O show de Adriana Pereira, meu segundo ouro individual, muitas desclassificações, polêmicas e pancadaria no Parque Aquático Julio de Lamare.
4ª feira, 1º de fevereiro de 1989. Uma vitória daria além do ouro, a convocação para a competição que era a terceira mais badalada em nosso calendário internacional. Eu estava voando nos treinos, cheguei com expectativa de vitória nos 50m e 100m livre e ainda, conquistar uma vaga para nadar o 4x200m pela nossa seleção na França.
A equipe do Flamengo cresceu em união após a interrupção da longa sequência de títulos com a vitória do Minas Tênis Clube na edição anterior disputada em Curitiba. Os atletas vieram uniformizados com bandanas e bermudas pretas com caveira vermelha. Ao contrário da tradicional “fuga” dos desfiles de abertura, a maioria estava lá, dentro de uma “caravela de tecido”, vibrando e “colocando a faca nos dentes” para a disputa que estava por vir. A arquibancada recebeu os flamenguistas com o politicamente incorreto coro de “É Bateau mouche!…, É Bateau Mouche!…” – alusão ao barco que naufragou na Baía de Guanabara na noite de Reveillon, apenas um mês antes, ceifando tragicamente a vida de muitas pessoas.
O barco pirata prestes a entrar no desfile de abertura. Vejam no comentário de Julio Rebollal, como surgiu a ideia e o significado que sua construção teve para a equipe rubro-negra (acervo família Rebollal).
Castor, eu e Jorge – detalhe da bermuda flamenguista. Castor estava de bandana, mas o boné escondeu. Ao fundo, Dr José Roberto, fisioterapeuta do Projeto Mesbla de Natação.
Outra batalha jurídica trazia a sombra da incerteza sobre os resultados que aconteceriam na piscina: o olímpico Julio Rebollal havia se transferido do Vasco para o Mengo. O rubro-negro tentava validar a participação do craque na competição. Caso sob judice, a CBDA aceitou sua participação em observação, para disputa da vaga para a Copa Latina, nadando as finais na raia A e sem participar da disputa de medalhas e pontuação.
A cantora lírica Denise Sartori veio do Teatro Municipal vestida de gala, num longo vermelho, para entoar o hino nacional e foi dado o sinal de partida para uma competição eletrizante, onde o Flamengo era Flamengo, e claramente, a maioria da comunidade aquática torcia pelo Minas na disputa entre clubes.
1º DIA
Patricia Amorim quebrou a barreira dos 17 minutos e o recorde sulamericano nos 1500m livre. Adriana Pereira quebrou a barreira dos 58 segundos e o recorde sulamericano nos 100m livre. As meninas estavam impossíveis!
Polêmica na arbitragem em pelo menos três desclassificações: Marcia Resende do Curitibano nos 200m peito, Flavia Mineiro e Cristiano Azevedo do Minas, nos 800m livre e 200m costas, respectivamente. As alegações: toque alternado das mãos na virada, ??? e chegada de frente.
Nos 200m costas, nossa colega de Clube Curitibano – Celeste Moro – perdeu o ouro e a vaga na Copa Latina para Monica Rezende por apenas 4 centésimos; e no masculino, Renato Ramalho fez seu melhor tempo com 2m08s80, aproveitou a ausência do Cristiano para garantir a prata, na vitória do hors concours Rogerio Romero.
Nos 200m peito, prova já relatada pelo fundador do Epichurus – Renato Cordani – no post Sonho adiado – a saga dos 200m peito – parte II – meu amigão Luiz Alfredo Mäder conquistou a prata com 2m27s84, seu melhor tempo pessoal, mas bem abaixo do que acreditávamos que ele faria.
Ouro – Alexandre Hermeto, Prata – Luiz Alfredo Mäder, Bronze – Renato Alves. Após a prova, vi Alves debaixo da arquibancada pedindo que alguém emprestasse um agasalho do Tijuca Tênis Clube… não acreditava na medalha e não havia levado o uniforme para a competição.
E nos 100m livre queria os 52s já na eliminatória e sem esforço limite. Não deu, precisei dar meu 100% para fazer 53s30, cheguei meio corpo atrás do Michelena e classifiquei em 7º – começo bem diferente do que eu havia imaginado. Na final, cresci na raia 1 e cheguei 52s98, apesar de ser o meu melhor, a sensação era que eu já deveria estar um segundo mais rápido.
Os três primeiros foram do Flamengo:
1º | Jorge Fernandes | 52s15 |
2º | Cristiano Michelena | 52s21 |
3º | Julio Rebollal | 52s70 |
4º | Fernando Magalhães | 52s98 |
5º
6o 7o |
Cyro Delgado
José Carlos Souza JR Fabiano Queiroz |
53s08
53s10 53s18 |
Como o Rebollal estava como em observação, fiquei com o bronze, e tive o prazer de dividir o pódio com esses atletas extraordinários.
2º DIA
Dia cheio com 200m livre, 50m livre e 4x200m – programa bem desafiador.
Nos 200m queria a final, sonhava com o pódio, fiz 1m57s e não passei da eliminatória.
Assisti o Ramalho passear na eliminatória dos 400m medley, nadar em 4m36s tão tranquilo que sua chegada não ativou o sensor eletrônico, e ao se virar para olhar o placar, sorrindo dar uma cotovelada na placa para parar o cronômetro muito antes dos adversários completarem o percurso. Era certo que quebraria a barreira dos 4m30s e o recorde de campeonato do Prado na final.
Na eliminatória dos 50m ainda estava travado. Os 24s47 foram muito ruins, mas suficientes para classificar em 5º. Tite Clausi surpreendeu com 24s12 classificando na raia 4 e Paulo Nascimento, o Paulo Brother, também chegou entre os 8. Três do Curitibano na final.
