EPICHURUS

Natação e cia.

A Banalização do Titulo Mundial!

No mês passado recebi um convite para participar de uma palestra da Fernanda Keller, famosa triatleta. Infelizmente não pude ir, mas deve ter sido uma palestra interessante!

De qualquer forma, como dá pra ver pelo convite acima, a Fernanda Keller foi colocada como recordista mundial. Nada contra a Fernanda que não conheço embora tenha certeza que foi uma excelente atleta, mas truquei o fato dela ser recordista mundial. Perguntei a alguns amigos que acompanham esse esporte de perto e me disseram que ela é recordista mundial de participações no Ironman do Hawaii! Uhmmm! Tem recorde mundial pra isso?! Resolvi verificar no próprio site da Fernanda (muito bacana por sinal) e lá é mencionado que a Fernanda é recordista mundial de chegadas no TOP 10 do Ironman do Hawaii (não é bem de participação como disseram meus amigos). Foram 14 vezes no TOP 10! A conquista é sensacional! Muita gente considera o titulo do Ironman do Hawaii mais importante que um titulo olímpico. A Fernanda chegou a ser bronze, o que e’ um grande feito, mas chamá-la de recordista mundial por ter chegado mais vezes entre as primeiras colocadas e’ no mínimo um baita exagero. A recordista mundial de fato é a inglesa Chrissie Wellington, que além de ter o recorde foi vencedora da prova quatro vezes!

Eu estou pegando no pé da Fernanda, pois foi um exemplo que tive recentemente, mas assim como ela, tem um número enorme de atletas que colocam no currículo títulos mundiais pra lá de questionáveis. Eu assistia na ESPN outro dia um campeonato internacional de Ginástica Olímpica e pelo menos umas três ginastas brasileiras foram apresentadas como ex-campeãs mundiais. Mas como? Nas Olimpíadas nunca chegam entre as 16! Em esportes de luta então é batata! Praticamente todo brasileiro foi campeão mundial. Alguns muitas vezes inclusive! Acreditem se quiserem mais nos jogos olímpicos de Londres, tínhamos “campeões mundiais” na natação, no judo, no boxe, no taekwondo, no remo, no atletismo, na ginastica olímpica, no futebol, no vôlei de praia, no vôlei de quadra e no iatismo e mesmo com tantos “favoritos” o Brasil saiu das Olimpíadas com apenas 3 ouros o que mostra que ou fomos muito mal ou que alguns desses títulos são, digamos assim, um pouquinho exagerados. Fico com a segunda opção!

Na natação essa prática ainda não pegou. Ainda! A FINA acaba de anunciar os critérios para os Jogos Olímpicos da Juventude de 2014. Basicamente um mundial para jovens de 15 a 18 anos onde cada país só poderá levar até oito atletas. Quem ganhar vai por no currículo que é campeão olímpico? Na minha época o que tinha de nadador que dizia ser campeão brasileiro porque venceu aqueles “brasileiros” de inverno normalmente sediados no Nordeste (logo depois do Finkel) e que não contavam com os principais clubes do Brasil, não era brincadeira! Eu mesmo fui campeão “brasileiro” do 4x50m livre na edição de Vitória (1994 ou 1995). Tudo bem que tinha o (Rogério) Hawilla pra fechar o revezamento, mas qualquer revezamento de 50m livre que eu fizer parte não pode ser campeão de nada! De nada! Podemos ter calorosas discussões se fui ou não PEBA nos 100 e 200m peito, mas nos 50m livre acho que nem minha mãe teria coragem de negar tal acusação.

Acredito que grande parte dos esportes tem seus circuitos mundiais (na natação temos as etapas da copa do mundo) e embora muitas vezes sejam competições importantes, tem gente que oficializa a vitória em alguma etapa como título mundial. As vezes nem é vontade do atleta, mas o marketing esportivo que hoje movimenta milhões demanda isso. Mais fácil ganhar dinheiro em cima de um campeão mundial do que um campeão da 4ª etapa da Copa do Mundo de Natação com participação de poucos países. Só que isso acaba banalizando o verdadeiro titulo que é algo sensacional (pelo menos na natação). E muito provavelmente essa banalização seja responsável, pelo menos em parte, por alimentar as injustas cobranças públicas que muitos de nossos atletas sofrem durante os jogos olímpicos. Como um campeão mundial vai para as Olimpíadas e fica em 19º? A resposta é fácil: O atleta nunca chegou perto de ser campeão mundial! Só que essa resposta ou é considerada politicamente incorreta e o comentarista do meio (que muitas vezes e’ amigo daquele atleta) evita mencioná-la, ou o narrador especialista em futebol nem conhece o atleta e começa com as mil desculpas que tanta conhecemos de falta de estrutura, de apoio, etc. “É um herói meus queridos! É um herói!”.

