EPICHURUS

Natação e cia.

A Incrível Evolução no Peito me Constrange… e Anima

Confesso que meu interesse assistindo o Troféu Maria Lenk 2016 na última sexta feira, tinha quase um sabor de humilhção:  Como peitista PEBA dos anos 80-90, eu queria ver se um nadador brasileiro faria 58″ nos 100 peito. Nas eliminatórias, nada menos que três deles já haviam nadado na casa dos 59″ – Pedro H. Cardona (59″77), Felipe A.  França Silva (59″56) e João Luiz Gomes Jr (59″06). O João inclusive fez o segundo melhor tempo do ano, atrás apenas do atual recordista e campeão mundial da prova, Adam Peaty (58″41 na seletiva britânica).

Os 58″ brazucas não aconteceram, mas ainda assim os tempos foram excelentes: João 59″10 (piorou 4 centésimos) e Felipe 59″36 (4o tempo do mundo no ano) – ambos se garantindo nos Jogos Olímpicos do Rio. Achei bacana ver também um total de 5 nadadores nadando para “IO” Indice Olímpico nesta final.

100Pe F

Colocando minha “humilhação” em perspectiva, meus colegas nadadores da atualidade abririam mais de 7 segundos (uns 11 metros) do meu melhor tempo na nobre prova. E o pior é que eu tenho (tinha?) orgulho desse meu 1’06” 63, que rendeu um 2o lugar no Troféu Brasil de 1989, sobre o qual já se falou por aqui no Epichurus. Aliás, esse resultado foi um dos momentos mais surpreendentes da minha vida de atleta. Anos mais tarde, o Renato Cordani diria que essa fora “a prova da minha vida” aos 17 anos, no que ele provavelmente estava certo.

Claro que 27 anos no futuro, os blocos de partida ficaram bem melhores, pode-se dar golfinhadas na filipina do peito, as sungas de papel deram lugar aos tecidos tecnológicos, há dezenas de suplementos em substituição da macarronada da mama e o estilo ficou bem mais eficiente (ver fotos comparativas – como eles conseguem?)… mas tomar 7 segundos em 100 metros é sempre bem vexaminoso, ainda que se esteja competindo com seres do futuro.

A verdade é que, se analisarmos friamente, o nado de peito brasileiro parece ter tido uma evolução maior e mais profunda  nestes últimos 25 anos do que nas décadas que antecederam o auge da minha carreira. Uma mostra disso é que em fevereiro de 1968,  José Sylvio Fiolo fez um tempo similar ao vencedor do Troféu Brasil de 1989: 1´06″4.

TB89prat

Prata surpreendentemente minha TB 89

Naquela ocasião Fiolo bateu o recorde mundial na piscina do Guanabara, se tornando uma celebridade nacional. O recordista  e grande nome na minha época era o olímpico (Seul, 1988) e amigo  Cícero Tortelli, que havia ganho no ano anterior com 1´05″99. Na época, o recorde mundial estava em 1´01″5 aproximadamente.

 

Lembro que na época até achava que, com 17 anos apenas, tinha chance de contribuir para eventualmente diminuir aquele “gap temporal” do peito brasileiro. Talvez chegar bonito numa Olimpíada? Esse era o sonho, não só meu, mas do Cordani, Lelo, Hermeto, Bena e outros peitistas da época. Apesar de ter intensificado os treinos nos anos seguintes, não foi o que rolou. Sinto que dei o meu melhor e não vou especular nenhum cenário de “e se…”, até porque não me interessa muito. Fast forwarding – tenho a impressão que foi só a partir da segunda metade dos anos 90 – depois de Atlanta 96 – que a evolução do nado de peito no Brasil se aceleraria pra valer. Outra história, para outros contarem. Hoje, a diferença entre o recorde mundial do Adam Peaty (57″92) e o recorde brasileiro do Henrique Barbosa (59″03) é de apenas pouco mais de 1 segundo.

Assim, da minha curiosidade quase mórbida sobre os 100 Peito no Troféu Maria Lenk deste ano, surgiu um paradoxo pessoal: Uma mistura de constrangimento da lembrança de meus antigos tempos de PEBA com uma forte torcida para vermos um brasileiro entre os melhores do mundo na final Olímpica da minha prova favorita. Quem sabe até dois. E o peito, quem diria, parece ser uma das grandes esperanças para o futuro.

