EPICHURUS

Natação e cia.

Rosário 1987 – Os primeiros testes com o Dr Mazza

Sangue, suor e dor em busca de conhecimento fisiológico

A comunidade científica internacional produziu importantes trabalhos na década 80, com o intuito de desvendar os mistérios da fisiologia do exercício, e assim, melhorar a pontaria de técnicos e atletas. O que treinar? Quanto treinar? Como treinar? Eu era parte de um grupo de obstinados que fazia qualquer coisa lícita para nadar mais rápido.

Os Estados Unidos e a União Soviética, países com dimensões continentais, uma população enorme e uma quantidade imensa de atletas seguiam a política do porrada trainning – com rotinas que incluíam treinos triplos (isso mesmo, até três sessões e 20 mil metros por dia). Boa parte dos atletas não aguentava, mas em meio a tanta gente, havia muitos talentos que aguentavam, alcançavam performances espetaculares e ocupavam a maioria dos lugares nos pódios dos Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais.

Com menos área, população e atletas, mas com a mesma vontade de vencer, outros países aprofundaram estudos científicos em busca de indicadores mais eficazes para direcionar esforços e ir além. Foram os alemães que publicaram no início da segunda metade da década a pesquisa que classificava o nível de intensidade de esforço do atleta em função da concentração de ácido lático no sangue:

NÍVEL DE INTENSIDADE

CONCENTRAÇÃO DE ÁCIDO LÁTICO          (em milimoles por litro de sangue)

SUBAERÓBICO

2 – 4 mmol/l

SUPERAERÓBICO

4 – 6 mmol/l

VO2 MÁXIMO

6 – 9 mmol/l

RESISTÊNCIA ANAERÓBICA

10 – 12 mmol/l

TOLERÂNCIA LÁTICA

12 – 15 mmol/l

POTÊNCIA LÁTICA

15 – 20 mmol/l

No protocolo dos testes, os atletas eram submetidos a diferentes séries, com diferentes volumes, intensidades e intervalos. O sangue era coletado entre os tiros, e até 5 minutos após o final das séries. As amostras analisadas e o processamento dos dados produzia uma sugestão de níveis de treinamento para cada indivíduo.

AMÉRICA LATINA COM CONHECIMENTOS DE PONTA

O médico argentino Juan Carlos Mazza participou de grupos de pesquisa, investiu em equipamentos e montou em Rosário – o Biosystem – instituto de avaliação que ia muito além dos testes de lactato. Força, potência, flexibilidade, análise dos gases respiratórios.

Após o Troféu José Finkel do final de junho, tema do meu post anterior, a equipe de atletas patrocinados pelo Projeto Kibon – com Patricia Amorim, Rogério Romero, Rodrigo Munhoz e CIA – participaram dos testes, foram os primeiros nadadores brasileiros a passar pela experiência.

Kibon no Mazza

O Estado de São Paulo – 01/07/1987 – acervo da família Michelena

O Projeto Mesbla, do qual eu fazia parte, não tinha optado pelo investimento, mas Leonardo Del Vescovo, nosso técnico no Clube Curitibano, sempre estudioso e ávido em planejar os melhores programas de treinamentos aos seus pupilos, informou-se, fez contatos, falou com Dr Mazza, reservou uma data na semana da pátria (brasileira) e vendeu a ideia para a equipe com grande entusiasmo.

O Curitibano bancava as viagens para competições, o treinador, os atletas não pagavam para fazer parte da equipe… uma beleza! Mas para esse tipo de experimento, não havia verba… o que era compreensível. Restou então a opção do “paitrocínio” – além dos custos da viagem, pagaríamos US$ 300 para participar da bateria de testes. Cinco atletas: Felipe Malburg, Renato Ramalho, Carlos Becker Neto, Frederico Lacerda e eu, conseguimos o apoio em casa e após uma discussão sobre as famílias dividirem os custos do técnico, a situação foi resolvida y siguimos a la tierra de nuestros hermanos.

Mazza_gazeta_do_povo

A notícia demorou mais de um mês para sair na Gazeta do Povo.

BIENVENIDOS A BIOSYSTEM

Chegando a clínica, encantamento com os aparelhos, ansiedade em fazer os testes, e com os resultados que aqueles novos conhecimentos poderiam proporcionar.  Dr. Mazza nos apresentou sua equipe – Claudio, um outro chegado que não lembro o nome, e duas beldades transbordando estrogênio – Claudia e Patricia. Ânimos fortalecidos!

