Atendendo aos inúmeros pedidos, e conforme já dito e discutido em diversos posts e comentários anteriores inicio com esse texto a campanha “Seletiva única para a Natação Brasileira em 2016”.
Sugiro inciarmos com um estudo de caso, com base na última seletiva francesa. Em março de 2012 a França fez sua seletiva olímpica (única). A seletiva francesa era muito aguardada, afinal, a França detinha o atual campeão olímpico dos 100m Livre (Alain Bernard) e um dos principais concorrentes do Cielo nos 50m Livre, Frederick Bousquet. Bousquet esse que foi o primeiro a baixar os 22s e detinha o recorde mundial (21.94) que o Cielo bateu, e além disso era o detentor do melhor tempo da era pós trajes (21.36).
Durante as seletivas, o choque: Alain Bernard e Fred Bousquet não se classificaram! Júbilo da torcida brasileira, aumentam as chances de Cielo! Júbilo da seleção americana, aumentam as chances do revezamento 4×100 norte americano conseguir mais um ouro sem Alain Bernard! O Coach escreveu dois posts sobre o assunto, aqui e aqui, uma olhada nos comentários feitos à época são bem instrutivos.
Bom, todo mundo viu o que aconteceu: durante os jogos olímpicos de Londres os jovens franceses que desbancaram os acima citados medalhões ganharam os 50m Livre (Manadou), os 4x100m Livre (sem Bernard) e ainda vimos o Agnel fechando o revezamento francês com o segundo melhor parcial da história e em seguida ganhando a medalha de ouro nos 200m Livre. Ou seja, apesar do susto inicial, a seletiva única à francesa ajudou a fazer a fila andar, e a renovação fez bem. Fim do estudo de caso.
Seletivas únicas têm vantagens e desvantagens. Desvantagens óbvias:
Agora, as vantagens:
As desvantagens a meu ver são largamente suplantadas pelas vantagens.
Outra questão sobre a seletiva única é quanto tempo antes dos jogos fazê-la? Com um bom tempo para dar margem a um novo ciclo (caso de quase todos os países com natação forte) ou exatamente um mês, como faz a equipe mais forte de todas (EUA)? Essa questão deixo para os técnicos.
No Rio – 2016, por sermos o país sede, teremos dois por prova já garantidos, então penso que essa é uma boa oportunidade para testarmos essa fórmula. Talvez até antes no Mundial já possamos começar a ver esse novo método em funcionamento – como já sugerido pelo Lelo. Seletiva única, programa olímpico, (se possível) mesma piscina dos Jogos, dois por prova, ganhou tá dentro, perdeu, tá fora.
Quem sabe esse sistema evite que só três (3) de dezoito (18) atletas brasileiros tenham melhorado seus tempos nessa que é a competição mais importante, como bem disse o Romero. Então está lançada a campanha. “Seletiva única para 2016”.
O que você acha?
Acho uma ótima idéia, esta na hora de pararmos de tentar reinventar a roda
Pois é, anônimo, mas nem sempre nossa seleção foi capaz de ser selecionada desta forma, em geral como muitos poucos tinham chances não era o caso de fazer mesmo. Mas agora com dois por prova garantidos é uma ótima oportunidade para começar, e quem sabe depois manter esse caminho.
Para mim faz sentido. Mas teremos essa coragem? Uma vez combinado não dá para voltar atrás se a seletiva não correr conforme o esperado pelos que mandam…
Sim, não dá para voltar atrás, tipo, no limite, se o Cielo perdesse os 50m livre estaria fora, correto? Mas veja o caso do Cielo, por exemplo. Primeiro, para Londres 2012 ele ganharia fácil a seletiva, afinal ganhou do mundo todo nos últimos 4 anos. E para o próprio Cielo (já que estou falando dele) seria muito melhor se ele estivesse classificado para Londres em janeiro e não em MAIO como ocorreu. A rigor, se dois nadadores fizessem tempo melhor que o do Cielo no Maria Lenk de maio ele estaria fora. Resulta que Cielo estava polido e raspado para o Maria Lenk e foi melhor ali do que nos Jogos. Talvez do ponto de vista físico não tenha havido prejuízo em estar bem no ML (eu duvido), mas do ponto de vista mental com certeza pesou. Então a seletiva única é boa para todo mundo, inclusive para as estrelas!
