Esse não é um post sobre o livro de George Orwell
Esse já é o 6º post que escrevo sobre lembranças do ano de 1984.
Contextualizando, comecei o ano participando do campeonato brasileiro juvenil, experiência relatada em Parque Aquático Julio de Lamare, muito prazer!
Na semana seguinte, mesmo sem nadar o Troféu Brasil, tive um forte impulso em minha autoconfiança, conforme relato em TB 84 – finalmente, o Curitibano no pódio.
Mergulhei com obstinação nos treinos de fundo no primeiro semestre e aos 14 anos fui competir o Troféu José Finkel, competição absoluta, em que nadavam dois atletas por clube por prova, na recém-inaugurada piscina suspensa do Esporte Clube Pinheiros, como contei em Raspar ou não raspar? Eis a questão.
Fui convocado para a seleção paranaense e ampliei a integração com os rivais do Clube do Golfinho no JEBs de Brasília.
Constatei uma grande evolução em minha performance e competi num mesmo evento que grandes estrelas internacionais na Copa Sulamérica – relatos em E o Albatroz pousou no Rio.
E o ano ainda reservava boas histórias para serem vividas.
Evolução tecnológica: em 84 apareceu no CC a 1a câmera subaquática. A namorada do Marcelo Lopes havia trazido dos EUA e emprestou um dia para ele tirar fotos da equipe.
Um piá entre os grandes
Com os resultados do primeiro semestre, o técnico Leonardo Del Vescovo me incluiu na lista dos atletas convocados para nadar o Torneo Banco Republica, na piscina do clube de mesmo nome em Montevidéu.
24 horas de viagem de ônibus, eu era o caçula entre os homens, na equipe chefiada por Joel Ramalho Júnior.
Era uma competição absoluta, em piscina curta, que reunia os melhores atletas argentinos e uruguaios. O Clube Curitibano já participava, como coadjuvante, há alguns anos. Os gringos raspavam, poliam e nadavam muito. Essa percepção era ampliada pelo fato de que não havia competições importantes no Brasil em piscina de 25 metros e não estávamos acostumados a ver em águas tupiniquins os tempos que víamos por lá.
Voltamos em anos seguintes e a evolução do Curitibano neste torneio foi incrível. Breve escreverei um post contando sobre isso.
Recordista outra vez
Eu tinha dois recordes estaduais em meu currículo, obtidos na prova de 100m costas, em 1980. Passei por 81,82 e 83 em branco e já contei anteriormente que a tônica nas provas que eu disputava era a seguinte: Eduardo De Poli ganhava o ouro, eu disputava e muitas vezes não ganhava, a prata.
Nas provas de costas, fui soberano no Paraná durante o segundo ano nas categorias Infantil A e Infantil B. E seguia assim no segundo ano de Juvenil A.
Na primeira etapa do Torneio Regional Sul, em setembro, o Edu não nadou 100m livre. Aproveitei e faturei o ouro, mais que isso, quebrei o recorde estadual com 57s37, superando o 58s64, a marca que Hilton Zattoni e Christian Carvalho dividiam desde o campeonato estadual do ano anterior.
Nos dias seguintes, alegria repercussão do recorde, o início de uma crença de que eu poderia bater o Edu no confronto direto e muita preocupação ao saber que no Torneio Regional Sul Norte, disputado em Londrina, Rogério Romero, da ACEL, havia feito 1m04s nos 100m costas. Era piscina curta, mas eu tinha 1m07s na longa e minha soberania estava muito mais do que ameaçada.
Estadual de verão – 6 pratas e um bronze
No primeiro dia do Campeonato Estadual na piscina longa do Curitibano eu dei um salto de qualidade na prova de 200m livre. Havia começado o ano com 2m10s, fiz 2m06s no Finkel, 2m05s71 no JEBs e no estadual passei com 1m02s e voltei com 1m02s – 2m04s3 foi um tempaço. Tempo com que o Edu havia conquistado o bronze nesta prova no brasileiro anterior. Abria-se a perspectiva de eu voltar a final no brasileiro e sonhar com medalha. O Edu nadou para 2m02s. Fiquei com a prata que valia prata, mas foi sensacional.
