EPICHURUS

Natação e cia.

É criança na água, estúpido!

Não é preciso fazer muitas contas para concluir que a seleção brasileira de natação não foi bem nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Ainda faltam duas finais, mas todo mundo viu, todo mundo sabe. Não que se esperassem muitas medalhas, a minha previsão era apenas uma, mas a grande maioria acabou piorando os tempos ao invés de melhorar. Muitas desculpas podem ser dadas pelos brasileiros individualmente: pressão da torcida, horário inadequado, o calor, a comida, Deus, a Vila, sei lá. São justificativas razoáveis, e não estou sendo irônico. Mas é isso o que temos, e querendo ou não, a seleção brasileira é formada nada mais nada menos pelos melhores nadadores que temos hoje no Brasil.

Aí você vai dizer: “ah, mas a Katinka, o Phelps, o Peaty, a Ledecky não sentiram nenhum desses problemas!”. Isso é fato, inclusive a Katinka, a Ledecky e o Peaty bateram recordes mundiais. Eles não sentiram nada disso, e obtiveram rendimento máximo na final olímpica, que é o objetivo de todo nadador.

Fazer o melhor tempo da vida na final olímpica é uma tarefa para poucos e bons, e não é inédito para brasileiros, por exemplo:

  • Ricardo Prado fez o seu melhor tempo ao ganhar a prata olímpica em 1984 (aqui).
  • Gustavo Borges tem seus melhores tempos de 100L e 200L em finais olímpicas medalhadas em 1996.
  • Fernando Scherer fez seu melhor tempo quando beliscou o bronze olímpico em 1996.
  • César Cielo fez seu melhor tempo ao ganhar o ouro olímpico em 2008, e o melhor de 100L (WR até hoje) na final do mundial de Roma em 2009.
  • Thiago Pereira fez sua melhor marca – adivinhem! – na final olímpica dos 400 medley em que ele garantiu a prata em 2012.

Enfim, alguns dos nossos nadadores já fizeram isso, embora com muito menos frequência do que os americanos. Quais nadadores? Os gênios! Aqueles que são os mais talentosos dentre os talentosos. Os quase sobrenaturais. O meu ponto aqui é que muito poucos nadadores são assim. De vez em quando, por pura sorte, um desses ultra-talentos pipoca por aqui.

Prado

Ricardo Prado: prata olímpica com melhor tempo da vida na final.

Já nos países que apresentam muitos talentos o tempo todo, como é o caso dos Estados Unidos, é porque os talentos foram selecionados dentre muitos milhares de nadadores. Nos EUA, em cada estado, em cada pequena cidade, seja nas escolas ou em clubes, a criança tem muito estímulo para nadar, mostrar seu talento e de um dia ser recrutado para a seleção. E de milhões, se faz uma seleção só de craques. É uma questão de simples estatística!

Aqui no Brasil quantos são os centros de natação mirim-petiz? Que estados tem projetos para as suas crianças? Quantas escolas têm piscina? Quantos patrocinadores privados patrocinam o esporte de base? Quantos olheiros estão buscando talentos em locais de baixa renda? Quais Federações têm recursos próprios e fazem competições bacanas para a molecada? Quantas crianças estão na água? Fora a Federação Aquática Paulista e mais umas poucas outras, a verdade é que as nossas crianças não estão na água!

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Paulista Petiz de Verão 2015: quantos estados do Brasil colocam tantas crianças na água?

Portanto a culpa dessa situação desoladora não é dos nadadores atuais, eles são os melhores do Brasil e estão lá com méritos. O que está faltando é criança na água!

Não sou leviano em dizer que essa culpa tem nome e sobrenome: sr. Coaracy Nunes e a sua CBDA, afinal essa turma está lá há quase trinta anos! Muito dinheiro é gasto com o alto rendimento (olha o exemplo do Pólo masculino), para tentar maximizar o número de medalhas, mas as Federações estão à míngua! Nenhum apoio real da Confederação é empenhado em competições para crianças, a não ser em alguns estados que se viram sozinhos. E as medalhas olímpicas, como vimos, só acontecem quando aparece (por pura sorte) um desses gênios! E para piorar, todo o dinheiro que está sendo usado hoje em dia vem quase exclusivamente de UM patrocínio estatal (Correios), que já disse que o dinheiro vai acabar… o que será de nós daqui para a frente?

Preparo psicológico, treinamento de altitude, tecnologia de ponta, técnicos de primeira, equipamentos de primeira linha, tudo isso a gente tem! Só falta criança na água, e é justamente o que de melhor uma Confederação de Desportos Aquáticos poderia fazer… e não está fazendo!

Essa está longe de ser a única, tem outras (aqui), mas é a principal razão pela qual já passou da hora de mudar: MUDA CBDA!

Sobre rcordani

Palmeirense, geofísico, ex diretor da CBDA e nadador peba.

74 comentários em “É criança na água, estúpido!

  1. luizcarvalho1
    12 de agosto de 2016

    Sim, acho que precisamos de mais crianças água e isso, sim, fará com que tenhamos estatisticamente mais “gênios” na natação. Mas isso explica nadadores piorando tempos em mais de um segundo em provas de 100m? Isso explica nadadores com 1,59 nos 200L nadando o revezamento (no meio) para 2.03? Acho que não. A verdade é que nunca houve no Brasil uma geraçåo de nadadores com tantos recursos e tamto dinheiro. Pelo amor de Deus, só não venham com essa estória que “faltam recursos” para a natação de elite. Na verdade, a profissionalização antecipada no Brasil faz com que a maioria dos nadadores de ponta abandone a vida universitária (acho uma enorme besteira em 99% dos casos) e vira profissional. No Brasil esses atletas não vão mais estudar e treinar nos EUA, como fizeram a maioria esmagadora dos citados “gênios”.
    Na minha visão, acontece na natação brasileira aquilo que acontece com o resto do Brasil: criamos uma natação “estatal”, baseada em dinheiro público. E assim como o modelo estatal “big government” brasileiro, acaba gerando um ecossistema com uma classe de técnicos, dirigentes e atletas que operam sem os devidos “checks and balances”, comuns em qualquer organização que busca otimização de recursos e maximização de performance. Querem um exemplo da falta de checks and balances? Vocês acham que na equipe dos EUA um recordista mundial de 100L, e melhor tempo do país, iria pedir para não nadar os 100L e o revezamento para não atrapalhar a prova de 50L? Isso simplesmente não acontece. Há algo errado no sistema brasileiro.
    Temos um problema sério de governança no esporte.

    • Eduardo Hoffmann
      12 de agosto de 2016

      Concordo 100%

    • Maviael Sampaio
      12 de agosto de 2016

      Concordo 100%, Chicão.