Faz 20 anos que eu venho pedindo seletiva única. Apoio 100% a campanha!
Em lugar nenhum está determinado que o Brasil terá dois representantes por prova em 2016. Só se regra mudar, mas esse ano a Grã-Bretanha não tinha esse privilégio. Tanto que em algumas provas (como por exemplo 50m e 100m livre masculino) só tiveram um representante. Para maiores detalhes, o regulamento está aqui http://www.fina.org/H2O/docs/events/london2012/sw/sw_qual.pdf e não faz nenhuma menção à equipe da casa.
Valeu Takata, quem me disse que eram dois foi um técnico da CBDA, de qualquer forma o raciocínio é válido para um por prova também, concorda? E parabéns pela cobertura olímpica.
Valeu Renato! Eu preciso refletir mais sobre o assunto, mas no momento não vejo a seletiva única como um fator determinante. Além da análise dos resultados em si, é preciso analisar muitas outras coisas que estão por trás. Para chegar a uma seletiva única, é preciso rever a preparação dos atletas desde as categorias de base, o que é algo bem complexo, preparo psicológico (a meu ver deficiente no Brasil), entre muitas outras coisas. E além disso vários países bem sucedidos e/ou com tradição, como China, Holanda, Hungria, Alemanha e Itália, não realizam seletiva única, por isso acho que é difícil dizer qual método é melhor. Acho difícil comparar Estados Unidos, França, Austrália com um país como o Brasil, que está muito, muito (e bota muito nisso) longe de ser uma potência. De qualquer forma, também acho que o método atual, com uma dezena de competições para pegar índice, não é a ideal.
Usarei a batida frase: “Como esperar resultados diferentes fazendo sempre da mesma forma?” para defender a seletiva única para o Rio 2016. Não li o link das regras disponibilizada pelo Daniel mas entendo que o Brasil na pior das hipóteses enquadrado na regra dos índices A e B. Pois bem, na seletiva única estarão “elegíveis” para os Jogos os dois primeiros de cada prova. Se ambos tiverem índice A da FINA, vamos com dois. Se não, vamos somente com o primeiro, desde que tenha o índice B (este, acredito que temos em todas as provas).
Sim, perfeito Esmaga. E a seletiva deverá ser sensacional de assistir.
Em todas as vezes que perdemos, nos penitenciamos pensando:
– Como pude perder esta chance!
Em todas as vezes que vencemos, nos regojizamos pensando:
– Como fiz tudo perfeito hoje!
Sabemos que a Olimpíada é a mais importante das competições, mas nem por isso é necessário quebrar um Record Mundial para vencê-la, o que vale é chegar na frente naquela final.
Superar a pressão psicológica do momento é essencial para ser campeão olímpico e para ser campeão regional.
Lembram da época que a Copa Latina era a competição mais importante ao nosso alcance?
Lembram do Highlander?
“Só pode haver um !”
Anônimo, isso foi uma defesa da seletiva única, correto?
Nesta mania de várias tentativas, houve pelo menos três casos gritantes e vivos em nossa memória, todos em tentativas isoladas.
Beneficiados e prejudicados, são todos meus amigos, fica apenas a lembrança para virarmos esta página.
Sim, anônimo, o sistema seletivo com várias tentativas dá margens a muitas coisas que não são boas de lembrar.
Concordo com seletiva unica. Mas ainda no Brasil os clubes estão mais preocupados em ganhar campeonatos brasileiros que não levam a nada. De quebra gastam o pouco que tem em contratações com atletas estrangeiros. Temos muitas coisas que mudar.
Rosely, obrigado pela opinião. No caso, a seletiva teria que ser sem contagem de pontos, sem estrangeiros e (obviamente) sem revezamentos.