Na primeira manhã, composição corporal, testes de força, impulsão e flexibilidade.

No teste de número máximo de flexões de braço fiz 31, não dava mais. Não lembro exatamente do número do Becker e do Fred, que mais tarde envergou a alcunha de “Frederico pouco braço”, mas devem ter ficado por aí também. Malburguinho colocou outro ritmo, fez movimentos que passariam em qualquer controle de qualidade e chegou a 50. O super, mega, ultra, hiper competitivo Ramalho, ficou por último. Chegou bem a casa das 45, travou, mas não se entregou. Começou a aplicar uma técnica que poderia ser classificada como flexões minhoca ou lagartixa, e sob os protestos dos amigos avançou lentamente, em esforço hercúleo, até a 51 e desabou. Claudia validou a marca com o registro em ficha.

EL VOMITO

Fim dos trabalhos na primeira manhã, pedimos uma dica para o almoço. Claudio apressou-se em indicar um restaurante pertinho da clínica, onde costumavam almoçar com frequência – El vomito – pensei que essa fosse mais uma das palavras que tem mesma grafia e significados diferentes em português e espanhol, mas logo foi esclarecido que não era o caso.

O questionamento seguinte foi… “como é que um dono de restaurante escolhe um nome assim?!?!” – não era. Esse era o apelido que eles tinham dado o local.

E o terceiro: “como vocês continuam frequentando um lugar em que devem ter presenciado coisas que os levaram a chamar dessa forma?!?!” – Claudio esclareceu que os garçons costumavam empurrar os farelos de pão que ficavam em cima da mesa para o chão, para ganhar agilidade, ou seja, no es muy limpio pero las tortillas de huevos con papas y queso son maravillosas.

Experimentamos, adoramos, repetimos e de vez em quando ainda me arrisco em preparar a iguaria aqui em casa.

“E SE ELES QUEREM MEU SANGUE, TERÃO MEU SANGUE…”

Em cada período de teste, fomos a uma piscina diferente da cidade, não me recordo o porquê disso. Começamos com seis tiros de 400m com um minuto de intervalo, com coleta de sangue após o 2º, 4º e 6º tiro e também, um, três e cinco minutos após o final da série.

FCM, Ramalho e Felipe

Com Renato Ramalho e Malburguinho, se não me engano, no Gymnasia y Esgrima.

Saíamos da piscina, uma das meninas se aproximava, com uma lanceta metálica fazia um furo no lóbulo da orelha, apertava, aproximava um capilar de vidro, coletava o sangue e levava até pequenos frascos plásticos para subsequente análise no equipamento que media a concentração de ácido lático. Os dados eram lançados num sistema juntamente com o tempo, número de braçadas e melhor marca do atleta na distância. O sistema gerava gráficos e tabelas comparativas.

Colhendo sangue

Patricia tirando meu sangue. Aos não atletas devo dizer que podem ter certeza que a expressão de dor NÃO é por causa do furo nem da orelha espremida.

Em alguns testes, também eram coletados os gases exalados ao final da série para análise dos níveis de gás carbônico.

Claudio colhendo gases

ROTINA ESPARTANA

Nosso programa previa três dias de testes e ao final da manhã do segundo dia, com os testes de tolerância lática já estávamos todos exaustos e com as orelhas roxas. Nos intervalos, voltávamos ao Clube dos Obreiros. Nosso alojamento era um quarto pequeno. Para favorecer a circulação de ar, a parede da porta de entrada tinha um vão de cerca de 50cm até o teto. Havia dois triliches – nunca tinha visto aquilo – brincava que lá onde o Becker e o Felipe dormiam era mais fraca a força da gravidade. Era muito alto. Independente da hora, deitávamos e dormíamos imediatamente. Quando tocava o alarme do relógio, a sensação era de que poderíamos dormir por mais algumas horas a fio, porém, era tempo de submeter nossos corpos a mais esforços supremos e aquilo tinha um imenso significado para nós.

Na noite de sábado para domingo, dormíamos o sono dos justos quando uns gringos, vizinhos de quarto chegaram da balada: cantavam, brincavam, gargalhavam… sem forças, eu só rezava para que os caras dormissem logo e aquele martírio acabasse… de repente, Malburguinho dispara com sua voz nasalada um SILENZO PORRA!!!!! – todos nós ouvimos, ninguém teve forças para comentar, mas no dia seguinte e até hoje a lembrança arranca gostosas gargalhadas na turma.