Depois do sono da tarde, quando Renato e eu saímos do quarto do Guanabara Palace Hotel, virei para o amigo depois que ele apertou o botão do elevador e falei: “só voltamos aqui com duas de ouro”. Ele olhou no meu olho, fez uma expressão de confiança, nos cumprimentamos e fomos em busca dos metais. A dele eram favas contadas, a minha, bem menos provável.
Não sei porque não saí da final B dos 200m livre, mas combinei com o Leo de nadar na posição: Fechei raia lá atrás de todo mundo, 2m03s17, 16º.
O cumprimento de Julio, Castor e Jorge ao final dos 200m livre, foto publicada em O Globo.
Renato nadou em 4m31s, tempo frustrante, mas o pior veio em seguida com o anúncio nos alto-falantes: “o atleta da raia 4 foi desclassificado”… como assim??? E os dois ouros??? E a Copa Latina??? Fui acolhê-lo, e enquanto caminhávamos para deixar as bolsas e conversar um pouco antes da soltura no tanque de saltos, nosso colega Felipe Malburg veio da arquibancada com um sorrisinho sarcástico – “eu avisei…” , em postura de esquiva frente ao constante risco de uma provocação ao Renato. Deu uma quebrada no clima e selou vários avisos anteriores feitos durante os treinos – “você ainda vai ser desclassificado” – depois de constatar submerso, mais uma das muitas vezes em que o Renato deixava escapar um movimento vertical das pernas durante a filipina.
Gazeta do Povo, 4 de fevereiro de 1989
50m livre
Os blocos de partida da cabeceira oposta da piscina do Maracanã eram de fibra de vidro, plataforma pequena, lateral lisa, difícil de fazer o agarre. Imaginem a tensão na terceira saída, após duas queimadas.
Eu estava na raia 2, a mesma do ouro em BH 87. Fiz a hiperventilação e soltei os ombros do alto do pescoço várias vezes em busca da mesma sensação que tive antes da vitória de dois anos antes. A sensação não veio. Mas ao cair na água era um nadador muito diferente da eliminatória, nado encaixado, sem patinar, dessa vez não percebia minha posição em relação aos adversários, não senti perda de eficiência de nado ao final da prova. Cheguei com a mão esquerda forte na placa e juro, que enquanto girava o corpo para ver o veredito que aparecia no placar, vi em um fração de segundo o Cheiroso de pé na arquibancada levantando os braços e pensei, ganhei! Não deu outra: ouro com 23s96. Pela 2ª vez, era o nadador mais rápido do país!
Foram 6 centésimos à frente do Paulo Jinkings e 16 centésimos à frente do Zé Geraldo. Tite chegou em 5º com 24s25. O passaporte para a França estava carimbado!
Lembro da euforia dos colegas me abraçando. Renato afirmou: “seu final de prova foi fantástico, na bandeirinha não dava para saber se daria medalha”.
Na prova feminina, mais um recorde fantástico de Adriana Pereira: 26s24.
Durante o jantar, uma mistura de sentimentos na equipe. Renato e eu voltamos para nosso quarto com a medalha improvável e sem a certa. Até ali cuidava bem do amigo. Sentei na cama e fui ligar para casa, contar sobre a conquista para os meus pais e irmãos. Depois do relato sobre a minha prova, a mãe perguntou – “e o Renato, ganhou também?” – quando falei da desclassificação ele levantou, foi em direção ao armário e deu uma soco na porta – “que foi isso?” – perguntou ela do outro lado do telefone. Expliquei e vi que ele segurava a mão com pouco de cara de dor, um pouco de cara de “fiz cagada”. Fratura da falange do dedo mínimo!
3º e 4º DIAS
Eu só tinha mais os 100m borboleta e os revezamentos. Peguei Final B na prova de borboleta junto com o Ricardo Moita da Silva, que nadou a eliminatória na posição e ficou fora da final. Ele ganhou a final B com recorde de campeonato e mais três décimos de segundo abaixo do tempo que deu o ouro a Mauricio Cunha.
Acervo da Família Michelena
Cristiane Spieker dos Santos quebrou o 4º recorde sulamericano do torneio com 1m05s61, quase 1,5s abaixo do tempo que lhe dera o ouro empatada com Celeste Moro, no Julio de Lamare, uma semana antes.
Na prova masculina, ouro e prata para os olímpicos Romero e Vladimir Leite Ribeiro, mas grande destaque para o bronze de Henrique Americano de Freitas, do Pinheiros, com sua melhor marca pessoal, depois de treinar somente batendo perna por conta da lesão nos ombros, como Renato Cordani contou em seu emocionante post Ao meu irmão e ídolo maior Henrique, com um grande abraço. Ou: sim, você ganhou!
PONTUAÇÃO GERAL
A disputa foi acirrada desde o primeiro dia. Ao final da 2ª etapa, o Flamengo estava 15,5 pontos a frente do Minas, em mais de 500 pontos conquistados pelas duas equipes. Tensão a cada prova, a cada disputa.
No último dia, o mineiro Cristiano Azevedo tinha duas finais: 100m costas, em que ficou em 4º e os 200m medley, prova em que se classificara em 6º para a final. Ele fez o improvável, nadou com aquela superação dos grandes fechadores de revezamentos, carregava toda sua equipe junto com ele. Melhorou em muito sua marca pessoal e, “beneficiado” pela fratura de Ramalho que nadou com um palito de sorvete servindo de tala para imobilizar o dedo, venceu de forma espetacular. Segundo título individual do Cristiano, após a vitória nos 100m costas em 1986. A torcida do Minas foi à loucura, mas a euforia durou pouco, logo veio o anúncio : “na série anterior o atleta da raia 7 foi desclassificado!”.
A eliminação do atleta do Minas, com um atleta do Flamengo – Alexandre Hermeto – que havia chegado em segundo, subindo ao degrau mais alto do pódio “soou” como uma tremenda marmelada para que o Flamengo ganhasse o título.
Existe a possibilidade do Cristiano ter cometido um erro técnico e merecido a desclassificação? – claro que sim, mas dada às circunstâncias e a experiência do atleta, parecia uma hipótese bastante remota.