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      Boa Chicão, tem muito disso aí sim! Mas a minha preocupação principal é outra. Muitas coisas podem ser feitas para melhorar a natação de alto nível, mas essa que eu coloquei creio ser a mais importante, pois além de ter como efeito colateral possíveis medalhas olímpicas, trata do que é ainda mais importante, que é colocar crianças na água (ou em qualquer esporte), melhorando saúde e educação da população com valores esportivos. Medalhas são apenas consequência. Mas colocar criança na água já seria fundamental mesmo se não levasse a medalhas no futuro. ESSE é o papel de uma Confederação a meu ver!

  2. felipecasas
    12 de agosto de 2016

    meio desabafo, nao sei aplica, mas vamo la..

    Honestamente, acho que o problema principal do brasil é a arrogância, de todos. De não dar o braço a torcer e ver que ta tudo errado e que o famoso “jeitinho” nada mais é que um jeitinho e não solução. Falta todo mundo aceitar que nada funciona direito (desculpe a generalização) e dar, que sejam mil passos pra tras, e resolver os problemas. Ate pq vc so resolve o problema se reconhece ele, se não reconhece, não tem problema pra resolver.

    O Renato falou da natação…

    mas acho que, por exemplo, o problema da vila sendo entregue com problemas de fiação, canos, etc é parte disso tudo que se vive no brasil. Como não bastasse a incompetência de não entregar o previsto dentro do prazo, não reconhece, ainda se usa tom de piada. E ate mesmos os atletas do brasil que chegaram la, em vez de assumirem o problema, não! Fazem o que? Chegam com um papinho que “ta tudo lindo, maravilhoso, beijamos o chão”. Se “nego” valoriza essa mer#@, vai esperar o que da vida, a não ser exatamente isso?

    Teve uma matéria, ano passado, acho… da globo falando da medalha do Gustavo borges em Barcelona-92, do problema do placar, etc.. ai chega a fatima Bernardes, que estava cobrindo a prova no dia.. “se fosse no brasil, o pessoal cairia mantando…” olha o que acontece no brasil, vila pan-americana afundando, literalmente, prédios e mais prédios. Engenhão em menos de 10 anos já teve que ser interditado, vila entregue sem terminar… isso pra citar poucos de muitos exemplos.. mas se fosse no brasil…

    Acho mta soberba de um pais inteiro, de não dar o braço a torcer… o eterno pais do futuro que nunca sera do presente!!

  3. Fernando B. Editore
    12 de agosto de 2016

    Renato, concordo plenamente que não há estratégia e nem um modelo para captar e formar novos talentos (Muda CBDA!). Mas também acho que não temos um modelo sustentável pra isso – atrelada à educação (escola e universidade). Por exemplo, nos EUA a molecada é incentivada pelas grandes escolas a serem esportistas. Aqui, para frequantar uma boa escola/ universidade, o fulano(a) tem que deixar a natação (no caso) – hoje a maioria dentro dos clubes – para poder estudar e tentar garantir uma profissão. Abraço!

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      O modelo está falho mesmo Fernando, algo precisa mudar!

  4. Gilberto Kon
    12 de agosto de 2016

    Pessoal, o problema do Brasil para todos os aspectos colocados acima, chama-se EDUCAÇÃO!!!!
    Enquanto o esporte não for inserido efetivamente nas grades curriculares, não teremos base para qualquer esporte neste país. As escolas publicas são fracas e não tem nenhum incentivo, a não ser os programas sociais, de onde ainda saem alguns atletas. As particulares ignoram o esporte, dificultando a vida de quem quer treinar em alto nível. Vejo pelas escolas de meus filhos em SP. Elas simplesmente ignoraram as Olimpíadas no Brasil. Não se falou no assunto, não foi tema de trabalhos, de aulas, enfim NADA!!!!
    Como vamos mudar isto?

    • Eduardo Hoffmann
      12 de agosto de 2016

      Muito bem colocado…

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      De fato Gilberto, estou levando meu filho para os Jogos (para ganhar cultura) e na escola ele tomou quatro provas na cabeça. Nenhum projeto relacionado. Um absurdo!

  5. Luiz Carvalho
    12 de agosto de 2016

    Boa, Gil! Tem razão! Abraço!

  6. Jorge Miler Rodrigues Filho
    12 de agosto de 2016

    Ótimo post. É isso. Assino embaixo do que o luiscarvalho1 escreveu, exatamente o que penso.

  7. Túlio Fumis
    12 de agosto de 2016

    Renato, concordo totalmente com seu artigo.

    Pode ser realmente que seja um problema que ocorre com a maioria dos esportes brasileiros como alguns disseram, mas estamos falando de Natação e já está mais do que na hora de uma renovação na CBDA.
    Ideias novas, gestão moderna e trabalho de base.
    Rever políticas de incentivo e apoio para que o número de crianças aumente consideravelmente dentro das piscinas seria o início de um trabalho que seguramente traria resultados no médio e longo prazo.
    Espero e torço, como praticante do esporte desde os meus 7 anos de idade, para que a CBDA passe por uma mudança considerável no sentido de termos menos “milagres” e mais “realidade”.

    Túlio

    • Eduardo Hoffmann
      12 de agosto de 2016

      Mudança na CBDA é fundamental !

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      Boa Tulião, obrigado pelo comentário

  8. Aécio
    12 de agosto de 2016

    Já comentei aqui no Epichurus que o Brasil apostou numa seleção de velhos que, com raras exceções, não conquistaram resultados de expressão na natação mundial.

    O que se pode esperar de um nadador beirando os trinta anos que nunca passou para a final nos grandes campeonatos? Um milagre? Não. Ele vai continuar sonhando e dizendo que desta vez quer a medalha e vai brigar por ela. Só isso.
    São os melhores do Brasil de hoje, sem dúvida, mas é muito pouco prá quem gastou tanto dinheiro público.
    Se sabemos que os grandes nadadores surgem de verdade entre 15 e 17 anos, (vide Phelps, Ledecky, Ruta e muitos outros), e que fazem 8 anos que foi decidido que esses Jogos seriam aqui, o certo, no meu modo de ver, teria sido investir tudo (e falo de 8 anos de investimento) nos pequenininhos, que teriam agora entre 15 e 17 anos.
    Talvez não houvesse resultado nenhum, mas teríamos no mínimo muito mais gente nadando rápido do que os mesmos 30 de sempre, agora pré-aposentados.

    E o que temos em andamento para Tóquio? Quem vai representar nosso País? Temos apenas dois ou três nomes novos, mais nada.