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Acho que estamos perdendo o ponto importante que vêm ocorrendo desde Sydney, ou até antes mas que prefiro ficar somente a partir de 2000: existe a hipervalorização da conquista do índice em detrimento dos resultados na competição para a qual obtiveram o índice. Kaio Márcio Almeida é o primeiro nome que vem à minha cabeça mas existem muitos outros que não conseguem repetir ou provocar um resultado na competição-alvo. Apenas na “última” oportunidade, isso quando eles já não passam por cima de um Finkel ou Maria Lenk/Troféu Brasil dizendo que está treinando para essa competição-alvo. Não sou a favor da seletiva única e explico: o problema pra mim não reside no atleta, mas no técnico. O técnico planejou o treinamento para que o ápice seja atingido para alcançar o índice. Se o técnico não consegue capacitar o atleta para atingir seu melhor tempo no Mundial ou Olimpíada, imagina então o que ocorreria quando ele “errasse” o planejamento para a seletiva. Muito li a respeito de desempenho ruim dos atletas, fracasso dos atletas, decepção dos atletas, e que falta investimento, dinheiro para atletas, dinheiro pra piscina, dinheiro pra comprar tampão de ouvido, mas nunca ouvimos ou lemos alertas para as condições dos técnicos. Técnico no Brasil é sim mal capacitado, rala muito, é desvalorizado, recebe pouco, estressa demais e no fim das contas fica extremamente frustrado com os resultados. Apesar de estar fora do foco quando se trata de maus resultados, ele é justamente o foco central no caso de se querer consertar alguma coisa pra que não ocorra no futuro! A seletiva única só terá uma utilidade ótima se os técnicos de natação também estiverem preparados para isso. Os americanos sabem lidar com isso há muito tempo, porque são capacitados, tem know-how e parecem saber o segredo de atingir ápice duas vezes em menos de 2 meses! Os australianos estão no caminho. Os chineses não. Os canadenses com certeza tiveram uma seletiva muito ruim, porque tentaram seguir o modelo americano sem no entanto ainda ter uma massa de técnicos preparados para esse tipo de evento. Resultado: atletas muito nervosos, técnicos rachando a cabeça para consertar o que era inevitável. O problema do Brasil não é infra-estrutura, não é falta de dinheiro, não é falta de apoio. Não adianta culpar a gestão ruim da CBDA pelos resultados dos atletas. O problema do Brasil é técnico. Assim como dependemos dos talentos isolados dos atletas, o mesmo se repete com os técnicos. E o recorde, ouro, prata, bronze só vem quando existe a felicidade do atleta-talento encontrar o técnico-talento…
Julian, não creio que logo da primeira vez vamos acertar 100%. Mas considerando os prós citados acima, acho que está na hora de iniciarmos esse tipo de seletiva, afinal, se os americanos dominam a técnica é por que fazem isso há séculos, né? E não vejo oportunidade melhor do que essa para iniciarmos essa metodologia.
Quanto aos técnicos serem despreparados… não concordo. Acho que o que nos falta é massa crítica. Dá 1000 garotos na mão dos técnicos que eles tiram craques, mas dá meia dúzia de gatos pingados na mão deles que não tem como tirar resultado mesmo…
Eu não sou contra a seletiva única, só acho que não podemos pensar nela individualmente. Se o procedimento de seleção para Londres 2012 tivesse sido por seletiva única, acredito que a seleção seria somente um pouco menor, com os mesmos destaques e resultados semelhantes. Defender a seletiva única sem olhar o contexto é enxergar somente a ponta do iceberg. Ao meu ver, não adianta ter seletiva única se os atletas não são preparados para isso. Todos os métodos de seleção desde as categorias de base também deveriam mudar, entre muitas outras coisas. Isso eu defendo, mas sem isso, seletiva única ou não é irrelevante.
Concordo plenamente. Porém, na linha do “que nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?”, eu acho que a seletiva única contribuirá para melhorar todo o resto, sem naturalmente esquecer de todo o resto que precisa ser feito.
Penso o que ajudaria muito, seria treinar os atletas a nadarem no cacete as eliminatórias, porque são poucos da seleção que podem chegar nos Jogos e segurarem alguma coisa nas eliminatórias. Todos da seleção estão acostumados a nadarem as eliminatóras dos Brasileiros na maciota, tirando algumas provas (100 peito) de bom indíce técnico. Fato é que a primeira caída na água nos Jogos para a grande maioria (Léo de Deus, Kaio, Daynara, Fabíola, Nicolas) tem que ser 100%, mas precisa ser treinado. Realidade diversa da Americana que tirando alguns extraterrestres (Phelps, Lotche, Peirsol e porque não lembrar do Biondi), a grande massa nada forte desde o início, e são treinados para tanto, vide o NCAA, onde em 30 centésimos passam 20 caras na sua frente. Acredito tb que varias possibilidades de fazer o índice atrapalham a performace final, numa estranha contradição, as provas de melhor índice técnico (100 peito) são as mais prejudicadas.
