Não dá para falar da minha vida sem falar de natação.
Adoro esse esporte. É, sem dúvida, a atividade a que me dediquei com maior prazer. E sem mencionar a fascinante parte competitiva, orgulho-me da maneira como as pessoas veem a minha relação com a piscina.
Ainda no tempo da faculdade, havia um colega – Marcos Carioca – que várias vezes ao ver-me sair apressado após o término da aula disparava cheio de sotaque: “e aí Fernandinho, vai castigar a molhada?” – sorria consentindo, embora eu a bem tratasse, e corria para mais uma sessão de treinos.
No Troféu Brasil de dezembro de 1990, a equipe do Curitibano passava por um momento turbulento. Eu estava muito triste com a ruptura iminente, que de fato ocorreu na sequência, e chorei algumas vezes no quarto do Guanabara Palace Hotel. O Tite – Roberto Clausi Júnior – entendeu e na quase na hora que iríamos sair para a etapa em que tinha a final dos 50m livre me entregou esse postal:
A bolacha (medalha) não veio. Fiquei em 4º empatado com o Vreco – Álvaro Pires, 5 centésimos atrás do Jeferson Mascarenhas.
No começo de 1993, morava em Curitiba, competia pelo Esporte Clube Pinheiros e tinha acabado de me formar. Com a mudança de foco percebi que não tinha mais pique pra fazer os treinos que há um ano e meio chegavam pelo fax às 2as feiras de manhã. Mandei uma carta pro Arizona pra contar pro Renato (Ramalho) e pro Castor (Cristiano Michelena) que estava parando de nadar. Aí liguei pro Alberto(Klar) pra dizer isso, e que como não teria mais como garantir resultados, eu achava melhor me desligar da equipe. Ele não aceitou a conversa como definitiva e me prometeu um retorno. Quem ligou de volta foi o Miguel Cagnoni, diretor de natação, dizendo que estava vindo pra Curitiba e queria falar comigo. Dois dias depois fui com o LAM – Luiz Alfredo Mader – buscá-lo no aeroporto. Imaginava ouvir um incentivo a voltar a pegar pesado nos treinamentos ou até um convite para ir para São Paulo, alternativas que estavam fora de cogitação e para as quais já tinha respostas prontas. Duas coisas me surpreenderam durante o almoço: o quanto o Miguel gostou e repetiu aquele aipim com linguiça calabresa que minha mãe preparara e a hora que ele disse o seguinte: “Olha Maga, eu entendo que a vida tem momentos diferentes e respeito sua decisão. Só quero dizer que você ajuda nossa equipe muito além dos resultados e quero te convidar a continuar competindo conosco enquanto tiver prazer, nem que seja só pra nadar 50m livre”. Proposta irrecusável.
Eu já tinha desistido de pendurar a sunga, começado a escrever meus próprios treinos com uma grande diminuição de ritmo e a experimentar uma nova relação com o esporte, quando chegou a resposta do Arizona:
Muito significado pra mim, vindo de um grande amigo e maior parceiro que tive na minha vida competitiva.
Eu e o Renato em frente ao Complexo esportivo Jean Bouin em Nice, na França, onde foi disputada a Copa Latina de 1989.
Por mais dois anos e meio nadei regionais, estaduais, Troféus José Finkel e Brasil. Nos brasileiros meu padrão passou a ser Final A nos 50m livre, Final B nos 100m livre e equipe B dos 4x100m livre, que geralmente rendia uma medalhinha de bronze na bagagem. No Finkel de julho de 1995, entretanto, não peguei final nos 50, nem B nos 100 e nem entrei no reveza. Foi o último de 12 Troféus José Finkel.
Nunca me desliguei da natação. Fiz algumas boas temporadas no Master e hoje alterno uma ou duas caídas de 2 mil por semana, com outras atividades físicas.
No último domingo fui ao Clube Curitibano assistir as finais do último dia do Troféu Carlos Campo Sobrinho – Campeonato Brasileiro Juvenil. Acompanhei as provas, algumas eletrizantes, ao lado do técnico e amigo Christian Carvalho. Fui surpreendido pelo convite do presidente da FDAP – Federação dos Desportos Aquáticos do Paraná – Luiz Fernando Graczyk para fazer uma premiação. O locutor anunciou: “Para premiar os vencedores da prova, convidamos Fernando Magalhães, ex-atleta do Clube Curitibano e do Esporte Clube Pinheiros, com várias passagens pela Seleção Brasileira, que muito nos honra com sua presença e antes acostumado aos pódios, hoje premia os vencedores dos 100m nado de peito, Pedro Valente, Felipe Monni e Andreas Mickosz”, foi uma grande e feliz coincidência ver representantes dos clubes que defendi nos dois degraus mais altos do pódio. Ainda fiquei por ali e premiei Bruna Primati, vencedora dos 400m livre, do Paineiras do Morumby.
Escolhi falar sobre reconhecimento no meu primeiro post porque é assim que vejo o convite do Cordani e do Munhoz para escrever no Epichurus. Tenho várias histórias para contar, algumas que trouxeram aprendizados para toda a vida, outras são apenas curiosas ou divertidas. Relatos homenageando trajetórias de grandes atletas e os caminhos de vitórias e derrotas percorridos para a conquista da tríplice coroa – maneira com que o Lelo – Marcelo Menezes -refere-se a glória de alcançar a medalha de ouro em provas individuais no Julio Delamare, Finkel e Troféu Brasil e que eu tive o prazer de realizar.
Sinceramente, eu acredito que vocês vão gostar.
Um forte abraço a todos os leitores,
Fernando Magalhães
Fernando, Parabéns pela ternura e detalhes de cada momento que vc retrata na sua história.
Oi Grácia, muito obrigado.
Sinto-me privilegiado por ter boa memória e contente por poder contar essas histórias para velhos e novos amigos. Obrigado pela leitura, pelo comentário e pelo carinho.