    No fim, gastamos um monte e continuamos sem nada!

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      Sim Aécio, você cantou essa bola antes. O incentivo aqui é para o cara não estudar e viver de natação, claramente esse modelo não está funcionando!

    • emilsonpl
      13 de agosto de 2016

      Pois é, nossa cultura ainda é a do “se deus quiser” e do “graças a deus”.

  9. mpacheco1
    12 de agosto de 2016

    Fora Coaracy!!! Chega!!! Larga o osso!!!

  10. Carlos Eduardo Seda
    12 de agosto de 2016

    Análise perfeita Cordani! Essa seria a hora ideal para fomentar nas nossas crianças o espírito vencedor! Aproveitar toda a estrutura e promover competições nas instalações olímpicas recém utilizadas pelos ídolos, inclusive hospedando as crianças na vila! Esse seria o melhor e maior legado possível!! Mas eles não tem tempo pra isso!! Tem que entregar os apartamentos da vila (já vendidos) enquanto desmontam metade das instalações olímpicas temporárias! Aqui no Rio, a FARJ agoniza em seus derradeiros suspiros, engolida pelas dívidas e incompetências dos dirigentes.

    • Sérgio Dimas
      12 de agosto de 2016

      Carlos Eduardo, vou na tua linha de raciocínio, enquanto o Sr. Ricardo Moura – diretor Técnico da CBDA deu uma infeliz declaração ao Sportv, que até o comentarista Milton Leite , leigo em natação, ficou ” irritado “, quando este Sr. ( que está com a bunda sentada na CBDA junto com o Coaracy há mais de 30 anos e nada acontece) disse que, pasmem : ” o maior legado deste olimpíada para a natação foi a emoção que publico passou aos nossos nadadores” ; chega ser um escárnio com aqueles que trabalham com este esporte apaixonante. No meu entender o grande legado desta olimpíada para todos os esportes, inclusive a natação, seria manter este Parque Olimpico com suas Arenas, para que os futuros atletas de todos os esportes, de todas as categorias, inclusive a Natação para que pudessem ter um Centro de Treinamento. Mas, já noticiado pela mídia, de que logo após as Olimpíadas, essas arenas, já construídas, serão DEMOLIDAS. Pobre Esporte Brasileiro !!!!!!!

      • rcordani
        12 de agosto de 2016

        Caro Sergio, essa declaração do Ricardo de Moura é daquelas que a gente ri para não chorar…

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      Exatamente Seda, é preciso mudar urgentemente!

  11. Rodrigo M. Munhoz
    12 de agosto de 2016

    Faz tempo que falamos que o investimento na base seria o prioritário e nada foi feito. Faz tempo que todos falam que a CBDA tem que mudar e nada aconteceu. e não vai adiantar mudar para ficar igual, fiquemos atentos nisso. Qual a proposta dos que estarão dispostos a pegar o pepino pós – olímpico ? Sim a falta de $ vai ser fogo.

    Mas uma coisa o Rio2016 deve ajudar na base: Interesse esportivo. Estou vendo muita criança animada com esportes. Eu mesmo, se tivesse ido assistir uma Olimpíada – como meus filhos fizeram nesta – acho que me animaria ainda mais com a prática esportiva.
    Espero que aproveitemos esse “momentum”…

    Abraços!

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      Vamos juntos nessa Munhoz, vamos ajudar a mudar!

  12. Lelo Menezes
    12 de agosto de 2016

    Eu concordo 100% com o Chicão! Precisamos separar o assunto em dois: o futuro da natação brasileira passa claramente pela renovação da CBDA e pelo investimento na base! O outro assunto, mais difícil, é explicar porque a maioria dos nossos nadadores vai mal nas Olimpíadas! Eu não tenho uma resposta concreta, mas tenho pistas:

    A) A seletiva Olímpica: Nossa seletiva continua arcaica! Pega o estilo peito por exemplo. Tem cinco nadadores muito próximos pra duas vagas. Como não temos seletiva única, o cara tem que ficar preparado pra defender sua vaga até o último segundo. A verdade é que assim, pra 90% do time brasileiro, a glória está em fazer o time e não atingir o ápice nas Olimpíadas! Nesses casos é natural piorar um pouco nos jogos

    B) Falta de renovação: Nosso time deve ser o mais velho do mundo. Nadadores velhos, mesmo craques, não conseguem quebrar marcas pessoais feitas quando o atleta era mais novo. É um fato da vida!

    C) O psicológico: Mesmo com todo investimento alto nos nossos nadadores de elite, parece que o psicológico deles continua amador. As desculpas pelas más performances são as mais mirins possíveis e vão desde Deus não quis, até culpar o horário das finais (conhecido a um ano). Um bom exemplo do amadorismo é a entrevista do Chiareguini pós final do 100 Livre. O cara nadou 5 vezes o 100m Livre entre 48’1 e 48’5. Foi finalista olímpico da prova! Nessa final fez a estratégia certa, passndo forte e tentando segurar. Não deu, mas não tinha nada a perder e deveria ser, pra ele, um baita orgulho ser o 8º melhor do mundo, mas sua entrevista fez parecer que era favorito ao ouro e que seu resultado foi um desastre. A repórter da ESPN, despreparada na entrevista, piorou ainda mais a história dizendo “pois é. Chiareguini não foi bem e acabou ficando em último lugar”. Ou seja, uma performance que deveria ter sido exaltada, acabou soando, para o ouvido leigo, como uma tragedia de um PEBA que acabou em último lugar…

    D) Doping: Não podemos esquecer que o Brasil só perde pra China em casos do doping na natação no século XXI. Com o congelamento da urina para testes futuros, o medo de um vexame fica mais à tona. Veja a China no feminino por exemplo, que passou de protagonista em todas as provas para coadjuvante. A própria Etiene não sabia se iria nadar até dias antes dos jogos, o que pode explicar sua má performance no 100m costas. Enfim, não gosto de teorias de conspiração mas não descarto completamente a hipótese que o doping não seja o responsável por resultados excelentes fora dos jogos olímpicos dando a ilusão que o atleta piora nos jogos.

    E) Falta de estratégia: Continuamos focando em Pan-Americanos e provas de 50 não olímpicas. O Felipe França literalmente soltou nos primeiros 50 metros na final olímpica de 100m peito. Eu estava lá vendo o britânico dar duas braçadas enquanto o França dava uma. Me deu uma baita aflição. O que vi de estratégia errada de prova nessas Olimpíadas não foi brincadeira. O Thiago Pereira na final dos 200m Medley parecia atleta amador da década de 90. Uma “morrida” daquela magnitude é inaceitável pra um atleta do nível dele.

