A velha pergunta do “este copo está meio cheio ou meio vazio?” é um clássico da filosofia de botequim. Normalmente associamos os pessimistas, como o Capitão Edward E. Murphy Jr, com a percepção de um copo meio vazio, enquanto os otimistas como o Paulo Coelho ficam inclinados ao copo meio cheio. No mundo empresarial, já vi esta pergunta ser trabalhada diferente: O copo estaria sempre totalmente cheio – metade ar, metade água. Pura semantica, claro… percepções diferentes de um mesmo fato são a razão de praticamente todas as discussões e de tudo o que é interessante na literatura, por exemplo. E mais: Suspeito que isso seja até a razão deste blog ainda existir.
Isto posto, acho que ficamos bastante animados acompanhando o Maria Lenk de perto na semana passada. Vendo os bons resultados e recordes batidos, me vi mais otimista com alguns colegas. Contudo, um ótimo comentário recente do meu antigo técnico e amigo Sidney Aparecido da Silva – o Sidão de Bauru, me fez refletir um pouco mais sobre essa aura rosada pré-olímpica, que vemos.
O comentário, muito lisonjeiro e ao mesmo tempo preocupante, foi este:
” Rodrigo, Cordani, Danilo, enfim; Epichurus. Parabéns pelas fotos e a todos vocês pela homenagem ao Manoel. Manoel sempre foi meu ídolo, pois, fazer 53“ naquele período no Brasil, acreditava-se que era quase impossível. Meus atletas quando faziam 53 (década de 80/90/2000) mais 30 anos depois, era o máximo. Gostaria de ter ido ao Ibirapuera, mas não consegui rever, abraçar vocês e presenciar o Maria Lenk. Vamos torcer muito para nossos atuais atletas. Entretanto, sou mais cético e não participo do otimismo de voces quanto a natação.
Tenho muitos dados e estamos ativos e persistentes no interior com a Liga. Atuando e observando os torneios em todas as entidades. O panorama não é tão promissor em minha modesta opinião. Posso colocar um detalhe no âmbito profissional, que temos debatido, com muitos técnicos e professores. Existem no Brasil, em analise com outros profissionais, no máximo 10 entidades. Espaço seguro e duradouro para o trabalho de profissionais da natação. Entidades onde a natação é institucionalizada.Podemos citar que dos participantes do Maria Lenk, temos como espaço para profissionais as seguintes entidades. Pinheiros, Minas, Santa Cecilia, Curitibano, Paineiras, G N União, Uberlândia, etc. Ha ainda duas ou três equipes em destaque porém, com um período muito pequeno de atuação, para podermos afirmar sua continuidade.
O passado demostra que algumas com alto grau de evolução hoje, tiveram equipes em períodos diversos, porem sazonal e dependente de momento politico de mandatários. Vejamos a situação crítica das equipes do Rio de Janeiro. Observe as entidades do interior de São Paulo, onde não ha mais equipes de categorias e sim esporádicos atletas. Outras iniciativas são totalmente dependentes do entusiasmo, coragem e determinação de muitos profissionais que buscam teimosamente realizar sonhos. As delegacias da FAP estão se juntando e compondo com outras para para ter numero adequado de atletas para torneios regionais. As reclamações que o suporte governamental, são direcionada para poucos. Não houve um projeto consistente, democrático, organizado e envolvente para os Jogos Olimpicos. Os números estampam isto.
Epichurus é uma grande iniciativa de um grupo de amantes do esporte, pode e tem contribuido muito para a memória, lembranças, do esporte que todos amamos. É uma delicia e motivante ler as historias, a amizade, os comentarios, as competições de voces. Tenho a esperança que pela dedicação que sempre tiveram com a modalidade, por tudo que trouxe de bom em suas vidas, tenham no futuro a iniciativa de contribuir diretrizes da natação brasileira. A iniciativa do Manoel foi muito apropriada e merecedora. Sei que é prematuro, mas somente com pessoas que tem este passado e presente, poderemos continuar a ter esperança para as futuras gerações. Pensem nisto por favor.
Um abraço
Sidney Bauru “
Juntando esse comentário com uma conversa que tive com um dos técnicos de um grande clube brasileiro, na qual ele descreveu um staff de mais de 20 pessoas (material para um futuro post) para apoiar um time de elite na natação de hoje em dia, e com uma outra conversa com um ex-técnico sobre a dificuldade de se ganhar dinheiro com a natação, chego a um par de conclusões meio óbvias:
1) A paixão, dedicação e abnegação dos líderes da natação de outrora já não são mais suficientes para garantir um mínimo de sucesso de uma equipe. Fora os recursos humanos (nadadores), uma estrutura cara, planejamento complexo e uma combinação de fatores que deixam de fora a maior parte das grandes cidades brasileiras são condições sine qua non até mesmo para sequer participar dos grandes campeonatos nacionais.