Mas o que mais tem que ser treinado é nadar bem na hora certa (com muita pressão), assim acredito que a seletiva única possa contribuir para o aprimoramento.
Pode ser, mas como exigir que o cara nade forte as eliminatórias? Nos EUA é fácil: ou você é o Phelps / Lochte ou então se não nadar forte não classifica. Mas aqui? Como na prática fazer o Thiago nadar forte os 400 medley de manhã?
Tenho lido todos os comentários e acho a mudança da maneira como os atletas são selecionados irrelevante para a melhora do nível técnico da natação brasileira. Não da para viver de atletas isolados. A renovação precisa acontecer. A única cara nova do Brasil que tinha alguma chance era o Fratus e talvez o França, fora isso a chance era de no máximo pegar final. Enquanto não houve no Brasil um trabalho de base pra renovação e consequente aumento da competitividade entre os atletas, amaneira como eles serão selecionados e o menor dos problemas da natação brasileira.
Olá Renato, obrigado pelo comentário. Eu provavelmente errei na minha comunicação, pois eu nunca me propus a resolver todos os problemas da natação brasileira com o texto sobre a seletiva. Acho sim que é um passo importante com mais prós do que contras, e que encaixa como uma luva para uma olimpíada em casa, mas você está certo, não vai resolver todos os problemas da natação brasileira. Inclusive concordo que o trabalho de base é a chave, mas como fazê-lo?
Entendi a intenção Cordani…concordo queda seletiva única deva existir… Mas na minha opinião, a seletiva única e mais valida se houver mais competitividade entre osatletas
Abraço
E aí Barroso! Quanto tempo! Continua na federação paulista? O que achou de mais 5 anos do Miguel?
Abraços
Lelo
Fala Lelo.. Muito tempo mesmo. Ainda continuo na FAO sim, mas tenho ido m poucas competições, casei, tive uma filhinha e aí ficou bastantedificil conseguir tempo.
Abraços
Acho que ta rolando uma certa confusão dos assuntos. Pra que a natação brasileira melhore como um todo a solução pode ser a massificação do esporte no Brasil com investimentos na base, introdução do esporte nas escolas, investimento em infra-estrutura, medicina esportiva, acompanhamento psicológico dos nossos atletas, etc! É uma discussão longa e complexa com resultado de longo prazo!
Já a seletiva única pode ser a solução pontual para que nossos atletas pelo menos repitam seus melhores tempos na Olimpíada! Não precisamos de investimentos na base pra isso! Se o cara fez um tempo “x” no Troféu Maria Lenk, ele tem que pelo menos nadar em torno desse tempo nas Olimpíadas! É aí que entra a seletiva única! No entanto mais importante do que o formato de seletiva escolhido, é garantir que os atletas convocados tenham um tempo pra se preparar física e psicologicamente para os jogos. O formato atual, com “n” seletivas, com a ultima quase em cima dos jogos desgasta demais nossos atletas, tanto física quanto emocionalmente! Aí o cara não tem tempo pra se preparar adequadamente! Quer continuar com as “n” seletivas?! Ok! Pelo menos faça que a ultima seja por volta de 6 meses antes dos jogos para que o atleta tenha um novo ciclo de treinamento 100% focado nas Olimpíadas! Ainda acho a seletiva única o melhor sistema de seletiva, até porque simula a obrigatoriedade de dar o tempo no momento certo, situação que enfrentarão nos jogos. Mas se escolherem outro sistema, pelo menos que levem em consideração a necessidade do foco ser nos jogos e não nas seletivas dos jogos!
Concordo com você sobre seletiva única. Acho que o fato de ter várias competições com possibilidade de índice, tira totalmente o foco do atleta das Olimpíadas. O cara que faz o índice no 100 peito na primeira competição, por exemplo, vai passar 10 meses sem dormir. Tenso com a possibilidade de perder a vaga e desfocado quanto a qual competição deve se preparar.
Obrigado pelo comentário Raul, na mosca.
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