Não foi imediato, mas a intervenção do Felipe certamente abreviou nossa angústia.

TESTE DE WINGATE

No domingo de manhã voltamos a Biosystem. Aquecemos e fizemos um teste de carga na bicicleta ergométrica para realização do teste de wingate. Também nunca havia feito.

Fui o primeiro. A orientação: “não economize nada, pedale em potência máxima durante 40s” – pensei: “mais ou menos metade do tempo entre uma prova de 50m e 100m. Vai ser duro, mas vamos lá!”.

Os atletas levam cerca de 3s para alcançar a potência máxima, mantém o pico de potência por poucos segundos e o rendimento começa a cair. Velocistas como eu, tem capacidade de gerar altos níveis de ácido lático rapidamente. Imaginem o Usain Bolt largar para uma prova de 400m rasos em ritmo 100m – foi isso que me pediram?!?! Sério, quando o Léo, com cronômetro na mão anunciou que haviam se passado 15s a dor nas pernas já era tão grande e minha potência já havia diminuído tanto que eu tive certeza que não chegaria aos 40s. Nos últimos 10s e por algum tempo depois de sair da bicicleta, quase não conseguia me mexer. Talvez a maior dor física que eu senti em toda a minha vida.

wingate

TESTE RESISTIVO NA PISCINA

Na tarde de domingo, a última etapa. Não lembro por quanto tempo, faríamos nado estacionário, presos por um cinto a uma bateria de pesos, com uma máscara para captar os gases exalados durante a realização dos esforços.

Becker foi o primeiro a cair na água. Depois de checar a carga de estabilização, colocaram a máscara e deram o sinal, segundos depois ele fica de pé na piscina, arranca a máscara e puxa o ar desesperadamente. Ficamos sem entender, ele dizia que o ar não vinha! Os rapazes checaram tudo, deram o OK, e o teste foi reiniciado; segundos depois, mesma coisa… e o Becker ficando puto! Terceira checagem, terceira tentativa frustrada, temi pelas vias de fato! E achei que não fossemos finalizar os testes.

Erro elementar, as válvulas da máscara funcionam de forma diferente. Uma permite a entrada de ar, a outra não. Da forma como estava, invertida, arrancar a máscara era questão de sobrevivência.   Finalizamos os testes e preparamos o retorno ao Brasil.

LEONARDO DEL VESCOVO NA VANGUARDA

Boa parte dos testes era aplicada pela equipe do Dr Mazza. Enquanto isso, o Léo ia conversar, aprender, estudar, ganhar confiança para aplicar e transformar aquele conhecimento em resultado.

Lembro que no aeroporto, aguardando o voo de volta, ele queria contar, nós queríamos saber. Ainda atrapalhado com a terminologia que designava de cada nível de esforço, queria entender o que acontecia com o meu corpo e extrair o máximo dele. Ali mesmo copiei na minha prancha Recreonics vermelha, que o Renato havia trazido de presente do PAN de Indianápolis, as séries sugeridas para cada nível de esforço e os tempos que eu deveria fazer nos tiros para trabalhar na zona fisiológica recomendada.

recreonics

29 anos depois com a prancha que Renato trouxe de presente de Indianápolis e onde escrevi as séries sugeridas e os tempos que deveria fazer. O cloro apagou tudo.

UM IMPORTANTE CAPÍTULO DA HISTÓRIA DA NATAÇÃO BRASILEIRA

Eu não tenho nenhuma dúvida de que essa viagem é um importante marco na história da natação brasileira. Com o conhecimento adquirido, o Léo passou a ser muito assediado por seus colegas de todo o Brasil, que queriam incorporar conhecimentos a mais para transmitir para suas equipes.

Setenta dias depois, Dr Mazza estava no Clube Curitibano testando cerca de 20 atletas de vários clubes do Paraná.

Mazza na Gazeta do Povo nov87

Daltely Guimarães, coordenador técnico do Projeto Mesbla, aproximou-se do Léo, buscou informações e programou clínicas com o suporte da equipe do Dr. Mazza.

Em 1988, a CBDA contratou o Dr Mazza para dar suporte ao treinamento da Seleção Brasileira que foi aos Jogos Olímpicos de Seoul. Com Ramalho no time, Léo estava lá, acompanhando tudo.