Alguém tem ingressos pra esse dia 7 de Agosto no Rio, pelamordedeus?

Sergiao_Kim Mollo2016_CPM

Eu, Cordani e Sergio Onha Marques – amigo ex-nadador e técnico do França. Ele já estava confiante no pupilo quando o encontramos no dia do Kim Mollo no CPM. E não deu outra. Sergião, tem um ingresso pro dia 7 ae 🙂 ?

Sobre Rodrigo M. Munhoz

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13 comentários em “A Incrível Evolução no Peito me Constrange… e Anima

  1. rcordani
    18 de abril de 2016

    Boa Munhoz, mas nenhuma novidade para mim, você lamenta isso aí (o fato de ser peba) quase todo dia.

    Olhando as fotos, o interessante é que você está com a touca da Kibon, dando a aparência que você ganhava algo similar aos outros dois, que também tem patrocínios na touca…

    Ah, e faltou a foto que tiramos na semana passada com o Coach do França (o Sergião Onha Marques). Quem sabe dá para incluir ainda?

    • Rodrigo M. Munhoz
      18 de abril de 2016

      he he he…
      Nem é “reclamação” de “ser Peba”! É apenas uma constatação de grau de pebisse frente a realidade atual e vale pra meus amigos como você e e Lelo também. Se bem que esse último tenho a impressão que ainda vai “resisitir” um pouco mais. A ver.
      Sobre a touca da Kibon: Acho que ganhava 2 salários mínimos na época, o que era um TESÃO. Não era só nos tempos que nos contentávamos com pouco, né?
      Realmente, esqueci daquele dia no Kim Mollo no CPM- vou achar e incluir a foto com o Sergio! abrtz

  2. Lelo Menezes
    18 de abril de 2016

    Munhoz, com o profissionalismo tomando conta da natação na geração após a nossa, um fenômeno comum (que já havia ocorrido no futebol por exemplo) aconteceu no nosso querido esporte também. O GAP entre o fenômeno e o PEBA diminuiu… Em outras palavras, com toda a tecnologia, investimentos e suplementos hoje disponíveis é muito mais fácil um semi-PEBA chegar mais perto do WR. Igual no Futebol com o jargão “não tem mais bobo!”, na natação a coisa foi na mesma linha… Ouso dizer que se tivéssemos hoje nosso 20-22 anos, talvez não nadaríamos no patamar do João (que vale lembrar voltou a pouco da suspensão por doping), ou do França, mas acho que estaríamos na casa do 1´00, 1´01…fácil! Infelizmente não dá pra comparar “eras” na natação. Pensa o contrário e veras que tenho razão. Se não me engano meu tempo de 1990 nos 200m Peito brigava por medalha olímpica coisa de 20 anos antes.. O esporte sempre evolui e o que dá pra comparar são os títulos… comparar tempos é covardia.

    Quanto ao estilo, ele mudou completamente! Ficou mais eficiente… muito mais eficiente, mas mais feio também.. Pena, mas é o preço da velocidade!

    Já os ingressos eu quero também…

    • Rodrigo M. Munhoz
      18 de abril de 2016

      Faaala Lelo!
      Realmente em Tokio 68 teriamos sido campeoes olimpicos com nossos melhores tempos de 1990. Mas o problema (pebisse) mesmo me pareceu a distancia entre esses nossos tempos e os recordes mundiais naquela mesma epoca. Hoje, os caras estao mais proximos do topo. Essa comparacao dói e não é tão injusta assim…
      Quanto ao nado ter ficado “feio”… acho meio que um preciosismo… estética do nado sempre foi subordinada da função e mecanica. Isso que importa.
      Abratz!

  3. silvasidney1
    18 de abril de 2016

    Rodrigo, as idades tem tambem um grande diferencial. Eles estao nadando com pelo menos 10 anos de treino a mais. Todos estão proximos dos trinta anos Voces paravam antes dos 24 anos, creio eu.
    Excelentes observações sobre o nado. parabéns pelos textos.

