EPICHURUS

Natação e cia.

Use e abuse da sua determinação… em seu favor

Uma das mais alegadas vantagens de se praticar um esporte competitivo é adquirir determinação e força de vontade. Meu amigo Pacheco contesta essa afirmação, ele acha que ocorre justamente o contrário: para ele, os determinados é que acabam procurando o esporte. Eu mesmo acho que é um mix das duas coisas, mas tendo cada vez mais para a hipótese de que o esporte (e a natação em particular) ajuda na formação da força de vontade do cidadão (um bom artigo sobre o tema aqui).

Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, concorda comigo: “O tênis foi muito importante, porque ele exige muita disciplina, muito treino, muita competição. Então eu gostava de competir. No tênis você aprende que para ser bom mesmo você tem de treinar. Tem de gostar do que você faz, aprende que você ganha e perde, e quando perde pode usar aquela experiência para aprender. Por isso, a minha atitude nos negócios sempre foi de estar ligado, ter foco“.

De qualquer forma, seja genético ou forjado na experiência, o fato é que se você chegou a nadador adulto e participa (participou) de brasileiros de Junior II pra cima, você COM CERTEZA tem muita força de vontade e determinação (*). E o mais legal de ser ex-atleta é que podemos usar esse grande legado que temos ou adquirimos para nos destacar na nossa profissão. Poucas são as tarefas no trabalho mais extenuantes física e mentalmente do que aquilo que experimentamos em uma temporada competitiva, não é mesmo? Perto de tudo isso, o trabalho parece fácil!

(*) N do A: hoje em dia usa-se muito o termo “superação”, que eu não gosto muito, mas se você gosta do termo, é disso que estamos falando. 

Pois bem, sigamos. Outro dia o Eduardo Hoffmann (nadador de peito da minha época) escreveu um ótimo comentário no artigo do Lelo, reproduzo abaixo o trecho que quero discutir aqui:

Já se falou um pouco no Epichurus sobre a mudança de perfil do nadador de alto rendimento de hoje, no Brasil, em relação a um passado… mais especificamente, no que se refere à busca de educação formal de nível superior (de qualidade, ao menos, razoável), e, consequentemente, uma “viabilidade econômica” maior, no pós-natação… Passamos de um modelo de “white collar swimmers”, para “blue collar swimmers”, ou, em português, “operários da natação”. Seria como mudar do modelo Americano, onde a imensa maioria faz faculdade, para um modelo Chinês/Russo, onde a natação é, para muitos, uma oportunidade única de segurança financeira, e ascensão social (mais análogo ao serviço militar nesses países).”

O foco do Hoffmann era o incentivo ao doping, mas eu queria voltar ao que ele disse sobre a “viabilidade econômica do pós-natação“.

No modelo americano, o cidadão usa a determinação e força de vontade que tem para fazer uma faculdade e se destacar na nova profissão. Já no que Hoffmann chamou de modelo chinês/russo/brasileiro, o cara usa sua determinação e força de vontade para… prolongar a carreira de nadador!

Não tenho nada contra prolongar a carreira de nadador, eu mesmo na época teria gostado muito de competir como a Fabíola ou o Romero até os 40 anos, mas o fato é que minha ficha começou a cair aos 19, e aos 23 quando abandonei o profissionalismo eu já tinha total consciência de que eu não iria sobreviver de natação ou da minha imagem para sempre (como, aliás, o fazem muito bem Fabíola e Romero). Nesse sentido hoje em dia sou grato por ser semi-peba, se eu fosse um pouquinho melhor talvez estivesse nadando até hoje!

Aos 20 anos, poucos dias  depois da tragédia do Ibirapuera, pegando firme na profissão.

Aos 20 anos, poucos dias depois da tragédia do Ibirapuera, pegando firme na profissão.

O ponto é que hoje em dia aqui no Brasil os altos salários pagos aos atletas jovens parecem estar incentivando esses atletas a continuarem a nadar ao invés de usar a sua energia e determinação em outras profissões mais longevas.  Sendo a carreira de nadador relativamente curta, salvo exceções o cidadão chega aos 32-35 anos e só aí percebe que já não consegue estimular os clubes a lhe pagarem altos salários, e pior, já não desenvolveram outra profissão ou não colocaram a energia necessária para se destacar nessa outra profissão, pois a energia foi gasta em treinos dificílimos e desgastantes para… pegar final em Maria Lenk.

Segundo informações seguras, no Brasil de 2015 poucos são os/as nadador@s além dos 20 anos que ainda estudam. O que farão esses caras ou essas moças quando já não pontuarem para seus clubes?