    #MudaCBDA

    • luizcarvalho1
      12 de agosto de 2016

      Excelente a análise. Não dá para saber se as razões são essas mesmos, mas parecem ser. Além disso, a qualidade da imprensa esportiva, com raríssimas exceções, é muito ruim. Talvez poderíamos adicionar o “efeito Neymar”, onde o atleta se preocupa demais com imagem, patrocínio, mimimi e acaba não entregando performance por falta de treinamento e foco.

      • rcordani
        12 de agosto de 2016

        hehe “efeito Neymar”

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      Lelo, seu comentário é perfeito. Só acrescento o que eu disse ao Chicão: colocar criança na água por si só já é benéfico, e como efeito colateral teremos talentos a mais! E claro, os pontos que você colocou tem que ser observados atentamente pela próxima gestão da CBDA!

  13. Danilo Pellegrino
    12 de agosto de 2016

    Perfeita análise do Renato !!
    Concordo e faço coro !
    #mudacbda #foracoaracy

  14. Julian Romero
    12 de agosto de 2016

    Se ganhasse, 1, 2, 3 ou mais medalhas, essa opinião mudaria? Quando Ana Marcela e Poliana Okimoto subirem ao pódio nesta segunda, dia 15 de agosto, todo o investimento feito será justificado? Quando o polo aquático estiver na final, graças a alguns milhões gastos em estrangeiros, valerá a pena, apesar de saber que nenhum dos estrangeiros ficará no Brasil depois de agosto? Um sucesso geral na Olimpíada não acontece durante os 7-8 dias de competição, mas os 1.452 dias antes dele, o ciclo que a CBDA gabou-se de dizer que foi perfeito, nunca faltou nada e todos – técnicos e atletas – tiveram do bom e do melhor. Foram 10.220 dias de Coaracy Nunes Filho no comando da entidade, 35% deles até Sydney, quando já deveria ter ligado o alerta e lutado pelo aumento do contingente de atletas, criado seleção B, C, e não exaurindo Gustavo Borges e cia ltda em todas e qualquer competição para satisfazer Correios e justificar recebimentos. Há 1.452 falta um líder no comando da natação, que artificialmente vem sendo Ricardo de Moura, enfiado goela abaixo. Será que atletas vão acordar e notar que estão sendo manipulados como troféus para justificar o trabalho de dirigentes, baseado exclusivamente em dotes, mimos e a maior média salarial – ops, “apoio social” – do mundo para nadadores? Há 1 ano e meio atrás, os críticos batiam palmas de pé para a seleção brasileira “campeã” do mundo no Mundial de Doha, considerando aquele resultado como estratégico para alavancar a seleção olímpica. Veio o Mundial de Kazan, e novamente a realidade bateu à porta: piscina longa é outra modalidade, é outro esporte.
    Pessoal, são 27 pessoas que elegem um LÍDER para a CBDA, alguém que tenha uma visão mais profissional do negócio e não alguém viciado pelo funcionalismo público. Não é mudar, é recomeçar, tratar das bases, da missão e da estratégia de longo prazo, é fazer campeonatos brasileiros bem organizados e não sacrificar campeonatos para salvar uma seleção brasileira olímpica. Na hora que deveria haver uma sincronização e ampliação de eventos para pegar a “onda olímpica” vimos uma retração fenomenal. E Ricardo de Moura, a mente por trás desta estratégia, ainda agradeceu a diversos presidentes de federação num Torneio Norte-Nordeste por apoiá-lo dessa decisão!
    O vídeo inclusive foi retirado do canal oficial, mas na internet tudo se replica:

    Resumo: RECOMEÇA CBDA, tem que zerar, os vícios do coronelismo de Coaracy Nunes estão impregnados nos esportes aquáticos. A eleição já começou, é Ricardo de Moura versus Miguel Cagnoni. Não dá pra comparar trabalho na Confederação e Federação, mas pergunte aos atletas, árbitros, pais e técnicos como são os campeonatos paulistas. Pergunte como são as seleções de Mococa e Anápolis. O maior investimento feito é sempre em competições, dar toda a estrutura para o atleta conseguir o melhor resultado. Veja a categoria petiz, infantil, juvenil. Notem que não existe competição para mirim, porque é preciso tratar o lado lúdico de uma criança de 8 a 10 anos, não incentivá-la a ser a melhor, campeã mundial mirim. A CBDA tem hoje um puta produto chamado SELEÇÃO BRASILEIRA, como a CBF. Esse produto deveria render lucro, aumentar participação no mercado, e ser constantemente reinventado para fixar sua marca e angariar mais “consumidores”. A CBDA hoje só sabe trabalhar com despesas. A receita é dada e para justificar o valor gasto são apresentadas notas ficais e relatórios apenas para os patrocinadores, nunca ao público, atletas ou técnicos. Antes da Olimpíada, não sei quem percebeu, mas a CBDA começou a maquiar o site oficial sob a frase “Governança e Gestão”. E lá no fim da página, uma piada de Coaracy Nunes: “Ser transparente faz com que nossas parcerias sejam tão duradouras e tragam tantas conquistas para o esporte brasileiro.” Falando sobre ética, consolidação, transparência, gestor esportivo, popularizar, palavras que foram pouco usadas em 28 anos e que, num ato de desespero, acreditam (Moura e Coaracy) que está tudo bem do jeito que está e que AGORA eles – ou ele, já que Coaracy está fora por condições físicas – vão melhorar, profissionalizar…
    Para saber mais, a tragédia foi anunciada antes do início da competição: http://www.mudacbda.com.br/?p=488

    • Salete Volpe
      12 de agosto de 2016

      Perfeito Julian! Assino embaixo. Durante cerca de 15 anos acompanhei a natação de perto, com filhos atletas e federados em excelentes clubes de São Paulo. Quando eu e meu marido iniciamos a maratona “paitrocinadores e torcedores” já tínhamos a dupla Coaracy e Moura, este último à frente de um projeto “fenomenal” apresentando o Vasco como uma potencia olímpica e “levando” os atletas de vários clubes para nadarem pelo Vasco no Troféu Brasil, nadarem o Chico Piscina pelo Rio e por aí afora. Não é preciso lembrar como isso acabou, não é? Não dá para acreditar que passado tanto tempo tudo continua na mesma, ou melhor, muito pior! Tanta coisa evoluiu, cresceu, se descobriu pelo mundo afora durante este tempo e os dois continuam ali? Lamentável. Triste por demais. Adoraria ver meu neto no futuro, hoje ele tem somente um ano e meio, nas piscinas; entretanto, do jeito que está, tudo nos leva a crer que “a dupla” ainda estará colocando as cartas à mesa e, com a desfaçatez típica dos gestores que perpetuam no poder, estarão gritando “truco ladrão”.

