Com apenas 17 anos… José Sylvio Fiolo bateu o recorde mundial dos 100 Peito.
Com apenas 17 anos… Djan Madruga fez seu melhor tempo de 1500 Livre, 15:19, quarto olímpico, e esse tempo só foi superado por um brasileiro quase 20 anos depois (Luiz Lima, então com 17 anos).
Com apenas 17 anos… Ricardo Prado subiu na raia 4 da final do mundial de longa e obteve a medalha de ouro com recorde mundial.
Com apenas 17 anos… (na verdade 16 e meio) Cristiano Michelena meteu inacreditáveis (para a época) 3:55 e ganhou a prata panamericana nos 400 livre. (veja aqui)
Com apenas 17 anos… Joanna Maranhão obteve o quinto lugar olímpico, o melhor resultado da natação feminina brasileira de todos os tempos (empatada com Piedade Coutinho, que conseguiu o feito com 16 anos).
Com apenas 17 anos… eu melhorei oito segundos nos 200 Peito, e por causa do meu resultado sonhei alto (aqui).
Com apenas 17 anos… (na verdade faltando 4 dias) Rodrigo Munhoz ganhou a prata no Troféu Brasil com um tempo inesperado e muito bom na época.
Sabem o que tem de comum todas as histórias acima? Todas elas constituem o auge dos protagonistas!
Os casos mencionados são bastante representativos da natação brasileira (menos o meu e o do Munhoz, é claro), e é curioso esse auge com 17. Pode ter a ver com o fato de que em geral com 18 as pessoas entram na faculdade, onde dificuldades novas são criadas. Sejamos sinceros, o que se esperava dos adolescentes acima era uma evolução do tipo da que aconteceu com Pelé. Com apenas 17 anos… Pelé fez dois gols na final da Copa do Mundo, um deles com um chapéu no adversário, e ajudou o Brasil a conquistar a Copa do Mundo pela primeira vez. Bem, Pelé evoluiu, e com 29 ganhou sua terceira Copa se consagrando como o melhor do mundo de todos os tempos.
Mas essa evolução não ocorreu.
No meu caso, que é o que conheço melhor: após o resultado que obtive com 17 anos se passaram mais seis anos de treinamentos intensos, milhares de metros nadados, e eu lutei muito para subir de patamar, sem sucesso. Eu melhorei pouco, tão pouco, que tive que alterar os sonhos para outros bem mais modestos, e cinco anos depois eu era mais alto, mais forte, com treinamento mais específico e focado mas fiz praticamente o mesmo tempo. Não sei se errei em alguma coisa (provável) ou se aos 17 eu tinha alguma vantagem competitiva que desconheço. Com o Munhoz sou testemunha de que ocorreu exatamente a mesma coisa: muito esforço e foco para nunca mais repetir o que fez com 17.
Talvez a Violeta Parra estivesse certa, afinal, em querer Volver a los 17. No ano que vem, quando a natação das olimpíadas do Rio estiverem acontecendo, estarão completando 50 anos do lançamento desse lendário LP de Violeta Parra, considerado pela revista Rolling Stone o melhor disco chileno de todos os tempos (aqui).
Nessa mesma hora, espero que os jovens talentos brasileiros que tem idade próxima aos 17 como Matheus Santana e Brandonn Pierry, bem como outros que ainda não conhecemos, acelerem em busca do resultado olímpico (como Djan e Joanna), e que depois disso não parem por aí (como Pelé)!
Meu “auge” também foi aos 17. Finalista de campeonato brasileiro – 4° lugar em 400 medley com 5’26. Acho que perdi um pouco o foco depois, porque nunca tive objetivos maiores. Parece que alcancei o que queria, e objetivos maiores pareciam tão difíceis que eu acomodei. No ano seguinte entrei na faculdade e comecei a trabalhar 3 horas na Polé, uma escolinha de natação famosa da época. Ainda ia treinar, mas sem foco nenhum. O Pancho inventou um treino, leu em alguma revista, de 60 ou 100 tiros de 25. Esses treinos eram para mim e para a Regina (antes dela ir para o Pinheiros e arrasar!), acada 1 minuto. Queria que fosse motivante, mas não era… o Paineiras estava no auge: Luciana Fleury, Endyra Cordeiro, Adriana Ruggeri, para citar só algumas. No ano seguinte, ou até mesmo no meio do ano, não lembro, virei auxiliar técnica voluntária do Paineiras. E quando o Pancho foi para o Pinheiros, fui com ele como estagiária remunerada! Então, nem sei direito quando parei de nadar, mas depois daquele brasileiro não melhorei mais tempo.