Vieram as últimas provas, os revezamentos e o Flamengo ganhou a competição por 6,5 pontos de vantagem.
Não tenho os resultados para saber se houve alguma desclassificação na equipe do Flamengo naquela competição. Na equipe do Curitibano, houve duas. Na equipe do Minas, pelo menos três. E qualquer uma delas que não tivesse havido, mudaria a equipe vencedora. Sentiram-se roubados.
Emoções à tona, nervos a flor da pele, ofensas à arbitragem. Gestos obscenos foram a fagulha final para que Vladimir Ribeiro perdesse a razão e partisse às vias de fato aplicando uma voadora no peito do pai da atleta Daniela Lavagnino, que participava da provocação.
A turma do “deixa disso” teve um trabalho danado para apartar a briga. Após a premiação dos melhores índices técnicos, maiores pontuadores e das equipes vencedoras – o Pinheiros/SP ficou em terceiro – a delegação campeã do Flamengo trouxe o barco de volta e começou a volta olímpica, a maioria das pessoas presentes na arquibancada virou de costas para não legitimar um título conquistado naquelas circunstâncias.
De volta a Belo Horizonte, Cristiano deu entrevista para o jornal fazendo acusações. A foto com o boné do patrocinador, rendeu-lhe uma suspensão do Projeto Mesbla. Não me recordo ou não fiquei sabendo se ele, o Vlad e/ou outros envolvidos foram julgados.
Trata-se de uma história triste da nossa natação, importante de ser lembrada, para que o exemplo permaneça e os próximos capítulos sejam construídos sobre os alicerces da ética e respeito.
Forte abraço aos amigos do Epichurus.
Fernando Magalhães
Chegamos a Curitiba no domingo de manhã e fui direto para a praia de Caiobá. À noite, minha Tia Léo recebeu a família com coquetel de camarão e outras delícias para as comemorações pelo título e convocação para a Copa Latina. Meu pai – Francisco – colocou o bronze no pescoço, já a D.Ivani comemorou com o ouro.
O Clube Curitibano colocou essa faixa na fachada da Av. Getúlio Vargas. Certo dia, desci do ônibus na esquina e vi o Edison, pai do Cheiroso (Leonardo Ribas Gomes) descendo do carro com a máquina fotográfica na mão, Cheiroso desembarcou apressado querendo “fugir do mico”, Edison não perdeu a esportiva e me convidou a posar para a foto, que ganhei de recordação.
Mais uma cartinha do Coaracy!
Parabéns Maga. Vc tem razão, essa competição foi um bom exemplo de mau exemplo. E vc continua fantástico nos detalhes. Show
Valeu Luiz Carlos!
Ah, como me lembro desse TB. Eu estava eufórico com o ouro nos 200m Peito no Julio Delamare na semana anterior, além da prata nos 400m Medley e bronze no 4x200m Livre. Treinei com afinco que beirou a obsessão em fazer parte do Sulamericano Juvenil, que era o grande objetivo do ano para quem era Juvenil e não tinha chances de Copa Latina.
Infelizmente a intensidade emocional do Julio Delamare e 10 dias comendo gnocchi no almoço e jantar no La Mole, foram demais para manter o mesmo ritmo no TB. Em suma, não fui só mal, fui péssimo. Piorei 6 segundos nos 200m peito e honestamente é o único resultado que lembro. Os demais devem ter sido piores! Lembro que no 400m Medley mais gente além do Ramalho foi desclassificada. Se não me engano, o Polaco (Mauricio Buczmiejuk) que ficaria de fora do pódio tipo em 5o ou 6o, herdou o bronze.
Da voadora do Wladimir eu me lembro bem também. Eu estava bem próximo quando aconteceu! Me lembro também da volta olímpica com a arquibancada de costas. A verdade do fato é que todo mundo saiu dali com a convicção de marmelada. Foi realmente um episódio triste da nossa natação!
Eu, na verdade, passei por tudo isso como um mero expectador. Passei a última noite sem dormir! Eu não tinha convicção da convocação para a seleção brasileira, principalmente depois da péssima participação no TB. Nem a garantia que o Sidão me deu, na saída do parque aquático daquele fatídico dia, que eu havia sido convocado, me confortou! Então enquanto a comunidade aquática se preocupava com a possível manipulação dos resultados do TB, a única coisa que passava na minha cabeça era a terrível ansiedade pela convocação, que ocorreu só no dia seguinte, para gigantesco alívio, que foi de tamanha proporção que nem me lembro do desfecho dessa história do TB. Vagamente me recordo do Minas ter entrado na justiça esportiva, se não me engano, mas não tenho certeza!
Lelo,
foram várias edições combinadas de JL numa semana e TB em outra. Bastante gente piorou os tempos, mas como você, não tenho conhecimento…rsrsrs
Mas veja, tem virtude aí: sujeito focado que ativa todas as energias para seu objetivo principal, e relaxa, evitando estresse quando tanta concentração não é necessária… sem comprometer a sequência da carreira.
Naquele tempo, se eu fizesse um desempenho como o seu, sairia envergonhado e cheio de culpa… veja que peso desnecessário.
Boa Esmaga. Eu teria dado metade do meu mindinho para estar naquele pódium do LAM, Hermeto e Renalves, mas fiquei em quarto… (o filme desta prova eu havia publicado neste post).
Não me lembro da pandacaria pois como tínhamos uma equipe pequena já havíamos vazado, inclusive se não me engano a competição acabou em um sábado de Carnaval, e eu já me dirigia para o interior de São Paulo, mais especificamente Cruzeiro, com o Charlão.
Mas essa rivalidade MTCxCRF ficou marcada, e para além das (possíveis) injustiças clubísticas o que fica mesmo são as (possíveis) injustiças individuais. Certeza que o Cristiano Azevedo sonha até hoje com essa prova.