      • rcordani
        12 de agosto de 2016

        Salete Volpe, vamos lutar juntos para mudar!

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      Sim, Julian, se ganhasse medalhas (ou até se ganhar no WP e na maratona) eles iriam (vão) tentar capitalizar.

      O fato inconteste é que a base inexiste, planejamento global inexiste, gestão inexiste. Tem que mudar. E a hora é AGORA!

  15. Julio Rebollal
    12 de agosto de 2016

    Há muito tempo não me manifesto. Venho apenas acompanhando os posts.

    Resumão: continuamos iniciando a construção da casa pelo telhado.

    Não foi por falta de aviso: em 1985, após a escolha do novo presidente da CBN (na época), Denir de Freitas (já falecido), técnico do Fluminense, vaticinou: “Agora vocês verão quem é Coaracy Nunes…”.

    Deixou claro que falava do dirigente, não da pessoa.

    Esporte no Brasil virou emprego público…

    Que previsão, não é Paul?

    Abraços.

  16. luizcarvalho1
    12 de agosto de 2016

    Rebolal resumiu muito bem….esporte (principalmente a natação) no Brasil virou emprego público. Perfeito.

  17. LAM
    12 de agosto de 2016

    A Austrália começou a construir piscinas depois da Olimpíada de Melbourne (1956) para ganhar medalhas de natação na Olimpíada de Sidney (2000).

    Este não é o tempo de um mandato político ou de um partido político (exceto México), portanto deve vir da sociedade (?) ou de cabeças mais avançadas (FHC?)

    Acho que o Epichurus poderia mencionar o Xuxa, que, quando a Feiticeira do Huck perguntou: “Qual o seu desejo?”

    Respondeu que sonhava que cada escola da Prefeitura do Rio tivesse uma piscina pros alunos aprenderem a nadar.

    • Fernando Cunha Magalhães
      12 de agosto de 2016

      O Xuxa mandou essa pra Feiticeira???? Que auto-controle… rsrs
      Excelente presença de espírito e identificação com a causa.
      #mudacbda

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      Boa LAM, e boa essa do Xuxa!

  18. anonimo
    12 de agosto de 2016

    Reclamar é fácil, mas quem vai botar a mão na massa pra fazer a mudança. Quem é pago atravéz do contribuinte não devia falar mal de emprego público.

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      Anônimo, você feriu a nossa combinação. Você pode ME atacar como anônimo, mas se quiser atacar os outros tem que se identificar, né? Por sorte o Rebollal se garante.

      • anonimo
        14 de agosto de 2016

        não foi um ataque direto a ele. tentarei se mais especifico. O comentario dele foi vago na minha opinião.

  19. Julio Rebollal
    12 de agosto de 2016

    Boa colocação caro anonimo.

    Não estou falando mal de emprego público, nem que o governo deve deixar de apoiar.

    Mas justamente por ter um (apesar de ser classificado em outra categoria que não a de servidor público) e também atuar na iniciativa privada é que posso fazer essa analogia.

    Só quis dizer que o dinheiro no esporte brasileiro deixou de ser um meio para se tornar um fim.

    Abraços.

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      Na mosca: “o dinheiro no esporte brasileiro deixou de ser um meio para se tornar um fim”.

  20. Luiza
    12 de agosto de 2016

    Por tudo isso Cordani, vivo dizendo ao meu filho de 15 anos que é um atleta de Maratonas Aquáticas de base e treina muito, 7 dias por semana, para se tornar atleta de ponta, que nem todos os sonhos no esporte, podem se tornar realidade, mas não deixam de ser um alicerce, para as outras formações. Incentivo familiar é um dos poucos recursos que a maioria dos nossos atletas possui, as demais necessidades, como diz você, somente para os gênios com SORTE.

    • rcordani
      12 de agosto de 2016

      Luiza, boa sorte para ele, tenho certeza que ele se beneficiará muito desse período de atleta de ponta! E é claro que “acreditar” não é suficiente para ser atleta olímpico, muitos tentam e poucos conseguem, mas que ele continue acreditando até o fim! Esse é o bacana da coisa!

  21. rush2112
    13 de agosto de 2016

    Pensando não só na natação, mas em outros esportes, acredito que o Brasil nunca tenha feito um programa de identificação de talentos que seja abrangente por todo o país. É um trabalho que poderia ser feito nas escolas ou em clubes, com testes padronizados, e então seria feito um direcionamento das crianças ao esporte mais adequado para elas. Afinal de contas, do que adianta fazer uma criança competir em um esporte para o qual ela não tem o talento suficiente para progredir, enquanto poderia se destacar muito mais em outro esporte? Sei que essa não é uma questão fácil, mas a grã-bretanha é um exemplo de desenvolvimento de projetos de identificação de talentos. Será que não caberia algo parecido no Brasil?

    • rcordani
      16 de agosto de 2016

      Evidente que caberia. Tem muitos exemplos de sucesso desse modelo, GBR fez como você disse, e Cuba fez isso com muito sucesso antes de colapsar.

      • Emilson Pereira Leite
        16 de agosto de 2016

        E a iniciativa deveria partir das federações? No caso, da CBDA?

      • rcordani
        16 de agosto de 2016

        Acho que não teria que ser um órgão do COB, pois eles poderiam teoricamente tirar um atleta da piscina e colocá-lo na pista, o que a CBDA não poderia fazer, correto?

  22. Marcelo Villaboim Carvalho
    13 de agosto de 2016

    Caros,

    Sou pai de atleta categoria Júnior 2 (18 a 19 anos), e tenho a seguinte leitura a respeito não só na natação, mas sim em todos esportes.

    O que falta no país é estrutura adequada aos atletas. De que adianta o governo federal assistir aos atletas que ganham medalhas em torneios nacionais e internacionais no valores mensais de R$ 925,00 e R$ 1.850,00, respectivamente, se o custo de um atleta é muito mais além do isto mensalmente?

    Um atleta de natação necessita de equipamentos, suplementação adequada, médico, nutricionista, psicólogo e… treino, muito treino!!!

    Quanto a suplementação e profissionais acima citados, o apoio em recursos também mencionados anteriormente ficam muito aquém do que se precisa, a não ser que o atleta tem im “paitrocinio”, o que é o caso de meu filho.

    Além disso, as escolas brasileiras, salvo raras exceções apoiam o atleta-estudante, e isto falo de experiência própria.