Tem solução? Creio que não! Na natação eu sei que um titulo olímpico >; titulo mundial >; titulo mundial de curta >; titulo de copa do mundo e assim por diante. Dos outros esportes (com raras exceções como futebol e tênis) eu só confio nos resultados dos jogos olímpicos. Se disser que fulano é campeão mundial eu não acredito. É o preço que pagamos pelos exageros do marketing esportivo!

E por favor, daqui pra frente podem espalhar que fui recordista mundial dos 100m e 200m peito. Sabe o que é! Eu nasci sem o rim esquerdo e por causa de pedras tirei a vesícula. Então acho extremamente improvável que algum nadador de peito sem um rim e sem vesícula tenha feito tempos abaixo dos meus recordes pessoais! E se acharem alguém, eu guardo no bolso o trunfo de ter desde os 15 anos dois pinos de platina no tornozelo.

27 comentários em “A Banalização do Titulo Mundial!

  1. Daniel Takata
    12 de novembro de 2012

    Excelente texto, final melhor ainda! Me lembra os recordes absurdos que inventam só para entrar no Guiness. Já vi muito nadador ganhar o campeonato paulista não-federado e dizer que era campeão paulista. Não deixa de ser verdade, Mas quando alguém me vem com esse papo faço um tremendo interrogatório para saber a verdadeira verdade!

    • Anônimo
      12 de novembro de 2012

      Lelo, vc escreveu tudo. No Brasil todo atleta é campeão mundial!
      Edmilson Dezordo.

      • Lelo Menezes
        12 de novembro de 2012

        Boa Dezor! Apareça mais e não esquece de espalhar aí em Ribeirão que eu sou recordista mundial, hein!
        Abraços!

    • Lelo Menezes
      12 de novembro de 2012

      Valeu Takata! Engraçado que quando eu era moleque o Guiness Book era um bom presente e era dado com certa freqüência. Hoje em dia não ouço mais sobre ele. Quanto aos não federados é a mais pura verdade e é sempre hilário quando você pressiona o cara e ele vem com uns tempos que dariam ouro nas Olimpíadas!
      Abraços!

      • Daniel Takata
        13 de novembro de 2012

        Tenho dois Guiness books, um de 1996 que é muito bom, e outro de 2005 que é bem ruim. No de 1996, encontram-se recordes incríveis. No de 2005, recordes esdrúxulos. A piora na qualidade está justamente no assunto principal do texto: a banalização dos recordes.

  2. mpacheco1
    12 de novembro de 2012

    Boa!
    Nao acho que seja um fenomeno novo, e’ o velho marketing, so que aos poucos ficando mais exagerado.
    Ocorre tambem com frequencia em outras disciplinas menos mensuraveis.
    Tipo alguem solta “fulano e’ considerado o melhor sei-la-o-que do mundo!”.
    Fica aquele ar de respeito quando na verdade essa frase nao diz nada. Considerado melhor do mundo? Por quem?

    • Lelo Menezes
      12 de novembro de 2012

      Pois é Pacheco! No mundo corporativo sempre ouvimos essas frases! Inclusive podemos pré-anunciar que o Brasil tem o WR de mais tempo sem sair da Final B

  3. rcordani
    12 de novembro de 2012

    Excelente Lelo. Eu sou recordista mundial de quarto lugar seguido em TB!

    Quanto ao marketing, esportes ultra-objetivos como natação e atletismo (sai aqui, chega ali, quem chegar primeiro ganha) deveriam estar blindados contra o exagero, mas, como vimos, a ignorância tira o marketing das sombras.

  4. rmmunhoz
    12 de novembro de 2012

    Lelo, acho que parte da culpa desse “problema” é do Guiness Book 😉 que oficializou recordes mundiais esdrúxulos…
    Abraços,
    Munhoz, lendo o Epichurus num trânsito de 250km, o qual é recorde mundial para o horário da manhã em SP!

    • Lelo Menezes
      12 de novembro de 2012

      Não brinca não Munhoz! Nadei o maior revezamento do mundo no Ibirapuera e acho que entramos no sagrado livro!

  5. Marina Cordani
    12 de novembro de 2012

    Não é só nos esportes que isso acontece. Nos noticiários vemos: “hoje é o dia mais quente dos últimos 14 meses” ou “record de acidentes desde 2011”, etc. Ou seja, só atraímos a atenção do público no superlativo! Menos eu, claro, que fui campeã brasileira dos Jogos Universitários!

    • eduardoestefano
      12 de novembro de 2012

      Acho que acabei se quebrar o recorde mundial de esperar o mecânico da Allianz. Uma hora e 20 minutos e nada ainda.

