Se você é ex-nadador como nós, possivelmente já passou pela seguinte experiência: um dia parou de nadar, aí ficou um certo tempo parado, e alguns anos depois resolveu voltar. A volta parece fácil? Mas não é, e explico porque.
Ocorre que nós passamos décadas treinando ser eficientes no nado. Com exceção dos ultra-velocistas (que nadam apenas o 50L) todos nós fazíamos a primeira metade da prova com o mote “fazer o melhor tempo possível com o mínimo gasto de energia”. Isso valia tanto para provas de 100 quanto de 200 metros. Nas mais longas então, quase a prova inteira é sinônimo de economia e eficiência. Se você, leitor, não teve o imenso prazer de ser nadador de 400 medley como eu, não sabe que para essa prova simplesmente não existe “forçar”, a não ser no finalzinho, se sobrar alguma energia. É tudo uma questão de economizar e manter a eficiência, obviamente nadando o mais rápido possível dentro desse mote.
E é exatamente essa eficiência que treinamos por tanto tempo e na qual acabamos por ficar bons que cobra seu preço na hora de voltarmos a nadar.
Na volta, logo nos primeiros treinos, uma beleza! O corpo exausto mal consegue completar 800 metros. A sensação daquele cansaço bom pós treino cheio de endorfina surge mesmo com treininhos curtos e fracos. Quando aquele seu chegado das antigas que você não vê há décadas pergunta “está nadando?” você responde todo contente “SIM, e você?”. Você chega a ter a sensação de estar emagrecendo, porque a fome aumenta muito. Você posta no Facebook seus treinos e tira chacota dos mesmos, comparando-os com o que você fazia, e todo mundo entende e ri! Rsrsss e kkk.
Essa lua de mel da volta aos treinos dura uns 2 meses, após o qual aparece inequivocamente a nossa maldita… eficiência!
Ocorre que o nosso corpo retoma aos poucos a eficiência treinada durante anos e o nosso nado fica tão eficiente que “1500 metros nadando fraco” já não é suficiente nem para evoluir e muito menos para emagrecer, ou seja, para o exercício não ser inútil é preciso fazer tiros. E é precisamente nessa hora que a maioria de nós desiste, exclamando:
“Tiro não, tô fora, já fiz muito tiro na minha vida!”.
Tal afirmação é mais do que justa. E afinal, sem objetivos, para que fazer tiros? E se sem tiros não adianta nada, é melhor parar! O problema é que parar significa voltar à vida sedentária, e… OPA! Não era exatamente isso o que queríamos evitar inicialmente?
De forma que na prática, amigo, ou você treina com algum objetivo ou dificilmente você dará longo prazo à sua volta à piscina.
“Ah, mas competição de masters é muito chato, demora muito!”.
Então o leitor atento do Epichurus já percebeu a encrenca: no retorno às águas, após algum tempo de treino a gente se torna rapidamente eficiente, por conseguinte tiros são necessários, portanto competições são necessárias, mas as competições são muito chatas. Como resolver esse dilema?
(N. do A. Por muito tempo achei que o epichuriano Rodrigo Munhoz fosse capaz disso, de treinar regularmente por vários anos SEM objetivos e SEM competir. Percebi que estava errado quando o farsante nadou os 100 peito para 1:13 no brasileiro de Ribeirão Preto no ano passado. Nem ele consegue!)
Não tenho nem é meu objetivo oferecer a solução definitiva para o dilema. Mesmo assim arrisco abaixo seis dicas semi-pebas (afinal, Epichurus também é autoajuda):
1- Saiba que você vai ficar eficiente logo. Tenha um plano de curto prazo (voltar a nadar) e outro de médio prazo (voltar a competir).
2- No início, é muito fácil desistir, a vida é atribulada e nos convida a faltar, cada dia por um motivo diferente. Faltando regularmente, a desistência definitiva fica a um passo. Faça um plano semanal (tipo treinar segunda de manhã, quarta no almoço e sábado de manhã) e seja caxias no começo.
3- Chame as sessões de treino, mesmo que seja uma porcaria que NSPN.
4- Chame seus amigos, aqueles retardados pregos que nadavam com você. Mesmo que vocês não treinem sempre juntos, comente com eles os seus treinos por email. Cobre-lhes disciplina, e deixe que eles cobrem você, sempre com bom humor. Chame-os de peba. Diga que o treino deles não serviu para nada. Desafie alguém. E marque algumas competições com eles de vez em quando.
5- Escolha competições legais e que não sejam muitas por ano. Poucos vão querer passar todos os finais de semana em competições. Combine com os pregos, some as idades e monte revezamentos.
6- A dica mais importante: lembre-se, a não ser que você seja um “tipo Gustavo Borges”, você não tem um nome a zelar. Sério, provavelmente ninguém está interessado em saber quanto peba você se tornou. Você tem (aí sim) é uma saúde a zelar. Em outras palavras, perca dos caras que você ganhava outrora com espírito esportivo (como consolação é válido se queixar com os pregos seus amigos no email que aquele cara que agora ganha fácil de você era muito peba na época).