No mais, fica a saudade da época e daquela piscina maravilhosa, hoje um tanto abandonada.
Caro Cordani,
certeza comprovada no relato abaixo… bacana saber desse encontro do Cristiano com o Dinard.
Agora celebro as inter-relações entre trajetórias que esse nosso blog permite reconstruir… lá se vão alguns post com relatos sobre essa competição, gerando o fascínio das memórias e aprendizados.
Como eu gosto disso.
Caros Epichurianos, esse é um assunto que jamais esquecerei e agradeço ao querido Smaga por ser tão gentil e razoável em sua análise. A injustiça talvez seja a ofensa mais grave que um ser humano pode sofrer. Sou hoje um advogado guiado pelo senso de justiça – acima da Lei – e talvez esse TB tenha moldado a minha vocação.
Na época, com menos de 20 anos, à injustiça foi somada a raiva pela dedicação frustrada, a compaixão e solidariedade do melhor amigo (VLAD), o senso de equipe, que era fortíssimo entre nós do MTC, mas não tinha respaldo institucional diante da perda da nossa liderança (Steve Betts havia voltado para US e o novíssimo Brad Hering tremia seus joelhos a cada nova desclassificação), além da certeza de que a CBDA e sua arbitragem era um covil submetido à nefasta politica e à corrupção, o que hoje tende a ser comprovado.
Tudo somado me levou a conceder realmente uma entrevista ao Estado de Minas, ao jornalista esportivo Antônio Melane, expondo muita indignação em nome de todos esportes especializados. Sem orientação, lá estava a foto do boné Mesbla e a manchete sensacionalista “Cristiano acusa…” ou algo do gênero. A força da mídia com sua armadilha implacável. O MTC procurou dar apoio mas se concentrou em buscar seus pontos na Justiça Desportiva, e pelo que sei não deu absolutamente em nada. E o que os amigos acham? Deveria dar? Cancelar a competição? Retornar os pontos perdidos? Qual seria a medida mais justa? Recomendar a mudança da arbitragem para os próximos eventos? Nosso tribunal desportivo não tem essa capacidade de fazer justiça nem pela via didática nem punitiva, de recomendar medidas mais adequadas ou ponderar soluções razoáveis diante de fatos suspeitos. Na prática, ela apenas protege os afetos dos auditores, nega acusações por falta de provas e bate o martelo, do alto de sua exclusividade constitucional.
Se houve erro na arbitragem eu só posso falar das minhas provas. No primeiro dia, nos 200 de costas, eu teria “chegado de frente”…a cena é conhecida por todos. A parede um pouco distante da última braçada, afunda a cabeça para trás para o último impulso e toca na placa. Virar de frente me pareceu criação, no mínimo um excesso da árbitra ruiva que se acomodou na minha raia. Na final dos 200MD, a última prova do calendário antes dos revesamentos, sabia que não tinha favorito. Sem o Ramajal, o ouro estava aberto. Os nadadores de peito, logicamente, tinham mais chances, mas minha tática foi liderar do início ao fim, colocar mais de um corpo na frente na virada de costas para peito, segurar os caras e confiar na raça da chegada. Na arquibancada, a equipe comemorou como um golaço, como o título do TB na mão, afinal ali estavam outros 4 ou 5 desclassificados em suas melhores provas. Imaginem os ânimos quando anunciada a desclassificação (pernas em desequilíbrio na filipina…hein? jura? justo eu, do MTC??). Antes mesmo que eu corresse em direção à sala de arbitragem o pau já tinha quebrado na arquibancada. Tive que trocar a discussão com o árbitro geral e os dedos apontados para a ruiva que me perseguia para também segurar os amigos que começaram o teleket.
E não terminou ali. No desfile dos piratas campeões, aliás uma fantasia ideal para o ocorrido, reagimos à provocação virando às costas e fomos seguidos por praticamente todas as equipes – não posso deixar de agradecer tantos anos depois essa espontânea solidariedade. Por este protesto, atletas e técnicos do CRF foram tomar as dores e o segundo round teve início.
O não reconhecimento pela comunidade da natação melou a festa e o titulo de forma indelével. O Minas seguiu seu rumo e foi octa campeão do TB nos dez anos seguintes. Ou seja, se fez justiça de forma indireta: as gerações futuras colheram todos os méritos da base técnica que construímos; o protesto dos atletas na arquibancada serviu para as autoridades se sentirem fiscalizadas; o MTC ganhou respeito nacional e títulos indiscutíveis nos anos seguintes.
O filme se encerrou recentemente. Cruzei com o árbitro geral andando sozinho nas ruas da Urca 20 anos depois. Eu morava no bairro e descobri que ele também. Eu e ele apenas na rua. Parei, e lhe cumprimentei, olhos nos olhos, como vai Dinard, sou o Cristiano Azevedo, nadador do Minas, duas vezes desclassificado pelo Senhor no TB de 1989. Lembro de você, foi o que ele disse. Continuei andando e nunca mais o vi.
Mais um ponto, Cristiano: Achei sua exposição coerente e ponderada em quase sua totalidade, exceto quando afirma “No desfile dos piratas campeões, aliás uma fantasia ideal para o ocorrido,…” – onde achei que pegou pesado e a interpretação pode sugerir a participação dos atletas na eventual marmelada.
Gostei de ter lido “Todos competiram de forna justa e a comunhão entre nós atletas é muito superior e inesgotável”.
Amigo Cristiano,
Sinto que te fiz um bem criando essa oportunidade.
“Senso de justiça – acima da Lei” – quanto isso poderia agilizar a construção da harmonia e integração da humanidade.
“A força da mídia com sua armadilha implacável” – quantos interesses escusos que não medem as consequências ao próximo.