      Quero meu Hall of Fame

    • Lelo Menezes
      12 de novembro de 2012

      Pois é Marina! A banalização esta em toda parte! Outra coisa que ajudou foram os trajes tecnológicos (hoje banidos). Cada nova geração de trajes eram dezenas de WR batidos em competições de pouca expressão!

  6. Alvaro Pires
    13 de novembro de 2012

    Esse eh blog eh chiclete ! Li o post, achei legal, como jah tinha achado o post do pacheco mas ia me abster de comentar novamente. To me achando um “carioca” chato (coloquei entre aspas pq sou soteropolitano na verdade) por sempre fazer comentarios longos aqui. Ai hj pego o caderno de esportes do globo (coisa q faco todas as manhas ha mais de 30 anos) e leio q o Falcao do futebol de salao agora eh o maior artilheiro de todos os tempos do Brasil de esportes relacionados ao futebol. Pera ai !!!!!!!!!!!!!!!!! Daqui a pouco vem a compracao c o Pele. Fiquei rindo sozinho sozinho lembrando do post.
    ab

    • Lelo Menezes
      13 de novembro de 2012

      Vreco, os comentários longos são geralmente os melhores! São eles que alimentam mais a discussão!

      Quanto ao Falcão, podemos achar algum poleiro que tenha mais gols que ele! Outro WR!

      Abraços

  7. ruy araujo
    13 de novembro de 2012

    Fui vice campeao brasileiro de inverno. Dependendo da situacao, posso citar e me passar por meio peba. Mas jamais passarei pelo vexame de encontrar algum ex-nadador num ambiente corporativo e o cara perguntar: “E ai Ruy, quanto voce fazia de 100m costas?” e eu responder “47.50”.

    • rcordani
      14 de novembro de 2012

      Uma vez eu encontrei um cara no trabalho e o mesmo disse “ah, você nadava? Eu também, fui vice-campeão carioca!” Visto que o sujeito era de 70 como eu logo perguntei se ele conhecia o Emannuel, o Gilberto Silva, o Perriconi, enfim, os caras que dominavam a natação carioca e brasileira da nossa idade, o cara mudou de assunto e nunca mais falou sobre isso…

      • Alvaro Pires
        16 de novembro de 2012

        Faltou perguntar se ele conhecia o Alvaro Pires, hehe. Ontem tinha o japones q bateu o recorde mundial dos 100m correndo de cachorrinho. Quebrou a barreira dos 18s, sensacional !!! Eu sou o recordista mundial de fazer 54s nos 100L, fiz umas 359 vezes !!! Lah no TB do Minas qdo soube do tempo q eu fiz parei de nadar na semana seguinte.
        ab

    • Lelo Menezes
      14 de novembro de 2012

      Ahhh, esses “brasileiros” de inverno eram sensacionais, Ruy! Como esquecer aquele de Salvador e as famosas historias do Gato Kilo e da parada respiratória. Ou aquele de Vitoria com a sensacional atravessada no Rubro-negro! Ou o de São Luis com a história da poodle e de estar perdido por 10 horas nos Lençóis Maranhenses!
      Dar uma exagerada no título durante um xaveco ou pra dar uma impressionada em alguém é normal! Acredita que tinha gente que levava medalha de Finkel no bolso na balada e deixava cair propositadamente enquanto xavecava alguma gatinha e dizia “Nossa, nem percebi que essa medalha do campeonato brasileiro absoluto estava no meu bolso. Quem diria!” Agora, usar um título “fictício” ou “enganoso” como auto-promoção profissional é bem questionável né!

    • Fernando Cunha Magalhães
      15 de novembro de 2012

      Boa Ruy.
      Além disso, imagino que até o Federer fazer o que fez, você deve ter se orgulhado do WR de títulos do Grand Slam.

  8. Fernando Cunha Magalhães
    15 de novembro de 2012

    Lelo, boa essa do rim e acredito que os pinos na manga ninguém te tira do topo. Será que minhas agenesias garantem algum WR?

    • Lelo Menezes
      18 de novembro de 2012

      Sei não Esmaga, acho que você vai ter que tirar o apêndice pelo menos! 😜

  9. Fernando Cunha Magalhães
    15 de novembro de 2012

    Ah, lembrei de uma boa. Anos atrás Luiz Augusto Xavier, grande jornalista paranaense publicou em sua coluna num jornal de Curitiba a notícia de uma dobradinha de duas irmãs curitibanas numa prova de um campeonato brasileiro. Li, não chequei e me surpreendi pois era época de vacas magras para a natação paranaense. No dia seguinte, constrangido, escreveu uma errata, desculpando-se e justificando a derrapada na confiança num relato do amigo e pai das garotas: a dobradinha havia sido na Final B.

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Publicado às 11 de novembro de 2012 por em Natação, Olimpíadas e marcado .
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