Segundo dia, o tira-teima na prova de costas. No banco de controle, Romero discreto, com seus óculos redondinhos – no chinelo, li pela primeira vez o apelido “Piu” – pensei “estranho”, não vou perder pra esse “Piu”. Só pensei. Tomei mais de um corpo de vantagem mesmo melhorando meu tempo em mais de um segundo.
Voltamos a nos enfrentar nos 200m medley. Nadei abaixo de outro recorde estadual de Hilton Zattoni – 2m23s07, porém exatamente um segundo acima do Piu. Outra prata.
A competição foi passando e nos revezamentos não conseguíamos superar o Golfinho. Fomos prata nos 3.
Estava louco para ganhar uma prova mas as possibilidades eram remotas nos 400m livre. De fato o Edu não deu chance e levou mais uma. Entretanto, meu metal mudou de cor – Fábio Storelli vingou a derrota nos 200m e me deixou com o bronze.
Último dia de competição, os 100m livre. Meu recorde caiu já na eliminatória. Na final nadei muito bem, melhorei meu tempo – 57s08 – e o Edu levou com 56s82.
No papo com meu amigo Luiz Alfredo Mader ao final da competição, estávamos surpresos com a evolução do meu 100m livre – começara o ano com 1m00s80. Eram quase 3,5s de melhora e pegando o Edu.
Já, na prova de costas, houve evolução, mas pouco mais de 1s. Além disso, aquela derrota acachapante… disparei: “Pô Alfredo, se eu perco daquele magrela de Londrina vou ganhar de quem? Eu vou é treinar crawl!”
Anos depois – eu já aposentado – meu amigo Piu, ainda na ativa e se preparando para mais uma das suas 5 Olimpíadas.
Conversei com o Léo e decidimos focar nas provas de crawl no brasileiro. Costas só no revezamento medley.
O que aconteceu em Juiz de Fora vocês saberão no próximo post.
Forte abraço,
Fernando Magalhães
Hahaha, o cidadão trocou de estilo por causa do Piu! De qualquer forma, impressionante a explosão da natação paranaense a partir de 1984!
Olhando hoje, acho que a sua prova principal deveria ser os 100 livre mesmo, mais do que os 50 e os 200, e melhor do que costas.
É Cordani,
a sequência dos anos foi tornando essa história cada vez mais engraçada.
O Piu é um grande craque!
Quanto a minha prova principal, realmente não sei dizer.
Gostaria que fosse 100 ou 200, mas acredito que era mesmo 50.
Treinava fundo e mesmo assim levei 2 TBs nela.
Muito interessante esta Maga. Este estadual foi minha primeira grande competição (depois ainda surpreenderia o Grackzyk e Ramalho na UEL), e o final do ano veio com minha primeira medalha em brasileiros. Tardio, porém igualmente saboroso.
Lembro dessa vitória sobre o Grackzyk e Ramalho – o Paraná inteiro ficou boquiaberto.
Sensacional essa memória do Esmaga. Muito boa a história e o destino. Se não fosse o “magrelo” provavelmente você teria insistido numa prova que não te traria tantas glórias. Algo parecido aconteceu comigo. Eu lutava judô muito bem quando era moleque, coisa de 8-9 anos. Era leve e alto então me dava bem nas lutas. Ja estava sofrendo pressão dos pais pra escolher um dos esportes. Aí fui lutar um estadual infantil. Comecei bem e ganhando lutas. Aí peguei um moleque de Araraquara que era a metade do meu tamanho. Achei que ia acabar com o moleque. Em menos de 5 segundos sofri um golpe que nem vi da onde veio e perdi a luta por ippon. A decisão de escolher natação veio em seguida e na cabeça de um moleque de 9 anos a decisão foi fácil. Ja me peguei questionando se eu seria um bom judoca, mas a resposta eu nunca terei. Acho no entanto que fiz a escolha certa
Legal Lelo,
alguém de Araraquara entre os figurões da história do judô nacional?