    Meu filho estuda das 7 as 13 e treina das 15 as 20 horas, e a escola não quer saber o que ele faz ou deixa de fazer no período em que não se encontra em sala de aula, esperando que esteja estudando!!!

    Não há apoio, não há incentivo nem nas escolas muito menos de patrocinadores privados, pois o apoio que estes podem dar é de 1% sobre o Imposto a pagar, para ter algum benefício sobre o Fisco e a burocracia para isto não compensa o esforço.

    O Brasil é recheado de talentos esportivos além do futebol e totalmente desperdiçado por falta de apoio, falta de incentivo!!!

    Até a USP promove campeonatos “mequetrefes”, entre suas faculdades, e por que não abrir estaduais com seriedade?

    Falta muito, mas muito para o Brasil criarem seus Phelps, Katinas e outros!

    Enquanto mantivermos mentalidade pequena jamais seremoa grandes, nem nos esportes nem como país!!!

    Triste realidade!

  23. luizcarvalho1
    13 de agosto de 2016

    Concordo, Marcelo! Só não podemos pedir ou esperar que a solução seja o genérico “mais recursos”, que normalmente implica mais gastos do governo e ausência de mudança na governança. O mesmo problema atinge a educação no Brasil, onde se gasta muito dinheiro mas a gestão é péssima. No caso do Brasil, mais dinheiro não é a solução. Melhor gestão, sim.

    • rcordani
      16 de agosto de 2016

      Inclusive teve bastante dinheiro nesse ciclo… Mas o dinheiro foi para o lugar errado e quando chegou para os atletas chegou para atletas em fim de carreira…

      Sim: gestão!

  24. sergio
    13 de agosto de 2016

    O vôlei somente cresceu depois que na década de 80 quase toda escola PÚBLICA teve uma quadra de vôlei . Da quantidade sai qualidade. Acho um pouco pesado pegar no pé dos nadadores. Thiago foi medalha de Prata em 2012. Quanto à bolsa estatal, é simplesmente porque não existe mais patrocinadores privados
    Acabou a mesbla e a kibon. Ou seja, poderia ser pior que ja está. Como disse o Renato, a solução e massificar o esporte nas escolas

  25. Indiani
    13 de agosto de 2016

    Inicio aqui pedindo desculpas…
    Não peço desculpas por ninguém mas sim pela minha pessoa que a partir de agora vai “vomitar” e literalmente colocar o coração na modalidade que tive o prazer de participar como atleta, e que até hoje além de ser minha profissão, alimenta e mantém a minha Familia.
    Para alguns que me conhecem, sou Treinador de Natação faz 27 anos, para os outros, além destes 27 anos sou um apaixonado incondicionalmente falando do ESPORTE!
    Ao ter o desprazer de ouvir o sr ricardo de moura falar no video acima, me sinto enojado, envergonhado, emputecido e literalmente com vontade de DAR MUITA PORRADA NA CARA DESTA CORJA DE VAGABUNDO…

    Faz 79 sextas feiras que envio um e-mail para algumas pessoas com que me relaciono frequentemente.

    Nesta sexta dia 12, enviei este texto que esta copiado aqui ao final, além disso, sou um dos organizadores(juntamente com o Julian Romero) do Encontro Nacional de Técnicos e Profissionais ligados a Natação.
    Este ano foi o 11o evento.

    Falamos 10 anos sobre o rendimento, e neste ano iniciamos a cruzada voltada para a BASE.
    Este assunto já esta definido para ser continuado pelos próximos 9 anos.
    A nossa obrigação com a Natação é e sempre será transparente.

    No ano passado, trouxemos nada mais nada menos que Bill Sweetenham, Treinador Australiano que comandou seu Pais por mais de 40 anos, e foi o responsável pela virada na Natação da Gra-Bretanha entre Atenas 2004 e Londres 2012.
    Sabem quantos Treinadores dos atuais Clubes de “ponta” do Brasil estiveram no evento?!
    Acertou que disse o incrível número que representa o conjunto vazio…
    Sim ZERO, nenhum, ninguém…

    Agora Vocês podem dizer:
    -Porra Indiani; o pessoal tem outros compromissos, estava em alguma competição, alguma altitude, alguma qualquer outra coisa que era mais importante.

    Pessoal, sempre temos a preocupação de verificar no calendário Nacional e Internacional os eventos que possam comprometer a participação destes profissionais que sempre engrandecem o evento.
    Nada estava em conflito!

    Estamos correndo perigo de todos os lados.
    Dirigentes que não valem nada, treinadores que infelizmente acreditam não ser mais necessário participar de eventos como o “Encontro”, outros que acreditam que o estudo atrapalha o “sonho” olímpico e alguns que estão mais preocupados em pegar uma seleção para aquela viagem.

    Assistir esta semana de Natação Olímpica foi bem triste, foi bem preocupante. Tive vontade de mandar vários “MADA FACA” pra muitos e alguns “KISS MY ASS” para outros tantos…

    Pensei, pensei, e depois de assistir a surra que o Bruno Fratus tomou depois da entrevista, resolvi descarregar aqui…

    Desculpe agora ao Julian formado em jornalismo; seus colegas de profissão de vários canais pediram uma resposta daquela.
    Assisti e digo que não achei agressiva e tão pouco deselegante.
    O rapaz foi sincero, não culpou a Madre Tereza, O Papa, ou simplesmente disse que tudo será esclarecido no seriado Arquivo X…
    Nadou mal, assumiu e pronto!

    Sinto-me muito tranquilo e a vontade para falar aqui pois somos todos contemporâneos, nadamos nas décadas de 70, 80 e 90 onde cresci, e me formei no Esporte.
    Nunca fui um nadador expressivo, fiz parte do “miolão” que marcava alguns pontos para o Clube mas o “tesão” pela danada Natação me trouxeram para onde estou…

    Estudei com bolsa até a Faculdade, economizei uma grana para meus Pais, me formei e hoje estou tentando devolver ao Esportet udo oque recebi durante estes anos.

    Hoje não nado mais mas, como todos aqui, produzo para a sociedade, devolvo algo que me foi dado durante os anos de Natação e Estudo, me preocupo com o futuro da minha/nossa profissão e com certeza com o futuro sombrio que o esporte vai passar daqui pra frente.

    Não sou filho do Tio Sam, mas se quisermos melhorar, temos que aprender com quem sabe fazer algo um pouco melhor que Nós.

    Segue o texto que enviei no dia de ontem,

    Bom dia!