Não gosto muito de dar conselhos não-solicitados, afinal se conselho fosse bom ninguém dava de graça. Mas aqui com meus botões epichurísticos, dirijo-me às/aos jovens atletas que já são adult@s (e não parecem ser nenhum Matheus Santana nem Larissa Oliveira) e arrisco um conselhozinho: ter determinação e força de vontade ou, vá lá, “capacidade de superação” é uma bênção. Vocês têm muita. Usem em vosso favor!

Sobre rcordani

Palmeirense, geofísico, ex diretor da CBDA e nadador peba.

46 comentários em “Use e abuse da sua determinação… em seu favor

  1. Rogério Romero
    4 de maio de 2015

    Cordani, esta deveria ser uma preocupação constante. Apesar de não ter parado aos 40 como você mencionou, caso tivesse uma orientação, poderia ter me preparado melhor para a transição de carreiras. Não sei se é papel do clube, do(s) governo(s) ou do próprio atleta (maior interessado), mas existe uma lacuna aí.

    O COB lançou algumas iniciativas neste sentido
    http://www.cob.org.br/noticias-cob/cob-lana-programa-de-apoio-ao-atleta-atravs-do-instituto-olmpico-brasileiro-024508
    e também o COI
    http://onlinecourse.olympic.org/
    Não sei se são suficientes, pois atendem apenas a casta esportiva, mas acredito que são importantes.

    Aliás, o EAD hoje em dia permite uma facilidade na conciliação entre universidade/estudos e esporte que era mais difícil antes. Aproveitem!

    Abraço.

    • rcordani
      5 de maio de 2015

      Boa Piu.

      Essas iniciativas são muito boas, mas pelo que eu li, o programa do COB trata de cuidar dos atletas que já são destaque, ou seja, aqueles que podem sim viver do esporte e/ou da imagem, já o meu texto trata de gente que não teria/terá essa chance.

      Quanto à sua aposentadoria, a gente precisa pensar em escrever um post sobre ela, que durou oito anos e duas olimpíadas para se concretizar!

  2. Patricia Angelica
    4 de maio de 2015

    Apenas aqui de pé, aplaudindo e assinando embaixo.

  3. Patricia Angelica
    4 de maio de 2015

    Agora… uma coisa que eu to me perguntando: vamos ter bolão no Mundial esse ano? E nos Jogos Olímpicos??? Acho uma ótima, porque é divertido demais! =D

    • rcordani
      5 de maio de 2015

      Sim, isso é com o Charlão, mas acho que vai ter sim!

      • Rodrigo M. Munhoz
        5 de maio de 2015

        O Charlão anda meio sumido… ou totalmente sumido?

    • charlaodudo
      5 de maio de 2015

      Teremos bolão no mundial e nas Olímpiadas sim! Estou negociando os prêmios com os patrocinadores do Epichurus e pelo visto o campeão vai levar um belo prêmio para casa.

  4. Luiz F Carvalho
    4 de maio de 2015

    Otimo post, Cordani. Concordo como Hoffman que a natacao de elite do Brasil ficou mais “operaria” e o modelo seguido nos deixou mais distante do modelo Americano. Certamente a nossa natacao de elite se tornou mais competitiva nas ultimas decadas (mais titulos) mas acho que de uma forma geral o nadador de elite de hoje no Brasil acaba a sua carreira menos preparado, ou seja em pior situacao, para os longos anos “pos-natacao” em relacao ao que acontecia na minha epoca (mid-70s to mid-80s). Acho isso perigoso e gostaria de saber o que os nadadores de elite do Brasil de hoje pensam disso.
    No time olimpico que participei em Los Angeles 84, que eu saiba, 7 dos 7 nadadores se graduaram em universidades. Ao menos 5 deles fizeram (e completaram) graduacao e/ou pos-graduacao nos EUA.
    Acho que as estatisticas da natacao de elite nos EUA de hoje sao ainda similares pois um dos maiores beneficios para um nadador de alta qualidade aqui ainda eh poder estudar numa das melhores (e caras) Universidades americanas com bolsa.
    Meu objetivo tambem nao eh dar conselho mas acho que ao menos os atletas de elite de hoje devem ao menos considerar que por maior que seja a carreira de nadador(a), a maior parte da vida acontece fora da piscina.

    • rcordani
      5 de maio de 2015

      Sim Luiz, todos os olímpicos de 1984 encontraram seu espaço (se bem que do Ronald de Menezes eu nunca mais ouvi falar).