Questionamentos, análise coerente, frente a sua parcialidade, os fatos narrados por quem estava no olho do furacão… enriqueceu demais meu relato, colocou o registro na nuvem para que não seja esquecido e evidenciou a crueldade dos impactos da hipótese levantada por Cordani: “Mas essa rivalidade MTCxCRF ficou marcada, e para além das injustiças clubísticas o que fica mesmo são as (possíveis) injustiças individuais. Certeza que o Cristiano Azevedo sonha até hoje com essa prova”.
“O filme se encerrou recentemente” – quase 30 anos depois – fico feliz que tenha se encerrado.
Forte abraço.
Uau… Ótimo post, daqueles que nos fazem voltar no tempo… E os comentários do Epichurus sempre trazem mais cor e novidades para a história. Vejo que esse TB marcou muitas vidas. A minha também: Não classifiquei para a Copa Latina, mas a prata nos 100 peito atrás do Hermeto com meu melhor tempo, foi a maior e melhor surpresa da minha vida aquática. Lembro bem da cara de algria do Sidão ao me cumprimentar ali na cabeceira da piscina, ao lado do tanque de saltos. Fui muito feliz pro Sulamericano de Rosário com base nesse resultado. Não sabia obviamente que aquele seria o meu melhor tempo na prova, mas foi aquele TB me deu gás pra treinar forte por mais uns bons anos.
Das confusões, brigas e polêmicas desclassificações, confesso que me lembrava pouco, mas Esmaga fez bem em lembrar e documentar. Tempos de mudança e é bom se lugar no que não queremos ver na natação.
Valeu, Magalhães.
Grande abraço!
Lembro muito bem daquele 1:06… tempaço! Abraços Munhoz.
Valeu, Smaga. Seu post abriu sim uma oportunidade, que ficaria incompleta se eu deixasse de dizer que o sentimento de justiça faz bem a todos desde que seja amplo e benevolente. Cada atleta desclassificado naquele TB deve ter vivido seu fantasma. Todos competiram de forna justa e a comunhão entre nós atletas é muito superior e inesgotável. Essa a mensagem que vejo na genese do Epichurus e que reforço em nome do nosso time. Abs
jo tanbién, me surpreendeu numa raia lateral
Maga, uma dúvida: foi só essa confusão na competição?
Oi Luiz Carlos,
Os fatos de que me recordo estão todos no texto.
Queridíssimos,
Triste ver tanta certeza com relação ao que vocês se referem a mamata.
O que lembro é de um excepcional grupo de jovens talentosos, dedicados e com uma união e senso de equipe incomparável.
Não sei se ouve ou não mamata. Certamente não participamos de nenhuma. Mas saber que ódio apresentado por vocês, meus amigos, para com outros drupa de amigos é o fato mais triste neste episódio.
Castor, não vi certeza no Esmaga (ele falou em percepção de marmelada) nem em mim (eu falei em possível injustiça). O Cristiano claro, ficou phuto, mas isso é normal com desclassificações. Eu mesmo tenho uma porção, “privilégio” de quem nada peito, medley e costas, que são as provas mais suscetíveis. Você que nadava crawl talvez não tenha sentido na pele uma desclassificação.
Também não vi ódio e muito menos acusação de mamatas por parte dos atletas, o que, sabemos, certamente não rolava mesmo.
Grande abraço
Castorzinho,
o tom é exatamente esse que o Cordani registrou.
Levantamos hipóteses e eu agi no dia conforme minha percepção dos fatos.
Em nenhum momento fiz acusações aos atletas e nem disse que as pessoas que foram desclassificadas não cometeram os erros técnicos.
O Cristiano afirma que não cometeu e o fato de ter sido ele, no momento em que foi, suscitou a afirmação: “…soou como uma tremenda marmelada para que o Flamengo ganhasse o título”.
Veja que o texto diz que “Vlad” perdeu a razão quando partiu às vias de fato e pretende registrar a história dos fatos ocorridos a partir da minha percepção.
Não há ódio, amigo, mas um profundo respeito pelo que construímos sem alimentar ilusões de que tudo foram flores.
Em tempo: concordo com “…um excepcional grupo de jovens talentosos, dedicados e com uma união e senso de equipe” – já o “incomparável” – me parece que havia sensos de equipe em graus semelhantes ao da equipe do Flamengo em nosso meio.
Querido amigo Castor, antes de tudo é sensacional voltar a conviver com você, e com os demais queridos amigos, ainda que virtualmente. Não há certezas, meu velho, exceto quanto a ausência de “mamata” entre atletas como nós, afinal nos “dopávamos” de destrosol e gemada. Eu propus reflexões no meu comentário. Não há tampouco ódio. Abracávamos os concorrentes e só não tomávamos um chopp juntos porque não éramos o Phelps nem o Lotche. O episódio foi triste sim, mas é passado, e éramos jovens. Eu admirava e ainda admiro cada um dos atletas do CRF. E estou certo que todos nos admiravam também. O “pau cantou” porque tinha que “cantar” e isso faz parte do esporte competitivo também. Grande abraço, xará.
Tô nervoso. 🙂
Fala Maga
Apesar de ter participado pela equipe do Fla, nao tenho muitas memorias da competicao. Fez parte do meu periodo de estudos p o vestibular e tb estava de saco cheio da natacao. Fiquei mais 1 mes sem treinar apos o carioca. Piorei todos os meus tempos durante o ano. Pedi autorizacao ao Dalty p viajar no sabado de manha p curtir o carnaval, antes do fim da competicao. Entao nem presenciei as brigas. A competicao foi muito confusa e dah p imaginar a revolta do pessoal do Minas na epoca. Sobre o Rubem Marcio, nunca fui muito fa dele, inclusive num TB no Minas alguns anos depois, o xinguei de tudo qto era nome feio na frente de todo mundo. Quase fui suspenso por isso.
Voltando a competicao do post a lembranca q tenho eh de nadar um revezamento B, cuja unica missao era chegar na frente do Minas B. Nao tenho certeza se conseguimos o nosso intento mas a rivalidade realmente estava bastante aflorada. Pena q extrapolou as piscinas. ab
Fala Vreco, pena mesmo.