Pelo jeito você era bom na arte de Jigoro Kano – nunca saberemos no que daria – mas você estava indo muito bem.
O Cheiroso contou sobre o primeiro 100 medley do Gui – seu primogênito – há poucas semanas. Traumático. Trabalho de recuperação psicológica importante para os pais, espero que ele não abandone.
Grande Maga e Piu, me recordo muito bem também desse estadual na UEL, o Graczyk tinha acabado de retornar de uma temporada nos EUA, foi a primeira vez que eu vi o talento do meu amigo Piu. Foi um momento especial para mim devido a um 3o lugar no 100 borbo (acho q 1o foi o Edu e segundo o Maga). Lembro também que o Castor perdeu os 50 para o Paulo “Brother”, foi outra coisa que me impressionou muito na época. Grande abraço
Polenta, Esmaga e Piu, alguém vai contar o que é UEL e como foi essa do Piu com o Graczyk e o Ramalho, para os não-paranaenses? Abraços
Cordani, UEL = Universidade Estadual de Londrina.
Pois é Cordani,
na UEL ficava a piscina longa de Londrina.
Gostava muito de competir lá.
Lá se passaram algumas provas já relatadas no Epichurus como aquele 100m livre em que eu e o Dado Borell fizemos 1m07s80 e ele levou na 1a chegada.
Na prova em questão,o Graczyk havia passado um tempo treinando nos EUA, acho que um semestre e na volta cruzou com o Ramalho em plena ascensão.
A disputa dos 200m costas seria a grande sensação daquela etapa do estadual.
Nervos a flor da pele, torcidas apreensivas e nenhum dos dois levou – Romero surpreendeu a todos e faturou o ouro. Foi inacreditável.
Agora, estou achando que isso foi em 85, já que o Estadual absoluto de 84 foi na semana seguinte do JD de Juiz de Fora e o Golfinho não participou.
Polent-man, meu amigo, muito bom ler seu comentário por aqui.
Lembro perfeitamente dos 100m livre na final do estadual de 83 no Golfinho, em que lado a lado, você me deu um coro.
Agora deste 100m borbola “ainda” não estou lembrando.
Sobre Paulo “Brother” – fuguraça – volta e meia aprontava dessas, como por exemplo, quando faturou o ouro no JUBs de 89 com excelentes 24s39 – fiquei com o bronze.
Abração.
Quantas histórias, meu caro Maga! Tenho algumas frustrações na natação. Uma delas é, por um ano, não ter sido companheiro de treino do Rogério Romero. Passei para o juvenil em 93. Acho que foi o ano em que ele foi para Minas. Mas era o ídolo do pessoal do Golfinho. O resultado é que ele não me conhece e não posso chamá-lo de Piu.
Abraço!
Mauricio, pode me chamar de Piu sim, afinal é assim que o pessoal da natação sempre me chamou. Na verdade vim para BH em 1991.
Abraço.
Piu,
e você pode chamar o professor Mauricio de Niwa.
Obrigado, Piu! Verdade, acabei me confundindo. Passei para o juvenil em 92. Em 93 o Daniel já havia saído do Golfinho. E em 93 eu fui para o Curitibano.
Abraço!
É Niwa, e vem muito mais por aí.
Mesmo tendo aumentado o delay entre a saída dele e sua chegada ao Golfinho, é de fato, uma pena para você não ter dividido as raias dos treinos com o Piu.
Maga, eu só troquei os anos. Foi por poucos meses mesmo. Passei para o juvenil em 92, não em 93.
parabens rebollal, o fininho …