      Mas muito além da questão da universidade (estudar/não estudar), a grande diferença das realidades mid 80 para a de hoje é a idade da aposentadoria aquática, que faz TODA a diferença.

      Ou seja, mesmo que o cidadão tenha diploma (o que como sabemos nem é tão comum), ele só vai começar a trabalhar (se começar) lá pelos 35 anos, e aí normalmente é tarde demais…

  5. Indiani
    4 de maio de 2015

    Boa tarde !
    Meu comentário segue o resultado de um final de semana com nadadores olímpicos aqui nos EUA.
    Estive em uma competição chamada JAX50(para assistir o evento http://www.swimswam.com/jax50) onde pude jantar e almoçar com todos os 7 dos 8 que lá estavam…
    Todos trabalham fora a natação(com excessão de um que é do País onde nascemos), e fazem seus treinos normalmente. Teve até uma nadadora que foi medalhista em Londres que disse: “Meu treinador disse que não gosta que eu trabalhe, e eu lhe respondi – Tenho minhas contas pra pagar e nem Você e a USA Swimming vão fazer isso por mim…”
    Ela e os outros estão certos?!
    Não sei, isso prova que eles estão inseridos em um sistema diferente. Melhor ou pior, certo ou errado; simplesmente na minha cabeça fica o Certo e o “EU FARIA DIFERENTE” !
    Por aqui,
    #primeiro: se Você recebe $ pra nadar(ser Profissional), automaticamente perde o direito de representar uma universidade.
    #segundo: o $ que se ganha aqui sendo “nadador profissional” não chega nem perto do montante que os “BRAZUCAS SWIMMERS” ganham dos clubes, e ainda reclamam…
    Por ser um nadador de Olimpíada e Mundial, de início a pessoa já sai de 10 mil pra cima, somado a patrocínio dos Correios e outros particulares, chagam na casa dos 20 mil/mês sem ter ganho nenhuma medalha, somente por ter participado.

    Quando um “cidadão” neste sistema vai pensar em parar?!
    Quando um “cidadão” deste vai ganhar esta “BUFUNFA” quando parar de nadar?!
    Quando um “cidadão” deste vai pensar em estudar?!

    Meus caros e queridas, de quem é a real culpa desta “fatura”?!
    Educar fica mais fácil que reclamar depois, só que demora…
    Quem vai pagar a conta no final?!

    RESPOSTA: -Quem tiver “culhão” para iniciar este processo de EDUCAÇÃO na cofederação, federações, clubes, e com os dirigentes, treinadores, atletas e pais.

    Mais um ponto:
    Entre 1999 e 2001, tivemos a “ERA FLAMENGO e VASCO” onde “qualquer” um recebia nem que fosse 100 reais para não sobrar no mercado e consequentemente poder marcar ponto pro adversário.
    Tivemos campeonatos nacionais absolutos com estas equipes sendo representadas por mais de CEM(100) atletas e mais de VINTE(20) treinadores fora as equipes de apoio.
    Eu não conheço nenhuma seleção ou clube no mundo com um plantel deste, e Vocês conhecem?!
    Pois bem, uma conta assombrosa pra ser paga no final(muitos estão na justiça até hoje pra receber), e um projeto de megalomaníacos pra “brincar” de EU POSSO MAIS QUE VOCÊ.

    Tive o “prazer” de ser procurado por um “JONNY NOBODY” que ao se apresentar, me disse que recebia 4 mil reais em um dos dois times acima citados, e queria saber quanto seria seu salário?
    Minha resposta: – Desculpe fazer Você perder o seu tempo, mas este clube não oferece o seu padrão salarial, Abraço…

    Enfim, pra não escrever um livro, a mudança é complexa mas tem de ser feita…
    Quem se atreve?!?!?!?!

    • rcordani
      5 de maio de 2015

      Indiani, mas de onde sai todo esse dinheiro para pagar esses salários? São empresas particulares que sustentam os clubes, são os associados desses clubes ou empresas estatais?

      Se forem empresas privadas, ótimo, e não há o que fazer. Há a demanda pelos atletas, os atletas querem cobrir essa demanda e o máximo que podemos fazer é aconselhá-los (como fazemos), mas com pouca chance de sucesso – vide o seu próprio post e o do Lelo.

      Se forem os associados dos clubes, o problema é dos clubes. Sei que os associados do Paineiras e o Paulistano NÃO estão dispostos a arcar com esses custos.

