentes sofríamos com medos que hoje me parecem tolos, mas que com certeza – no que tange a natação e as piscinas – deixaram fora dos pódios muitos jovens talentos.
Hoje os medos são obviamente mais profundos. Medos de perder saúde, dinheiro, trabalho… medo pelos filhos, pela mulher, pelos pais. Medo pelos amigos (mesmo pelos que não tem medos). Será que isso é algum tipo de síndrome ou é só a idade mesmo? De qualquer forma, acho que ninguém precisa de um susto causado por um amigo meio inconsequente para aumentar a sua lista de temores. Por isso ficam aqui minhas desculpas. Acreditem, aprendi a lição e o episódio me fez pensar bastante sobre minha própria condição e vulnerabilidade.
Ainda que não tenhamos o poder de recuperação das crianças, felizmente está tudo bem: Nosso amigo está 100%, dando boas caminhadas 2-3 vezes por semana e fazendo pilates no sábado. Por enquanto, nenhum sinal dele em treinos de natação, mas eu não perco a esperança. Sempre cabe mais um PEBA no piscina.
Esse desenho está espetacular!
Agora, quanto a “medos mais profundos”, não sei se concordo. O medo ali na baliza era phooooooooda.
Verdade. Usei a expressão errada, já que provavelmente os medos mais profundos são justamente esses de quando crianças. Eu curto muito esse desenho também! Abraço!
indicio claro de depressao. procure ajuda profissional.
Obrigado pelo comentário, anonimo. Sua firmeza indica que fala com conhecimento de causa. Sempre faço isso e espero que o faça também! Abraços!
Muito boa qualidade de todos os posts….como eterno PEBA (nunca cheguei às finais dos brasileiros – PEBA de verdade), choro de rir com tudo que leio. Fui da época de 10 anos após vocês (época Carlos Jayme, Nicholas Santos), e até hoje estou tomando coragem para nadar o Aberto Master em Ribeirão Preto (tenho família lá). O projeto era pra 2014, mas pelo andar dos treinamentos vai ficar pra 2015 minha retomada…
Parabéns pelos 2 anos e que venham muitos
Caro Markus,
Não precisa de coragem para nadar Ribeirão, não! Apenas um fim de semana livre e alguma paciencia… Se inscreva numa prova na qual vc nem se lembre de seus tempos (pra não ter responsa alguma) e tente fazer uns treininhos nos prõximos meses. Nada exagerado… pega leve (vide post de hoje). Chegando lá em RP, vá ao Pinguim. No dia, faça o aquecimento e fica de boa, conversando com a galera. Mesmo que voce der um WO na prova, tenha certeza que vai ter valido a pena. Se der pra nadar e chegar inteiro, estará num lucro absurdo! Abraços e obrigado pela audiencia!
Boa Munhoz! Esse desenho é famoso e até pouco tempo estava pendurado no escritório do “artista”. E pra mim ele define perfeitamente o sentimento de vários nadadores no bloco antes da prova.
Pois é, Lelo…muitos nadadores sofriam!. E mais: Acho que qualquer um já se sentiu similarmente “apequenado” em alguma situação competitiva na vida… Se apenas soubéssemos disso quando jovens… Hoje o desenho está pendurado lá em casa, mas tem que ficar meio afastado dos olhos das crianças, que se assustam facilmente 🙂
Só ressaltando que o nervosismo no bloco era praticamente unanimidade pra todo mundo. Nervosismo hoje difícil de ser replicado no mundo corporativo como o R. já citou algumas vezes. Agora, a “Piscina Monstro” afetava o resultado de alguns atletas de forma muito prejudicial. Não era incomum ver atletas piorando muito nas finais por causa da pressão, ou então aqueles casos extremos onde o atleta fazia tempos nos treinos melhores do que na competição. Para esses dois casos, um acompanhamento psicológico, tão raro na nossa geração, seria imprescindível.
“vários nadadores sofriam…”
É impressão minha ou os srs estão se colocando dentre os que não sofriam?
Ahã…
Eu já falei que sofria. Não era sempre, mas tinha meus monstros a enfrentar…
Como eu disse no comentário anterior. Com nervosismo todos sofriam. Medo?!?! Aí eu acho que não!
Eu sofria muito na baliza. E antes da prova. E na noite anterior. Acho que isso fez com que os outros medos da vida fossem pequenos na comparação! Por exemplo: medo de prova na escola, nunca tive. Nem de vestibular. Nem de entrevista de emprego. Esse gato escaldado só tem medo de água fria!
Maravilhoso o desenho!
Oi Marina! E no caso dos anos 80 , a água era literalemente fria! Acho que na baliza eu já não sofria. O problema era antes. A antecipação da prova era algo que eu não conseguia apreciar. Mas a experiencia vivida nas piscinas aparentemente nos deu uma couraça boa pro resto da vida… ou será que já éramos assim mesmo e a natação só nos mostrou as evidencias? Material para outro post… Um beijo!
Belo post, Munhoz! Dou aqui meu testemunho. Aos 71 (pra natação máster 72), ainda sofro, mesmo competindo a cada 40/45 dias em média.E, assim como a Marina, na véspera, no dia da prova e nos seguinte com as dores advindas. Quem disser que não fica nervoso em dia de prova, mente.
Caro Orselli, atualmente (nadando Master) já não me preocupo tanto… Mas creio que não encaro com a seriedade ou disciplina semelhantes a sua. Interessante notar que parte da graça de competir se perde também com o fim do sofrimento… Irônico ou não ? Grande abraço!
Bacana o texto, parabens camarada. Meus medos hj sao parecidos c estes expostos ai. E qdo nadei algumas poucas competicoes de master, meu unico medo era pregar antes do final mesmo em provas de 50. E o pior eh q morri algumas vezes. Na epoca de garoto meu nervosismo vinha somente pouco antes da prova e o mais dificil era nao me empolgar nas passagens, coisa q acontecia frequentemente jah q sempre fui veloz. gr ab
Oi Vreco,
Acho que os medos do homem contemporâneo estão meio padronizados, pro bem ou pro mal… Stress é o grande inimigo que nós mesmos geramos. Quanto a pregar antes do final em provas de Master, comigo isso ainda acontece SEMPRE… raramente não me empolgo na passagem… o resultado é sempre o famigerado piano com Pavarotti, que apesar de imaginário, parece bem real naqueles últimos 10m dos 200 mdeley, por exemplo.
Abraços!
já tinha ouvido falar deste desenho, mas nunca tinha visto, é realmente genial…
transmita meus parabéns ao artista 😉