Léo participou da sociedade que trouxe uma filial do laboratório Biosystem para o Brasil. Mais precisamente em Curitiba, na Escola de Natação Amaral. Ele era o responsável pelo departamento de treinamento. O Claudio Galasso, da equipe do Mazza veio morar em Curitiba e era o responsável pelo departamento de avaliação. E o responsável médico era o Dr Eugenio Mussak, hoje conceituado palestrante e colunista de importantes revistas de negócios.

Na esteira desse conhecimento e reconhecimento, Léo recebeu convite para ser o Head Coach do Minas Tênis Clube. Optou em ficar em Curitiba.

E A EFETIVIDADE DA APLICAÇÃO DISSO TUDO

Vejam o que escrevi no meu diário de nadador sobre o que precisava mudar após os testes. Depois vejam a minha foto sentado, enquanto o Claudio aplicava o exame de dobras durante o teste de composição corporal.

Eu era detentor da medalha de ouro no último Troféu Brasil na prova de 50m livre e treinava na turma de fundo do Clube Curitibano. Difícil crer hoje em dia, que o que me faltava era base aeróbica.

Além disso, eu tinha 1,85m e 75kg – e deixei Rosário acreditando que deveria perder 2,4kg para atingir o percentual de gordura ideal. Hoje parece claro que eu deveria aumentar minha massa muscular e consequentemente diminuir meu percentual de gordura. Mas não tinha parâmetros para contestar aquilo e o diagnóstico de Rosário virou lei para mim.

Nos treinos, o aumento do volume e o aumento da exigência dos tempos, especialmente nas séries de VO2 e resistência anaeróbica, fazia com que meu esforço fosse redobrado, e mesmo dando tudo, não conseguia cumprir muitos dos tempos exigidos e cada vez menos conseguia acompanhar o Ramalho nas séries, o que causava frustração. Hoje penso que provavelmente  eu estivesse constantemente em overtrainning. Olhando meu diário de nadador leio de forma recorrente “estou muito cansado”.

Com a sequência de baterias dos desgastantes testes ao longo dos anos seguintes, muitos atletas desenvolveram um descrédito em relação ao protocolo/processo, pois pagavam os preços e não colhiam os resultados.

Hoje vejo que nosso pioneirismo foi fundamental para que gradativamente, virtudes fossem percebidas e consolidadas; falhas fossem corrigidas e aprimoradas, para que as gerações mais recentes tivessem um suporte mais efetivo da fisiologia.

Legenda das imagens: capa da pasta de resultados dos testes da filial de Curitiba e os resultados de uma série de 4x100m para trabalhar tolerância lática (teste de 1990) – 20,4 mmol/l ao final do último tiro. Minha maior medida foi 21,9 mmol/l após 8x50m em Blumenau/1989.

A GRANDE PÉROLA DO DR. MAZZA

Nos referidos testes de novembro de 1987 no Clube Curitibano, meu amigão Luiz Alfredo Mäder integrou a relação de atletas que se submeteu aos testes. Especialista no nado de peito, fez todas as avaliações neste estilo. Num certo momento, conversávamos o Léo, o LAM e eu, e o Dr. Mazza aproxima-se com uma folha com os resultados: “Alfredo es um monstro! Si no hacer 2.20 em el Julio de Lamare, yo corto el saco!”. Infelizmente ele errou feio, como já foi relatado e comentado no primeiro capítulo da saga dos 200m peito de Renato Cordani, e não me consta que a mutilação tenha sido efetivada.

ONDE ESTÃO?

Dr Mazza continua atuando como especialista em fisiologia do exercício e tem um extenso currículo – http://www.biodeport.com/dr-juan-carlos-mazza-cv/ – incluindo o acompanhamento da Seleção Argentina na Copa do Mundo de futebol 1998 e Seleções Olímpicas Argentinas e Colombianas em diferentes modalidades.

Claudio Galasso voltou para a Argentina. Segue atuando na preparação de alta performance, tendo sido preparador da Seleção Argentina de tênis na Copa Davis e acompanhando tenistas como David Nalbaldian.

MAIS LEMBRANÇAS

Tendo comunicado meus amigos da viagem de Rosário sobre os preparativos para o post, e questionando-os sobre suas recordações, recebi uma resposta do Becker, hoje Mathias Becker. Várias lembranças comuns e uma da qual eu não recordava e que achei sensacional: “Descoberta mais saborosa da turma e sempre exigido para o café da manhã era o Submarino (leite quente com barra de chocolate mergulhada), que faço até hoje para os meus meninos. Contando a história de quando os amigos do papai e ele foram ser avaliados pelo “doutorrrrrr Mazza”. Eles até me perguntam se esse doutor era parte de alguma história tenebrosa de terror”.