      Se forem estatais, aí é um problema político, a ser resolvido com discussões pela sociedade e eleições. Eu mesmo sou contra que uma grande parcela do dinheiro do esporte vá para o esporte de alto rendimento, eu preferia vê-lo investido em esporte tipo educação esportiva.

      Então, para saber como mudar é preciso “follow the money”, né?

      • Indiani
        5 de maio de 2015

        Bom dia Cordani.
        Na verdade, não estou questionando a origem do dinheiro.
        Meu questionamento é sobre algo mais complexo que o “din-din”, falo sobre a cultura !
        A cultura é muito mais complexa que pura e simplesmente o dinheiro. Todos NÓS(envolvidos no esporte) devemos orientar e esclarecer essa “GURIZADA” !
        Como assisti uma vez a entrevista do CILINHO quando estava no SPFC, e o mesmo pregava a importância da orientação dos jogadores em todos os aspectos, inclusive financeiro.
        Este é o meu ponto…
        Forte abraço

      • rcordani
        5 de maio de 2015

        Aí sim, nessa parte (cultura) a gente atua, tamo junto irmão! Grande abraço

  6. Lelo Menezes
    4 de maio de 2015

    Pois é. Eu gosto desse tema e o assunto é bem complexo. Quisesse que todos nós ouvíssemos com mais atenção o conselho dos mais velhos. Se eu tivesse 20 anos ganhando 10k+ eu provavelmente não teria parado de nadar e teria pago esse preço nos dias de hoje. Sorte a minha e a da maioria da nossa geração que tinha claramente na cabeça que depois da formatura universitária a carreira de nadador tinha que morrer, infelizmente, mas tinha…

    O pior de tudo é se colocar no lugar dessa turma. O cara é um ótimo nadador, respeitado no meio, cheio de mulher no pé, ganhando perto de 20k por mês e de repente o cara tem que parar, sem estudo, sem experiência profissional e na melhor das hipóteses consegue alguma emprego pra trabalhar com natação ganhando 10 vezes menos. Deve bater uma baita depressão.

    A saída talvez seja a conscientização. Se o cara é solteiro, sem muito custo na vida, ganhar 10k+ por mês por 10 anos dá pra fazer um bom pé de meia, e aí de repente o cara consegue abrir algum negócio. Acho que a Fabiola fez isso! Agora se o cara for viver a vida do Lobo de Wall Street, aí o futuro desse cara vai ser terrível. Alias, no futebol onde a grana é muito maior, quantos ex-craques estão na sarjeta?

    Tenho certeza que nos próximos 10 anos receberemos e-mails de alguém pedindo ajuda pra algum ex-nadador que tá na miséria. Pode apostar que isso vai acontecer!

    • Eduardo F. Hoffmann
      4 de maio de 2015

      Pois é, Lelo… Lembrando que, até para poder trabalhar com natação, é preciso estudar. Sem diploma de educação física, essa opção não existe.

      • rcordani
        5 de maio de 2015

        Hoffmann, em primeiro lugar obrigado pelo tema.

        Quanto ao diploma de EF é verdade, mas nessa profissão o atleta não sai perdendo (muito) com os anos de treinamento extra, pode usar como experiência, etc, ao contrário de todas as outras profissões.

      • Eduardo F. Hoffmann
        5 de maio de 2015

        Sim, Renato, nessa carreira, dá pra “alavancar” a experiência de atleta… mas, em algum momento, o curso tem que ser feito, e finalizado, não é? Pra quem adia a entrada na faculdade até os vinte e altos, talvez trinta, voltar a estudar, tanto pra entrar em faculdade, como pra concluir curso, não é trivial…

    • Luiz F Carvalho
      4 de maio de 2015

      Bom ponto, Lelo. Estamos vivendo a “futebolizacao” da natacao de elite so que com o detalhe que o nadador ganha muito, mas muito menos que o jogador de futebol. A saida eh mesmo a conscientizacao. Entender o que acontece quando a carreira de nadador termina. Olhar como muitos atletas de elite dos EUA pensam e agem, tambem ajudaria. Interessante ver o exemplo de Katie Ledecky.

      • rcordani
        5 de maio de 2015

        Sobre a Ledecky, clique aqui para ver o post do Hoffmann no Facebook onde nós discutimos (Luiz, Hoffmann, Lelo, eu, etc) essa questão que tem tudo a ver com o presente post.

    • rcordani
      5 de maio de 2015

      Boa Lelo, eu também tenho certeza absoluta que se ganhasse essa grana teria competido até mais tarde e pagaria o preço hoje.