E nunca se esqueça: o melhor de tudo é a pizza no fim.
Caro Renato,
Concordo que depois de uma certa idade, o mais importante seja mesmo arrumar uma atividade física. Isso parece beneficiar não apenas a saúde física como a mental também. Para mim, já comentei aqui que o mais importante são os treinos. Passei uns anos apenas “rodando” e realmente nos últimos 3 anos teho feito uma competição por ano (RP) com meus ilustres e PEBAs amigos, como vcoê. Não acho que a competição seja fundamental para continuar treinando, mas admito que ajuda na motivação. Aliás, no tópico motivação, eu adicionaria um ponto: Tente incluir treinos espontâneos na rotina, ou seja: Teve um tempo livre, sem compromissos familiares ou profissionais, não pense duas vezes e mexa-se! Vá treinar em um horário livre qualquer e veja como isso faz bem pro seu dia… gostei da galeria de fotos btw!
Abraços!
Valeu Munhoz, estamos aprendendo com você. O mais importante são os treinos. Principalmente a fila da sobremesa da sexta-feira!
Foi uma descrição muito compatível com meu caso. Uma coisa vai levando a outra… quando me vi com os compromissos de competições quase todos os finais de semana…. afinei e estou dando um tempo nos “treinos”; um tempo de quase um ano.
Hehe, “um tempo de quase um ano”. Exato, se a gente deixar, a vida nos empurra para longe da piscina fácil, fácil!
Fala Renato. Nao tenho participado muito dos posts (por falta de tempo) mas este nao dah p fugir. Vc resumiu c perfeicao o q acontece. Posso falar das minhas experiencias nos ultimos 15 anos. A 1a vez q voltei aconteceu uns 6 anos apos meu ultimo TB. Foi num clube na Barra e os tecnicos/professores (Alexandre Gama e Wladimir Silva) foram nadadores pebas como nos. E logo no 1o de treino o Gama fez uma festa dizendo q tinha chegado um campeao carioca e vice-brasileiro perdendo do Gustavo Borges, ou seja, me colocou a maior pressao. Acho q aguentei uns 500m no maximo !!! Depois fui melhorando e uns 2 meses depois jah fazia treinos c o pessoal. Eu servia de motivacao p os outros. Eles chegavam sempre na minha frente e achavam o maximo estarem ganhando de um campeao carioca. Sempre achei graca daquilo. Me lembro de ter feito uma competicao soh em curta. Fiz (acho) 1″04 nos 100 M e 25″6 nos 50L numa academia na Barra. Nao me preocupei c os tempos (fraaaacos) e recebi no medley a medalha do Saez (meu pupilo Fernando) q me deu uma sacaneada dizendo q eu tinha feitos tempos horriveis ! O pior foi depois da competicao. Fiquei morto, era sab de manha e eu tava solteiro. Nao consegui nem sair no final de semana todo. Acho q nadei mais 1 mes no maixmo e parei novamente. Depois senti falta da cerveja as 6as apos os treinos. Em 2001 nadei uns 6 meses. Mal comecei e os tecnicos jah ficavam me cantando p competir. Quase todo finde tem competicao. Pode ser em curta, longa, estaduais, regionais, brasileiros, travessias e outras. Fui a uma competicao no Vasco, nadei o 1o dia e achei terrivel passar o dia todo em competicao. Nao fui ao 2o dia de competicao, causando ateh um mal estar c os companheiros de revez. Depois disse q nao nadaria mais nenhuma competicao mas acabei nadando o carioca de master onde fui o indice tec do 30+ c o “sensacional” tempo de 28″39 nos 50B Isso depois de fazer uma noitada forte na noite anterior. Os colegas gostaram muito mais do q eu e ganhei um peq trofeu mas obviamente isso nao me motivou nada e parei novamente. Por ultimo em 2007 nadei uns 4 meses e fiz um brasileiro master na escola naval, onde fiz tempos horriveis (logico ! esperar o q ?) mas ainda fiquei em 2o nos 50B, perdendo do Helio (Celidonio). Nem sei pq fui ao brasileiro, acho q foi por incentivo dos colegas.
Acho q esta foi a ultima vez q nadei c regularidade. Entre essas passagens tentei voltar vaaaaaarias vezes mas as faltas sempre me desanimavam pq s ganhar ritmo os treinos ficavam muito ruins. Tento explicar p minha mulher q 3X por semana nao consigo manter a roina da natacao. Ateh pq se faltar 1X acabo por ficar 5 dias s treinar.