E ANALISOU…

“Vendo o web site atual do Dr Mazza, fica claro que estávamos todos aprendendo com a história de lactato e como usar isso para treinamento, incluindo o próprio Dr. Mazza e equipe! Parece-me que pelo CV dele, que ele concluiu o primeiro curso de fisiologia médica/esportiva em 1986. Ou seja, quando fomos até lá, ele tinha menos de um ano de experiência. Imagine a equipe envolvida na operação dos testes conosco? Por isso que as orelhas devem ter ficado roxas e máscaras foram montadas ao contrário… Agora, gradessíssima experiência de vida para nós. Boa inspiração. Estou ansioso para ler.”

Beckerman, espero que você tenha gostado.

Forte abraço a você e a todos os amigos do Epichurus,

Fernando Magalhães

Bike visto por Mazza

Para finalizar, mais um teste observado pelo Dr. Mazza e Léo.

Sobre Fernando Cunha Magalhães

Foi bi-campeão dos 50m livre no Troféu Brasil (87 e 89). Recordista brasileiro absoluto dos 100m livre e recordista sulamericano absoluto dos 4x100m livre. Competiu pelo Clube Curitibano (78 a 90) e pelo Pinheiros/SP (91 a 95). Defendeu o Brasil em duas Copas Latinas. Foi recordista sulamericano master. É conselheiro do Clube Curitibano.

22 comentários em “Rosário 1987 – Os primeiros testes com o Dr Mazza

  1. rcordani
    1 de fevereiro de 2016

    Hahaha, excelente Esmaga, rachei o bico com as flexões do Ramalho!

    Quanto ao programa do ácido lático, pareceu bastante avançado na época mas por alguma razão eu nunca soube que o serviço era oferecido em Curitiba. De qualquer forma, o Pancho era um pouco cético com relação a “tempos fixos para séries”, ele dizia que em alguns dias ruins o cara não ia conseguir fazer o tempo, e em dias bons o tempo seria fácil, portanto não seria adequado trabalhar desta forma.

    Assisti a equipe da Kibon em 1989, Grangeiro, Ciça e Lu Fleury eram do Paineiras patrocinados pela marca e a turma toda, incluindo a Patrícia Amorim, o Hermeto, o Moita, o Picinini, Bia Lages e o Munhoz vieram fazer os testes no meu clube. Nós, os pebas, não podíamos participar, mas eu acho que já era descrente do método, pois não senti ansiedade e tristeza por não participar. Além disso, ver o sofrimento dos caras na água (incluindo vômitos) também não chegou a ser muito bonito.

    De qualquer jeito, concordo que essa empreitada do ácido lático foi muito importante para a evolução da ciência a tentativa de quantificar os esforços e aumentar o conhecimento sobre a fisiologia na natação. Infelizmente, os protocolos gerados na época eram falhos.

    Por último: submarino é tóis!

    • Fernando Cunha Magalhães
      1 de fevereiro de 2016

      Fácil para mim nunca era, mas me encaixo na tese do Pancho em relação ao fato de que em dias ruins, as coisas se tornavam muito mais difíceis.
      Ainda mais que na raia tinha um cara que conseguia tudo, até em dias ruins.
      Sim, protocolos falhos.
      Eu acreditei mais do que devia no experimento e hoje, acredito que teria sido melhor para a minha natação não ter ido a Rosário.

    • Rogério Romero
      6 de fevereiro de 2016

      Boa Esmaga, só de lembrar, mais lóbulos doem. Concordo muito com a percepção de que fomos cobaias. Não gostava nada de ter séries padrão onde a criatividade e a sensibilidade do treinador eram deixado sem segundo plano.

  2. Lelo Menezes
    1 de fevereiro de 2016

    Sensacional! O que posso dizer é que a maior evolução que vi, quando fui treinar em definitivo nos Estados Unidos, foi os testes fisiológicos, com enfase no teste de ácido lático. Os resultados deixavam claro a evolução do treinamento na temporada e o perigo do “overtraining”, na época tão ignorado no Brasil.