No Curitibano também tivemos duas colegas, Pati Koglin e Celeste Moro, que xingaram o Dinard no Finkel de 1990. Elas foram suspensas.
bons tempos aqueles em que a gente xingava o árbitro geral e aclamava o presidente da CBDA… parecia mais uma vitória da recém nascida redemocratização.
quase trinta anos depois a tal democracia mostra sinais de cansaço pela falta de renovação.
Epichurianos, uni-vos!
Voltai às ruas e raias para renovar!
Boa LAM!
Interessante esse assunto vir à tona. Polêmico, cheio de arestas e teorias da conspiração…
Em Ribeirão Preto, quando tive a honra de nadar mais uma vez pelo PEBA (obrigado a todos os PEBA!!), alguém me perguntou sobre o TB que eu nadei, mas não levei e foi justamente esse de 1989.
Faço minhas as palavras do Cristiano: “A injustiça talvez seja a ofensa mais grave que um ser humano pode sofrer.”.
O Maga escreveu que não lembra se alguém do Flamengo foi desclassificado. Eu fui Maga, em todas as provas que eu poderia ter nadado. E com a competição em andamento. Esclareço.
Episódio 1: O paradoxo do queijo Suíço: quanto mais queijo mais buracos e quanto mais buracos menos queijo.
Em 1988, já classificado para a Olimpíada, a diretoria do Vasco da Gama entendeu que deveria me colocar no mesmo patamar que outros atletas do Vasco. Entendi a mensagem: não dava mais para ficar no Vasco. Não sai antes porque, como confidenciei aos PEBA, nunca fui pessoalmente ligado ao Ricardo de Moura, mas ele era um excelente técnico. Achei que não era hora de mudar.
Pois bem, fiquei no Vasco e fui ver as regras para a transferência. Na época, a regra dizia que o atleta poderia mudar de clube no meio da temporada desde que não tivesse competido pelo referido clube no CALENDÁRIO NACIONAL. Naquela temporada, as únicas competições que nadei pelo Vasco foram amistosos em Portugal, que não constavam do calendário nacional, e aquela tentativa de índice no Fluminense que foi marcada depois que a temporada já havia começado, portanto NA PRÁTICA, não fazia parte do calendário. E na teoria?
Flamengo, Minas e Curitibano, prevendo que eu deixaria o Vasco me convidaram para entrar nas respectivas equipes. Seria uma honra ter ido para qualquer uma delas, mas como eu não tinha intenção de sair do Rio (estava com a faculdade trancada, mas iria retomar), e sendo o Flamengo também uma grande equipe, além de ter vários amigos no clube, decidi pelo rubro-negro. Assim, após as Olimpíadas, decidi transferir-me para o Flamengo.
No TB, após nadar a eliminatória dos 100 livre, a CBDA, por meio do seu presidente, Coaracy Nunes, informou ao Daltely que eu não poderia nadar as finais, pois “o Julinho não havia cumprido o estágio de transferência.”. “Que estágio Coaracy, o Julinho não nadou oficialmente pelo Vasco nessa temporada.”, retrucou o Dalty. Eu, ao lado, ouvindo tudo. Essa conversa gerou um recurso jurídico. Devido à dúvida instalada e a falta de consenso, a CBDA constituiu um grupo de trabalho, formado por 03 dirigentes da Confederação (não lembro os nomes), para resolver a pendenga. Pois bem, os 03 votaram a meu favor. Fui para casa descansar, achando que ia nadar a final oficialmente.
Ao acordar para ir para o JD, minha mãe me avisou: “Não fique muito chateado, mas o Daltely ligou e disse que você só vai poder nadar na raia A, se quiser.”. Vendo a dúvida nos meus olhos minha mãe me abraçou e disse: ”Meu filho, você sempre nadou por prazer. Pense nisso.”.
Quando cheguei na piscina, o Dalty veio conversar comigo e explicou que o próprio Coaracy havia cancelado a decisão da comissão e decidido que eu só poderia nadar em observação na raia A. Eu olhei para o Dalty e falei: “Aceito, afinal todas as raias tem 50 metros mesmo.”. Ele riu e disse: “Não esperava menos do que isso!”.
Após a final dos 100 livres, quando os atletas foram chamados para a premiação, fui surpreendido com a menção do meu nome. Segundo o locutor, eu deveria comparecer para receber a medalha de bronze. Daí, lá do alto da arquibancada, não me contive gritei: “Diz para o Coaracy enfiar a medalho no…!!!”. Essa resposta, Epichurus não aprovaria. Mas, como escreveu o Maga, saiu no calor do momento.
No carro, voltando para casa, minha mãe me deu uma grande broca: “Não me matei naquela máquina de costura para você ser mal educado e desrespeitar os outros! Com seus amigos você pode xingar quem quiser, mas em público não! Assim você me envergonha! E tem mais, vai ter que ir lá e pedir desculpas ao Presidente da CBDA. Você pode discordar, assim como eu discordo, da decisão dele, mas não pode desrespeitá-lo.”. Com o dizemos nas Forças Armadas: missão dada, missão cumprida. Resolvi então esquecer o amargor e, como minha mãe já havia sugerido, nadar por prazer. E isso está estampado no meu rosto na foto junto com o Jorge e o Michelena. Aprendi mais essa…mimimi não vale!
Após nadar a final, refleti sobre os ocorridos do dia. Eu podia estar certo, mas a CBDA também, inclusive nem permitindo que eu nadasse em observação. Mas ainda acredito que a questão do estágio foi um erro de Direito, por isso coube recurso do Flamengo. Já as desclassificações são erros de fato. Os juízes esportivos erram, na maioria das vezes por inexperiência, mas nem sempre. É fácil dizer que o jogador estava em posição legal depois de ver o replay 03 vezes. Como não havia câmeras na época (câmeras que fizeram justiça para o Gustavo Borges em Barcelona), não havia recurso para os erros de fato, portanto Cristiano, confio na sua palavra ao afirmar que não fez nada para ser desclassificado, mas discordo da acusação de armação. Que armação é essa em favor do Flamengo que me tira da competição e depois te desclassifica? Deu queijo suíço e não marmelada.