Valeu Marina, mas no seu caso com 17 acabou a motivação, né? Coisa que não ocorreu nos casos acima. Eu lembro dos 60×25 cada 1 min, todo dia, série interessante!
Aê, Cordani! Muito bacana o texto. Também tive vários nadadores que fizeram seus melhores tempos com essa idade, pouco mais ou menos. No caso dos araraquarenses, o principal motivo de estacionarem foi o ingresso à universidade. Reitero seus votos para a meninada perseverar e buscar grandes resultados na carreira.
Grande Orselli, que a cada ano atinge um novo auge!
BAH que baita artigo!
Obrigado Coach.
Show de post Cordani ! Apenas para registrar que nesses meus 17 anos também bati o recorde olímpico dos 400 L sendo o 1o abaixo dos 4min em Jogos Olímpicos ou seja esses 17 anos foram memoráveis na minha vida! abs.
Perfeito Djan, não mencionei os 400 pois você evoluiu bem nessa prova até 1980 (Austin). E Montreal para você deve ter sido realmente memorável, as melhoras saíam fácil, bastava cair na água e detonar!
Parabéns Renato, na minha opinião o melhor artigo do Epichurus do ano.
Grato Laurival, o sr que anda sumido esse ano, está preparando algo referente aos estádios-elefantes brancos da Copa?
Caro Cordani,
Não vejo nada a acrescentar neste triste espetáculo proporcionado pelo atual governo em sociedade com a quadrilha do Ricardo Teixeira.
Boa! Gosto de textos assim!
Não foi meu caso. Eu atingi o auge em torno dos 22 anos e continuei melhorando um pouco até os 24. Acho que pra muitos o ingresso na universidade fazia os atletas perderem o foco. Só que isso não é verdade pra quem foi citado no texto. Djan, Ricardo e Munhoz fizeram faculdade nos Estados Unidos onde se tem todo o apoio e foco para continuar melhorando.
Eu acho que o principal fator, nessa época dos anos 80 era a força física. Com 17 se chegava a uma força física pós-puberdade e o foco para crescer essa massa nos anos subsequentes era muito baixa.
No meu caso cheguei nos EUA com 67kg. Em dois anos eu tinha 79kg. Praticamente 12 quilos de músculo. Atribui minha melhora após os 17 a esse fator principalmente, mas também um treinamento mais consciente, menos focado em 110% de esforço todo dia. Eu no entanto tive a “sorte” de nadar peito e naquela época já se sabia (pelo menos se tinha um pouco de noção) que o peitista precisava ser forte. Eu era muito cobrado pela musculação.
PQP Lelo, era musculação então, só agora você me avisa?
Parabéns R.
Apesar de ter seu melhor resultado relativo (metal) na natação aos 17, vemos que sua curva literária ainda é ascendente, com muito futuro pela frente!
Grato LAM, infelizmente o fôlego está acabando, creio ir até as olimpíadas e olhe lá!
interessante, porém puramente uma coincidência. Officialmente o pico varia por esporte como o da natação acontece aos 21 anos como referido em Berthelot et al. 2012; AGE Volume 34, Issue 4, pp 1001-1009
Gostei do artigo (íntegra aqui http://link.springer.com/article/10.1007/s11357-011-9274-9/fulltext.html), e ele diz que o auge do nadador é 21+- 1,5, ou seja, a grande maioria dos casos ficaria entre 19,5 e 23,5 anos.
O fato de termos vários casos representativos de auge cedo nas décadas passadas (isso não tem ocorrido recentemente) pode ser coincidência, mas pode ser também um desvio estatístico significante que tenha alguma explicação estrutural – grupal.
Sobre explicações individuais:
Castor: ombro. Joanna passou por problemas psicológicos. Fiolo tenho impressão (segundo relatos) de que não se dedicou muito. Munhoz: ficou de mimimi. Prado talvez tenha se desmotivado ao atingir o cume da montanha tão cedo.
Inexplicáveis apenas o meu caso e o do Djan (guardadas as devidas proporções)…
no seu caso a explicação é: muito talento mas pouco treino, visto que hoje em dia o Sr. tem tido muito bom desempenho com estes treininhos epicurísticos e vitamina D
LAM, ganhar de você naqueles tiros de 400 é fácil, não precisa muito talento, sério! Na próxima coloca o pé de pato.