      E só para complementar, acho que não chega a ser um problema social importante como o do futebol em virtude do baixo número de indivíduos envolvidos. São 100, 200?

      • Eduardo F. Hoffmann
        5 de maio de 2015

        Renato, talvez possa ser estimado o número daqueles que se “profissionalizaram”. Talvez esse número de 200 que você citou seja uma boa aproximação. Entretanto, há, além desses, um nível imediatamente abaixo, daqueles que “estão quase lá”, da faixa de 17, 18 anos, muitos dos quais “tiram o pé do acelerador”, em termos de estudos, antes mesmo de saber se “vão mesmo entrar numa graninha boa”… Perigoso isso…

        Em termos de “problema social”, realmente, não é algo tão relevante como no futebol. Nem acho que essa seja a tônica dessa nossa troca de ideias… Tá mais pra uma discussão de um modelo melhor, para o esporte de que gostamos. Uma natação que, assim como nos USA, poderia, além das glórias esportivas, significar oportunidades que vão além do primeiro 1/3 ou 1/4 de vida dessa turma toda.

        Por último: para os “profissionais”, que realmente “entraram em alguma graninha”, seria altamente interessante que recebessem orientação de qualidade sobre finanças pessoais, para, caso um diploma nunca venha, que o capital acumulado e investido seja suficiente para empreender, e gerar sua própria ocupação…

      • rcordani
        6 de maio de 2015

        Hoffmann, verdade, há gente sem a menor chance de virar craque parando de estudar por conta de parcos salários, realmente nessa turma a abrangência pode ser maior.

  7. Rodrigo M. Munhoz
    4 de maio de 2015

    Quase nada a acrescentar além dos comentários acima… Eu mesmo gostava tanto de nadar que continuei até quando o programa de trainee do Wal Mart não deixou mais mesmo. Mas eu já não gostava tanto de competir e sentia que tinha passado meu prime há tempos… Seria diferente se eu estivesse super bem na água certamente… Só não sei quão diferente.
    Sempre tive a clara noção de que o dia de trabalhar pra ganhar a vida chegaria e seria determinado pela necessidade de me sustentar. Eu sentia que tinha que me preparar pra isso – acima de tudo com estudo e senso de responsabilidade. Hoje acho que o processo foi mais sobre adquirir uma certa consciência de que a natação era mais um meio do que um fim na vida adulta. Escrever isso me parece meio cínico agora, especialmente quando lembro de quanto me dedicava e dava importância ao esporte, mas acho que o pragmatismo dos meus pais me ajudou a não me apegar além da conta a natação. O fato de querer ser independente depois de formado nos EUA, só acelerou o processo.
    Se a natação me ajudou na vida profissional? Quero acreditar que sim…especialmente me acostumando a manter a calma em momentos de alta pressão.
    Mas a discussão é boa…

    • rcordani
      5 de maio de 2015

      “Pragmatismo dos seus pais” e (permita-me acrescentar) o espírito da época.

      Nos mid 90 só os Gustavos Borges e Xuxas da vida podiam viver de natação, né? Hoje em dia nadadores semi-pebas podem sonhar também (embora com a vida futura comprometida, conforme o conteúdo do presente post).

  8. mpacheco1
    5 de maio de 2015

    Dois pontos:
    1. pelas palavras citadas de Jorge Paulo Lemann, fica a impressao que ele concorda comigo, e nao com voce! Ele diz que “gostava de competir”, evidencia de que foi tao longe no tenis porque tinha o perfil, e nao que virou competitivo porque entrou no tenis! Um dos erros mais comuns das analises superficiais e’ a causalidade invertida
    2. como comentario geral, me parece que paises competem no quadro de medalhas segundo a nocao, bastante popular e completamente cretina, de que sua posicao no mesmo reflete a pujanca do seu modelo economico e, portanto, de seja la quem for o partido politico no poder naquele momento. Assim sendo, entuchar dinheiro publico no objetivo de se arrecadarem medalhas nos jogos de 2016 virou prioridade politica. Inicialmente todo mundo adora ver mais recursos financeiros fluindo para o esporte, principalmente atletas e ex-atletas. Mas ninguem ve esse custo escondido, que so vai aparecer la na frente, de muitos ex-quase-campeoes que foram induzidos a permanecer no esporte alem do que seria otimo. Voce sabe qual a minha posicao, sou totalmente contra isso e o unico remedio e’ uma exposicao diaria a grandes doses de bom senso.