    Nadei 2 sulamericanos em Rosário (um juvenil e um absoluto). Em ambos comemos no La Rural e por alguma razão desconfio que seja o tal El Vomito! kkkkk

    • Fernando Cunha Magalhães
      1 de fevereiro de 2016

      Legal Lelo, pelo jeito o protocolo evoluiu rapidamente e os norte-americanos, mais uma vez, souberam como extrair mais do conhecimento.
      Vi fotos do La Rural, e posso afirmar que não era o nosso, mas provavelmente parte da joint venture dos “vomitos”.

  3. Celio Brandão Filho
    1 de fevereiro de 2016

    Pois é, vivendo e aprendendo. No treinamento desportivo, cada um é cada um. Não se pode generalizar um treino. A resposta fisiológica é muito particular. Eu me lembro quando integrei a seleção brasileira infanto-juvenil para participar do Campeonato Sulamericano em Caracas. Acostumado a uma carga de treino que considerava hoje normal e racional no clube que defendia, o Tijuca Tenis Clube. Quando fui treinar com as feras do Fluminense, Flamengo e Botafogo, a metragem praticamente dobrou em duas sessões de treino (manhã e final da tarde), coisa até normal para as feras mais velhas daqueles clubes. Conclusão: fiquei em sexto lugar na minha prova (nado de peito). O triste é que o meu tempo normal me deixaria em primeiro e com o recorde. Overtrainning. Mas naquela época ninguém sabia o que era isto.

    • Fernando Cunha Magalhães
      1 de fevereiro de 2016

      Celio, que alegria você de volta por aqui!
      Não conhecia essa história, tô achando que os técnicos dos grandes quiseram te queimar para privilegiar seus pupilos. Sacanagem da grossa!

      • Celio Brandão Filho
        6 de fevereiro de 2016

        Hehehe. Naquela época não se sabia muito mesmo. E as feras dos clubes grandes já estavam acostumadas a metragens 50% maiores do que eu praticava nas 2,5 horas diárias de treino que fazia após as aulas e no sábado. Era a época do quanto mais melhor. Sou “antigo”.

  4. Luiz Carlos Pessoa Nery
    1 de fevereiro de 2016

    Parabéns pelo texto Maga, me lembro completamente pois cheguei em agosto de 1987 ao Clube e estava ansioso por este post, muito bem detalhado por vc. Esta minha segunda fase em Curitiba foi para atuar como auxiliar do Leonardo del Vescovo na equipe principal e treinador das categorias de base, convite profissional recebido uma semana após a minha formatura no Curso de Educação Física, tendo a oportunidade de atuar com grandes nomes da época e vc era um deles. Me lembro da Avaliação realizada em novembro no Clube Curitibano. Uma coisa me deixa desconfortável: Havia uma fita de vídeo da viagem em Rosário. Sempre fui louco para assistir novamente, mas agora na ótica investigativa, como pesquisador. A última vez que fiquei sabendo desta fita em VHS a mesma estava com o Fred Lacerda, depois não tomei mais conhecimento (seria super bacana se conseguíssemos recuperar esta fonte de onformações . Sobre o aprendizado adquirido na época, posso dizer que o Leonardo del Vescovo se tornou a maior referência na minha carreira profissional no Treinamento da Natação (ele, respeitado até hoje por vários treinadores) e viver tudo aquilo “in loco” foi um presente de vida. Sim, foi um grande marco na Natação Brasileira pelo pioneirismo tornando-se uma nova era no esporte nacional (não me lembro de outra notícia anterior a este evento, seja em qualquer modalidade). Parabéns e obrigado pelo brilhante artigo

    • Fernando Cunha Magalhães
      1 de fevereiro de 2016

      Oi Luiz, já lancei a pergunta ao Fred via Whats Up… dedos cruzados!

      Foi muito legal seu retorno a Curitiba como treinador. Um toque final naqueles 4 garotos: Gil, Dilinho, Saboinha e Cheiroso, tão bem preparados pela Missima, para aquela performance espetacular no Mauricio Bekenn.

      Muito legal ler seu reconhecimento pela relação com o Léo: “… viver tudo aquilo “in loco” foi um presente de vida.” – sensacional!

      • Luiz Carlos Pessoa Nery
        2 de fevereiro de 2016

        Maga, acrescento os resultados das atletas também: Mariella Bosquirolli; Monica Castro; Priscilla Ríspoli, cujas melhoras foram significativas, apesar da não participação nas finais. Não me lembro bem mas a Mariella pegou final nos 100m nado Peito. Temos de incluir o Alexandre Toledo também, medalhista no revezamento 4 x 100m quatro estilos (nadou o peito) e finalista na prova também. Foi uma equipe e tanto e daquela equipe tivemos outros bons atletas. Além desta experiênciacom essa equipe, o dia a dia com vcs era uma escola (ou quase uma pós graduação, rs).