    As Olimpíadas rolando 48hrs por dia…

    Assisti a abertura durante uma competição em que o Time participou no final de semana. Fui convidado para assistir e jantar na casa dos Avós de uma menina do Time.
    Quando cheguei nesta residência, fiquei boquiaberto com a decoração…
    Uma de suas Tias trabalhou para o Comitê Olímpico dos EUA por 4 jogos(92, 96, 00 e 04); a decoração da casa era 100% Olímpica, quando entrei pensei no meu Irmão Rodrigo…
    -Você ia enlouquecer com as “coisinhas” que tinham por lá.
    Talheres, copos e canecas, camisetas, mascotes em miniatura e muitas outras coisas…

    Gostei muito da abertura, e quando tocou o NOSSO Hino, fiz questão de levantar no meio da sala, colocar a mão no coração como a maioria faz por aqui, e a pior parte foi quando resolvi cantar com a minha voz de tenor rouco…
    Logo ao final fui aplaudido; se foi por educação ou não “tô nem aí”, oque interessa é que foi muito bom!!!!!!
    Ao final, agradeci e disse à todos que fazia muito tempo que não ouvia o hino do Meu País, e estava com saudades…

    Pude falar sobre o Rio, sobre o Brasil e explicar um pouco sobre os “atos” que apareceram durante o desfile de abertura.
    Fiquei bem emocionado e feliz por poder falar do Brasil para pessoas que não conhecem e estavam achando tudo muito lindo…

    Estou assistindo pelos canais daqui, e posso afirmar que não existe até o momento ninguém falando mau; os que falaram muito mal foram os próprios brasileiros entrevistados pela TV Americana.

    Não sei sobre a realidade, apenas estou comentando e não julgando…

    De agora em diante, vou dar a MINHA opinião, sem julgar, sem criticar e o principal; sem certo ou errado…

    Estou e sempre estarei aberto para conversar, discutir e tentar fazer cada vez melhor…
    Espero aqui somente dizer oque poderíamos ou deveríamos fazer diferente…

    Com as redes sociais “bombando” e “bombardeando”, os Atletas se concentrando e os atletas postando, dando like, comentando; os Treinadores se contendo e os treinadores se promovendo, o Urso se emocionando com o NOSSO Hino nacional ao som de Paulinho da Viola e mais uma KCtada de coisas vamos lá… “AS SUAS MARCAS…”

    Como deve estar acontecendo com os Brasileiros, aqui esta acontecendo com os Americanos:
    Nadam as provas, e ao sair já concedem entrevista…

    Ao contrário do que a mídia que se diz “especializada” comentou sobre a Seleção Americana sobre a falta de experiência em eventos internacionais, em competições cuja a performance pode ser comprometida pela pressão, a juventude e etc, etc, etc, afetaria e muito o resultados destes Atletas “JUVENAS”(em inglês “DJUVENAS”), oque estou vendo aqui(que é exatamente oque Vocês estão vendo aí), é ao que parece os e as “JUVENAS” tem dado conta do recado…

    ESTRUTURA!

    Vou apresentar números aqui…

    Oficialmente sobre competições de Natação:
    Aos 6 anos de idade eles já podem iniciar a sua participação em competições oficiais; não estou falando de “festival”, estou falando de COMPETIÇÃO, 1o, 2o, 3o, último e assim vai.

    Dos 6 aos 14(9 anos) estes “projetinhos” participam em média de 2 competições por mês, podendo nadar até 6 provas por competição, provas que vão de 25 dos 4 nados até os 200 livre (216 participações / 1296 provas).

    Dos 14 aos 17(4 anos) temporada do High School – Setembro à Novembro – O “projetinho” já passa por um grande momento de transformação…
    Serão duas competições semanais contra uma, duas ou três escolas diferentes. Os outros alunos que não participam são liberados pra torcer pelos Atletas da sua Escola.
    O Nadador pode participar de no máximo duas provas individuais e dois revezamentos.
    Esta medida é para gerar oportunidade de petrificação por um número maior de Atletas por Escola.
    Durante estes 4 anos a temporada sempre passa por 3 fases eliminatórias(Regional / Distrital / Estadual), com eliminatória e final.
    Números no High School – Competições normais = 96 + Regional = 4 / Distrital = 4 / Estadual = 4
    Provas individuais – Competições normais = 192 provas + Regional = 8 provas / Distrital = 8 provas / Estadual = 8 provas TOTAL 192 normais + 24 com eliminatória e final
    NESTA FASE NÃO ESTOU CONTANDO A TEMPORADA ANUAL DO TIME!!!!!!

    Os 4 anos tem nome:
    1o ano Freshman, 2o ano Sophomore, 3o ano Junior e o 4o ano Sênior.
    No 4o ano, durante a final Estadual, os Nadadores estão sob a mira das Universidades de todo o País que em um futuro próximo irão lhe oferecer uma bolsa de estudo que vai de 20 à 100%

    Dos 18/19 aos 22/23(4 – 5 anos) eles estarão na Universidade passando por uma rotina parecida com a do High School, a diferença é que a temporada vai de Agosto á Março(8 meses entre 2 e 4 confrontos/mês) e qualquer competição é “casa cheia” e as finais são os famosos NCAA’s que tem a maioria(90%) dos Atletas nadando.
    Números “básicos” do período universitário:
    Competições normais = 160 + 4 a 5 NCAA’s = 164(com desconto)
    Provas individuais = (Vou continuar com o número de 2 por competição) = 320 + 8 = 328

    Descontado aqui a temporada de Clube/Time, os “Nationals” Junior e Sênior, os Grand Prix, os Jogos Mundiais Universitários, os Jogos Panamericanos, Olimpíada da Juventude, Campeonato Mundial Junior e alguma outra que este “projeto” poderia participar até chegar nas Olimpíadas…

    Vamos somar tudo?!
    Pelas minhas contas são:
    Competições dos 6 aos 23(18 anos) = 1786(média de 99,22222222… competições por ano) lembrando que o ano tem 52 semanas, temos outra média que é de 1,90811966 por semana).

    Agora os números apenas na fase escolar competitiva de HighSchool e Universidade, 14 aos 23(10 anos) = 272 competições com um número de 544 provas nadadas / Média de 54,4 competições por “ano” com 108,8 provas nadadas por ano(lembrando que a temporada de HS tem 3 meses e a Universitária tem 8 meses TOTAL 12 meses do HS + 48 meses da Universidade = 60 meses / 5 anos corridos ), o resto eles estão treinando e competindo pelos seus Times…

    Com estes números apresentados, como duvidar da capacidade competitiva e a de superação de um ATLETA deste naipe?!