    • Indiani
      5 de maio de 2015

      GRANDE PACHECO !
      Você usou a palavra que vale o 1o. milhão: BOM SENSO !
      Palavra pouco usada pela maioria, mas a minoria te sabe usar, esta em outro patamar…
      Forte abraço.

    • rcordani
      5 de maio de 2015

      Pachecão, vamos aos pontos:

      1) se o sr. ler bem o texto verá que minha ideia é um MIX das duas coisas, e como o JPL também disse “No tênis você aprende que para ser bom mesmo você tem de treinar. Tem de gostar do que você faz, aprende que você ganha e perde, e quando perde pode usar aquela experiência para aprender.”, creio que ele concorda comigo que é um mix.

      2) passou da hora de o sr escrever seu terceiro artigo no Epichurus, taí um bom tema!

      abratz

    • Eduardo F. Hoffmann
      5 de maio de 2015

      Pacheco, acho que há elementos para dizer que, tanto você, quanto o Renato, têm razão. Explico: o esporte competitivo, realmente, atrai aqueles que possuem, oras, espírito mais competitivo. Quem gosta de competir. Essa parte é maiormente inata.

      Entretanto, a dura rotina de treinos, lidar com insucessos sem desistir (resiliência), a disciplina e organização necessárias para conciliar esporte e estudo, etc… são aprimoradas no dia a dia de esforço. Obviamente, há aqueles que já nascem para “couch potato”, mas, entre os que não nasceram “molengas”, é fato que, anos e anos de prática, e crescente exigência, melhoram essas qualidades.

      A propósito, tanto a competitividade inata, quanto resiliência/disciplina/organização/etc… são de extrema valia na vida em geral, e na vida profissional, em particular.

    • Luiz Alfredo Mäder
      6 de maio de 2015

      Há controvérsias sobre se a posição no quadro de medalhas “reflete a pujança do seu modelo econômico e, portanto, de seja lá quem for o partido político no poder naquele momento.”
      Houve (ram) brasileiros torcendo contra a Seleção Canarinho em 2014 apenas por questões políticas, mas esta tese não se sustentou, perdemos de lavada e o governo ganhou a eleição.
      Assim, pode dissociar a política do esporte, isto morreu junto com a Guerra Fria.

  9. Luiz F Carvalho
    5 de maio de 2015

    Ótimos comentários. Resumindo, a minha maior pergunta é a seguinte: estariam os nadadores de elite de hoje numa situação melhor do que dos atletas do passado? Eu respondo da seguinte maneira: Por um lado SIM porque hoje, durante a carreira de nadador(a), eles terão mais dinheiro, mais apoio da mídia, mais competições internacionais e uma carreira potencialmente bem mais longa. Por outro lado NĀO, porque o nadador de elite de hoje vai terminar sua carreira de atleta, e ter que começar uma nova, em situação mais difícil (tipicamente com menos/pior educaçāo e sem nenhuma experiência profissional até bem mais tarde na vida).
    Mas eles terāo juntado algum dinheiro, dirão alguns. Verdade. Mas estarāo tambėm ganhando, nos longos anos pós-nataçāo, menos do que poderiam estar ganhando se estivessem investido mais na educação e na futura profissāo. Olhando financeiramente, e considerando que o tempo de vida como nāo-nadador é bem maior do que o tempo de vida como nadador, acho que no mínimo os atletas deveriam pensar muito bem nisso.
    Talvez o eco-sistema social também influencie o atleta muito mais hoje a continuar a nadar competitivamente: acredito que técnicos, dirigentes, clubes e patrocinadores tenham todos interesse que o atleta de elite continue até o limite…Será?

    • rcordani
      6 de maio de 2015

      Perfeito Chicão, só três adendos:

      1) para o atleta de ultra-elite (medalhistas olímpicos e mundiais) hoje em dia o caminho atlético parece bem lucrativo, provavelmente financeiramente mais vantajoso do que qualquer outro trabalho. Para o segundo e terceiro escalão (olímpicos não medalhistas e integrantes de seleções não olímpicas) a conta talvez não feche para eles no longo prazo como você disse.

      2) não coloquei pois o leitor do Epichurus já conhece o meu pensamento, mas quanto vale participar de uma olimpíada? Eu não participei, mas posso afirmar que “não tem preço”. Então precisamos relativizar um pouco os números, nem tudo é finanças, não é? Eu já coloquei no Facebook essa pergunta para você, caso não tivesse ido para LA e melhorado a ponto de imaginar que pudesse ir para Seul, você não arriscava mais quantos anos fossem precisos para isso? E se você não pegasse Seul mas talvez tivesse uma chance de Barcelona? Hoje em dia é mais ou menos assim que ocorre…

      3) com relação ao conjunto de “técnicos, dirigentes, clubes e patrocinadores”, sim, eles tem total incentivo para manter esses caras na piscina.