Episódio 2: Piratas do Rio de Janeiro ou o Juiz Sérgio Moro é da CIA
…É meu maior prazer, vê-lo brilhar, seja na terra, seja no MAR!”. Essa é uma parte do Hino do Clube de REGATAS do Flamengo.
A ideia, como sempre, tinha que partir do Torteli. “Uma vez que o TB será no Rio e no meio do Carnaval, vamos bolar uma fantasia para a competição? Vai dar uma moral.”. Missão dada, missão cumprida. No começo pensamos em um tubarão. Mas tubarão além de manjado não tem barco. Onde ficam as regatas? Pirata então!!
Na época, a família Torteli acabara de comprar o apartamento vizinho ao que moravam. E ele estava vazio. Local perfeito para o nosso QG. Se não me engano, num sábado, reunimos quase toda a equipe. Antes do encontro, o Cicero, engenheiro que é, já foi bolando várias coisas. Comprou canos e conexões de PVC e assim fizemos, em equipe, a armação do barco. Com um pano marrom com pintura simulando as tábuas, envolvemos a estrutura para fazer o casco. Com papelão, fizemos as escotilhas e as âncoras. E batizamos o braço: Urubu das Piscinas. Foi uma diversão só, que ajudou a soldar nosso espírito de equipe, afinal tínhamos uma parada dura pela frente.
E não parou por aí: uma das irmãs Vidigal fez o desenho da caveira e, se não me engano, seus pais silcaram as velas e as camisetas. Minha mãe confeccionou todas as bermudas, bandanas, faixas de cintura e tapa-olho. Atletas, técnicos, pais, ou seja, todos se envolveram com o projeto. Até hoje minhas meninas brincam com os tapa-olho.
Enfim, o pensamento é livre e livre também deve ser a sua manifestação. Cada um pode pensar o que quiser e dizer, de forma educada, sua opinião. Tem gente que acha que o juiz Sérgio Moro é da CIA. Tem gente que acha que o Cordani comeu dois parmegiana em RP 2015. E tem gente que acha que a CBDA sempre favoreceu o Flamengo. Não há ofensas em trocar ideias.
Mas aquele barco, aquele barco…foi pura diversão! Só isso.
Episódio 3: Projeto Mesbla ou Quem mexeu no meu queijo?.
Daltely sempre defendeu os nadadores, independente de qual clube eles pertenciam. Ele dizia que a natação do Flamengo tinha uma porta de saloon instalada na portaria. Quer entrar? Seja bem vindo! Quer sair? Obrigado por tudo! Quer voltar novamente? Estou feliz em tê-lo novamente como atleta! Ou seja, a porta abria para dentro da mesma forma que abria para fora.
Para quem não sabe, Daltely Guimarães era amigo pessoal dos donos da Mesbla. Ele plantou a semente do Projeto Mesbla. Era sua “menina do olhos”. Havia critérios técnicos para que o atleta entrasse no Projeto. Nunca foi levada em consideração qual camisa o nadador estava vestindo na ocasião. O que valia era colocar a camiseta da Mesbla no peito dos nadadores que fizessem por merecer. Ele até me contou que tinha esperança de que eu a Patrícia Amorim entrassem no Projeto.
Eu acompanhei o sofrimento do Dalty com aquela briga e a declaração para a imprensa. Mexeram no queijo dele. Não estou julgando o Vlad nem o Cristiano. Repito a frase do Maga: foi o que aconteceu no calor dos acontecimentos. A situação era a imagem negativa que foi associada, momentaneamente, ao Projeto Mesbla. O Daltely me confidenciou que os donos da Mesbla queriam expulsar os dois e pensavam até em encerrar o Projeto. O Dalty intercedeu e conseguiu uma suspensão da ajuda de custo por 03 meses, sanção que eu acho que nem foi imposta. Aprendi mais essa…
Pois bem pessoal, acho que já me alonguei demais. Agradeço a oportunidade de mostrar um outro lado da história.
Mas sabem o que vejo nisso tudo: nadávamos com paixão! Uma paixão tão forte que nos levava até as vias de fato! Uma paixão que nos fez rir e chorar! Uma paixão que nos reúne aqui, nesse blog, para completarmos esse quebra-cabeças!
Putz, acho que isso não existe mais…
Boa Julinho, de facto uma paixão que nos fez rir e chorar.
Quanto ao parmigiana de 2015, acho que essa foto encerra a questão:
Grandes abraços pebas.
Sinto muito General, mas a foto não prova que você comeu o segundo parmegiana.
Tem filmagem?
Julinho,
Belíssimo relato, obrigado amigo.
Pelo que entendi, a foto prova que Cordani não comeu o segundo parmegiana. Após a constatação, os amigos tiraram a foto com o sinal de negativo, desaprovando a performance, não é isso?
Sobre o episódio 1, quanta sabedoria da sua mãe, como você foi bom aluno, não lembrava que a decisão de você não poder nadar havia acontecido depois do início da competição e por fim, e mais relevante para o âmago da principal discussão, muito sentido na questão: “que tipo de armação é essa…”?
Sobre o episódio 2, muito legal. Me fez lembrar do que aconteceu no TB seguinte em que nos reunimos na casa da família Bonk para fazer o jacaré que desfilou pelas arquibancadas do Ibirapuera. Grades momentos em equipe!
Sobre o episódio 3, que bacana seu relato sobre o jeito do Dalty e equilíbrio nas ponderações finais.
Gosto muito do início de um filme do Brian de Palma – Olhos de serpente – depois ele fica longo e cansativo, mas no início, a cena de uma luta de boxe é passada 7vezes com percepções diferentes sobre os mesmos fatos, é assim que vejo a troca que surge nos comentários desses posts.