2) Com a menor capilaridade, há pouca oportunidade para se viver de natação competitiva no Brasil e consequentemente, o esporte já não atrai tantos profissionais, o que pode prejudicar ainda mais o nosso já esquelético trabalho de “base”. Ou seja, não é a toa que os campeonatos tem menos gente e o pior é que os grandes nomes que vemos hoje não são garantia de piscinas mais cheias no futuro, a não ser que algo mude agora.
O Sidney está certo…. não dá pra ser muito otimista. E esperança, infelizmente não é estratégia. Vamos ter que pensar maneiras de melhorar isso e fazer com que o apoio aos poucos seja transformado e melhor distribuído para ajudar no desenvolvimento de muitos. Isso se faz com planejamento, cooperação e trabalho coordenado. E quem não chora não mama.
Enfim, voltemos ao início deste post para desafiar o otimismo de todos, ilustrando com uma imagem Esta piscina da foto é a social do Clube Paineiras do Morumby, onde treina este Peba que lhe escreve. Não, a profecia das 33 mil piscinas não se realizou. Foi apenas uma grande coincidencia que ela tenha entrado em reforma faz dois dias. Mas voltemos a pergunta… Essa piscina está meio cheia ouo meio vazia?Só mais uma coisa: Importante notar que a piscina meio “cheia de ar” não nos serve para nada.
Caros Munhoz e Sidão.
Eu não tinha me dado conta de quão pequeno e restrito está o “mercado” da natação, e isso é muito ruim porque cada vez menos gente tem acesso ao esporte competitivo e em consequência temos cada vez menos participantes nas competições.
Tudo isso não seria muito problema SE a “natação recreativa”, digamos assim, estivesse bombando. Mas creio que não está! Provavelmente, as coisas andam juntas, ou seja, um grande número de crianças nada para “chegar lá”, só algumas conseguem, claro, mas no início quase todas sonham. Se não há o sonho, não há gente disposta a nadar. Na prática, não tendo chance de ser competitivo, o clube pequeno nem forma uma equipe.
Por último um comentário sobre a natação do interior paulista, que como disse o Pedro Junqueira no post do Manoel dos Santos foi o responsável por QUASE TODOS dentre os melhores nadadores do Brasil, Tetsuo, Manoel, Prado, Borges, Cielo: se esse interior está minguando, imagine o resto?
Acho que a piscina está esvaziando…
Caro Renato,
Apesar de até achar que a natação recreativa está bombando sim e que sonhos sempre vão existir, estou contigo no resto. Estamos com problemas numéricos que provavelmente impossibilitam crescimento futuro. Ainda que o curto prazo esteja muito bom, pode ser que esteja esvaziando mesmo.
Munhoz, infelizmente tenho que concordar com todos vcs, até temos bastante alunos na base, mas o objetivo é aprender nadar e depois os pais os retiram do esporte achando que isto pode prejudicar os estudos do filho ou pq eles simplesmente reclamam de um “cansaço”…..enquanto não tivermos uma política educacional e esportiva aliadas e, bem criteriosa, vejo o futuro do esporte brasileiro meio vazio…não apenas as piscinas…abs!!!
OBS: o Sidão estava magrinho nessa foto heim!!! e como o tempo voa…
Pedrazzi, sobre o tempo voar… muito verdade.!As Olimpíadas estão aí e apesar do tempo todo que tivemos para preparar a base diferentemente… pouco aconteceu. Temo que a oportunidade tenha se perdido.
A foto do Sidão tá bacana né? Na velha piscina da Luso…abraço!
Bacana a reflexao do texto Munhoz. Falamos muito aqui do q o COB e confederacoes nao fazem pelo esporte no pais. Despejam rios de dinheiro em atletas jah formados e consagrados ou “na bica” de estourarem. Ai conseguem alguns parcos resultados internacionais (digo parcos frente ao dinheiro investido) q sao um pouco melhores do q em tempos antigos. Mas o principal q eh a massificacao e a melhora da estrutura nao existe.
A natacao do Rio (fora as poucas excessoes) sempre foi feita em clubes de futebol, o q nos dias de hj, por n motivos, dificulta demais o seu desenvolvimento.