No meu caso ainda nao consegui buscar a motivacao p manter treinos q sejam quase diarios. Gosto do pessoal da Academia da Praia (como gostava do Clube Caca e Pesca) e acho legal a motivacao deles p treinar e competir. Muitos fazem tempos iguais ou melhores q qdo jovens. Alguns batem recordes no master ! No meu caso a competicao em si, 1, 2 ou 10 meldalhas a mais nao me motiva de jeito nenhum. O treino ser variado e agradavel e as companhias nos treinos certamente sao o fator mais importante. Mas como quase todos estao pilhados c competicoes, acho q isso me desmotiva um pouco. Preciso achar dentro de mim a motivacao p o exercicio (independente de qual seja o exercicio) mas eh importante q seja rotineiro e e ao mesmo tempo prezeroso. Gr ab do (no momento) sedentario Vreco
Muito bacana compartilhar sua experiência Vreco, mas onde estão os pregos que treinavam com você (ou seja, conosco)? Sumiram?
Mas 3x semana não acho pouco, aliás é isso que a gente tem feito. Mas a experiência mostra que treinar sozinho e postar o treino para a galera é muito melhor do que simplesmente treinar sozinho.
Nonno,
sensacional post, como sempre. mas falando em treinos, em técnica, fiquei com uma dúvida e tenho uma pergunta muito importante pra vc…
Cade meu palmar??????!!!!!!!!!!!!!
Myha, vou te contar uma coisa, eu vi o Tio Luiz outro dia com um palmar preto e rachado, era o seu? Intime o sujeito no vestiário, vai por mim!
Boa Cordani.
Eu estou ativo: corridinhas de 30 a 40 min 2 ou 3 vezes por semana.
Natação 1 ou 2 vezes por semana.
Uma aula parecida com pilates 1 ou 2 vezes por semana.
Sinto-me bem e ainda gosto muito de competir embora não goste de investir todas aquelas horas numa competição.
Quanto o nome a zelar, estou relax, tanto que há dois anos fiz 21min36s nos 1500 e tomei mais de 100 metros do Leopoldino. Levei numa boa.
Agora, é legal a gente poder competir. Fico pensando como o Gustavo teve que trabalhar bem a cabeça pra parar, parado e não poder nem arriscar um masterzinho de vez em quando… sim, porque até acredito que ele nem ligaria para os tempos mas certamente a imprensa noticiaria e já começaria a fazer perguntas sobre o próximo pan ou ciclo olímpico… quem sabe daqui mais alguns anos.
Corrida é sensacional e a gente nunca fica eficiente. Só tem um probleminha no meu caso, minha panturrilha não aguenta.
Tempo de 1500 = PEBA!
E o caso do Gustavo é diferente do nosso. Ele tem mesmo um nome a zelar!
Muito legal o texto! (como sempre, todos são muito, muito bons!).
Mas , ao contrário de tudo isso, resolvi voltar à prática esportiva competitiva em OUTRO esporte. Isso tb. é bem legal! E aí que não tem nome a zelar mesmo! Pelo contrário, vc dá só vexame mas justifica dizendo que é iniciante…
E tem outra coisa que acho que faz mais homens do que mulheres voltarem às piscinas: a escova progressiva não é compatível com o cloro…
Aliás, falando em mulheres, cade a ala feminina? As mulheres não mantêm uma turma assim como os homens – vide fotos, só homens! . Talvez se tivesse uma turma feminina animada fosse até motivante voltar, mas mulher não tem turma assim nem no auge da amizade!!!
Torço pela equipe PEBA e que todos estejam treinando!
Bjo!
tinha uma foto da Katia…
Tulipa a qual pratica badmington e é fera. Semi-peba talvez…
PEBA. Certeza.
O texto ta muito legal. No meu caso não tenho vontade de treinar. É fato! Triste mas fato! Dar uma nadada de vez em quando pra sacudir o esqueleto é gostoso, mas virar rotina já detona a vontade. Pra driblar isso eu tenho que ter um objetivo. O problema é que não consigo de maneira racional separar o passado do presente. Ou seja, meu melhor de 100m peito é 1’02. Botar o objetivo de nadar pra 1’10 é broxante. Sei que 1’10 pra alguém de idade avantajada como a minha é um ótimo tempo. Mas na minha cabeça só consigo pensar que é 8 segundos mais lento do que meu melhor. A solução que achei seria focar numa prova que nunca nadei. Os 50m costas por exemplo. Aí aparece outro problema. Sou PEBA animal de costas e o lado competitivo acaba me forçando a nadar peito. Esquema bola de neve.
Preciso lidar com esse dilema. Se abandonar o peito vou ter que aceitar a minha condição MEGA PEBA de costas. Se manter o peito, terei que tentar esquecer o passado.
Enfim, continuo com planos de nadar em Ribeirão Preto, mesmo sem ter treinado 1 dia esse ano. Vamos ver o que vai dar…
Lelo, sinto lhe dizer, você é peba em peito também…
E sinto lhe dizer (2), o sr está com a síndrome de ter um nome a zelar, hein?
bem alinhado com a história, estava com a mão esquerda engessada na última foto, mas nem por isso deixei de competir em Recife… hehehe
E também não se furtou a comer um peixinho na praia com as duas mãos…
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