    • Rodrigo M. Munhoz
      18 de abril de 2016

      Valeu Sidão! Eu parei com 24 e não conseguiria me imaginar nadando por mais 5-6 anos! Imagina o saco cheio de treinar forte todo esse tempo. Faz sentido o que me disseram que alguns desses caras dão umas paradas de 1 ano e depois voltam com tudo e motivados. Faz sentido!
      Abraços e obrigado pelos comentários!

  4. Marina Cordani
    18 de abril de 2016

    Esse fato da idade é mesmo muito importante. Se tivessem motivação para ter treinado mais uns 8 anos, com o mesmo afinco, quem sabe… Outro ponto que talvez explique os 7 segundos é o seguinte: Na nossa/sua época, se não me engano, o peito brasileiro era o que tinha o pior índice técnico. Tanto no feminino quanto no masculino. Ou seja, os semi-pebas de peito da época eram pebas! Semi-pebas eram os caras de livre. Eu, nos 400 medley, não poderia nem ser classificada de peba. Era uma aspirante a peba. Eu me lembro, por exemplo, que no feminino o índice técnico da ganhadora do brasileiro em peito era pior que uma mera finalista em livre. No masculino era parecido. Mas hoje não, os índices técnicos devem ser parecidos.

    • Rodrigo M. Munhoz
      18 de abril de 2016

      Oi Marina!
      Você está certa. Eramos PEBAs mesmo no peito, enquanto no crawl, gente como Pirula, Xuxa e outros já estavam subindo a um patamar bem mais alto. Isso ficou claro naquele post do Renato sobre o Finkel que representou um ponto de inflexao na qualidade da natação do Brasil. O peito ainda demorou um tempo a mais para acompanhar. O interessante seria mapear qual foi o ponto de inflexão deste estio. Acho que tenho um palpite, mas devo investigar primeiro.
      Beijos e valeu por reforçar nossa pebisse 🙂

  5. LAM
    19 de abril de 2016

    vou marcar “el capo de tutti capi” no CaraLivro prá ler a opinião dele aqui 😉

    • Rodrigo M. Munhoz
      19 de abril de 2016

      LAM,
      O Cicero foi um ponto fora da curva na época pós Chico.
      Mas fiquei curioso… qual a SUA opinião? E já conseguiu mudar o estilo pro “moderno”? Eu não… Abraços!

  6. Fernando Cunha Magalhães
    25 de abril de 2016

    Ron Johnson, tecnico do Arizona, antes do suicídio, contava a história do seu recorde mundial dos 100jardas borboleta. Tudo, em detalhes, menos o tempo. Dizia: “se eu disser o tempo você terá uma falsa impressão do que a conquista significou”. Quer imaginar um tempo? Pense em 49s82 na longa… é isso, o melhor tempo da história em sua época.

    Em tempo: Fiolo foi recordista brasileiro a primeira vez com 1m11s. Muito legal ver o Serjão treinando um dos melhores do mundo. Me identifico demais com sua humildade. Dura essa vida em que não consegui acompanhar uma única prova do Maria Lenk, apenas um replay do 50m livre. Como é que o JR tem ingressos para as finais de todos os dias da natação?

    • Rodrigo M. Munhoz
      27 de abril de 2016

      “Todos os detalhes, menos o tempo”… Acho que não temos disso aqui no Epichurus, mas é forte isso, Smaga. De qualquer forma, acredito que a verdadeira dimensão daquilo que conquistamos não pode ser mesmo descrita por um intervalo de tempo ou um pedaço de metal. A grande briga é sempre conosco, certo? Quanto ao Sergião: o cara é gente boa da velha guarda 🙂
      Abrtz!

  7. luizcarvalho1
    3 de maio de 2016

    Realmente os tempos de hoje no peito sao incriveis. Tudo mudou. Mas acho que esse profissionalismo tem seu lado negativo tambem, principalmente no Brasil. Saudacoes a todos os peitistas, de todas as eras! Abraco!

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Publicado às 18 de abril de 2016 por em Natação, Olimpíadas, Rio 2016 e marcado , , , , , .
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