Na minha modesta opiniao, fora do esporte escolar nao teremos como melhorar de verdade o q ocorre aqui. Em varias escolas nem existe pratica esportiva. Como pode isso ?
O COB nao faz muito tempo retirou o aporte q fazia a competicoes esportivas estudantis. E muita gente comemorou a conquista da olimpiada aqui. O q ela vai nos trazer ? O q o pan nos trouxe ? O pan do Rio foi outro dia e como estah o esporte na cidade ? Muito ruim. Nao temos pista de atletismo, o principal esporte olimpico. As piscinas fora das academias e dos predios foram acabando e muitas devem estar meio cheias, meio vazias (nao por reforma).
Temos q repensar a estrutura esportiva toda. Jah participei de campeonatos do interior no Rio, q tinham milhares de atletas e hoje ? O presidente da FARJ abandonou tem menos de 1 mes. Esse eh o retrato atual e vou ficar por aqui p o comentario nao ficar muito longo.
gr ab
Caramba Vreco, não sabia que o presidente da FARJ tinha renunciado… mas estou vendo o chamado do interventor para eleições no dia 5/Maio realmente em http://www.aquatica.org.br/Imagens/anexo_712_0428160457.pdf
Muito chato isso.. gostaria de eventualmente saber mais detalhes, mas não achei nada.
Sobre preparação de base usando as Olimpiadas como pretexto… Acho que boas ideias foram iniciadas – tinha um projeto de atletismo – Rio 2016 que me parecia legal, por exemplo. Soube que foi cancelado (http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,no-atletismo-projeto-no-rj-gasta-r-174-milhoes-e-nao-forma-nenhum-atleta,1074755,0.htm ). Tinha os projetos de formação de talentos olimpicos em modalidades menores… Não tenho idéia no que deu…Vejo que estamos sim apoiando os talentos atuais com chances para 2016 e espero que da animação olímpica saia um impulso para o nosso esporte crescer. O problema é que, como já disse, esperança não é estratéga e preferia ver um plano para a base pos Olimpica (já que o “pré” basicamente já se foi).
Pode ser que exista um plano, do qual não tenha idéia – bem possível até. Nesse caso admitirei minha ignorancia e o divulgarei aqui. Seria ótimo e passarei da posição de cobrar um plano para a posição de cobrar a execução do mesmo – o que é mais difícil ainda no Brasil.
Abraços!
Rodrigo, nos ja sabiamos da situacao da federação no Rio. E mais um fato importante para que possamos avaliar. Veja, a segunda entidade em numeros de atletas de nosso pais, com a tradicao do Rio de Janeiro, com proximidade logistica com CBDA, com as olimpiadas em sua cidade, esta a deriva. Vreco esta com a razao quando descreve a situacao da educacao fisica nas escolas. Eram tres aulas semana, no momento sao duas e com apossibilidade de nao ser mais obrigatoria. Mas voltando a natacao fiquei maravilhado em1988′ quando naclinica da ASCA presenciei a exposicao da preparacao da Australia para a olimpiada de2000.. Quatro centros de treinamento, estrategicamente localizados no pais. Com um centro da preparacao para os atletas deelite. estes centros recebiam os atletas e tecnicos, detodas ascategorias e os capacitavam dentro de um programa pre estabelecido por um staff de treinadores de alto nivel. os resultados todos sabem a Australia com aproximadamente 20.000.000 de habitantes teve a segunda posicao em medalhas. Nao sei efetivamenteo programa da natacao brasileira,porem acredito que modelos como estes deveriam ser colocado em pratica neste pais. Este tema e muito interessante e gostariamos de estimular um debate positivo para anossa modalidade,
Sidney, escreví muito e não falei o que eu mais queria, que era te dizer muito obrigada!!
Beijos
Lu
Querido Sidney, cheguei neste blog porque estava a sua procura, que bom que te encontrei, infelizmente não tenho nada a acrescentar para a Natação no Brasil, até gostaria… tentei….fiz Educação Física, tive uma escolinha em Niteroi, mas acabei por trabalhar mais com crianças excepcionais, o propósito nunca foi o campeonato, a luta era sempre entre eles e a própria saúde. Mas de coração, desejo imenso que encontrem pessoas preparadas e dispostas a criar um grande programa, desenvolver e dar condições às crianças desse nosso país de se transformarem em grandes atletas da natação.