        Tudo isto aos 23 anos de idade, recém formado. Nosssssaaaaaa

        Os recordes do Leo Cheiroso duraram muitos anos – se não me engano de 18 a 20 anos (o 100m nado Livre era 57″55 – Castor se não me engano – e o Leo detonou com 55″97).

        No 100m nado Costas, era 1’04″20 (Chicaiban) e o Leo estabeleceu uma nova marca com 1’03″10 (no revezamento pedimos tentativa de recorde – ele fazendo a virada reversa – mas acho que igualou o tempo.

        O Revezamento 4 x 100m nado Livre foi ouro também. Não me lembro de fizemos um forte/um fraco ou suicida. Acho que foi: Leo, Toledo; Saboia e Dilinho ou se foi Leo; Saboia; Toledo e Dilinho.

        Com a equipe principal aquele ano foi uma coleção de medalhas no Julio Delamare e Troféu Brasil. Também conhecida como Geração de Ouro do Paraná !!!

  5. Luciana Fleury
    1 de fevereiro de 2016

    Esses testes faziam parte dos meus pesadelos! Rsrsrsrs… Se não me engano fazíamos 4 por ano. 2 em Rosario, 2 no Brasil. E um dos em Rosario era em julho. Um frio daqueles!
    Minha opinião em relação aos testes foi só piorando com o tempo. Honestamente eu não via aplicação pratica dos resultados. Isso gerou muitas conversas entre eu e o William… Analisando hoje, tenho a mesma conclusão do Esmaga. Os exames nos eram passados como protocolos efetivos. Mas na verdade nós servimos como n, como casuísticas para levantar material científico, e montar protocolos futuros. Mas valeu! Apesar do sofrimento o que mais ficou na memória foram as risadas que esses encontros geravam!

    • Fernando Cunha Magalhães
      1 de fevereiro de 2016

      Conta umas histórias aí, Lu!
      Eu já comecei com as flexões do Ramalho, o “El vomito” e o SILENZO PORRA!!! do Felipe.

      • Luciana
        1 de fevereiro de 2016

        Ahahaha!
        Vou ver se encontro algumas fotos antigas!

  6. Luiz Adriano Boabaid
    2 de fevereiro de 2016

    Maga, não fique triste com o fato do ineditismo da experiência ter, de alguma forma, prejudicado a tua performance, mas sim fique feliz por ainda entrar na camiseta da Mesbla.

    • Fernando Cunha Magalhães
      3 de fevereiro de 2016

      Boa Adriano!
      Recebi uns feedbacks semelhantes depois do video de divulgação do post.

  7. anonimo
    2 de fevereiro de 2016

    Confira as unidades. mM/L não existe. Talvez mM ou mmol/L. Valores normais variam de 0.5 a 2 mmol/L. 25 mmol/L trava tudo. Porem o ácido lático virou mito.
    Cairns SP. Lactic acid and exercise performance : culprit or friend? Sports Med. 2006;36(4):279-91

  8. Fernando Cunha Magalhães
    3 de fevereiro de 2016

    Olá anonimo,
    obrigado pelo toque. Farei o ajuste no texto.
    Recomendo que você também tome cuidado: L não existe. A correta representação de litro é com a letra “l” minúsculo.
    Não sabia que 25 mmol/l trava tudo, mas não me surpreende diante do que senti quando atingi os níveis mencionados.

    • anonimo
      3 de fevereiro de 2016

      sem problema. valeu

  9. Luiz Alfredo Mäder
    11 de fevereiro de 2016

    durante o carnaval eu estava lendo a biografia do MSpitz, emprestada pelo Rafael Cordani e, para minha surpresa, descobri que ele seguia os mesmos protocolos de treino do Malburguinho 😉

    • Fernando Cunha Magalhães
      15 de fevereiro de 2016

      Muito legal o Rafael ter a biografia do Mark Spitz… uma figura esse menino.
      Quanto ao Malburguinho, enxergava adiante de mim. Mais cético, racional e questionador.

  10. Pingback: Julio de Lamare 1987 – Como é que se ganha do Michelena? | Epichurus

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