Forte abraço!
Grande Julinho, obrigado pelas suas colocações, você sempre foi um atleta exemplar e um ótimo amigo. Mais do que tudo, nos divertimos muito ao longo de tantos anos. Lembro de muita farra boa que fizemos desde a época do Flu, quando o MTC vinha ao RIO convidado e nos hospedávamos na casa dos atletas. O convívio com as famílias ficou guardado para sempre. Foi muito bom ler sobre como se desenrolou a restrição à sua participação nesse TB. Ilustrou a forma autoritária em que eram tratados os assuntos técnicos na CBDA, justamente o contrário da honestidade dos atletas, e da capacidade que temos de avaliar e compreender as (muitas) alegrias e as (pouquíssimas) tristezas vividas nas piscinas. Sim, o projeto Mesbla suspendeu três meses a mim (pela entrevista) e ao Vlad, e aquele dinheirinho fez uma falta danada…. kkkkk. A paúra era de lascar… Sou grato a tudo, especialmente a ter convivido com todos vocês. ABs
Amigos , que saudade de vocês!!! Quanta coisa passamos juntos . Muita coisa mesmo…
Estava lendo e lembrando desse tempo , fui muito feliz.
Ainda que na base do destrosol ( adorei isso!), e ainda que tivéssemos patrocinadores , a nossa condição era essencialmente amadora. Assim como nossos sonhos e realizações apaixonadas e românticas. Tínhamos amigos como o Jorge que conseguiu estar em três Olimpíadas e ser medalhista, o Castor e o Julio com medalhas Pan-Americanas , que eram atletas espetaculares. Mas a condição que tínhamos não é , nem de perto, parecida com a de hoje. E se querem saber, não sei se teria sido melhor… Menos difícil, com certeza.
Antes de falar sobre 1989 , tenho que agradecer ao Maga que com sua elegância e memória , nos traz lembranças que estavam guardadas, esquecidas , mas tão profundas…
Esse foi um daqueles longos e doloridos Campeonatos ( ao menos pra mim que nadava oito provas), onde nós parávamos no tempo, e só vivíamos para estar alí.
Confesso que sempre fui alienada dos eventos externos, mas em especial nesse Troféu Brasil pós Olimpíadas , véspera de Carnaval e com quase vinte anos querendo viver tudo de uma vez, nada me passou desapercebido. Todo ano era essa agonia, não tínhamos férias, campeonatos seletivos e , portanto aqueles que eram convocados para seleção não tinham descanso. Normalmente tínhamos os dias de carnaval, mas esse ano até disso fomos privados . Sim porque ao final do campeonato estávamos mortos. Já tínhamos passado em 1985, Troféu Brasil em Campinas no meio do Rock in Rio!
Pensando também no Carnaval perdido, nossa equipe sob a liderança do Cícero, passou todo o período de treinos pensando em construir um barco!!! Então treinávamos duro e ao final do treino era o projeto do barco, a fantasia, o tecido e tudo que envolvia o projeto. Particularmente era até um pouco frustrante para mim, pois a primeira prova era sempre a minha, então não viveria o desfile nem podia me concentrar nisso. Mas foi tudo muito legal.
A orientação que recebia sempre do Dalty era, que a minha era a primeira prova, onde a equipe apresenta seu cartão de visita( tipo termômetro), dizia:”vai lá ganha e bate recorde de preferência sul- americano para bonificação” . E falava com tanta calma e confiança que… acabava acontecendo. Nesse caso específico foi a prova de 1500 livre, onde consegui abaixar pela primeira vez os 17 minutos. Começamos bem!!!
A gente sentia uma atmosfera pesada realmente, as disputas eram duras e ponto a ponto. Nos preparamos tanto , que nosso revezamento 4X100 livre feminino bateu o recorde Sul-Americano( nessa época sem estrangeiras). Não sei se foi no segundo ou terceiro dia , disputei os 200 livres com a Isabelle e com a Maria Cecília Giacáglia(não sei se escreve assim). Teria os 200 livres masculino e logo em seguida eu nadaria 400 medley(não era especialista, mas era um buraco que o Flamengo tinha, então.. sobrou pra mim). Passei dois meses treinando costas, e fiquei com uma dor no pescoço tremenda, além de pernada de peito. Na verdade nadava borboleta e fechava bem de crawl no final. E foi o que fiz, fui na raça e acreditando no final da prova, consegui. Tá cansada? Nada disso , respira que tem 4x200L. No dia seguinte vinha os 800L, os 400L e os revezamentos que fechava para disputar até o último segundo. Nossa ,e éramos felizes…
Ao longo do campeonato o clima foi esquentando. Bem diferente do normal, as premiações dos revezamentos eram disputadas , isso mesmo! Ao menos as meninas estavam se estranhando, eu que não presto muita atenção percebi e me senti muito desconfortável com tudo o que aconteceu.
Não acho que tenha tido qualquer ajuda ou “mamata”.Gente posso garantir que não viria do Daltely nada parecido com isso. Não sei quem era o dirigente do Clube na época, mas nunca ouvi nada a respeito . Se erraram na arbitragem era porque eram ruins mesmos.
Vi e vivi posteriormente como dirigente disputas acirradíssimas com o Sr. Eurico Miranda ,e posso afirmar que é tudo muito diferente.
Vamos viver com as nossas convicções e divergências , mas sem perder o que mais precioso levamos desses tempos, o respeito e a amizade fraterna.Os pontos os recordes, as medalhas se foram… ou enferrujaram.
Adoraria estar com vocês, discutir e lembrar cada ponto e continuar com a certeza que apesar de tudo valeu muuuuito a pena!!
De nada, Patty.
Muito gostoso lembrar, não é?!
Vem mais alguns por aí…
Gostei muito do tom do seu texto, que expressa todo amor pelo nosso querido esporte.
Apareça mais vezes, um beijo grande.
Nadou e venceu os 400 medley!
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