Bem, mas eu queria mesmo te dizer outras coisas, nem sei se vai se lembrar muito de mim…no fundo sinto que vai…foi há + ou – 40 anos atrás…você me salvou…sim, você e sua natação, eu tinha uma saúde fraca, bronquite, asma e era pobrinha…rsrsrs, minha mãe por recomendação médica me colocou na piscina do SESI e um dia chegou um homem loiro e bonito e me tirou de lá, me escolheu…não sei porque e me colocou como sócia atleta da Associação Luso Brasileira de Bauru. Não sei se imaginou que eu poderia ter algum futuro como atleta, mas arriscou…sei bem que não consegui alcançar os seus objetivos…nunca fui uma grande atleta, hoje sei que me faltava auto estima, nunca acreditei no meu potencial, continuava com a imagem interna de uma menininha fraquinha….que burra eu era….rsrsrsr, mas você precisa saber que a natação foi para mim a coisa mais importante que fiz na vida, e por consequência, você como responsável, é uma das pessoas mais importantes e que valorizo em minha vida, está dentro de meu coração, e por isso sentí muita vontade de te dizer tudo isso, posso não ter ganho as medalhas, mas ganhei muito mais, a saúde, a disciplina, a vida social, os amigos, a resistência e a força para enfrentar situações diversas em qualquer altura da vida. A natação é uma ferramenta para mim de resgate, sempre que estou numa pior ela aparece e me salva. Hoje, pela terceira vez na vida ela chega para me salvar, a segunda foi na juventude, estava morando no Rio de Janeiro, trabalhando como vendedora em loja de Shopping, ja tinha meu curso de EDF, mas ainda continuava sem acreditar em mim, estava difícil, me desviando, ou não me encontrando, quando resolví entrar em um ginásio com piscina pública para nadar, foi outro momento de glória, um outro homem, também treinador me viu nadando e disse, ” cara…vc nada bem…aparece na minha academia” e lá fui eu, saí do público e fui para o privado de novo, só que agora eu não entrei como sócia atleta, e sim como professora, iniciando assim um novo momento de conquistas, daí segui até ter a minha própria piscina e meus queridos aluninhos, era muito feliz, fiquei linda, “sarada” como diziam na época lá no Rio de janeiro, mas durou pouco, nosso dinheiro estava numa fase de mudanças, planos e mais planos…lembra…então, o dinheiro foi minguando e a natação passou para o segundo plano na vida dos meus aluninhos, eles precisavam de manter a fonoaudiologa, a psicóloga, a fisioterapeuta…enfim cheguei a trocar aula de natação por prato de comida, aí veio o plano Collor e pronto…desistí.
Segui minha vida, nadei, parei, nadei parei…várias vezes e agora pela terceira vez a natação está me salvando, hoje tenho 49, 50 em outubro e estou naquela fase de acordar e sentir que estou bem viva, porque doi…doi coluna, doi perna…rsrsr…sinto bem meu corpo, e também no momento da vida de olhar para traz e refletir, avaliar e quando faço isso o Sidão aparece, chego a ouvir sua voz a nos educar e incentivar.
Sidney, acho que não tenho mais aquela intimidade de te chamar de Sidão, queria te dizer que sou uma pessoa muito feliz, sou muito bem casada, não fui mãe, perdí esse bonde…rsrsrs, não moro mais no Brasil, moro em Monte Estoril – Portugal, faço um trabalho conhecido como Marbling Paper, que por coincidência é uma pintura feita dentro de uma pequena piscina, super bonito, amo!! E voltei a nadar há um mês e já faço 1200m 3X por semana, pretendo dobrar isso neste próximo mês. Essa é a terceira vez que a natação entra na minha vida para me salvar trazendo saúde, estou me sentindo o máximo, meu corpo está ficando mais forte, minhas dores são outras…rsrsrs…..musculares e não articulares…enfim a saúde sendo resgatada. Mas não é só isso, estou ensinando ou melhor aperfeiçoando o nado de meu marido, que atualmente não pode mais fazer exercícios fora da água, ele tem próteses nas duas pernas e em fase de ter que substituí-las, e precisa se exercitar para ajudar o coração, Sidney, vc não pode imaginar o quanto está fazendo bem a ele, as dores também diminuiram e sua auto estima aumentou, estamos felizes e muito agradecidos pelo bem que a água nos dá. Heim….?O terceiro homem que apareceu para me salvar??? foi vc de novo, dentro do meu coração, como posso com tudo isso acontecendo não me lembrar de ti?
Querido, te desejo muita saúde e espero um dia voltar a te encontrar para lhe dar um abraço.
Beijos de sua ex-atleta Luciene Thomé.