    “Tremer na base” é muito mais difícil…

    Por este motivo, quem atravessa a “panela de pressão” do “Olympic Trials” esta garantido nas finais e com chances reais de disputar uma medalha…

    Se analisarmos o Time Americano de Londres e o Time do Rio, veremos o número de Nadadores Universitários contra o número de “Profissionais”.
    Em Londres o número de Profissionais era bem maior; no Rio estamos vendo um Time praticamente UNIVERSITÁRIO e sem “experiência” internacional(segundo a mídia especializada).

    Em Londres Missy Franklin destruiu, passaram-se 4 anos e… Naufrágio!
    Se tornou uma Nadadora “PRO”, entupiu sua conta bancária de dólares e esqueceu de visitar com maior frequência a H2O com CL…
    Resultado: Deve estar doendo muito cada final de prova…

    Na ponta oposta temos Maia Dirado.
    Primeira e última Olimpíada, três medalhas(uma de cada) podendo ganhar a 4a hoje a noite nos 200m Costas, acabou de se formar em Stanford, já volta das Olimpíadas para trabalhar, e se tornar uma Humana produtiva para a sociedade…

    Esta na hora de pensarmos em como orientar melhor os “nossos” para que ao invés de alimentarmos “parasitas”, eduquemos Atletas a se tornarem verdadeiros Cidadãos.

    Na minha opinião, sendo totalmente radical, um Treinador que incentiva um Atleta a somente treinar ao invés de estudar e treinar; esta “pessoa” deveria ser enquadrada pelo estatuto da Criança e Adolescente como um CRIMINOSO…
    Sim um criminoso que deveria ser lhe retirado imediatamente o direito de ser EDUCADOR!
    Somos Educadores Físicos que devemos sempre incentivar o melhor para este futuros cidadãos que de uma forma ou de outra terão que retribuir e produzir algo para a sociedade num futuro.

    ESTRUTURA PORRA!
    Estrutura é a base do Esporte. Esta estrutura não é somente dinheiro, viagem, uniforme, aparelhos e o kct a 4; estrutura é fazer com que o Esporte esteja incondicionalmente ligado, conectado e relacionado a EDUCAÇÃO …

    Aos meus Irmãos Olímpicos(Amen, Mircão e Serjão), torci, gritei, aplaudi, sofri e de forma única me emocionei com os “NOSSOS JOGOS OLÍMPICOS”…
    Vocês fazem parte de uma historia que precisa ser reestruturada, confio e sempre confiarei em Vocês!

    Agradeço de coração por todas as emoções proporcionadas por Vocês e seus “comandados” nesta última semana…

    Antes das considerações finais, gostaria de pedir encarecidamente uma coisa(se Vocês tiverem um tempinho):

    Caso discordem ou tenham uma opinião diferente, eu adoraria continuar esta conversa…

    Um grande beijo combinado com aquele “abracinho” super carinhoso de Urso do Urso!
    “VAMU BRASIL, REAGE PORRA!!!!!!!!!”

    • rcordani
      16 de agosto de 2016

      Indiani, suas palavras enchem os olhos. Parabéns por sua atitude sempre e pelas palavras. E volte! O Brasil precisa de técnicos como você, além dos bons que temos já por aqui!

  26. Pingback: Muda CBDA! | 10.220 dias de Coaracy Nunes na CBDA

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  29. Fabricio Tota
    24 de agosto de 2016

    Pessoal,

    Sou um apaixonado pela natação, só isso. Como a maior parte daqui, tb tive meus momentos na natação competitiva. Foram 7 anos treinando… Em nível BEM inferior ao da maioria, mas o suficiente para conhecer um pouco do esporte por dentro.

    Vou discordar de alguns que escreveram aqui, mas acho que o debate pode ser produtivo… Já adianto que não vou entrar no mérito da CBDA, nem critico nem defendo.

    Acho que estou um pouco atrasado, o post em si é antigo, mas minhas reflexões vieram ao longos dos Jogos Olímpicos, conversando com amigos igualmente apaixonados pela natação e por outros esportes. O tema veio à tona muito por conta da fraca performance dos nossos nadadores.

    Creio que a natação esteja um pouquinho a frente de vários outros esportes. Temos alguns clubes onde a criançada pode se iniciar no esporte e ter algum treinamento minimamente decente, ao menos nos grandes centros. Em SP temos meia dúzia de clubes, no RJ outro tanto, BH ao menos um, Recife, Porto Alegre… Um problema evidente é que os clubes acabam só atendendo seus associados para esse iniciação no esporte, o que acaba deixando o esporte elitizado, o acesso é bastante restrito. A população em geral vai depender de projetos sociais que nem sempre tem as mesmas condições de um clube. Mas enfim, somos um país pobre, vale lembrar.

    Ao menos em SP temos competições, no mínimo, decentes para as categorias de base. Não conheço a realidade de outros estados, então não posso opinar. Tb temos competições de nível nacional das categorias de base, oras!

    Se compararmos com o atletismo, com o basquete (o BASQUETE!) ou com a ginástica, a natação está MUITO, mas MUITO na frente!

    E também gostaria de colocar um outro ponto: hoje (ou, pelo menos, neste último ciclo olímpico) se atleta de alto rendimento é uma profissão viável. Bolsa Atleta, Bolsa Pódio, o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas, os patrocínios das estatais… Poxa, na época que eu nadei (parei em 95), era absolutamente impensável algo do tipo! Era ponto pacífico que ser atleta não dava futuro! A escolha era clara: vai nadar, sabendo que esporte não paga as contas, ou vai largar para estudar? Todo mundo viveu este dilema.

    É claro, os tempos são outros e a situação econômica é completamente diferente daquela epoca. Também existe uma incerteza, não sabemos se essa política de apoio ao esporte de alto rendimento é algo passageiro ou é um a política de estado (notem bem, mais do que uma política de governo), mas se isso de fato continuar, ser atleta de ponta é algo viável. Nossos velhinhos da equipe olímpica estão aí para provar.

    Pelo que ouço de quem está lá dentro, se você perguntar para um nadador (e atletas de outras modalidade, também) “e aí, o que faltou?” ele vai responder “nada”. Teve piscina, teve fisio, teve médico, teve nutricionista, teve psicólogo… É claro, o funil é pequeno, nem todo mundo chega lá. Mas quem chega, tem apoio.

    Ou ao menos tem tido.

    Um abraço a todos, grande blog.

    Fabricio

    • rcordani
      25 de agosto de 2016

      Obrigado Fabricio pelo ótimo comentário. Sobre o estado de São Paulo sim, é um dos únicos que tem criança na água, tem competições. Não é à toa que Ricardo Prado, Cesar Cielo, Gustavo Borges e Poliana Okimoto deram suas primeiras braçadas em piscinas paulistas. Onde está esse mesmo trabalho no resto do Brasil?

      Abraços

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