O dia que eu ganhar de você nos 25 peito aí você advoga pelo meu talento.
Gostaria de parabeniza-los pelo excelente blog. Confesso que está difícil parar de ler os artigos!Sou pai de dois atletas (Mirim e Petiz) e gostaria que algum de vocês contassem como foi a experiência com seus pais, se existia muita pressão por parte deles, etc. Um grande abraço!
Grato Marcos.
Quanto aos pais, tive a sorte de tê-los interessados mas sem adicionar pressão. Pai está lá para apoiar, quem tem que cobrar (também com parcimônia) é o treinador.
Por coincidência, meu filho é Petiz 1, quem sabe nos encontramos no SCCP em novembro?
Poxa Renato, sou do Rio de Janeiro, meus filhos nadam no Vasco da Gama (no unico polo sobrevivente, na Ilha do Governador). Talvez tenhamos nos esbarrado nesse ultimo Sudeste em Vitoria.
Um grande abraço!
Opa, eu estava em Vitória sim.
Conheci “Volver a los 17” na voz de Mercedez Sosa em um Chico&Caetano.
Nunca tinha ouvido falar da Parra.
Tendo me questionado “Midas, eu?” aos 17.
Percebo que apesar de ter evoluído e conquistado outros títulos nacionais até os 20, meus resultados não foram os que a performance dos 17 projetava, logo, me identifiquei bastante com o texto, que evidentemente, não pretende ser científico.
Sem dúvida. Algo com 17 fluía melhor, parecia mais fácil. Sua melhora (bem como a minha) não foi compatível com o que esperávamos. Acho que nosso maior erro em termos de treinamento errado deve ter sido nessa fase 17-20 anos, não? Veja o Lelo, que treinou muito diferente e evoluiu bem mais (em curta, pois em longa estagnou também).
Quanto à Mercedes no Chico e Caetano, é só seguir o link do texto para revê-lo.
Interessante. Será que pode estar relacionado com a alimentação e com o tipo de treinamento que era feito? Será que treinos longos com alta “rodagem” não lesionavam a musculatura e tendões (ainda que imperceptíveis), aliado à falta de treinos de alongamentos (trocados pela musculação)? Lembro que alguns colegas europeus comentavam que os brasileiros amadureciam muito cedo (menstruação, barbas, etc) e eles relacionavam à intensidade solar (não sei se tem a ver isso), mas depois de certa idade os europeus cresciam mais, ficavam mais altos e mais fortes. Interessante notar também a quantidade de nadadoras novas com 16 anos que estão batendo recordes mundiais, aliado à diminuição da idade das campeãs na ginástica artística e o aumento da carga de exercícios.
Como uma boa tese nasce de uma boa pergunta o Renato deveria participar dessas comissões olímpicas (rs sérios) .
Obrigado Sergio. Sim, acho que a maioria dos problemas eram relacionados a treinamentos equivocados, coisa que foi corrigida, pois hoje em dia dificilmente isso ocorre.
Já com relação a comissões olímpicas, vamos deixar para os profissionais!
Abraços
Gostei muito do post, Renato! Acho que aquele resultado de 100 peito no TB foi o que justamente me permitiu sonhar mais e treinar mais e tentar mais… Mas evoluir mesmo que é bom ,naquela que era a minha prova preferida, não rolou. Também não sei o que deu errado… mas porque não aceitar que aquele foi o auge natatório no meu caso? A natação ainda me deu um monte de coisas legais, apenas sinto que não foi tudo exatamente o que eu sonhei. E não fiquei de mumimi não viu?! Treinei pra caramba, mas odiava (ainda odeio) musculação… Será que era isso? Ou era Peba mesmo?! Hehehe…
Abraços!
“mas porque não aceitar que aquele foi o auge natatório no meu caso?”
Porque você tinha 17 anos (menos 4 dias), você continuou treinando e o auge físico-técnico é entre 20-22, portanto você errou em algo. Mas dá para corrigir: contrata o técnico do Gustavão, muda o estilo de peito e tenta de novo!
Essa possibilidade ainda está sob debate! 🙂
Lembrei desse post com tantos resultados de jovens nadadores nos rio 2016, muito bom
Valeu Marcel. Os jovens dos outros países estão detonando, cadê os nossos?