      • Luiz F Carvalho
        6 de maio de 2015

        Muito bons os pontos. Concordo totalmente com 1 e 3. Com relaçāo ao ponto 2, eu acho que iria depender dos objetivos esportivos e ambições profissionais e pessoais de cada um. Como exemplo, imaginemos que o atleta sonhe em fazer medicina e trabalhar como médico (uso a medicina por ser uma profissāo que exige muita dedicação e também por ser uma profissāo com certo “status social”, ou seja, ser médico(a) pode muito bem ser um objetivo de vida para um jovem ambicioso). Quanto alguém “sacrificaria” pela natação? Lembro, na minha vida de nadador, de pelo menos três atletas de elite que viraram médicos (Sérgio P Ribeiro Montreal/Moscou), José Geraldo C. Moreira (Seul) e o Luís Osorio Anchieta. Todos eles conseguiram sucesso como atletas e depois na profissão, mas de tiveram que fazer grande sacrifícios como atletas.

      • Eduardo F. Hoffmann
        6 de maio de 2015

        Nesse ponto 2, eu diria que, realmente, ir para uma Olimpíada, é o sonho de qualquer um que tenha feito um esporte competitivo… pelo menos até conhecer suas limitações (e “cair a ficha” de que “nunca vai rolar”… que pode ser mais cedo – meu caso – ou mais tarde…). É coisa para poucos. Entretanto, se o atleta já foi a uma Olimpíada, e tem seus 22/23 anos de idade, talvez 24. Máximo 25. “Estourando” 26. E sabe que não há chances reais de podium numa próxima, vale a pena sacrificar o resto da vida por “mais do mesmo”? A glória de ser Olímpico já entrou no curriculum, pra nunca mais sair… Nesse momento da carreira, mesmo ajustado pelo fator “paixão pelo esporte”, que é difícil quantificar, deveria imperar uma certa racionalidade… levando à aposentadoria esportiva, e, o início da vida pós-esporte “levado a sério”.

      • rcordani
        7 de maio de 2015

        Hoffmann, concordo plenamente com essa idade limite (26), mas eu já estive lá, e te garanto que “de fora” essa decisão é muito mais simples.

        E é exatamente por isso que estamos alertando, né?

      • Eduardo F. Hoffmann
        7 de maio de 2015

        Sim, Renato. Estamos alertando, até porque o “eco-sistema”, muito bem apontado/definido pelo Chico, não somente se omite em relação ao assunto, como ativamente colabora para manter atletas na “bolha”… pois lhes interessa… Até pela experiência profissional e acadêmica que temos, sabemos que o mercado de trabalho tem baixa tolerância com “erros de carreira”, e essa tolerância é decrescente ao longo do tempo… E decresce em taxa exponencial. Não linear.

        Faço um paralelo com qualquer questão de “public policy”: as melhores políticas são aquelas às quais se chega com análise racional de todos os fatores envolvidos, utilizando o máximo de informação relevante. Ou seja, é “de fora” mesmo, que se analisa isso… “de dentro”, ainda mais com um “eco-sistema” que procura limitar o horizonte de pensamento, e com fatores emocionais envolvidos, é fácil permanecer “prisioneiro da bolha”. Até quando for tarde demais para corrigir…

        Não se trata de criticar os atletas. Que fique bem claro isso. É pensando neles que estamos aqui colocando essa questão… Se há crítica a fazer, é em relação ao “eco-sistema”. O Chico tocou no cerne da coisa… Aliás, já tinha tocado nisso, no “post” do Facebook (veja lá as perguntas que ele fez a respeito disso… que ficaram sem resposta por parte dos componentes desse eco-sistema).

  10. Eduardo F. Hoffmann
    7 de maio de 2015

    Ah, acrescento um nome à lista de médicos nadadores do Chico: Raul Vianna, formado pela Escola Paulista de Medicina…

    • Luiz F Carvalho
      7 de maio de 2015

      Lembrou bem do grande Raul Vianna!

  11. anonimo
    7 de maio de 2015

    … E decresce em taxa exponencial. Não linear. Puramente expeculativo ja que nao foi mencionado a analise racional de todos os fatores envolvidos, utilizando o máximo de informação relevante ao modelo.

    O mesmo erro seria porem mais tolerado mais cedo na carreira enquanto o mesmo erro seria imperdoavel ao individuo procurando emprego mais tarde em sua carreira?

  12. Eduardo F. Hoffmann
    7 de maio de 2015

    Caro Anônimo,

    Correções de rumo/carreira são muito mais viáveis, quanto mais cedo acontecem… Isso é “common knowledge” . Conforme o tempo passa, o mercado de trabalho “pune” a falta de experiência, e “cobra” uma evolução que, para alguém que tenha adiado o curso superior, ou o início de vida profissional, fica mais difícil demonstrar… “Exponencialmente mais” sim, especialmente para quem tem mais ambição, e deseja carreiras melhor remuneradas. Para um “trabalho qualquer”, realmente, talvez seja linear…

    Nada é impossível, ou imperdoável (releia o que foi colocado – esse “imperdoável” foi entendimento somente seu), e sempre haverá exemplos de gente que consegue, mas, não é necessário escrever uma tese de doutorado aqui, para defender essa ideia. Ela é amplamente aceita no mercado de trabalho em geral, e entre recrutadores/headhunters, mais especificamente… Há indústrias mais, e outras menos, tolerantes… Em algumas, simplesmente quase não há chance alguma para alguém que busque seu primeiro emprego aos 28, 29 ou 30…

    Por último, até para quem seguiu uma trajetória profissional “mais convencional” (início na “idade certa”, boa evolução, etc…), muitas vezes é preciso fazer um MBA, ou outro curso de pós-graduação, para mudar o rumo da carreira, caso se deseje isso aos 28/29/30 anos de idade. Ou seja, ainda mais estudo… Sobre uma base já existente, e consolidada.

    Ah, “expeculativo” não se escreve assim… é “especulativo”. Os erros de concordância e acentuação vou presumir que sejam causados pela pressa ao digitar… mas esse aí, causa exponencialmente mais “dor”. Imperdoável.

    • anonimo
      8 de maio de 2015

      E’ a pressa mesmo. O ponto da questao e’ o modelo que voce escolheu “exponencial” e nao qualquer outro. Assim vejo como pura especulação.

      Se um trabalho requer tempo de experiencia, fica entao irrelevante se uma pessoa adiguiriu os 5 anos no campo comecando aos 18 ou 30 anos. Simplesmente nunca observei nenhum emprego exigindo idade especifica.

      outra coisa que noto muito neste blog e’ o uso de expressoes da lingua inglesa mixturada ao texto em portugues. Isso, e’ Imperdoável

      • Eduardo F. Hoffmann
        8 de maio de 2015

        Caro Anônimo,

        Não sei se esse é seu primeiro nome, ou sobrenome. Vou partir da premissa que seja o primeiro nome. Desculpe se eu estiver errado…

        Se você tem tanta confiança nas suas análises, porque não se identifica? Talvez, comparando nossas credenciais acadêmicas e profissionais, se possa estabelecer quem tem maior probabilidade de estar certo…. Assim como as credenciais/currículo dos outros aqui que concordam comigo… Só aviso que essa galera aqui é peso-pesado… Academicamente e profissionalmente. E contrata gente, para empregos em que não se inicia vida profissional tardiamente, como (in English, of course) investment banking, private equity, hedge fund management, etc…

        Esconder-se atrás da anonimidade costuma não aumentar a credibilidade…

        Quanto às palavras em inglês, se precisar de tradução, sugiro um dicionário… Nacionalismo de esquerdista é muito “anos 60”.

  13. anonimo
    9 de maio de 2015

    Caro amigo

    comparar nossas credenciais acadêmicas e profissionais seria infantil. Credenciais são irrelevantes para que se possa estabelecer quem tem maior probabilidade de estar certo. Vejo inseguranca na sua parte, carteirada e agregação. Se voce se garante tu sabes que voce nao tem dado pra nenhum modelo, consequentemente voce esta talking out of you ass. Nao vi ninguem having you back ainda.

    Por isso que o Brasil esta indo por agua abaixo…

  14. Eduardo F. Hoffmann
    9 de maio de 2015

    Enquanto se esconder atrás da anonimidade, vai falar sozinho… Ué? Resolver usar inglês também? Não era contra isso?

  15. Pingback: Ser olímpico é realmente uma obsessão dos PEBAs? | Epichurus

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Publicado às 4 de maio de 2015 por em economia & política, Natação e marcado , , , , .
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